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CAPÍTULO II – RESÍDUOS INDUSTRIAIS E RECICLAGEM

2.1 Reciclagem de Resíduos

Ao longo da história, o homem sempre utilizou os recursos naturais do planeta e gerou resíduos com baixo nível de preocupação: os recursos eram abundantes e a natureza aceitava sem reclamar os despejos realizados. Após a segunda guerra mundial, o modelo ou estratégia de desenvolvimento das nações consolidou suas bases técnicas e sociais. O objetivo principal era o crescimento econômico em curto prazo, mediante a utilização de novos processos produtivos e a exploração intensiva de energia e matérias-primas, cujas fontes eram consideradas ilimitadas. Esse modelo gerou riqueza econômica, mas trouxe consigo grandes problemas sociais e ambientais e, conseqüentemente, problemas econômicos (CURWELL; COOPER, 1998).

O crescimento da atividade industrial, com a conseqüente geração de maior quantidade de resíduos e poluentes e o crescimento da demanda por produtos e serviços, tem forçado o desenvolvimento de novas tecnologias para os processos produtivos, simultaneamente à necessidade de novas técnicas administrativas voltadas ao gerenciamento dessas atividades e sintonizadas com a preocupação ambiental (CASAGRANDE, 2002). Ao mesmo tempo em que os governos passaram a dedicar-se à busca de soluções para problemas ambientais, através de organismos reguladores específicos e a tentativa de implantação de acordos resultantes de conferências internacionais, organismos normalizadores passaram a trabalhar em normas técnicas de orientação às empresas, visando ao desenvolvimento de uma melhoria contínua e conseqüentemente gerando uma política ambiental (DONAIRE, 1995).

Com a intensa industrialização, advento de novas tecnologias, crescimento populacional e aumento de pessoas em centros urbanos e diversificação do consumo de bens e serviços, os resíduos se transformaram em graves problemas urbanos com um gerenciamento oneroso e complexo considerando-se o volume e a massa acumulada, principalmente após 1980. Os

problemas se caracterizavam por escassez de área de deposição de resíduos causadas pela ocupação e valorização de áreas urbanas, altos custos sociais no gerenciamento de resíduos, problemas de saneamento público e contaminação ambiental (CURWELL; COOPER, 1998; JOHN, 2000).

Segundo a Resolução n. 001/86 do Conselho Nacional de Meio Ambiente - CONAMA, a poluição é a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente:

a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota;

d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;

e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos.

Com a evolução dos processos industriais e o consequente surgimento de produtos que se tornaram de primeira necessidade, a atividade industrial adquiriu um caráter essencial na sociedade contemporânea. Embora sua importância seja indiscutível, a atividade industrial costuma ser responsabilizada por fatores de contaminação ambiental, principalmente pelo significativo acúmulo de matérias-primas e insumos, que envolve sérios riscos de contaminação por transporte ou disposição inadequada e pela ineficiência nos processos de conversão, o que implica a geração de resíduos. Dessa forma, sendo a emissão de poluentes (sólidos, líquidos e gasosos) uma conseqüência do processo produtivo, impactos danosos causados ao meio ambiente podem ser amenizados através da diminuição das quantidades descartadas. Tendo em vista que a redução da geração de resíduos, apesar de prioritária, é tecnicamente limitada, o melhor caminho a ser seguido é o da reciclagem (KRÜGER, 1995).

Pode-se dizer que os resíduos sólidos são gerados de duas formas na indústria: como subprodutos dos processos industriais ou como lodos das estações de tratamento de efluentes (ETE’s). Por isso, é importante o conhecimento das operações geradoras de resíduos, bem como dos fatores que afetam a geração nos processos de fabricação (TEXEIRA, 2002).

O retorno da matéria-prima ao ciclo de produção é denominado reciclagem, embora o termo já venha sendo utilizado popularmente para designar o conjunto de operações envolvidas. O vocábulo surgiu na década de 1970, quando as preocupações ambientais passaram a ser tratadas com maior rigor, especialmente após o primeiro choque do petróleo, quando reciclar ganhou importância estratégica. Na maior parte dos processos, o produto reciclado é completamente diferente do produto inicial. A reciclagem pode ser definida como a reintrodução de resíduos obtidos a partir de um produto, normalmente destinados à estocagem, novamente em um processo produtivo, com economia de material e energia (ESTRELLA, 1996).

No contexto da reciclagem, é importante a correta definição de termos como :

•••• Resíduo: utilizado para designar o que resta de um processo produtivo. •••• Rejeito: utilizado para designar o resíduo que não apresenta aplicação.

•••• Subproduto: utilizado para designar um resíduo que pode ser aplicado como matéria-prima

para uma série de outras indústrias.

Duas possibilidades de reciclagem de resíduos estão sendo empregadas: a reciclagem primária, onde o resíduo é incorporado dentro do mesmo processo que o originou, e a reciclagem secundária, definida como a reciclagem de um resíduo em outro processo produtivo que não aquele que o originou. A reciclagem primária é muito comum e possui grande importância na produção do aço e do vidro, mas é muitas vezes técnica ou economicamente inviável (CHEHEBE, 1994). Dificuldades com a pureza e a necessidade de controle estreito da uniformidade das matérias-primas são fatores que diminuem a competitividade da reciclagem primária (PINTO, 1999). Já a reciclagem secundária apresenta inúmeras possibilidades, particularmente no campo da construção civil.

Segundo JOHN (2000), a viabilidade do processo de reciclagem de determinado material, para além dos aspectos técnicos inerentes, depende de fatores como:

a) sua disponibilidade contínua;

b) a quantidade produzida, contínua ou intermitente; c) as condições de mercado;

d) os custos e a disponibilidade de transporte;

e) o consumo energético requerido para sua utilização; f) os prejuízos ambientais que provêm de sua reciclagem.

A reciclagem de resíduos é uma oportunidade de transformação de uma fonte importante de despesas em uma fonte de faturamento ou, pelo menos, de redução das despesas de deposição. A incorporação de resíduos nos processos produtivos reduz custos e abre novas oportunidades de negócios, além de reduzir o volume de extração de matérias-primas, preservando os recursos naturais limitados. Uma grande siderúrgica, por exemplo, produz mais de 1 milhão de toneladas de escória de alto forno por ano que valem no mercado cerca de 10 milhões de reais, sem contar a eliminação das despesas com o gerenciamento do resíduo (JOHN, 2001). Contrariamente à disposição controlada dos resíduos, a reciclagem é atrativa às empresas.

Se na ponta geradora do resíduo, a reciclagem significa redução de custos e até mesmo novas oportunidades de negócio, na outra ponta do processo, a cadeia produtiva que recicla reduz o volume de extração de matérias-primas, preservando os recursos naturais limitados.

Durante a ECO-92 e a definição da Agenda 21, houve destaque à necessidade urgente de se implementar um adequado sistema de gestão ambiental para os resíduos sólidos (GÜNTHER, 2000). De uma forma geral, esses ciclos tentam aproximar os setores industriais do conceito de desenvolvimento sustentável, definido como: “uma forma de desenvolvimento econômico que emprega os recursos naturais e o meio ambiente não apenas em beneficio do presente, mas também das gerações futuras” (SJÖSTROM, 1996). Segundo John (2001) esse conceito não implica somente multidisciplinariedade, envolve também mudanças culturais, educação ambiental e visão sistêmica.