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4 SÚMULA IMPEDITIVA DE APELAÇÃO

4.4 Recorribilidade

Toda decisão que nega seguimento à apelação tem caráter interlocutório, e como tal é recorrível por meio de agravo de instrumento dirigido ao tribunal, conforme dispõe o artigo 522 do Código de Processo Civil 71.

A decisão que não admite o recurso de apelação nos moldes do artigo 518, §1º, é, portanto, interlocutória e pode ser combatida através da interposição de agravo de instrumento dirigido ao Tribunal competente.

71 “Art. 522. Das decisões interlocutórias caberá agravo, no prazo de 10 (dez) dias, na forma retida, salvo quando

se tratar de decisão suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil reparação, bem como nos casos de inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em que a apelação é recebida, quando será admitida a sua interposição por instrumento.” Código de Processo Civil

Inclusive, a recorribilidade do instituto por meio de agravo já estava prevista no parecer do relator do Projeto de Lei, de forma que não há divergência quanto à sua admissão

72. O que se questiona é a duplicidade de recursos que a parte tem que interpor para poder

conseguir uma segunda opinião no tribunal.

Os autores que defendem a constitucionalidade da súmula impeditiva utilizam essa possibilidade conferida à parte de recorrer da decisão que nega seguimento ao recurso como argumento para afirmar que o princípio do duplo grau de jurisdição não sofre mitigação pelo trancamento da apelação no primeiro grau. Nessa linha, se a decisão que nega seguimento à apelação estiver equivocada, o erro poderá ser sanado pelo tribunal quando interposto o agravo de instrumento.

Ocorre que tal pensamento não coaduna com o espírito de celeridade processual e diminuição da sobrecarga de recursos, muito pelo contrário. Se por um lado se estará impedindo o processamento do recurso de apelação, por outro, dá-se margem à apresentação de agravo de instrumento. Na verdade, a parte acaba utilizando dois recursos - a apelação e o agravo - para combater uma única decisão.

Pelo idealismo do legislador as partes deveriam ter consciência de que a súmula reflete o entendimento dos tribunais, de forma que se já existe entendimento sumulado para o tema perseguido não haveria razão para interpor a apelação ou o agravo.

Nesse diapasão, a parte sucumbente, ciente de que sua demanda não será provida, não irá interpor recurso de apelação, e se o fizer, não irá interpor agravo de instrumento contra a decisão que negou seguimento ao seu primeiro recurso.

A realidade processual, contudo, é distinta: a súmula não reflete de forma estável os entendimentos mutantes dos tribunais e as partes não se satisfazem com o provimento do magistrado de primeiro grau.

Em diversos casos, até mesmo o Tribunal criador da súmula deixa de aplicá-la, e utiliza um entendimento destoante do sumulado. Quando isso ocorre nas decisões dos Tribunais Superiores, as conseqüências são gravosas, pois a súmula, que deveria servir de orientação para os demais tribunais e juízes, deixa de ser utilizada como paradigma, dada a nova orientação do Tribunal Superior.

72“De qualquer modo, caso o magistrado incorra em equívoco ao considerar sua decisão adequada ao

entendimento refletido pela Súmula, restará à parte a via do agravo de instrumento contra a decisão que não conhecer de sua apelação [...]” LEITÃO, Inaldo (Deputado PL - PB) Parecer do Projeto de Lei nº 4724/04. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/sileg/integras/290575.pdf> Acesso em: 20 de novembro de 2010.

Essa mutabilidade jurisprudencial confere às partes um sentimento de possibilidade do ganho de sua causa através de um novo entendimento contrário à súmula que foi aplicada pelo magistrado. Os recursos, então, passam a ser pautados em jurisprudências que se mostram favoráveis ao sucumbente, mas que, por vezes, não são aplicáveis ao caso in concreto.

Nessas circunstâncias, a parte que teve seu apelo inadmitido pelo juízo a quo dificilmente não irá interpor agravo de instrumento, buscando contornar a situação e fazer seu recurso de apelação ascender.

Para que o idealismo do legislador seja alcançado, é preciso que as partes estejam convencidas de que as súmulas são entendimentos consolidados, que não serão facilmente alterados73, o que não acontece efetivamente.

A conclusão a que chegamos é a mesma preconizada linha atrás: só haverá uma mudança perceptível na quantidade de recursos interpostos quando ocorrer a unificação jurisprudencial dos entendimentos dos Tribunais. Só assim as partes poderão conformar-se com a decisão proferida e ter a certeza de que o recurso interposto não irá proceder.

A instabilidade jurisprudencial, contudo, não é o único fator que obsta o completo alcance da súmula impeditiva. Há outro ponto crítico, pois o descontentamento com a sentença apelada não cessará se a apelação for inadmitida pelo mesmo juízo que proferiu a decisão combatida.

Se o objetivo do recorrente é obter uma decisão de segunda instância, ele não descansará até que seu apelo alcance os órgãos jurisdicionais superiores 74. A parte sucumbente, independente dos entendimentos preconizados pelos tribunais, prefere sempre apostar na chance de modificar a decisão desfavorável por qualquer dos meios de impugnação, nem que seja para protelar a execução do direito da outra parte.

Mais uma vez recaímos na necessidade de uma reforma cultural e não apenas legislativa. Não é suficiente modificar os procedimentos se os sujeitos processuais não mudarem suas atitudes individualistas.75

73 MEDINA; WAMBIER; WAMBIER, 2006, p. 228. 74 Ibid., p.236.

75 “[...] a reforma da organização responsável pela função jurisdicional não trará, sozinha, ao menos de forma

imediata, essa tão esperada “aceleração”. Os problemas da boa prestação jurisdicional, sabemos, são bem mais profundos: vão desde aqueles de ordem material e econômica até os de caráter cultural e intelectivo. Estes últimos, aliás, detentores, a nosso ver, de forte eficácia impeditiva dos efeitos benéficos que uma nova maneira de fazer o processo possa acarretar” (VIANA, 2006a, p. 53).

4.4.1 Provimento do agravo e subida da apelação

O agravo interposto contra a deliberação que nega seguimento à apelação tem o intuito de desconstituir a decisão do juízo a quo e permitir o seu regular processamento. Caso seja dado provimento à impugnação de instrumento, será determinado o recebimento da apelação interposta, devendo, então, a parte contrária ser intimada para contra-razoar.

A rigor, o provimento do agravo pressupõe um contingente de formalidades. Os autos devem ser remetidos à primeira instância, onde a parte contrária será intimada. Ato contínuo, apresentada a resposta ou decorrido o prazo in albis, os fólios são encaminhados para ao tribunal competente, a quem compete proferir o juízo de admissibilidade final. Recebida a apelação, o julgamento seria proferido.

Conforme as disposições processuais, esse é o procedimento válido a ser seguido. A regra, contudo, não prestigia a celeridade processual.

Se o intuito da apelação ser impedida de prosseguir é diminuir o trabalho dos juízes, os atos resultantes da súmula impeditiva também deveriam ter previsões céleres e não atravancadas como no caso do provimento do agravo. O que deveria ser uma alteração para conferir celeridade ao sistema, acaba criando situações puramente morosas.

Destarte, seria mais adequado e condizente com os princípios da celeridade e da economia processual que, ao invés de esperar o eventual julgamento procedente do agravo, a parte contrária já fosse intimada para responder os dois recursos simultaneamente, à semelhança do que já ocorre no processo do trabalho.76

Em que pese a possibilidade de o recorrido ter que apresentar peça inútil, o benefício para o trâmite processual é inquestionável. Ademais, a nosso ver, a comodidade individual da parte pode ser mitigada em nome de um procedimento célere.

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