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CAPÍTULO 3 – MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Recorte da pesquisa e fonte de dados

Embora o mote central dessa pesquisa seja a reorganização escolar proposta pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo em 2015, o que naturalmente nos leva a enfatizar a composição da população residente no estado naquele ano, a necessidade de contextualizar fatos e entender processos por vezes nos obriga a recuar o período da análise em várias décadas. Para caracterização do contexto demográfico, nos apoiamos na descrição

das pirâmides populacionais do estado nos últimos 40 anos, na evolução da taxa de fecundidade, nas taxas geométricas de crescimento da população e de grupos etários específicos, e nas taxas de mortalidade específica. Também consideramos nesse exercício as razões de dependência para descrever a janela de oportunidades paulista.

Os dados para os indicadores demográficos foram obtidos essencialmente dos Censos Demográficos produzidos pelo IBGE e das Estatísticas Populacionais disponibilizadas pela Fundação SEADE. As estimativas das taxas de mortalidade específicas por idade foram obtida a partir das Estatísticas Vitais mantidas pelo Ministério da Saúde via DataSUS.

Quanto à caracterização da população, consideramos dois subgrupos populacionais: (a) pessoas em idade escolar e (b) pessoas fora da idade escolar. A principal base de dados utilizadas para cumprir esse objetivo foi a PNAD 2015.

Por idade escolar, entendemos as idades onde está previsto por lei a escolarização obrigatória nas etapas do Ensino Fundamental e Médio da Educação Básica. Desde 2005, a idade de ingresso no primeiro ano do Fundamental é aos seis anos de idade (BRASIL, 2005). Em 2018, o Supremo Tribunal Federal entendeu que a criança teria de ter seis anos completos até 31 de março do ano letivo para ingressar no Ensino Fundamental. Já a idade esperada para concluir a última etapa desse nível educacional, isto é, o 3º ano do Ensino Médio, é aos 17-18 anos. Em 2009, a Emenda Constitucional 5938 muda a idade inicial de escolarização obrigatória, que passa a ser aos quatro anos de idade, com matrícula a ser efetivada na Educação Infantil (BRASIL, 2009). Deste modo, a legislação brasileira em vigência entende, portanto, que as idades obrigatórias de escolarização compreendem dos 4 aos 17 anos, sendo dos 4 aos 5 anos correspondentes à Educação Infantil, dos 6 aos 14 correspondentes ao Ensino Fundamental e dos 15 aos 17 anos correspondentes ao Ensino Médio.

Com isso, definimos também a população fora da idade escolar. Considerando-se o cálculo da distorção idade-série39 elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), estão fora da idade adequada para cursar determinada série aqueles que, no ano letivo corrente, completarem dois ou mais anos de idade além daquela recomendada (INEP, 2004). Desse modo, espera-se que o aluno ingresse no último

38 A Emenda Constitucional 59 (EC/59) (BRASIL, 2009), promulgada em 11 de novembro de 2009, alterou os

incisos I e VII do artigo 208 da Constituição Federal de 1988. O ingresso escolar no Ensino Fundamental, que era obrigatório aos 7 anos de idade, passou para 6 anos em 2005 (lei nº 11.114/2005) (BRASIL, 2005). No ano seguinte, o Ensino Fundamental teve sua duração ampliada de 8 para 9 anos (lei nº 11.274/2006) (BRASIL, 2006), iniciando-se aos 6 anos de idade. Em 2009, a EC/59 reduz a idade obrigatória de escolarização para 4 anos de idade, a ser cumprida com o ingresso na Educação Infantil.

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O INEP define a taxa de distorção idade-série como “o percentual de alunos, em cada série, com idade superior à idade recomendada” (INEP, 2004, p. 17).

ano do Ensino Médio com até 17 anos de idade. Se o aluno ingressa com 18 anos completos, ao longo desse ano letivo ele completará 19 anos de idade, o que caracteriza defasagem da idade em relação à série (3º ano do Ensino Médio). Seguindo esse raciocínio, acima de 19 anos40, já não há obrigatoriedade legal de estar matriculado no sistema de ensino, sobretudo nas etapas da Educação Básica. Portanto, assumimos a idade de 19 anos (inclusos) como marco para população fora da idade escolar obrigatória.

Já o limite etário do subgrupo das pessoas fora da idade escolar foi escolhido com base na definição utilizada para assinalar a População em Idade Ativa, isto é, limita-se à idade de 64 anos. Embora este seja um grupo etário bastante amplo e heterogêneo, o corte em 64 anos (inclusos) visa caracterizar a população correspondente aos adultos no cálculo das razões de dependência. O grupo 19-64 anos deixa de fora as idades de 15, 16, 17 e 18 anos que também comporiam a PIA. Contudo, inspiradas no trabalho de Saad; Miller e Martínez (2009), entendemos que esse corte ajuda na interpretação de um possível bônus demográfico no estado de São Paulo. O segmento 19-64 anos também permite discutir a educação em idades não consideradas nas políticas públicas de Educação Básica, salvo pela modalidade da Educação de Jovens e Adultos.

Para os dois subgrupos populacionais, procuramos conhecer as características daqueles que frequentavam e daqueles que não frequentavam alguma modalidade de ensino escolar. O intuito dessa divisão é estimar quantas pessoas não estão sendo atendidas pela oferta de educação na Educação Básica e quantas pessoas estariam aptas a ingressar ou retomar seus estudos nessa etapa do ensino. As pessoas em idade escolar e que não estão matriculadas na escola, não constam nos registros administrativos escolares, o que pode ser um fator de subenumeração do volume da demanda.

As idades que constituem a primeira infância41 (0-6 anos) são fundamentais sob o ponto de vista de desenvolvimento neurológico e psicomotor. Diversas são as orientações internacionais, como os do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), sobre o investimento em saúde e educação nessa fase da vida. Embora esse grupo etário perfaça a demanda pelos Anos Iniciais do Ensino Fundamental – e seja o primeiro a refletir os ecos da

40 Desde 2015, no estado de São Paulo, a idade mínima exigida para cursar a modalidade de Educação de Jovens

e Adultos (EJA) é de 15 anos completos para os anos finais do Ensino Fundamental (6º ao 9º anos) e de 18 anos completos para as três séries do Ensino Médio. (ver Resolução SE 47, de 18-09-2015.) (SÃO PAULO, 2015e).

41 O Brasil aprovou em 2016 um marco legal definidor da primeira infância (lei nº 13.257/2016) a fim de

oferecer suporte para melhorar as condições de vida das crianças com idades entre 0 e 6 anos de idade. A lei prevê serviços de orientação às gestantes e famílias, de família acolhedora, de ampliação da licença paternidade entre outros aspectos relacionados à saúde e à vida familiar (BRASIL, 2016).

queda da fecundidade – ele não constitui idade obrigatória escolar. Além disso, as crianças que frequentarem instituições de ensino, nessas idades, não estarão em sistemas seriados – o que impossibilita a análise de fluxo. Contudo, a análise descritiva desse grupo visa delinear parte do estoque/demanda para ingresso no primeiro ano do Ensino Fundamental.

Outro motivo para que o grupo etário de 0 a 5 anos fique restrito à análise descritiva, não sendo incorporado na construção dos indicadores, é o fato de que o atendimento escolar nessas idades é de responsabilidade majoritária dos municípios. O pacto federativo prevê que a oferta da Educação Infantil e dos primeiros anos do Ensino Fundamental seja de competência municipal; que os Anos Finais do Fundamental fiquem majoritariamente sob responsabilidade de municípios e dos estados; e que o Ensino Médio seja ofertado pelas redes de ensino estaduais. Portanto, a proposta de reorganização escolar estadual não impactaria diretamente na oferta de Educação Infantil.

Além da análise descritiva dos dois subgrupos populacionais, procuramos avaliar alguns dos indicadores relacionados à política de reorganização. Consideramos os indicadores de fluxo, necessários para estimar a demanda e selecionamos indicadores relacionados à oferta da Educação Básica no estado de São Paulo: participação das redes pública e particular na oferta dos ciclos da Educação Básica, média de alunos por turma segundo a rede e taxa líquida de escolarização.

Para análise das características da população e das escolas, e para a construção dos indicadores, empregamos dados provenientes de duas fontes: (1) a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 1985, 1995, 2005 e 2015, elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e; (2) o Censo Escolar da Educação Básica de 2014 e 2015, elaborado pelo INEP.