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Recuperação da prata em resíduos do processamento radiográfico

SUMÁRIO

APÊNDICE L – QUESTIONÁRIO FINAL (3ª ETAPA)

1 ASPECTOS HISTÓRICOS E QUÍMICOS DA ODONTOLOGIA

1.5 IMAGEM RADIOGRÁFICA: A QUÍMICA REVELADA

1.5.4 Recuperação da prata em resíduos do processamento radiográfico

Ressaltamos anteriormente a importância do descarte correto dos resíduos produzidos pela manipulação de materiais restauradores. Nesse sentido, ressaltamos o mesmo para os resíduos de fixadores de filmes radiográficos, além dos próprios filmes revelados, pois estes resíduos constituem fonte de prata (Ag) e, se descartados de maneira incorreta, mostram-se danosos ao meio ambiente e, consequentemente, à saúde.

A prata é um metal pesado e altamente poluidor. Por isso, conforme explicam Liporini, Mion e Cavalheiro (2012), sua liberação no ambiente é proibida por normas estabelecidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).

Grigoletto et al. (2011) afirmam que

De acordo com a Resolução nº 358/05 do Conama, os efluentes de processadores de imagem são considerados do grupo B, por apresentarem substâncias químicas que podem causar risco à saúde pública ou ao ambiente, dependendo de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade e toxicidade. Conforme descreve o artigo 21 da referida Resolução, os resíduos do grupo B, com características de periculosidade, como é o caso dos efluentes radiográficos, quando não forem submetidos a processos de reutilização, recuperação ou reciclagem, devem ser submetidos a tratamento e disposição final específicos. O artigo 22 diz que os resíduos do grupo B no estado líquido podem ser lançados em corpo receptor ou na rede pública de esgoto, desde que atendam às diretrizes estabelecidas pelos órgãos ambientais, gestores de recursos hídricos e de saneamento competentes (GRIGOLETTO et al., 2011, p. 301).

Conforme já mencionado, após o filme passar pelo revelador, ao chegar à solução fixadora, os sais de prata não revelados são “removidos” da película radiográfica por esta solução, ou seja, são solubilizados nela. Dessa forma, o recipiente contendo a solução fixadora também contém prata. Sobral e Granato (1984) afirmam que a recuperação da prata contida em soluções fixadoras exauridas – esgotadas, já utilizadas - é atividade indispensável e existem diversos compostos que possibilitam a precipitação química da prata a partir destas soluções fixadoras exauridas.

Estes autores apresentam alguns métodos para a recuperação de prata a partir de fixadores (soluções fixadoras exauridas), quais sejam: eletrorrecuperação, cementação e precipitação química. A Figura 30 apresenta de maneira esquemática estes métodos, com algumas das vantagens e desvantagens apresentadas pelos autores.

Figura 30 – Métodos de recuperação da prata de soluções fixadoras

Fonte: Autores.

Em publicação mais recente, Bortoletto et al. (2007) também afirmam que a precipitação química é um dos métodos para a recuperação de altas concentrações de prata das soluções fixadoras, podendo ser utilizados hidróxido de sódio e sulfeto de sódio para precipitar a prata.

Encontramos também na literatura métodos para recuperação de prata nas próprias radiografias, ou seja, nos filmes já revelados. Um método proposto por Kuya (1993) apresenta detalhadamente um processo para recuperar prata de filmes processados de raios X, e este pode ser realizado utilizando recursos caseiros e reagentes facilmente disponíveis no comércio.

O autor sugere, inclusive, que este procedimento para recuperação da prata de radiografias é uma atividade interessante do ponto de vista didático pois acredita que, além da motivação inicial provocada por se tratar de um metal nobre, pode-se usar este processo para abordar conceitos químicos com os estudantes. O Quadro 1 apresenta, resumidamente, a descrição das etapas ocorridas neste processo.

Quadro 1 – Resumo do processo da recuperação de prata de radiografias

Etapa 1

- Os filmes são imersos em solução diluída de alvejante doméstico a base de hipoclorito por 24h;

- A gelatina do filme contendo prata é removida, formando uma “lama” e deixando a base de acetato totalmente limpa, podendo ser reciclada;

- Ação do hipoclorito sobre a emulsão contida no filme:

4Ag + 2ClO- + H

2O  2AgCl + Ag2O + 2OH-

Etapa 2

- A “lama” sedimentada, é inicialmente escura e clareia devido à oxidação da prata (de Ag0 a AgCl), pela ação oxidante do hipoclorito;

- A “lama” contém: AgCl e Ag2O, Ag dispersa e material orgânico (proteínas da gelatina utilizada na emulsão do filme) ainda não hidrolisado;

- Fervê-la com NaOH e açúcar (sacarose), durante 30 min;

Etapa 3

- Ao fim da fervura, deve haver aglomeração de Ag metálica, como um material denso e fácil de isolar por decantação;

- Apesar da Ag obtida não apresentar o lustro típico deste material, tem todas as suas propriedades químicas, é de pureza razoável e pode ser utilizada para

diversas finalidades.

Fonte: (KUYA, 1993).

Nesse sentido, tal processo foi testado para os filmes utilizados nesta pesquisa. Contudo, não conseguimos o resultado esperado para a Etapa 3 sugerida pelo autor. Isso pode ser devido à pouca quantidade de filmes revelados, e, por serem filmes radiográficos odontológicos, de tamanhos pequenos, minimizaram a quantidade de resíduos para recuperação da prata.

Grigoletto et al (2011) afirmam que uma solução adequada para o problema deste descarte seria a substituição dos equipamentos de radiografia tradicionais pelos equipamentos de radiografia digital, os quais não utilizam soluções químicas no processamento radiográfico e não geram efluentes. Isto também evita o contato dos trabalhadores com as substâncias químicas destas soluções, minimizando os impactos na saúde ocupacional, ambiental e na saúde pública em geral.

Porém, considerando os consultórios e demais ambientes da área da saúde que ainda não contam com equipamentos de radiografia digital, e o custo elevado de tratamentos para a recuperação da prata, destacamos a importância do encaminhamento correto destes resíduos para descarte. Os resíduos gerados pela atividade experimental realizada nesta pesquisa, foram encaminhados para descarte no laboratório de Química Analítica do departamento de Química da UFSM.

Neste capítulo, algumas das relações possíveis entre a Química e a Odontologia foram apresentadas. No capítulo 2, será abordada a temática “Química na Odontologia” no ensino, suas relações com conteúdos de Química, a utilização de temáticas no ensino de química, os Temas Químicos Sociais, dentre outros tópicos.

2 O ENSINO DE QUÍMICA A PARTIR DA TEMÁTICA “QUÍMICA NA