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2.2 PRINCÍPIOS RECURSAIS

3.3.3 Recurso especial repetitivo

Segundo o artigo 105, III, da CRFB, o recurso especial pode ser interposto nas causas decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais de Justiça dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida, contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência; julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal; e der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal.110 O Código de Processo Civil prevê a hipótese do recurso especial repetitivo, no artigo 1.036, conforme segue:

Art. 1.036. Sempre que houver multiplicidade de recursos extraordinários ou especiais com fundamento em idêntica questão de direito, haverá afetação para julgamento de acordo com as disposições desta Subseção, observado o disposto no Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal e no do Superior Tribunal de Justiça. § 1o O presidente ou o vice-presidente de tribunal de justiça ou de tribunal regional federal selecionará 2 (dois) ou mais recursos representativos da controvérsia, que serão encaminhados ao Supremo Tribunal Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça para fins de afetação, determinando a suspensão do trâmite de todos os processos pendentes, individuais ou coletivos, que tramitem no Estado ou na região, conforme o caso.

108 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; DANTAS, Bruno. Recurso especial, recurso extraordinário e a nova função dos tribunais superiores no direito brasileiro. 3. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. p. 386.

109 ASSIS, Araken de. Manual dos recursos. 8. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. p. 316-317.

110 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 30 mar. 2017.

§ 2o O interessado pode requerer, ao presidente ou ao vice-presidente, que exclua da decisão de sobrestamento e inadmita o recurso especial ou o recurso extraordinário que tenha sido interposto intempestivamente, tendo o recorrente o prazo de 5 (cinco) dias para manifestar-se sobre esse requerimento.

§ 3º Da decisão que indeferir o requerimento referido no § 2º caberá apenas agravo interno.

§ 4o A escolha feita pelo presidente ou vice-presidente do tribunal de justiça ou do tribunal regional federal não vinculará o relator no tribunal superior, que poderá selecionar outros recursos representativos da controvérsia.

§ 5o O relator em tribunal superior também poderá selecionar 2 (dois) ou mais recursos representativos da controvérsia para julgamento da questão de direito independentemente da iniciativa do presidente ou do vice-presidente do tribunal de origem.

§ 6o Somente podem ser selecionados recursos admissíveis que contenham abrangente argumentação e discussão a respeito da questão a ser decidida.111

Assis assevera que é da maior importância a seleção dos recursos especiais representativos da controvérsia, a cargo do presidente ou do vice-presidente do TJ ou do TRF, ou do relator do recurso especial no STJ. Uma má escolha, recaindo sobre acórdão fundamentado insuficientemente, impedirá a análise cabal das teses em confronto. Dificilmente há condições de avaliar os requisitos do art. 1.036, § 6º, do CPC,112 nos recursos pendentes nos tribunais de segundo grau do território brasileiro, subentendendo-se que sejam casos ideais.113 Na visão de Marinoni, esses requisitos vêm sendo compreendidos tanto na doutrina quanto na prática, a partir da premissa de que o Superior Tribunal de Justiça é uma corte de correção das decisões dos tribunais estaduais e regionais federais.114 Nesse sentido, aponta aspectos no que tange ao processo decisório e questiona a formação do precedente:

O raciocínio decisório, que no caso do colegiado depende de efetivo debate e diálogo entre os juízes acerca de todos os argumentos que importam para a tomada de decisões instrumentais (que objetivam o alcance da decisão do caso) e da própria decisão final, deve ser analisado com muita cautela antes de se proclamar a decisão e a ratio

decidendi115. Isso porque chega a ser comum, nos colegiados, proclamar decisões

111 BRASIL. Lei Nº 13.105, de 16 de março de 20l5. Código de Processo Civil. Brasília, DF: Presidência da República. Casa Civil, 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-

2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 30 mar. 2017.

112 BRASIL. Lei Nº 13.105, de 16 de março de 20l5. Código de Processo Civil. Brasília, DF: Presidência da República. Casa Civil, 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-

2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 30 mar. 2017.

113 ASSIS, Araken de. Manual dos recursos. 8. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. p. 970.

114 MARINONI, L. G.; ARENHART, S. C.; MITIDIERO, D. Julgamento colegiado e precedente. Revista de Processo. v. 264, p. 357-394, 2017. Revista dos Tribunais Online. Disponível em:

<http://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/resultList/document?&src=rl&srguid=i0ad82d9a0000015c5659 4a36289bd8e7&docguid=I6e429ca0c66311e6a945010000000000&hitguid=I6e429ca0c66311e6a945010000000 000&spos=1&epos=1&td=1&context=32&crumb-action=append&crumb-

label=Documento&isDocFG=false&isFromMultiSumm=&startChunk=1&endChunk=1>. Acesso em: 25 maio 2017. Acesso restrito via meu pergamum.

115 Razão de decidir.

CARLETTI, Amilcare. Dicionário de latim forense. 10. ed. rev. São Paulo: Liv. e Ed. Universitária de Direito, 2011.

destoantes do raciocínio decisório. O verdadeiro problema é que, enquanto no “juízo singular” o raciocínio decisório, a decisão e a justificativa estão enfeixadas nas mãos de uma só pessoa, no julgamento colegiado o Ministro que o preside nem sempre tem presente com exatidão a expressão da vontade dos seus membros e a exata extensão da discussão em relação aos pontos relevantes à proclamação do resultado, cuja clareza, inclusive, pode se perder no curso dos debates. [...] Quando se está diante de julgamento apto à formação de precedente, obviamente não importam apenas as conclusões dos votos, mas relevam as razões expressas em cada um deles. Isso porque a sorte de um precedente depende da sua ratio decidendi, e não de se saber qual dos litigantes resultou vitorioso em razão do recurso. [...] Sublinhe-se que se está a falar de proclamação da decisão e da ratio, o que é absolutamente desconhecido na prática do direito brasileiro. Como se sabe, não há, entre nós, qualquer preocupação com a

ratio decidendi no momento da definição do resultado do julgamento. Porém,

tratando-se de Corte de Precedentes e, portanto, de colegiado que não está apenas elaborando decisão para os litigantes ou simplesmente solucionando o recurso, é imprescindível proclamar a eventual ratio ao lado da decisão. 116

Wambier e Dantas apontam que os países de civil law têm a tendência e a tradição de respeitar jurisprudência repetitiva e firme de quaisquer órgãos de segunda instância, ao passo que as decisões de Tribunais Superiores têm a vocação de se tornar precedentes, porque se reconhece a função paradigmática desses Tribunais, para que sirvam de modelo aos demais órgãos do Poder Judiciário. O fato de haver entendimentos diferentes nos Tribunais a respeito da mesma questão jurídica equivale à existência de duas normas diferentes disciplinando a mesma situação. As decisões proferidas em recursos repetitivos pelo Superior Tribunal de Justiça devem ser obrigatoriamente respeitadas, sob pena do manejo de medida ou ação especialmente concebida para esse fim, segundo os termos dos artigos 1.036 e seguintes, e 988, inciso IV, do CPC117. 118

Abordado o recurso especial para o STJ, com base no estudo das concepções dos doutrinadores e dispositivos legais concernentes ao tema, a seguir será tratado o recurso extraordinário.

116 MARINONI, L. G.; ARENHART, S. C.; MITIDIERO, D. Julgamento colegiado e precedente. Revista de Processo. v. 264, p. 357-394, 2017. Disponível em:

<http://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/resultList/document?&src=rl&srguid=i0ad82d9a0000015c5659 4a36289bd8e7&docguid=I6e429ca0c66311e6a945010000000000&hitguid=I6e429ca0c66311e6a945010000000 000&spos=1&epos=1&td=1&context=32&crumb-action=append&crumb-

label=Documento&isDocFG=false&isFromMultiSumm=&startChunk=1&endChunk=1>. Acesso em: 25 maio 2017. Acesso restrito via meu pergamum.

117 BRASIL. Lei Nº 13.105, de 16 de março de 20l5. Código de Processo Civil. Brasília, DF: Presidência da República. Casa Civil, 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-

2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 30 mar. 2017.

118. WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; DANTAS, Bruno. Recurso especial, recurso extraordinário e a nova função dos tribunais superiores no direito brasileiro. 3. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. p. 275-278.