• Nenhum resultado encontrado

2.4. ATRIBUTOS DA PESSOA

2.4.2. Recursos

Após apresentar o conjunto de características identificadas como disposições pessoais, direcionamos o foco para um segundo conjunto de atributos pessoais. O segundo tipo de atributos pessoais que influenciam os processos proximais foi denominado de recursos. Os recursos pessoais, não possuem por si próprios nenhuma disposição seletiva para a ação, no entanto constituem ativos e passivos biopsicológicos (BRONFENBRENNER & MORRIS, 1999, p.59) que influenciam a capacidade de um organismo a ocupar-se efetivamente em processos proximais (BRONFENBRENNER & MORRIS, 1999). Assim como os atributos relativos às disposições foram identificados como gerativos ou disruptivos, os atributos são identificados como pólo positivo e como pólo negativo ou ainda como colocado por Bronfenbrenner, manifestos em duas categorias, os ativos e os passivos.

A categoria de recursos que envolvem as condições ativas, ou como pólo positivo, associadas com competência toma forma de habilidades, conhecimentos, destrezas e experiências pessoais, que pela sua evolução sobre a maior parte do curso da vida, estende-se a domínios no qual os processos proximais fazem seu trabalho construtivo. Dessa maneira, estas condições tornam-se outra fonte de padrões progressivamente mais complexos de interações, constituindo assim uma propriedade que coloca definições nos processos proximais (BRONFENBRENNER & MORRIS, 1999).

As condições passivas, ou de pólo negativo, são associadas às disfunções que limitam ou rompem a integridade funcional de um organismo, tais como defeitos genéticos, baixo peso, dificuldades físicas, doenças severas persistentes, danos

cerebrais causados por acidentes ou processos degenerativos (BRONFENBRENNER, 1995; BRONFENBRENNER e MORRIS, 1998, 1999).

Os recursos pessoais que se mostraram mais significativos em estudos realizados no âmbito esportivo são apresentados na forma de características física, técnica, tática, social e emocional. Em oposição, encontram-se os fatores que mais atrapalham ou prejudicam seu desenvolvimento da prática de atividades esportivas. Utilizemos o que foi colocado por Krebs (1987), onde a aquisição de um movimento perfeito passa inicialmente pela construção do plano motor por parte do indivíduo, para somente depois ser então aprendido, automatizado através da prática e, finalmente, refinado e aperfeiçoado. A aquisição do controle sobre movimentos específicos, o que capacita tecnicamente a pessoa a jogar, pode aumentar o seu sentimento de sucesso e, conseqüentemente, o significado que a aquisição no domínio desses movimentos passa a ter para cada escolar. Ainda podemos citar Petterson, Anderson & Klavora (1997) que observaram a aquisição do padrão maduro nos movimentos fundamentais, como levando a uma maior eficiência no movimento, servindo como uma base para o sucesso e o desenvolvimento continuado em muitas habilidades esportivas. Pode-se assim concluir que o fato de o escolar conseguir executar a habilidade desejada e ter eficiência nos seus movimentos possibilita o reconhecimento de que o recurso ativo ou de pólo positivo proporciona uma disposição gerativa para maior engajamento nas atividades e uma maior realização pessoal, mostrando assim que os atributos da pessoa não são indissociáveis e que não podem ser vistos de forma isolada.

De forma oposta ao recurso ativo ou de pólo positivo temos o recurso passivo ou de pólo negativo podendo ocorrer de acordo com fato que foi observado em estudo de Vieira J. L.(1999), onde a presença de lesões foi, entre outros, um dos fatores que conduziu talentos paranaenses ao abandono definitivo do esporte, afetando diretamente a disposição desses desportistas. Podemos ainda citar o fato de, que inicialmente, nos processos de estimulação e aprendizagem motora, se o indivíduo não possuir o domínio efetivo do movimento, não significa que esses recursos irão se constituir em um limite permanente. O que em um determinado período de tempo pode constituir-se como um fator que impusera limites, posteriormente tornou-se um dos principais recursos, ou seja, uma transição na tomada de consciência desse recurso de negativo para positivo. A variabilidade no domínio desses recursos deve ser entendida como resultado de um conjunto de

outros fatores de ordem interna e externa. Neste sentido, os processos maturacionais, os recursos físico-cinestésicos, como força, velocidade, agilidade, peso, estatura, o domínio e aperfeiçoamento de técnicas, o tempo de prática, as experiências anteriores, os processos de aprendizado, entre outros, devem ser considerados.

Inicialmente, possuir recursos físico-cinestésicos que se destacam muito dos outros, como, por exemplo, a velocidade, força, agilidade em quadra, pode se tornar um instrumento importante na atividade espontânea; mas à medida que se avança na atividade, percebe-se que vai ocorrendo um nivelamento desses recursos físico- cinestésicos, onde o mais importante é não possuir um desequilíbrio entre eles, mas podendo, é claro, existir alguns que se destaquem mais e tornem-se um recurso fundamental. Sendo assim, existindo o domínio de técnicas básicas e ganho de qualidade física que permita uma boa atuação nas atividades espontâneas, estes parecem ser percebidos como recursos indispensáveis e disponíveis para o indivíduo. Outro fator de grande importância é o controle emocional na interação com a elaboração da ação desejada. Este fator possibilita que o escolar tenha condições de avaliar os seus recursos e disposições a favor de uma inversão num momento de dificuldade para torná-lo do negativo para o positivo ou perceber que ainda precisa melhorar algum ponto especifico das suas atividades, técnicas e das suas posturas.

Gallwey (1996) e Orlick (1999) consideram como a mais importante das aptidões, capacidade mental, a concentração. A utilização de um determinado recurso percepto-cognitivo pode ser tanto positiva para alguns escolares quanto negativos para outros. Por outro lado, somando-se a esse conjunto de recursos, existe a dificuldade em obter um nível de concentração satisfatório; ou mesmo, quando de sua presença, garanti-la por um período de tempo prolongado. Recurso este que muitas vezes perdura por um período de tempo prolongado, ou se manifesta durante uma determinada atividade, onde há a dificuldade de mantê-lo estável em diferentes situações. Por vezes, não consegue ser incorporado ao conjunto de recursos positivos do escolar, de maneira mais efetiva. O contexto possui muitas ações e interações solicitando muita atenção do escolar, favorecendo muitas vezes a sua distração e a não concentração na atividade proposta.

É fundamental aprender qual o método para focar, quando conseguem ter os

desenvolvê-los. Por isso, estar absorvido na tarefa a realizar leva os indivíduos a terem desempenhos melhores de todas as suas capacidades, seja no desporto ou em qualquer outro tipo de atividade de caráter cognitivo.

O terceiro grupo de recursos pessoais diz respeito aos recursos sócio- emocionais. Como destacado por Bronfenbrenner & Morris (1999), as disposições pessoais disruptivas podem ser vistas como uma imagem invertida das características pessoais desenvolvimentalmente geradoras. O que se percebe acerca desses recursos é que existe uma disposição pessoal para tentar controlar as emoções desencadeadas por um determinado evento, seja ele gerado pela situação do jogo (ansiedade e nervosismo), ou pelos próprios erros cometidos, pela projeção colocada a atividade ou mesmo pela dificuldade de conseguir manter uma consistência no controle das emoções. A falta de disposição para controlar as emoções não é tão evidenciada, mas sim a dificuldade em efetivamente ter esse domínio. Esses estados emocionais apresentam uma forte interação com o significado que o jogo ou resultado representa para o escolar ou, muitas vezes, para com a demanda social criada pelos demais.

As emoções são inatas e geradas automaticamente na porção límbica de nosso cérebro, mas são alteradas e moldadas ao longo da vida pelas experiências que vivenciamos em nosso meio (STEINER, 1998). As emoções são individuais, pois uma mesma situação não desencadeia uma reação igual para todos os indivíduos devido à ressonância psicológica e todo o contexto de significação que pode tomar num indivíduo determinado (DEITOS, KREBS, COPETTE & COLS., 1997, p.131). Com base nesses autores ainda podemos dizer que as emoções são os dispositivos para a ação humana, são disposições pessoais e desencadeiam a desadaptação e o esforço de um organismo para restabelecer o equilíbrio momentaneamente interrompido. No entanto, ter a capacidade para controlá-las é que constitui a essência desse conjunto de recursos pessoais. O estabelecimento efetivo do controle emocional enquanto um aspecto da força pessoal deve ser compreendido como resultante dos fatores ambientais e educacionais (KREBS, COPETTE & COLS. 1997). No entanto, a adaptação do indivíduo pode variar como uma função da intensidade da emoção e da natureza desta. Sendo assim, é importante levar em consideração o contexto, o processo e sua a intensidade, a pessoa e sua percepção e o tempo de duração, pois todos irão influenciar nas emoções do escolar.

Aumentando a complexidade do processo de interdependência entre os recursos físico-cinestésicos, percepto-cognitivos e sócio-emocionais, há de se considerar ainda que toda a trajetória de envolvimento com o esporte, que lhe seja útil para aquele momento, está refletida nas vivências positivas e negativas pelas quais cada indivíduo passou ao longo de sua vida, as quais são internalizadas e configuram-se como experiências pessoais. Sendo assim, a ação executada dependerá sempre da interação do conjunto de recursos do escolar, solicitados para uma determinada ação. No entanto, os recursos não terão significado se lhe faltarem às disposições, ou vice-versa. Ter a disposição pessoal para reorganizar suas ações quando estas não estão dando certo no decorrer da atividade, como foi citado anteriormente, solicita um conjunto de recursos pertinentes para tal. Os recursos não geram a ação, mas capacitam-nos para tal. Estudos têm mostrado que indivíduos que se percebem como competentes ou capazes (BUTTERFIELD & LOOVIS, 1998; PETTERSON, ANDERSON & KLAVORA, 1997; PAPAIOANNOU, 1997; DUDA, 1992; ULRICH, 1987) tendem a se envolver mais em atividades e permanecer por mais tempo engajados nelas, o que reflete o poder de influência dos recursos sobre as disposições pessoais.

Evidencia-se então que os recursos pessoais de cada escolar também integram o conjunto de forças capazes de fortalecer ou enfraquecer determinadas disposições pessoais. Os recursos pessoais também podem assumir um importante papel, na interação para desencadear, fortalecer ou enfraquecer determinadas disposições pessoais, tanto positiva como negativamente. O campo de força das disposições pessoais passa então a incluir, além das forças dos contextos, os recursos pessoais dos escolares. Além disso, a dimensão tempo não pode ser esquecida e necessita ser compreendida na continuidade ou descontinuidade dos fatores de interação, na constância e consistência dos recursos pessoais e na trajetória pessoal, representadas no momento atual e histórico de cada escolar.

Os recursos pessoais apresentam-se como o conjunto de ferramentas utilizadas pelo escolar na ação e refletem suas capacidades para atuar com competência. Estes também podem ser compreendidos como positivos ou negativos. Os primeiros refletem os recursos que capacitam, facilitam e qualificam a ação do escolar, ao passo que os negativos não significam somente a ausência destes, mas também aqueles que se apresentam de maneira insatisfatória. Ainda,

(BRONFENBRENNER & MORRIS, 1999), cujo poder está em não permitir, ou mesmo incapacitar o escolar a ocupar-se efetivamente na ação. Estes recursos podem romper a integridade biopsicológica do escolar, podendo afastá-lo da atividade temporariamente ou mesmo definitivamente. Incorporados ao conjunto de recursos pessoais também devem ser considerados os conhecimentos e as experiências pessoais adquiridas ao longo da trajetória pessoal de cada escolar. Esse conjunto de recursos pessoais destaca-se por dois aspectos; primeiro, por capacitar o escolar para a ação; e segundo, pelo potencial de influência que possui sobre as características de disposições pessoais. É importante visualizar a interação que existe no conjunto de recursos que compõem o repertório de cada escolar para entender como realiza sua atuação nas atividades espontâneas na escola.

Portanto mais uma vez os atributos pessoais mostram-se indissociáveis e podem ter variações mais amplas de acordo com cada indivíduo, mostrando uma particularidade na sua percepção, podendo variar de passivo a ativo (negativo a positivo) de acordo com o contexto. O recurso foi apresentado e deve ser entendido dentro da sua complexidade e suas inter-relações entre os demais atributos da pessoa e a relação entre pessoa, processo, contexto e tempo.

Documentos relacionados