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Os recursos didáticos da Escola Municipal Pólo Mariza Ferzelli

2 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO DIDÁTICO: BASE ESTRUTURAL DA

2.3 Os três aspectos da organização do trabalho didático na Escola Municipal Pólo Mariza

2.3.3 Os recursos didáticos da Escola Municipal Pólo Mariza Ferzelli

Na organização do trabalho didático da Escola Municipal Pólo Mariza Ferzelli, além do espaço físico e da relação educativa, os recursos didáticos (as tecnologias) também compreendem esse contexto, pois são eles que possibilitam a transmissão, a construção e a apropriação do conhecimento entre os sujeitos envolvidos na relação educativa em um determinado espaço físico.

Nas observações realizadas na organização do trabalho didático da Escola Municipal Pólo Mariza Ferzelli, constatamos que — nos procedimentos técnicos e metodológicos — os professores utilizam os recursos propícios e que estão disponibilizados para serem utilizados em suas práticas pedagógicas em sala de aula.

Notamos que, entre os recursos disponíveis na instituição escolar, o único em quantidade suficiente ao número de alunos, é o livro didático que mesmo com atrasos (quando comprados por empresas terceirizadas), não faltam, pelo contrário, sobram exemplares nos armários da Escola.

Lamentavelmente, esse recurso didático, emergente na época de Comenius, ainda sobrevive fortemente nos dias atuais, mesmo que insuficiente às práticas de leitura e escrita, e isso talvez esteja relacionado ao que Alves (2001) enfatiza

[...] o conhecimento culturalmente significativo que circula por diversos canais da sociedade, desde os de caráter privado, como a família e as empresas, até os referentes a muitas das instituições públicas, não penetra o espaço da escola, a instituição que celebra como sua a função de transmitir o conhecimento. (ALVES, 2001, p. 244)

No entanto, este recurso didático, inerente à Escola manufatureira, caracterizado como meio de simplificação do trabalho do professor, não tem sido utilizado de forma intensiva no desenvolvimento dos conteúdos ministrados pelos professores da Escola pesquisada. Nas turmas em geral, tem sido utilizado eventualmente. Muitos professores, preferem pesquisar na

internet, imagens de atividades relativas ao conteúdo a ser explorado e aplicar aos alunos. No entanto, admitem precariedade e insuficiência de recursos tecnológicos digitais.

Talvez esta prática possa ser atribuída à indignação dos professores em relação ao aviltamento dos órgãos que realizam a distribuição deste recurso que, na maioria dos casos, não os permitem participam do processo de escolha do livro didático proposto pelo MEC ou possibilitam participação simbólica. Ou seja, os trâmites de “democracia” nestas propostas são simulações para representar um justo processo democrático.

Por outro lado, essa prática, acaba por gerar outro problema, tendo em vista que, geralmente, as atividades retiradas da internet são aleatórias, extraídas de sites inseguros que, em muitos casos, apresentam ausência de autoria, qualidade ruim de impressão, com digitalizações contendo erros. Além disso, aumentam o consumo de papel e tinta (impressões), onerando a escola com o aumento de gastos financeiros e colaborando com a produção da indústria de fabricação de papel e toner.

Nas salas de aula, alguns outros recursos estão presentes e são utilizados também na mediação educativa. A lousa, que ocupa quase toda a parede frontal da sala de aula, é branca e utilizada com pincel. Essa lousa recentemente substituiu o quadro negro que utilizava o giz. Alguns professores ainda estão aperfeiçoando suas escritas com a utilização de pincéis, alegando que seus traçados têm sido trêmulos, dificuldade encontrada por estarem habituadas ao uso do giz.

Nas paredes das salas de aula são fixados cartazes com sílabas, alfabetos, números, “combinados da turma”, conteúdos ministrados. No caso das turmas de 4° e 5° anos do Ensino Fundamental há também tabuada, mapas, classe das palavras (morfologia), entre outros.

Todas as turmas da Escola contam com um acervo de livros de leituras enviados pelo Ministério da Educação. Nas turmas de alfabetização, os professores dão maior ênfase à utilização desses recursos, organizando um “Cantinho para Leitura”, em sua maioria decorados, tornando-se atrativos para as crianças. Os professores utilizam diversas técnicas nos momentos de leitura: alguns sentam no chão em forma de círculo e leem para seus alunos, outros formam esse círculo com as cadeiras. Também há os professores que preferem ler o livro passeando pelos espaços livres entre as mesas dos alunos e outros colocam o aluno à frente da sala para ler, enquanto os demais acompanham e ainda, alguns professores fazem leituras coletivas, onde cada aluno lê uma parte do texto. Enfim, são muitas as possibilidades no que tange esse aspecto.

Existem práticas educativas que ocorrem fora do espaço restrito da sala de aula, utilizando outros recursos que não sejam a lousa e o livro. Na sala de vídeo, há uma televisão que os professores utilizam para transmitir um filme, um documentário para fazer relação com

o conteúdo. Ainda contam na sala de tecnologia, com outros recursos, como o computador e lousa digital.

De uma forma geral, foram apresentados os recursos didáticos que intermediam o processo educativo na Escola. Este aspecto será retomado com maior especificação no capítulo três, ao apresentarmos sua efetivação no processo de ensino e aprendizagem.

Toda essa organização descritiva do trabalho didático tem suas raízes em um contexto de transformações sociais que João Amós Comenius, considerado o mentor da didática moderna, elaborou no século XVII. Um tratado da arte universal de ensinar tudo a todos, em que defende a necessidade de a Escola ser construída ao plano das artes, com uma visão de organização da manufatura e por anunciar nessa proposta de ensino, publicada como “Didática Magna”, uma filiação à divisão do trabalho, como enfatiza Alves (2001):

[...] o educador morávio pressupunha uma organização para a atividade de ensino, no interior da escola, que visava equipará-la à ordem vigente nas manufaturas, onde a divisão do trabalho permitia que diferentes operações, realizadas por trabalhadores distintos, se desenvolvessem de forma rigorosamente controlada, segundo um plano prévio e intencional que as articulava, para produzir mais resultados com economia de tempo, de fadiga e de recursos (ALVES, 2001, p. 83).

Comenius explica logo na introdução de sua obra, as características e os objetivos almejados ao propor a criação da Escola para todos:

A proa e a popa da nossa Didática será investigar e descobrir o método segundo o qual os professores ensinem menos e os estudantes aprendam mais; nas escolas, haja menos barulho, menos enfado, menos trabalho inútil, e, ao contrário, haja mais recolhimento, mais atrativo e mais sólido progresso; na Cristandade, haja menos trevas, menos confusão, menos dissídios, e mais luz, mais ordem, mais paz e mais tranquilidade. (COMENIUS, 2001, p. 12)

Para a execução dessa proposta, este professor e pastor protestante, elabora o recurso que atenderia a situação econômica da época, o manual didático – o instrumento de trabalho do professor para o desenvolvimento do processo educativo.

Essa nova tecnologia, propunha simplificar e objetivar o trabalho didático, de forma que qualquer homem com certa instrução, pudesse ensinar. Assim como o trabalho artesanal foi gradativamente superado pela manufatura, o método do ensino individualizado, também seria superado pelo simultâneo, para que a Escola atendesse a todos. Logo, seria necessário desvencilhar-se do mestre sábio, aquele testemunhado por Erasmo com caraterísticas de “bons

costumes”, “caráter meigo” e, sobretudo “dotado de conhecimentos invulgares”, como este

humanista o definia “artífice primoroso”. (ALVES, 2001, p. 88)

Ao findar este capítulo em que buscamos descrever a organização do trabalho didático da Escola pesquisada, mostrando suas especificidades e características próprias com ênfase nos aspectos que a definem – relação educativa, espaço físico e os recursos didáticos, pretendemos, no capítulo 3, apresentar de forma mais detalhada, a concretude das mídias digitais disponíveis à relação educativa da Escola Municipal Pólo Mariza Ferzelli.

3. RECURSOS TECNOLÓGICOS PARA A ALFABETIZAÇÃO NA