• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.3 CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA B

4.3.3. Recursos interorganizacionais da Empresa B

Os recursos particulares de relacionamento para o caso específico da Empresa B estão normalmente associados ao relacionamento interpessoal existente entre diferentes gestores/funcionários de empresas do setor de calçados da Grande João Pessoa, que compartilham alguns tipos de recursos tangíveis e/ou intangíveis, gerando certa cooperação ou interdependência entre estas empresas. O benefício que esse compartilhamento permite supera benefícios que gerariam para a Empresa B individualmente, isto é, caso não houvesse o compartilhamento.

Tal compartilhamento, troca ou transferência ocorre especialmente para recursos como: matérias-primas, equipamentos, peças, conhecimento e experiências dos funcionários, e informações/conhecimentos sobre técnicas, procedimentos e/ou melhorias que estão de, alguma forma, relacionadas ao processo produtivo das empresas que fazem esse tipo de transferência.

No caso de uma parceria, vamos supor que ele [parceiro] vai fazer um produto pra gente que ele tá com dificuldade e pede uma ajuda técnica, a gente então tira uma pessoa da nossa área técnica que vai visitar ele, conversar e lhe dar o apoio técnico dentro daquele processo. Então nesse aspecto tem sim [compartilhamento de recursos]. [Entrevistado B1 2:32 (146:146)]. A gente tem alguns parceiros nesse ramo e a gente tem que compartilhar informações com eles [...]. Então nossos parceiros modulam os processos deles de acordo com as informações que nós passamos. [Entrevistado B2 2:33 (148:148)]. [...] O que eu sei é que com a parceria, a gente acaba trocando informações com nossos colegas dessas outras empresas que acabam nos beneficiando de alguma forma, seja pela adoção ou não de determinada técnica, ou equipamento, enfim, algo desse tipo. [Entrevistado B2 2:35 (157:157)]

[...] Eu já cheguei a pegar equipamentos e peças com a Empresa C (que é uma concorrente minha). Eu conheço um colega lá e ele me empresta. Quando chega o meu, eu devolvo para ele. Aqui também com uma outra fornecedora nossa, há dois meses atrás eu peguei um óleo térmico que eu precisava para uma máquina nova que chegou aqui... Sem problemas. Depois a gente devolve. [Entrevistado B2. 2:56 (277:277)]

Questionados sobre a existência de melhorias oriundas do relacionamento que tenham com empresas parceiras, não apenas com fornecedoras ou clientes, mas também instituições, os entrevistados concordam sempre haver alguma melhoria por conta das informações ou outros tipos de recursos que são trocados entre eles, conforme se observa nas afirmações:

[...] A gente acaba melhorando algo que a gente tem aqui, evitando algum erro. Ou seja, pode reduzir um custo que a gente tinha antes. [Entrevistado B2 2:38 (171:171)]. Eu uso, constantemente, estagiários dentro da área de engenharia de manutenção para reverter alguma coisa em tecnologia e até desenvolver alguns temas. Por exemplo, no final de 2012 eu utilizei o conhecimento de um estagiário que eu tinha aqui de Engenharia Mecânica (que não era nem a área dele, mas...) para fazer um trabalho de

eficiência energética, e coloquei como um desafio para ele pesquisar e me apresentar um projeto para nós trocarmos alguns motores elétricos da fábrica e motores de alto rendimento; aumentar a tecnologia na parte de redução de consumo de energia elétrica. E foi feito um trabalho excelente, deu um ganho ótimo para a gente. [Entrevistado B2. 2:39 (178:178)].

Sendo assim, dentre os recursos interorganizacionais observados na Empresa B, foram identificados como recursos particulares de relacionamento: matérias-primas, equipamentos, peças que são compartilhadas com empresas parceiras, além da troca de conhecimento/informações e experiências dos funcionários, incluindo, dentre outros fatores, informações/conhecimentos sobre técnicas, processos, procedimentos e/ou melhorias. Cabe destacar que, para o caso da Empresa B, não foi identificado nenhum recurso que tenha sido criado exclusivamente por conta do relacionamento com outras empresas. Tais recursos estão ilustrados na Figura 14.

Figura 14 - Recursos particulares de relacionamento da Empresa B

Fonte: Dados da pesquisa (2014)

Os recursos sistêmicos identificados para a Empresa B foram: relação com universidades, qualidade da malha rodoviária para o escoamento da produção, a proximidade com os Portos de Cabedelo e Suape, a habilidade das pessoas da região, o posicionamento geográfico, o baixo custo da mão-de-obra, o clima da região e boa qualidade de vida em relação ao trânsito e ao aeroporto frente aos grandes centros do Sul e Sudeste, especialmente. Além destes, existe a própria relação de interação com a UFPB, SESI, SENAI, CIEE e com

São São São São São São Recursos particulares de relacionamento da Empresa B {1-6} Matérias-primas compartilhadas {1-1} Equipamentos compartilhados {2-2} Peças compartilhadas {1-1} Informações e/ou conhecimentos sobre matéria-prima {1-1} Informações e/ou conhecimentos sobre melhorias {1-1} Informações e/ou conhecimentos sobre processos e procedimentos {1-1}

órgãos de controle, que foram citadas no início da caracterização da Empresa B. Os recursos sistêmicos desta mesma empresa podem ser visualizados na Figura 15.

Figura 15 - Recursos sistêmicos da Empresa B

Fonte: Dados da pesquisa (2014)

Tais recursos podem ser identificados pelas afirmações dos entrevistados B1 e B2,

A malha rodoviária da Paraíba ajuda muito a gente em termos de escoamento. [Entrevistado B1 2:41 (192:192)]. Com relação às rodovias é tranquilo o escoamento da produção, sem problema. Com relação ao porto de Suape... Tem algumas matérias- primas e poucos produtos importados. Mas a maioria chega pelo porto de Cabedelo mesmo. Mas tem algumas matérias-primas que vem por Suape, daí facilita bastante. E o escoamento da produção de outra unidade nossa, de Campina Grande, é todo feito pelo porto de Cabedelo. Então isso facilita muito, essa logística é bem favorecida. A habilidade das pessoas aqui da região também para o negócio de calçados é fundamental. A logística ajuda demais, principalmente para nossa outra unidade, de sandálias, exportando também. Acho que o posicionamento geográfico aqui dessas fábricas favorece demais a exportação em relação às antigas fábricas da nossa companhia que fecharam que estavam no Sudeste e Sul. Eu acho que são diferenciais. Eu acredito que, relacionado a isso também, ainda temos um custo de mão-de-obra aqui na região abaixo do de algumas outras regiões do Brasil, Sul e Sudeste. E isso favorece também a companhia, é uma característica regional, o baixo custo da mão- de-obra. Eu acredito que a gente está vivendo um momento um pouco diferente [por conta da instalação de uma nova fábrica da empresa, do setor de sandálias, no Sudeste]. A gente teve diversas pessoas que foram convidadas para ir daqui para trabalhar e ficar lá. E a região (Nordeste/ Paraíba) tem uma qualidade de vida tão boa,

É um dos É um dos É um dos É um dos É um dos É um dos É um dos É um dos É um dos É um dos Clima da região e qualidade de vida {1-1} Habilidade de pessoas da região {1-1} Posicionamento geográfico {1-1} Proximidade de portos {1-1} Baixo custo da mão-de-obra {3-3} Recursos sistêmicos da Empresa B {1-10} Interação com a UFPB {2-2} Interação com o CIEE {2-1} Interação com o SENAI {5-2} Interação com órgãos de controle {3-2} Utilização das rodovias {2-2}

né? Essa questão do transporte, que está piorando muito, essa questão do transporte local, mas ainda é bom. Você ainda consegue se deslocar dentro das cidades, e muitas pessoas não quiseram ir. Então eu acho que a questão da qualidade de vida, o clima da região, isso tudo favorece. São diferenciais dessas plantas aqui. [Entrevistado B2 2:44 à 2:48 (205:213)]

O recurso de acesso restrito identificado foi referente aos incentivos fiscais que a empresa recebe do governo estadual e/ou federal e que garantem um diferencial pesadíssimo em termos de lucratividade e competitividade para a Empresa B e para outras empresas específicas do setor de calçados, pois de acordo com o Entrevistado B2:

Em termos de incentivos tem diversos. A fábrica, em particular, ela é incentivada pelo governo do estado e pelo governo federal. Através da SUDENE com isenção do imposto de renda (nível federal) e o governo do estado através da isenção do ICMS. E é um diferencial pesadíssimo pra nossa empresa. Como a gente tá fazendo... Constantemente a gente tá analisando o mercado, o custo, a redução do custo e tal... Já se pensou várias vezes em se fechar o negócio principalmente para os importados. Você importa, por exemplo, o calçado M [uma das marcas produzidas pela própria empresa], de altíssima tecnologia, que vem da Ásia. E onde é que ele é mais vendido no Brasil? Ele é mais vendido em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Aquela área ali da região Sudeste. Então perguntaram: porque não importar pelo Porto de Santos? Muito mais perto de quem vai comprar o produto. Só que o incentivo é tão favorável que, mesmo assim, é melhor você importar pelo Porto de Cabedelo e distribuir de caminhão até o Sudeste. Então se não tivessem esses incentivos do governo federal e estadual, com certeza a empresa não teria mais esse processo de importação por Cabedelo. [Entrevistado B2 2:49 (221:222)]

A seguir, na Figura 16, estão ilustradas características identificadas no relacionamento interorganizacional ao longo da análise para o caso da Empresa B até aqui e que serão mais fortemente evidenciadas no decorrer da seção 4.3.4. Dessa forma, se fazem presentes neste relacionamento: compartilhamento de recursos, aprendizagem conjunta, transparência nas relações de troca, interação com outras empresas do setor, relações interpessoais entre gestores, interação e articulação com o CIEE, UFPB, SENAI, interação com a comunidade, indução de desenvolvimento regional, cooperação, confiança mútua entre empresas e funcionários, interdependência e colaboração nas informações.

A Empresa B possui diferentes laços com outras empresas do setor de calçados do APL da grande João Pessoa. Estes laços permitem o compartilhamento de recursos tangíveis (como é o caso de equipamentos, peças e matérias-primas) e recursos intangíveis (como é o caso do conhecimento dos funcionários e as informações relativas a ele sobre aspectos que beneficiam de alguma forma o processo produtivo das empresas que fazem esse compartilhamento). Essa inter-relação de troca de informações e conhecimentos ocorre, normalmente, pela figura de seus gestores/funcionários, através de relações de caráter

interpessoal. Mas a Empresa B também possui laços com instituições de ensino e com empresas privadas por meio, especialmente, da utilização de estagiários.

Figura 16 - Características do relacionamento interorganizacional da Empresa B

Fonte: Dados da pesquisa (2014).