• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.4 CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA C

4.4.3 Recursos interorganizacionais da Empresa C

Os recursos particulares de relacionamento identificados na Empresa C dizem respeito aos conhecimentos e informações que são trocados entre a Empresa C e as empresas parceiras ou, eventualmente, concorrentes. Esses conhecimentos e informações referem-se às melhorias em tecnologia, máquinas, equipamentos e/ou matérias-primas. O compartilhamento pode acontecer por meio de relacionamentos formalmente estabelecidos com empresas parceiras ou não. No entanto, a troca ou compartilhamento de informações com empresas não parceiras (concorrentes) ocorre por intermédio, especialmente, das relações interpessoais que existem

entre os gestores das empresas envolvidas e que acabam contribuindo para posteriores melhorias associadas ao processo produtivo. É o que explica, a seguir, o Entrevistado C:

Mas troca de informação tem sim. [...] São informações trocadas a respeito de tecnologias no sentindo de algumas melhorias, melhorias em máquinas e equipamentos, e matéria-prima também existe bastante, pra você ter um produto mais confortável, um produto com mais qualidade, então a gente tenta ajudar o nosso laboratório, ajuda muito nessa parte. Ah, se a matéria-prima vier “assim”, eu vou ganhar em qualidade e vou ganhar em custo. Então isso é compartilhado. [Entrevistado C. 3:35 (144:115)].

As relações interpessoais entre gestores acontecem por meio de trocas de informações não apenas no que diz respeito a questões ligadas diretamente ao processo produtivo, mas também questões gerenciais. É o que se percebe pela fala do Entrevistado C:

Com empresas parceiras do mesmo ramo, as trocas são mais informais entre as pessoas que trabalham lá ou aqui. Por exemplo: apareceu um candidato a ser gestor aqui e ele já era gestor em outra parceira nossa, então a gente pergunta como era o trabalho dele lá, como ele é enquanto funcionário, como é a conduta dele. E também tem sobre fornecedora, por exemplo, uma empresa fornece algo para uma parceira nossa, então a gente pergunta como que é a qualidade, a pontualidade, como é a entrega. Isso é uma relação que tem também. É mais assim... A gente troca ideia mais a nível gerencial. O mundo do sapato é pequeno, não é grande. Por exemplo, como a gente trabalha numa empresa grande, tem muitos profissionais da área que a gente conhece espalhados por aí. Então a gente leva essa experiência e, automaticamente, quando encontra com um colega pega experiência da empresa de onde o colega tá, passa experiência também. No meu caso, isso acontece mais a nível de gestão, até com a Empresa B mesmo. Talvez aconteça, e deve acontecer, trocas entre outros profissionais de outras áreas. [Entrevistado C. 3:26 (118:119)].

Um recurso criado exclusivamente por intermédio da relação com uma empresa parceira do setor de calçados, neste caso uma fornecedora, foi uma mesa de serigrafia automatizada, o que melhorou a qualidade, a eficiência, a velocidade para atender a demanda e, permitiu, portanto, maiores lucros para a Empresa C. De acordo com o Entrevistado C:

A gente tem um setor de serigrafia, e hoje nós temos uma tecnologia que só nós temos. [...] Uma coisa que era muito manual a gente deu uma automatizada. Então a gente ganhou em qualidade, em velocidade, melhorou em eficiência, então isso com certeza... Tudo o que pode ser automatizado, que pode ser melhorado, que você consiga implantar uma tecnologia, você vai ser mais competitivo no mercado. [Entrevistado C. 3:21 (100:100)]. [...] Essa mesa que eu falei, de serigrafia, a gente fez o piloto, chamou um fornecedor nosso, apresentou o projeto, pediu fidelidade no projeto e ele que fez o negócio. [Entrevistado C. 3:25 (114:115)].

Isso acaba contrariando, de certa forma, a política da empresa, que não adota normalmente projetos conjuntos com empresas parceiras. O caso da serigrafia é, portanto,

uma exceção, pois de segundo o Entrevistado C: “Não [adota projetos conjuntos]. A gente tenta desenvolver dentro [da empresa]. Observa, olha, fotografa e tenta desenvolver alguma coisa muito próxima [à outra empresa], mas cooperação para projeto conjunto [não é comum] não”. [Entrevistado C. 3:31 (232:232)]

O mesmo entrevistado admite que há uma interdependência entre empresas com as quais se relaciona, sendo esta interdependência bastante notória, inclusive, por conta das trocas de informações, que estão claramente associadas a algum grau de cooperação, colaboração, confiança e transparência entre as empresas, na figura de seus gestores. E, além disso, o Entrevistado C deixa claro que o compartilhamento de conhecimentos e informações que há entre sua empresa e outras do setor permitem benefícios relacionados a oportunidades de mercado que com a falta de tal compartilhamento não seriam possíveis; estes benefícios acabam contribuindo positivamente para a competitividade da organização. De acordo com ele:

Há uma interdependência bastante clara, visível na troca de informações, especialmente com fornecedores. [Entrevistado C. 3:28 (128:128)). Sim, com certeza [as trocas geram um lucro maior], porque eu estou melhorando em alguma coisa. Agora assim: se eu vou fazer essa troca de informações, automaticamente, é pra obter algum benefício. Então com certeza vai tornar a empresa mais competitiva do que se não fizesse a troca, com certeza. [Entrevistado C. 3:29 (132:132)].

O Entrevistado C afirma haver melhorias por conta do compartilhamento de informações e conhecimento com funcionários de empresas parceiras:

As informações que a gente compartilha, trazem melhorias internas pra gente e também, de alguma forma, elas são melhoradas porque a gente adapta a informação que a gente recebe com a necessidade da gente aqui. Então muitas vezes ela acaba sendo melhorada sim. [Entrevistado C. 3:30 (136:136)].

Sendo assim, como recursos interorganizacionais do tipo recursos particulares de relacionamento, foram identificados, para o caso da Empresa C: as trocas ou compartilhamentos de informações e/ou conhecimentos diretamente ligadas a questões de melhorias sobre máquinas, equipamentos, matérias-primas, ou seja, ligadas às melhorias relacionadas ao processo produtivo ou, ainda, a questões gerenciais. Além destes, tem-se o exemplo da automatização de uma máquina de serigrafia, criada exclusivamente por conta da parceira com um fornecedor específico. Os recursos particulares de relacionamento para a Empresa C estão ilustrados na Figura 18.

Figura 18 - Recursos particulares de relacionamento da Empresa C

Fonte: Dados da pesquisa (2014)

Como recurso sistêmico, foi citado pelo Entrevistado C a proximidade com o Porto de Cabedelo. Mas, percebe-se que a Empresa C também faz uso da malha rodoviária paraibana para o escoamento de produção, bem como do baixo custo da mão-de-obra, sendo estes dois últimos também considerados como recursos sistêmicos, conforme se observa nas afirmações do Entrevistado C a seguir. A Figura 19 ilustra os recursos sistêmicos identificados.

Todas as nossas exportações e importações vem pelo Porto de Cabedelo. Toda a parte de borracha, como eu te falei, que a maioria das borrachas são importadas, a gente recebe solado importado também, via Porto de Cabedelo. Se o Porto de Cabedelo, por exemplo, não fosse perto automaticamente o produto ia encarecer um pouco. Daí eu não sei se ia explorar [encarecer] pra a empresa que tá comprando ou pra empresa que tá vendendo. [Entrevistado C. 3:34 (153:153)] [...] E as rodovias, nós temos a 101, que corta o Brasil, então é tranquilo. [Entrevistado C. 3:33 (151:151)]. E, com certeza, a mão-de-obra, o custo da mão-de-obra não deixa de ser um incentivo também. [Entrevistado C. 3:24 (74:74)] São São São É um dos São Recursos particulares de relacionamento da Empresa C {1-5} Máquina de serigrafia {1-1} Informações e/ou conhecimentos sobre melhorias em matérias-primas {1-1} Informações e/ou conhecimentos sobre melhorias em equipamentos {1-1} Informações e/ou conhecimentos sobre melhorias em máquinas {1-1} Informações e/ou conhecimentos sobre questões gerenciais {1-1}

Figura 19 - Recursos sistêmicos da Empresa C

Fonte: Dados da pesquisa (2014).

Em relação aos recursos de acesso restrito, também foram identificados os incentivos fiscais do governo estadual para o setor de calçados como um diferenciador para estas empresas, pois segundo o Entrevistado C:

Existem programas específicos para o setor de calçados da Paraíba, mas eu não sei te dizer especificamente qual é o programa. Sei que a gente recebe incentivo estadual. Tudo é tratado com o Estado, inclusive o dono da empresa seguidamente ele viaja e tem reunião com o governo. E sim, com certeza, esses incentivos são extremamente importantes, é a razão pela qual as empresas saem do Sudeste e vem pra cá pro Nordeste. [Entrevistado C. 3:35 (161:161)]

A seguir, na Figura 20, estão ilustradas as principais características identificadas para o relacionamento interorganizacional da Empresa C, de acordo com o exposto durante sua caracterização. Na subseção 4.4.4 algumas dessas características poderão ser novamente observadas. Percebem-se, portanto, interações com o SENAI, SEBRAE e órgãos de controle, colaboração, cooperação e compartilhamentos de recursos (conhecimentos/informações), interdependência, aprendizagem conjunta e confiança especialmente com empresas formalmente parceiras, a exemplo de fornecedoras. Mas também há relações interpessoais entre gestores de empresas concorrentes que contribuem com informações relevantes que podem estar ligadas diretamente ao processo produtivo da Empresa C ou não, podem tratar-se de questões de caráter puramente gerencial. Além disso, também é verificado o apoio

É um dos É um dos É um dos É um dos É um dos É um dos Baixo custo da mão-de-obra {3-4} Proximidade com o Porto de Cabedelo {1-1} Recursos sistêmicos da Empresa C {2-7} Interação com o SEBRAE {1-1} Interação com o SENAI {5-3} Interação com órgãos de controle {3-3} Utilização das rodovias {3-3}

governamental com incentivos fiscais e a empregabilidade de funcionários do município ou de municípios imediatamente vizinhos, o que, de certa forma, contribui para a dinamização e desenvolvimento econômico da região.

Figura 20 - Características do relacionamento interorganizacional da Empresa C

Fonte: Dados da pesquisa (2014)