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PARTE I: Inovação e progresso técnico

2.2 A transmissão do conhecimento

2.2.2 Redes de colaboração internacional

São inegáveis as transformações estruturais que vêm ocorrendo na ciência, tecnologia e inovação nas últimas décadas. Isso porque, frequentemente30, os países divulgam conhecimentos codificados (artigos e patentes) nas áreas da biotecnologia, nanotecnologia bioengenharias, genética, clonagem de microrganismos, desenvolvimento de novos organismos, bioquímica, entre outros. Contudo, o fator que chama a atenção são os esforços das pesquisas que estão direcionando o modo de produzir ciência em diversos setores da economia.

De maneira simples, como exemplo, podemos citar a transformação radical na ciência que incide no paradigma dos biocombustíveis, na qual se insere o bioetanol. Em grande medida31, essas mudanças são impulsionadas pelos avanços da genética e da biotecnologia. A tentativa por parte dos estudiosos está em desenvolver microrganismos para converter materiais a etanol, como é o caso dos resíduos (biomassa) agrícolas. Neste caso, a ciência em curso vai para além da rota química, na rota biológica. Outros exemplos, nesse mesmo sentido, estão no setor automobilístico, no setor aeronáutico, no setor de novos materiais, entre outros. Ou seja, em grande medida, as mudanças na base de conhecimento estão alterando rotas tecnológicas, por exemplo, mudança da rota mecânica para a mecânica quântica, da rota química para a bioquímica, da física para a biofísica, e assim por diante.

Diante das mudanças nas pesquisas nas bases de conhecimento global, a questão desta seção é: atualmente, quais elementos determinam os avanços da ciência?

Uma das explicações está na globalização mundial da ciência, tornando a competitividade dos países, em termos de base de conhecimento, cada vez mais dependente de várias dimensões internacionais. O principal fator ligado à origem desse fenômeno é o avanço dos canais de divulgação científica, que “espalham” as pesquisas32 (especialmente, as

pesquisas de fronteiras do conhecimento) em qualquer parte do mundo por meio de modernos sistemas de redes de computadores (Altbach, 2007). Em outras palavras, houve uma

30 O conhecimento científico divulgado nos canais formais de ciência praticamente dobrou nos últimos

dois decênios (Wagner; Leydesdorff, 2005).

31 O cenário descrito compreende não só uma forte interação entre Ciência, Tecnologia & Inovação

(CT&I), envolvendo um grande número de conteúdos e disciplinas, mas também a participação “popular”, por vezes não qualificada do ponto de vista técnico, que vai das ONGs aos movimentos sociais, passando por instituições públicas e privadas. Com isto, a nova complexidade inclui o chamado espaço simbólico (Bourdieu, 1996).

32 Em boa parte das pesquisas divulgadas, como artigos e patentes, são detalhadas as metodologias,

métodos, procedimentos realizados, passo a passo, entre outros. Desse modo, facilitando ou encurtando os avanços científicos.

aceleração da divulgação da ciência, com acesso remoto às bases de dados, contribuindo sobremaneira para “encurtar” o tempo e o acesso às pesquisas33.

Em consequência dessas redes globais de divulgação científica, as instituições nacionais já não podem ser consideradas como componentes isolados, pois estão inseridas em um sistema internacional de pesquisa, tecnologia e inovação. A troca de conhecimento através das fronteiras nacionais (regionais) tornou-se cada vez mais comum nas últimas décadas. A colaboração científica já é crucial ao desenvolvimento em determinadas áreas. Katz e Martin (1997) afirmam que ela é fundamental para o desenvolvimento de tecnologias genéricas, como a biotecnologia e os materiais novos, e que tais pesquisas envolvem a colaboração em todos os aspectos.

A esses aspectos, adicione-se a formalidade e a padronização das pesquisas para facilitar a comunicação entre os cientistas, por exemplo, a adoção de idioma oficial (inglês) e a estrutura padronizada das informações contidas nos documentos, como citação das referências, metodologia etc. Além do crescente movimento da comunidade científica de aderir ao acesso livre34 e gratuito de informações científicas e tecnológicas, como é o caso das

bases de patentes Word Intellectual Property Organization (WIPO), Inpi e da base de artigos da Scientific Electronic Library (Scielo).

A partir dessa perspectiva, as informações científicas têm sido úteis para examinar o grau de eficácia científica, e também para determinar o estado da infraestrutura de conhecimento baseada na interação dos sistemas nacionais ou regionais de inovação (Etzkowitz; Leydesdorff, 2000). No entanto, o mais proeminente salto do desenvolvimento científico tem sido atribuído ao papel das relações internacionais de coautoria nas pesquisas (Wagner, 2008; Persson et al., 2004). A explicação é que os canais formais de divulgação da literatura científica podem ter influenciado de forma decisiva as colaborações internacionais, tal como indicado, por exemplo, pelo Science Citation Index (SCI). Com a mundialização da ciência e a crescente dependência das relações internacionais, um único país não pode ser especialista em todas as áreas do saber, necessitando cada vez mais de outros países com outras especialidades para avançar nas bases de conhecimento. Em outras palavras, os agentes estão se conectando por meio de redes de conhecimento para avançar no desenvolvimento

33 Há menos de trinta anos, os pesquisadores, para ter acesso às pesquisas, precisavam se deslocar de

um país para o outro, geralmente em bibliotecas, ainda assim, as informações eram limitadas e densas. Atualmente, vinte páginas compõem um artigo de pesquisa, e o acesso pode ser feito por qualquer computador com internet.

34 No caso brasileiro, o acesso livre passou por reformulações. Fonte: <http://www.ibict.br/Sala-de-

científico, que atualmente envolve áreas com elevados níveis de complexidade, por exemplo, a quântica, biofísica, bioengenharia, entre outras.

Uma rede é qualquer conjunto de elementos no qual alguns deles estão conectados em pares através de links (Easley; Kleinberg, 2010), ou seja, uma coleção de pontos unidos em pares por linhas (Newman, 2010). As redes são representadas por grafos, que são ilustrações graficamente representadas das redes, expostas da seguinte maneira: um grafo direcionado consiste de um conjunto V de vértices (ou nós), um conjunto E de arestas (links ou Edges) e mapas s, t : E → V, onde s(e) é a fonte e t(e) é o alvo da aresta direcionada. Um grafo não direcionado (ou simplesmente grafo) é dado por um conjunto V de vértices, um conjunto E de arestas e uma função w : E → P(V), que associa a cada aresta um subconjunto de dois ou de um elemento de V, interpretado como os pontos terminais da aresta.

As Figuras 2.1 e 2.2 ilustram exemplos de uma rede e de um grafo. Uma das abordagens para medir as redes são os níveis de: a) centralidade (Centrality), ou seja, quem é importante na rede; b) degree ou grau – que é o nível de envolvimento ou atividade na rede (representada pela quantidade de nós e links); c) in degree e out degree (prestígio/ expansividade ou interesse nas atividades da rede pode ser analisado pelo nível de influência de dentro para fora ou de fora para dentro da rede).

Figura 2. 1 Ilustração de Redes. Fonte: Newman (2010).

Figura 2. 2 Ilustração de Grafos – nós (vertices) e links (arestas ou edges). Fonte: Newman (2010).

São exemplos de redes, as redes de colaboração, cujo relacionamento é algum tipo de colaboração entre as pessoas. Por exemplo, na rede de colaboração científica, os vértices são pesquisadores e as arestas indicam algum tipo de colaboração científica, como a publicação de artigos em conjunto. Neste caso, dois vértices estão relacionados se os dois pesquisadores são coautores de, ao menos, um mesmo artigo científico.

A colaboração científica pode ser definida como a interação ocorrendo dentro de um contexto social entre dois ou mais cientistas, (redes) que objetivam a partilha de significado e a realização de tarefas em relação a uma solução mutuamente compartilhada. Os cientistas que colaboram também podem trazer metas individuais adicionais para uma colaboração (Sonnenwald, 2003). Metas individuais podem influenciar o compromisso contínuo de um cientista e sua perspectiva sobre muitos aspectos do trabalho em colaboração. Tarefas dentro de uma colaboração científica exercem um elevado grau de incerteza, mais do que é tipicamente encontrado em outras formas de trabalho. Por exemplo, em pesquisas, normalmente não é claro desde o início se o objetivo pode ser alcançado ou qual a melhor maneira de alcançá-lo (Latour, 1987). Tentativa e erro são partes integrantes do processo.

Nesse cenário, há um interesse crescente em medir a colaboração nas pesquisas (Katz; Martin, 1997; Laudel, 2002; Glänzel; Schubert, 2010). Embora alguns estudos tenham argumentado que a medida comum de colaboração na pesquisa acadêmica é a coautoria (Savanur; Srikanth, 2010), outros afirmam que nem todos os colaboradores aparecem como

coautores (por exemplo, a colaboração também pode ser mencionada nos agradecimentos). Além disso, nem todos os tipos de esforços colaborativos são formalmente expressos em documentos, como conselhos sobre o processo de pesquisa, ajudas informais, entre outros (Melin; Persson, 1996; Gordon, 1980). No entanto, a colaboração na pesquisa, na forma de coautoria, é positivamente relacionada (Glänzel; Schubert, 2010). Os trabalhos de Lee e Bozeman (2005) e Rigby e Edler (2005) apontam que a colaboração internacional nas pesquisas desempenha um papel importante em produtividade e qualidade científica. A colaboração internacional também é um indicador de confiança científica pelos pares (Bordons et al., 1996; Van Raan, 1998; Smeby; Try, 2005; Abramo et al., 2008).

As últimas décadas assistiram aumentos impressionantes na colaboração internacional (NSF-NSB, 2010; Wagner; Leydesdorff, 2006; Gränzel, 2001; Georghiou, 1998). Entre 1990 e 2000, a participação dos artigos em coautoria internacional praticamente duplicou (Wagner; Leydesdorff, 2005). Estudos mais recentes a respeito do crescimento das pesquisas colaborativas em níveis nacionais e regionais, em grande medida, foram viabilizadas por concessão de financiamento por parte dos governos com propósito de fortalecer as interações entre as universidades e os setores industriais (Gibbons et al., 1994; Etzkowitz; Leydesdorff, 2000).

Quando uma indústria aposta em redes de colaboração de pesquisas, como a cooperação com as universidades, está na busca por vantagens competitivas relacionadas às tecnologias, especialmente por tecnologias de fronteiras (Penrose, 1959; Porter, 1986; Cohen; Levinthal, 1989). Tal vantagem está radicalmente ancorada na busca por poder, por exemplo, na forma de patentes, que geram a capacidade das firmas de influenciar as decisões ou ações dos outros elementos no mercado (Thorelli De, 1986), e na busca por assimetrias, em que as firmas podem explorar as diferentes competências de um grupo dentro de um quadro organizacional de trabalho (Miles e Neve, 1984).

Prahalad e Hamel (1990) afirmam que as relações de colaboração são um meio para internalizar as competências essenciais e a capacidade de desenvolver competências de base tecnológica através de um projeto de cooperação. Soma-se a isso outras vantagens competitivas, como fatores políticos, controle das informações, novos acordos de cooperação, entre outros. De acordo com essa abordagem35, as fontes de vantagens competitivas são recursos valiosos, raros, e não facilmente acessíveis. Baseiam-se na estratégica de

35 Uma rica teoria sobre o comportamento das firmas pode ser vista na ‘Teoria da Organização

diferenciação que a firma realiza na comercialização, isto é, os recursos exclusivos da empresa e a dificuldade dos concorrentes de imitá-los (Chesbrough; Teece, 1996).

Alguns estudos apontam resultados empíricos no que tange à colaboração internacional e ao progresso técnico. Chung (2005) indicou que a colaboração internacional tem desempenhado um papel fundamental na viabilização do sistema nacional de inovação da Coreia do Sul. No mesmo plano, Shin e Cummings (2010) e Kim et al. (2010) mostraram que tanto colaborações nacionais como internacionais são elementos determinantes na produtividade e na qualidade das pesquisas coreanas e no fortalecimento do setor industrial. Essa observação foi levantada também nos trabalhos de Leydesdorff e Sun (2009), que investigou o sistema nacional de inovação japonês. Os autores apontam que as relações de coautoria internacional se tornaram o mais importante mediador do sistema nacional de inovação e da indústria no Japão. Entretanto, Gomez et al. (2009) mostraram que, no caso da Espanha, a colaboração internacional correlacionou negativamente36.

Oliver (2004) analisou o setor de biotecnologia de Israel. Seus resultados indicaram que é uma área dependente de outras áreas (altamente multidisciplinar), envolvendo um elevado grau de interação científica e industrial em diversos países. Concluiu que as redes de colaboração internacional são essenciais para o desenvolvimento do setor industrial, tanto para níveis individuais como para regionais, e também para os demais setores conectados na rede de pesquisa. A autora sinalizou a alta complexidade na formação das redes de biotecnologia, em consequência da dinâmica das interações dos diversos agentes e setores, e por ambos estarem em processo de aprendizado.

Além disso, um grande número de estudos tem demonstrado que os artigos publicados em coautoria internacional tendem a ser citados com mais frequência (Persson et al., 2004; Katz; Hicks, 1997; Narin, 1991; Narin et al., 1991), embora alguns estudos recentes apontem dúvidas sobre esta questão (He, 2009; Schmoch; Schubert, 2008), a maioria relaciona benefícios da colaboração internacional pelas vantagens competitivas – por exemplo, os ativos complementares ligados ao conhecimento, quer no nível de especialidades individuais ou em termos de busca de especialistas regionais para auxiliar no desenvolvimento das pesquisas. Por conseguinte, o valor dos ativos que envolvem colaboração em redes internacionais, em termos de impacto de citação, geralmente é visto

36 No caso da Espanha, Gomez et al. (2009) não analisaram a colaboração no que tange às relações

com o setor industrial, limitando sua pesquisa para a relação coautoria e publicação em revistas de alto impacto.

pelos especialistas como indicador de qualidade de pesquisa (Crane, 1972; Goffman; Warren, 1980).

Nesse sentido, Wagner (2008) e Leydedoff e Wagner (2008) apontam que as redes de colaboração internacional diferem da dinâmica das redes nacionais de pesquisa em coautoria (por exemplo, universidades, empresas e governos). Em outras palavras, pode haver efeitos de mudança na rede diante das relações entre os atores nacionais e estrangeiros. Contudo, poucos estudos examinaram esse efeito. Um deles é o de Leydesdorff e Sun (2009), que realizaram uma análise empírica do papel dos agentes estrangeiros no sistema nacional de inovação japonês. Devido ao rápido crescimento do sistema de inovação, descobriram que os coautores estrangeiros têm confiança sobre o sistema de inovação desde fins dos anos 1980, porém o estudo não aponta com detalhes a influência do Japão nas pesquisas internacionais ou vice-versa, somente menciona a confiança dos estrangeiros em estabelecer pesquisas com o Japão.

Alguns estudos analisaram a colaboração internacional em países em desenvolvimento, demonstrando que os cientistas desses países não são isolados da comunidade científica internacional (Shrum; Campion, 2000) e que o número de coautores de países em desenvolvimento, bem como os de países desenvolvidos, tem aumentado nas últimas décadas (Lemarchand, 2010; Glänzel; Schubert, 2004; Braun; Glänzel, 1996). Em relação à colaboração internacional e à capacidade científica dos países em desenvolvimento, Ordonez (2008) mostrou o caso da Colômbia e apontou que a colaboração internacional representa o desenvolvimento da capacidade científica do país, sendo as relações internacionais centrais para o desenvolvimento nacional.

Na mesma linha, Wagner et al. (2001) analisaram as redes de pesquisa internacionais e apontaram que a colaboração internacional desempenha papel essencial para construir capacidade científica nos países em desenvolvimento. Todavia, poucos estudos têm abordado a colaboração internacional nas pesquisas, centrando-se na relação desigual entre países desenvolvidos e menos desenvolvidos (Hwang, 2007). No entanto, alguns estudos forneceram algumas explicações descritivas, em particular, dos países caracterizados por um rápido crescimento econômico, como Coreia e Taiwan. Albuquerque (2001) e Chung (2005) apontam que o desenvolvimento do sistema de pesquisa desses países cresceu na mesma intensidade que suas economias, e este fator tem sido tipicamente um resultado da colaboração internacional nas pesquisas. Leydesdorff e Wagner (2008) mostram que as relações de colaboração entre os pesquisadores dos países desenvolvidos devem-se à escolha cuidadosa de parceiros de pesquisa. A Coreia, por exemplo, está localizada na zona cinzenta

entre os países em desenvolvimento e os países desenvolvidos (Hwang, 2007), os autores coreanos optam em colaborar com países cientificamente mais desenvolvidos do que com os menos desenvolvidos37 (Wagner et al., 2001). Esses estudos sinalizam que na globalização parece ser inevitável que a competitividade e o desenvolvimento de uma nação cada vez mais dependam da sua internacionalização. Todavia, um estudo recente de Lengyel e Leydesdorff (2011) mostrou o caso da capital da Hungria, Budapeste, que substituiu com sucesso a internacionalização pela centralização do sistema nacional de inovação. Porém, não explicou em que medida isso foi realizado, apontando que foi possível em detrimento de uma adesão maior ao sistema da União Europeia (por exemplo, com o Investimento Estrangeiro Direto – IED).

A respeito de abrir a “caixa preta” 38 da colaboração internacional, a maioria dos

estudos não revela a posição central da coautoria, mas há uma crescente compreensão de que o conjunto de trabalhos realizados não são bem investigados no nível micro de análise (Melin, 2000). Um pequeno número de estudos foi realizado nesse sentido, incluindo os trabalhos de Kyvik e Teigen (1996), Myers (1991) e Jeffrey (2003). Este último analisou a colaboração de um projeto de pesquisa interdisciplinar, que detalha os processos entre os pesquisadores e os vínculos de relações internacionais. Sua metodologia evita a utilização de quadros explicativos da teoria e dinâmicas de grupo e, em vez disso, emprega um esquema explicativo que estrutura os fenômenos provocados pela colaboração, como os produtos intelectuais que resultam dela. O trabalho enfatiza a importância das ferramentas intelectuais que facilitam a interação na rede de colaboração.

37 Entre 1954 e 1973, metade dos estudantes coreanos em instituições estrangeiras estavam estudando

ciência e engenharia nos Estados Unidos (Moe, 1974). Na década de 1980, o governo coreano iniciou vários programas para promover a pesquisa cooperativa envolvendo agentes estrangeiros. Entretanto, a força veio na década de 1990, com os investimentos do governo de P&D e os programas de internacionalização em instituições globalmente reconhecidas, e o número de artigos publicados em revistas de alto impacto aumentou de 1.613, em 1990, para 13.458, em 2000 (Most, 2001). Além disso, na mesma intensidade são os trabalhos escritos em coautoria com estrangeiros durante o mesmo período (Chung; Seol, 2010, p. 587-616).

38 Para a ideia de abrir a caixa preta, consultar clássicos da inovação em: Rosenberg (1982). O capítulo

7, “Quão exógena é a ciência”, volta-se explicitamente para a natureza das interações ciência- tecnologia nas indústrias de alta tecnologia. São examinadas algumas das maneiras como estas indústrias vêm se apoiando nas crescentes reservas de técnicas e conhecimento científico. Contudo, o capítulo também considera um conjunto de questões bem mais amplas a respeito da institucionalização das ciências e da maneira como a agenda das ciências é formulada nas sociedades industriais avançadas. Assim, uma importante tese do capítulo é que, longe de constituírem forças exógenas à arena econômica, o conteúdo e o direcionamento dos empreendimentos científicos são fortemente moldadas por considerações tecnológicas, as quais, por sua vez, estão profundamente incrustadas na

estrutura das sociedades industriais, disponível em:

Analisar níveis micro é importante, uma vez que a colaboração surge, frequentemente, a partir das redes sociais dos agentes. Newman (2001, 2004) observou que dois cientistas são mais propensos a colaborar se eles têm um coautor em comum. A investigação do autor envolveu as redes dos cientistas que publicam na base de dados Medical

Literature Analysis and Retrieval System Online39 (MEDLINE) e concluiu que a distância dos

cientistas na rede foi de aproximadamente seis ligações de coautoria, ou seja, a proximidade dos agentes na rede está ligada diretamente às interações de suas redes sociais. Em outras palavras, as interações das redes sociais dos agentes determinam tanto as ideias sobre novos projetos de pesquisa como a futura seleção dos colaboradores (Beaver, 2001; Bozeman; Boardman, 2003; Crane, 1972; Katz; Martin, 1997; Maglaughlin; Sonnenwald, 2005; Traweek, 1988).

Os métodos de análise de redes fornecem uma maneira plausível de perceber tais interações e poderiam fornecer indicadores de colaboração em níveis micro e macro (Bozeman et al., 2001; Bozeman; Rogers, 2002; Bozeman; Mangematin, 2004). Contudo, métodos para avaliar as redes de colaboração são extensos e complexos, ainda que úteis para capturar uma grande quantidade de características dos agentes envolvidos em colaboração (Scott, 2000; Wasserman; Faust, 1997). Tais características podem fornecer informações, por exemplo, tal como a especialidade tecnológica dos países, o grau de colaboração e estilos de aprendizagem (Jeffrey, 2003). No entanto, o levantamento desses dados pode se tornar complexo quando se leva em consideração indicadores de colaboração, como a frequência das reuniões, os contratos de parcerias, a transmissão de documentos, a propriedade legal da inovação e os tipos de agentes envolvidos em tais interações. Ainda assim, uma simples medição de densidade de rede de coautoria poderia ser um indicador confiável para identificar diversas características da inovação.

O conceito de rede de colaboração em coautoria, nesta dissertação, será aplicado para analisar a natureza da colaboração internacional do bioetanol de cana-de-açúcar em um nível global, com vistas a identificar as especificidades do conhecimento que estão se formando, e será discutida em detalhes no Capítulo III, que trata da metodologia. Antes é preciso caracterizar e delimitar o tema da presente dissertação.

39 É uma base de dados bibliográficos da Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos da

América (US National Library of Medicine’s – NLM). Contém referências a artigos de jornais científicos, com maior concentração em biomedicina, mas também artigos sobre enfermagem,

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