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Redes de interação em mercados financeiros

2.3. Teoria das redes complexa

2.3.4. Redes de interação em mercados financeiros

As redes de interação locais exercem significativa influência sobre as decisões de negócios dos agentes. Logo, o padrão de movimentos de preços de ativos pode ser afetado pelo processo de interação desenvolvido entre os agentes que atuam no mercado financeiro. Um dos mecanismos por meio do qual os agentes interagem é através da comunicação interpessoal, em função de sua relevância na difusão de informações em grupos de negócios (SHILLER, 1995). Shiller e Pound (1989) constataram, por meio de uma pesquisa com investidores institucionais nos EUA, que gerenciadores de carteira que investem em ações com elevada taxa de crescimento da razão preço/ganho discutem seus negócios com colegas. Dentre os gerenciadores de fundos na Alemanha, Arnswald (2001) também constatou que a troca de informações com especialistas em finanças e da indústria é o segundo aspecto mais influente nas decisões de investimento, sendo complementado por discussões entre parceiros e notícias veiculadas. Hong, Kubik, and Stein (2005) encontraram suporte para importância da comunicação informal nas decisões de gerenciadores de fundos considerando interações em nível local. Já Cohen et al. (2008) apresentaram evidências de que as conexões partilhadas por gerenciadores de fundos e membros de grupos corporativos, via redes educacionais, produzem performance significativamente superior àqueles investidores não conectados.

Cumpre destacar que no âmbito das decisões de investimento familiar, a comunicação interpessoal também exerce influência considerável. Duflo e Saez (2002) constaram que empregados tentem a aderir aos programas de aposentadoria que seus colegas participam. Do mesmo modo, Hong, Kubik, and Stein (2004), ao analisar dados de estudo sobre saúde e aposentadoria da Universidade de Michigan, concluíram que interações com vizinhança e atividades religiosas podem elevar a probabilidade de investir no mercado de capitais, visto que o investidor considera o mercado mais atrativo quando seus

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parceiros participam.

Nesse contexto, Eom et. al. (2009) investigaram propriedades topológicas de mercados de ações, comparando a estrutura da rede original com a matriz de correlação desenvolvida a partir do método de matriz aleatória. Os autores empregaram dados de negociações individuais do Japão, Canadá, Estados Unidos, Itália e Reino Unido. E concluíram que ao passo em que a matriz de correlação reproduz a propriedade de autovalor, a rede de ações modelada aumenta o grau de consistência com a rede original. Ademais, cada unidade de ações que possui distinto número de ligações às outras ações na rede original, apresenta respostas distintas. O autovalor também se revelou um fator determinante no processo de formação de redes.

Cetorelli e Peristiani (2009) empregaram o método de redes sociais para avaliar a importância relativa dos centros financeiros ao redor do mundo. Por meio de dados de praticamente todo o universo de atividade global de ações, os autores puderam construir dois rankings para as bolsas internacionais: (i) considerando a capacidade de atrair globalmente ofertas públicas iniciais (IPOs); (ii) e a capacidade de fornecer uma plataforma eficiente de negociação para uma lista de empresas elencadas. O principal destino das ofertas públicas são os Estados Unidos, entretanto, os autores também captaram uma diminuição dessa capacidade de atrair IPOs, fato relacionado à melhoria das condições de competitividade das bolsas no mercado global. Assim, verifica-se crescente importância de competitividade em particular nas bolsas de Londres, Deutsche Börse da Alemanha e de Hong Kong.

Mais especificamente relacionado ao tema desta pesquisa, Han e Yang (2011) analisaram os efeitos de redes de informação sobre as propriedades de um mercado financeiro, seguindo um modelo de equilíbrio de expectativas racionais. Nos modelos, os agentes poderiam optar entre adquirir informações de mercado com um custo fixo, ou captar informações a partir da comunicação interpessoal. Os autores constataram que, considerando um montante fixo de informação para o agente, as comunicações via redes aumentam a eficiência de mercado, reduzem o custo do capital, elevam a liquidez e volume negociado. No equilíbrio, contudo, a comunicação social reduz a aquisição de informação e, em razão disso, induz um impacto negativo sobre a eficiência de mercado, liquidez e preços do ativo. Isso ocorre por que os negociantes têm incentivos a

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desenvolver o comportamento free-rider, preferindo obter informações através da comunicação a ter de comprá-la. Outra fonte de ineficiência introduzida pela comunicação diz respeito à introdução de ruídos no mercado, tendo em vista que nem todas as informações transmitidas por meio das redes são verdadeiras (ACEMOGLU, OZDAGLAR e PARANDEHGHEIBI, 2010).

Recentemente, inúmeros estudos têm se dedicado a avaliar o papel que os efeitos de pares, amizade, vizinhança, religião, rede de educação compartilhada e a propaganda boca-a-boca (word-of-mouth communication) exercem nas decisões de investimento, tais como composição de portfólio e participação no mercado de capitais. Evidências encontradas por Hong, Kubik e Stein (2004, 2005), Ivkovic e Weisbenner (2007), Cohen, Frazzini e Malloy (2008, 2010) indicam que há transferência de informação por meio de redes influencia tanto nas decisões de gestores de fundos de investimento quanto no planejamento financeiro familiar.

Gray e Kern (2011) identificaram que as redes sociais estão diretamente ligadas à compreensão dos investidores acerca do processo de descoberta de preços. Já Colla e Mele (2010) e Ozsoylev e Walden (2010), motivados por evidências empíricas, avaliaram como a estruturas de redes sociais podem afetar a eficiência de mercado, empregando, para isso, informações exogenamente determinadas. Ozsoylev e Walden (2010) buscaram estudar estruturas gerais de redes sob a presença de equilíbrios de expectativas racionais, Colla e Mele (2010) examinaram os efeitos de uma rede cíclica sobra precificação de ativos, e, para tanto, empregaram correlações de negócios entre investidores inseridos na mesma rede e de redes distintas38.

Ozsoylev et al. (2011) utilizaram dados de contas de todos os negociantes da bolsa de valores de Istambul para identificar negociantes que são que apresentam comportamento de negócios similares como uma forma de ligação na rede empírica de investimento. Tal procedimento também foi empregado por Barber et al. (2009), ao examinar as similaridades de portfólio entre negociantes como uma inferência indireta de estrutura de rede social.

38Para maiores detalhes acerca de aplicações de redes sociais, ver Allen e Babus (2009). Os

autores fizeram um levantamento bibliográfica acerca de aplicações de redes sociais no estudo de risco sistêmico, governança corporativa e distribuição primária de títulos.

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A fim de ilustrar como a topologia da rede pode influenciar a eficiência econômica, Wilhite (2001, 2006) desenvolveu um modelo de comercio bilateral por redes. Em seu experimento Wilhite (2006) constatou que a rede completa converge para o equilíbrio mais rapidamente que qualquer outra estrutura. O efeito mundo-pequeno apresenta implicações importantes sobre as dinâmicas de processos desencadeados nas redes. A coordenação de qualquer processo é facilitada ao se permitir a comunicação em todo o conjunto de agentes por meio de pequenas distâncias médias, ainda que a interação seja primordialmente local.

Não obstante os resultados da simulação tenham indicado que sob uma rede completa o equilíbrio converge mais rapidamente que qualquer outra configuração, sob a configuração de mundo-pequeno o sistema foi capaz de atingir o equilíbrio com significativa economia de esforço de busca. Wilhite (2006) conclui que a rede mundo-pequeno emerge como a configuração mais realista para mercado de trocas, uma vez que os agentes atribuem considerável importância à economia em esforços de busca ao mesmo tempo em que procuram manter a eficiência da interação global. Já a rede sem escala apresenta resultados similares à mundo-pequeno. Destaca-se, porém que esta consegue atingir a condição de equilíbrio em algumas rodadas a menos que a rede mundo-pequeno e com menor esforço de busca. Tanto a rede mundo- pequeno como a sem escala resultam em uma distribuição equitativa.

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