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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA-EMPÍRICA

2.1 TEORIAS E CONHECIMENTOS RELACIONADOS AO PROBLEMA

2.1.2 Redes Empresariais

Para Amato Neto (2000), referindo-se às organizações, rede salienta à noção de um conjunto ou uma série de células interconectadas por relações bem definidas.

Para Porter (1999b), rede define-se como “o método organizacional de atividades econômicas através de coordenação e/ou cooperação interfirmas”, em que uma rede interfirmas constitui-se no modo de regular a interdependência de sistemas complementares (produção, pesquisa, engenharia, coordenação e outros, ou seja, a forma de cooperação pode ser dada tanto a nível interno, quanto externo).

Amato Neto (2000) cita também Ribaut et al. sobre a sociedade de empresas, chamadas de rede de empresas, que consistem em um tipo de agrupamento de empresas cujo objetivo principal é o de fortalecer as atividades de cada um dos participantes da rede, sem a necessidade de laços financeiros entre si, pois se complementam no aspecto técnico, mercadológico.

Cardoso et al. (2002) percebem que as redes se caracterizam pela existência de relações de longo prazo entre seus integrantes. De modo que o conjunto de

organizações participantes desempenha funções como se fosse uma quase-empresa, ou seja, um ente único, ao mesmo tempo em que preserva a individualidade formal dos integrantes.

Em seu ponto de vista, esses autores descrevem que as redes em termos gerais se caracterizam por:

a) serem compostas por diferentes atores/organizações que interagem entre si e detém, cada um, um conjunto de recursos;

b) as organizações participantes da rede mantêm um razoável grau de independência formal/contratual entre si;

c) existem relações não formais de dependência significativas entre os participantes de uma rede, que se aprofundam à medida que dinamicamente se desenvolvem os laços entre os participantes;

d) as interações entre os nós da rede não se dão em momentos únicos, mas são repetidas ao longo do tempo , configurando padrões e evoluindo;

e) a organização em rede pressupõe a existência de objetivos/interesses comuns ou complementares entre os participantes (CARDOSO et al., 2002, p. 9).

Albagli e Brito (2002) consideram que redes consistem em um conjunto de articulações entre empresas, que podem estar presentes em quaisquer aglomerados produtivos, sendo que envolvem a realização de transações e/ou intercâmbio de informações e conhecimentos entre os agentes, não implicando uma proximidade física espacial entre os integrantes.

São formas organizacionais passíveis de ser identificadas pela interação entre os diversos agentes, sendo que as redes de empresas se consolidam devido aos vínculos sistemáticos entre elas: aquisição de partes do capital, alianças estratégicas, externalização de funções da empresa. E essas redes partem de agrupamentos formais ou informais de empresas autônomas com o objetivo de realização de atividades comuns, permitindo que as empresas participantes se concentrem apenas em suas atividades principais.

Conforme Santos et al., apud Amato Neto (2000), as redes de cooperação interempresariais podem ser:

as redes verticais de cooperação são normalmente encontradas nos casos em que as relações ocorrem entre empresas e os componentes dos diferentes elos ao longo de uma cadeia produtiva;

as redes horizontais de cooperação são as relações de cooperação que se dão entre empresas que produzem e oferecem produtos similares, e que

atuam em um mesmo ramo ou setor. Este tipo de rede ocorre quando as empresas se encontram em dificuldades:

- de adquirir e partilhar recursos escassos de produção;

- atender interna e externamente ao mercado em que atuam;

- lançar e manter novas linhas de produtos.

Segundo Castells (2000), a empresa por si mesma pode mudar seu modelo organizacional para adaptar-se às condições de imprevisibilidade dadas dinamicamente pela transformação econômica e tecnológica. A empresa horizontal apresenta sete tendências:

• organização em torno do processo, e não da tarefa;

• hierarquia horizontal;

• gerenciamento de equipe;

• medida do desempenho pela satisfação do cliente;

• recompensa com base no desempenho da equipe;

• maximização dos contatos com fornecedores e clientes;

• informação, treinamento e retreinamento de funcionários de vários níveis.

Isso é dado pelo modelo corporativo na percepção do modelo enxuto.

A nova economia global, dada pela onda de concorrentes que usavam tecnologias e capacidades de redução de custos, impulsionou as estratégias de formação de redes que se moldaram no sistema de flexibilidade, mas que não se adaptaram.

Outra forma que se pode dizer enriquecedora para a organização é a formação de redes. Na pesquisa de Lopes e Moraes (2000), esses autores apresentam três definições dadas por Miles e Snow que são: rede interna, rede estável e rede dinâmica. As definições estão localizadas dentro de uma escala entre burocracia-mercado:

Rede Interna situada em posição mais próxima ao extremo da burocracia.

Este tipo caracteriza-se pelo alto grau de internacionalização das operações da organização, suas transações são efetuadas entre unidades diferenciadas, mas que pertencem e são coordenadas por um comando central;

Rede Estável localiza-se em uma posição intermediária na escala. Existe uma organização-mãe, que mantém o controle sobre sua competência

central e delega, para outras organizações, a responsabilidade de lidar com o que não é de seu “core competency”.

Rede Dinâmica se situa no outro extremo, ou seja, no mercado. Nesta a organização central se torna uma espécie de corretora, funcionando como gerenciadora dos contratos de cooperação estabelecidos entre as organizações encarregadas pelas operações.

Como comparação apresentada por Peci (1999), estas definições fornecidas por Miles e Snow são baseadas em três antigas formas organizacionais: funcional, divisional e matricial. Segundo esta autora, na empresa funcional pode-se estabelecer relações com outras empresas a fim de produzir ou distribuir, enquanto concentra atenção em competências básicas, o que constitui em uma rede estável, ou seja, empresa central que se relaciona com número limitado de parceiros selecionados cuidadosamente. É vista em mercados previsíveis.

A empresa divisional se desagrega numa rede de múltiplos atores, criando a rede dinâmica. Nesta rede existe a combinação da avaliação central com a autonomia operacional local, na qual as empresas estabelecem relações de produção, num período curto, um bem ou serviço particular.

A empresa matricial é uma forma de manter um equilíbrio entre as definições anteriores, devendo existir empresas operando em cada um dos pontos da cadeia de valor, prontas a se agruparem e desagruparem para os alinhamentos temporários dos quais podem participar.

Evan (1978) apresenta três exemplos de configurações a partir de interações entre as organizações:

rede diádica: é aquela na qual a organização focal A interage com B, sendo B uma organização individual ou uma classe de organização;

rede em rede: a organização focal interage com mais de uma organização de um tipo particular, porém não existe interação mútua entre os outros membros;

rede de múltiplos canais: na qual todos os membros do conjunto interagem entre si e cada um interage com a organização focal e ligação em corrente; cada membro do conjunto está ligado em série com a organização focal e existe contato somente na primeira ligação.

Conforme Larson (1992), as redes diádicas desenvolvem-se em três fases, cada qual com aspectos importantes particulares e sociais.

A primeira fase é as pré-condições de trocas, em que relacionamentos pessoais e conhecimento de reputações reduzem a incerteza e estabelecem expectativas que realçam a cooperação entre organizações.

A segunda fase é as condições de construção, nas quais vantagens econômicas mútuas representam regras, aumentam o controle na confiança e a evolução de normas recíprocas durante o período de prova, em que um dos parceiros toma as regras iniciadoras como regras, procedimentos e expectativas estabelecidas. E a terceira fase a integração e controle, em que as organizações se tornam operacionalmente e estrategicamente mais rigorosamente integradas.

Casarotto F. e Pires (1998) apresentam dois tipos de redes de empresas:

redes topdown e redes flexíveis. A primeira que é formada de uma empresa-mãe, assim como as definições de rede estável e divisional, que é responsável pela cadeia de fornecedores e subfornecedores em vários níveis. Neste caso, o fornecedor é dependente das estratégias da empresa-mãe (figura 3).

Fonte: CASAROTTO F. e PIRES (1998, p. 34)

Figura 3: Rede Topdown

As redes flexíveis correspondem a redes de cooperação entre empresas independentes, formando um consórcio que administra as organizações participantes do consórcio. Semelhante às definições de rede dinâmica e matricial, cada qual tem suas características (figura 4).

Empresa-mãe REDE TOPDOWN

1ª linha

2ª linha

REDE FLEXÍVEL

Fonte: CASAROTTO F. e PIRES (1998, p. 34) Figura 4: Rede Flexível

Castells (2000) especifica duas formas de flexibilidade organizacional: o modelo de redes multidirecionais posto em prática por empresas de pequeno e médio porte e o modelo de licenciamento e subcontratação de produção sob o controle de uma grande empresa. Ou seja, pequenas e médias empresas ficam muitas vezes sob o controle de sistemas de subcontratação ou sob o domínio financeiro/tecnológico de empresas de grande porte, porém também podem tomar iniciativa de estabelecer relações em redes com várias empresas grandes, ou pequenas e médias, nas quais encontram nichos de mercado e empreendimentos cooperativos.

Albagli (2002) afirma alguns aspectos positivos e negativos sobre as redes, entre eles, as que estabelecem ligações e permitem a conexão entre atores, mas também exclusão e seletividade. As redes têm sido instrumentos precípuos do processo de globalização, freqüentemente às custas da desconstrução de territorialidade.

As alianças corporativas estratégicas, segundo Gulati (1998), definem

“alianças estratégicas como arranjos voluntários entre firmas envolvendo trocas, divisão ou co-desenvolvimento de produtos, tecnologias e serviços”. Conforme a concepção de Cabral, apud Rodrigues (1999), o uso do termo alianças estratégias

denota um instrumento de aumento do poder de competitividade, porém natural e legítimo.

Segundo Doz (1996), embora alianças estratégicas sejam talvez um caso especial que sustentam interações organizacionais entre duas ou mais empresas, estas podem lidar com um modelo de co-evolução entre firmas que necessitam muito de processos de cooperação.

Com a evolução destas redes e alianças algumas organizações passaram a se juntar e a se desenvolver em determinados locais, levando a um novo conceito de estruturas de empresariais. Segundo Quandt (1997),

as transformações que ocorrem na estrutura internacional de produção fazem com que a posição de dominância de qualquer firma e as vantagens comparativas fiquem muito voláteis...O aumento das ligações entre firmas, como alianças, joint ventures, fusões e aquisições, nos âmbitos nacional e internacional, ocorrem em função de diversos fatores políticos, econômicos e tecnológicos.

Para Sydow e Windeler (1998, p. 266), as redes estratégicas interfirmas, constituem um arranjo institucional entre organizações distintas, porém relacionadas pela busca do lucro ou resultado conjunto. Distingue-se dos demais arranjos interorganizacionais em pelo menos três aspectos estruturais por uma lógica de trocas que operam diferentemente, tanto do mercado, como da hierarquia e combinam elementos de cooperação e competição, autonomia e dependência, confiança e controle.

Segundo Aguiar (2001), em distritos industriais e cluster as relações se dão em bases informais e são fortemente marcadas pelas relações sociais e fundadas em confiança recíproca. De forma que na visão deste trabalho serão explicadas estes conceitos e mais o de arranjos produtivos que são pertinentes ao ambiente estudado.