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4 A CONCRETIZAÇÃO DAS REDES DE COOPERAÇÃO JURÍDICA DIRETA NO SISTEMA

4.4 AS REDES TRANSNACIONAIS DE COOPERAÇÃO NA PRAXIS JURÍDICA BRASILEIRA

4.4.1 Redes integradas pelo Ministério Público Federal

Em âmbito brasileiro, o Ministério Público Federal (MPF) integra, atualmente, diversas redes de cooperação jurídica internacional, dentre as quais merecem destaque: Rede Ibero-americana de Cooperação Judicial (IberRED); Rede Ibero- americana de Procuradores Especializados contra o Tráfico de Pessoas; Rede de Cooperação Jurídica e Judiciária Internacional dos Países de Língua Portuguesa (Rede Judiciária da CPLP); Rede Hemisférica de Intercâmbio de Informações para o Auxílio Jurídico Mútuo em Matéria Penal e de Extradição; Rede de Recuperação de Ativos do Grupo de Ação Financeira da América Latina (RRAG/Gafilat) e StAR – Interpol – Plataforma de Pontos Focais de Recuperação de Ativos576.

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Disponível em: <http://www.mpf.mp.br/atuacao-tematica/sci/dados-da-atuacao/redes-de- cooperacao> Acesso em: 18 abr. 2019.

A IberRED foi constituída na Colômbia, em 2004, com o objetivo de estabelecer um sistema de troca de informações e de aprimoramento da cooperação judicial em matéria civil e penal entre seus integrantes. Dentre seus membros, estão representantes dos Ministérios da Justiça, Ministérios Públicos e do Poder Judiciário de vinte e três países577.

O escopo precípuo da IberRED consiste em aprimorar mecanismos de simplificação e de agilização da cooperação jurídica internacional, com vistas a uma prestação de tutela judicial efetiva. Sua estrutura é integrada por pontos de contato entre seus membros e grupos de trabalhos temáticos. A rede busca reforçar os laços de cooperação interjurisdicional e conformar um espaço judicial cooperativo em âmbito interamericano, no qual:

[...] a atividade de cooperação judicial seja objeto de mecanismos reforçados, dinâmicos e instrumentos de simplificação e agilização, na consecução de uma tutela judicial efetiva578.

A partir das conferências e grupos de trabalho, reúne e emite recomendações a serem praticadas por seus membros. Acerca da cooperação na obtenção de provas transnacionais, a rede organizou um documento específico, traçando as diretrizes a serem seguidas pelas partes para a valoração probatória.

Nesses termos, recomenda que o pedido veiculado para obtenção de provas pela via da cooperação informal seja redigido de forma clara e precisa, relatando os fatos que sejam suficientes para embasar a solicitação da prova, sempre observando as garantias mínimas processuais para que o ato seja dotado de pleno valor probatório. O procedimento de obtenção da prova deverá obedecer ao Direito do país requerido, com respeito às garantias fundamentais expressadas pelo requerente579.

Inclusive, a IberRED ainda firma acordos entre outras redes de cooperação, reforçando elos cooperativos entre as próprias redes por temas de interesse. Como exemplo, vale citar o acordo de cooperação firmado entre a Organização Policial Criminal Internacional (ICPO- INTERPOL) e a Conferência de Ministros da Justiça dos Países Ibero-Americanos (COMJIB), com o objetivo de consolidar um espaço

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IBERRED. Disponível em: < https://iberred.org/pt/node/2 > Acesso em: 27 mar. 2019.

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IBERRED. Disponível em: < https://iberred.org/pt/node/2 > Acesso em: 27 mar. 2019.

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Conclusiones, Compromisos y Recomendaciones respecto de la Prueba Transnacional. Grupo de Trabajo Obtención y Valoración de la Puebra Transnacional de la Rede Ibero-Americana de Cooperatión Jurídica Internacional. La Antiga Guatemala, 2011. Disponível em: < https://iberred.org/sites/default/files/conclusiones-y-recomendaciones-prueba-transnacional_0.pdf> Acesso em: 18 abr. 2019.

cooperativo entre as partes, comprometendo-se a fornecer assistência mútua, intercâmbio de informações e a coordenar atividades de interesse580.

A Rede Judiciária da CPLP, por sua vez, foi instituída entre países de língua portuguesa no intuito de fundar uma sistemática de informações entre seus pontos de contato, de padronizar os pedidos de auxílio, além de instaurar um sistema a respeito das práticas jurídicas dos seus integrantes. A rede projeta, inclusive, a criação de um denominado Atlas judiciário, que permite identificar as autoridades competentes para receber e executar os pedidos de cooperação jurídica internacional581.

Cuida-se de iniciativa de implementação de mecanismos ágeis de cooperação internacional, que contribuam para uma melhor administração da Justiça e para o combate eficaz à criminalidade582. O instrumento de criação da rede estabelece a adequação de meios técnicos para uma pronta e eficaz resposta aos pedidos cooperativos apresentados entre os pontos de contato relacionados ou correspondentes de outros organismos internacionais583.

Outra rede importante de atuação do Ministério Público Federal é a Rede Hemisférica de Intercâmbio de Informações para o Auxílio Jurídico Mútuo em Matéria Penal e de Extradição. A Rede é integrada por três componentes: um website público, um website privado e um sistema seguro de comunicação eletrônica, para facilitar a comunicação direta entre seus integrantes e o compartilhamento interno de documentos relacionados à investigação e persecução criminal584.

O componente público da Rede consiste em uma biblioteca virtual que armazena e fornece dados jurídicos referentes à assistência mútua e à extradição entre os membros da OEA. O componente privado, por sua vez, compartilha informações internamente, para os sujeitos que se relacionam diretamente na cooperação jurídica em matéria penal. Já o sistema de comunicação eletrônica canaliza o intercambio de informações entre as autoridades responsáveis pela cooperação internacional585.

O software empregado constitui sistema seguro de comunicação eletrônica na promoção do intercambio de informações, que pode ser canalizado por meio de correio

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Cooperation Agreement between the International Criminal Police Organization (ICPO- INTERPOL) and the Conference of Ministers of Justice of Ibero-America countries (COMJIB). October

15, 2012. Madrid, Spain. Disponível em: <

https://iberred.org/sites/default/files/mou_interpol_firmado_ing_1.pdf> Acesso em: 18 abr. 2019.

581

Rede Judiciária da CPLP. Disponível em: <http://www.cmjplop.org/pt-PT/Rede-Judiciaria-da- CPLP/Historico.aspx> Acesso em: 18 abr. 2019.

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Rede Judiciária da CPLP. Disponível em: <http://www.cmjplop.org/pt-PT/Rede-Judiciaria-da- CPLP/Historico.aspx> Acesso em: 18 abr. 2019.

583

Rede Judiciária da CPLP. Arts. 11 e 12. Disponível em: <http://www.cmjplop.org/pt-PT/Rede- Judiciaria-da-CPLP/Historico.aspx> Acesso em: 18 abr. 2019.

584

Disponível em: <http://web.oas.org/mla/pt/Paginas/default.aspx> Acesso em: 18 abr. 2019.

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eletrônico instantâneo, reuniões virtuais e do intercâmbio de documentos mediante a utilização de redes públicas entre equipamentos geograficamente dispersos586.

A rede também possui estruturas e espaços para trabalhos conjuntos entre os membros da OEA. Além disso, promove reuniões periódicas entre seus pontos de contato, por meio das Reuniões de Autoridades Centrais e outros Peritos em Cooperação Jurídica Internacional e Extradição da OEA587.

Importa destacar também, no âmbito do combate à corrupção, a Plataforma de Pontos Focais de Recuperação de Ativos: StAR-Interpol. A Plataforma foi estabelecida pela iniciativa da Interpol em parceria com o Banco Mundial e o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes, como forma de prestar apoio ao esforço de combate à corrupção em paraísos fiscais588.

A Rede Stolen Asset Recovery (StAR)- Interpol consiste em uma base de dados de operadores do direito, disponível de forma ininterrupta (24 horas por dia, sete dias por semana), a fim de atender a pedidos dotados de urgência. A Rede presta auxílio operacional nos processos investigativos de crimes de corrupção, sobretudo com o propósito de rastreamento para recuperação de ativos, por meio de uma rede global de contatos589.

Por fim, mas sem esgotar o rol de Redes integradas pelo MPF, a Rede de Procuradores Anti-Corrupção (RPAC)590 foi constituída com a finalidade de realizar papel central na luta contra a corrupção transnacional. A plataforma da Rede canaliza a comunicação e troca de dados entre procuradores e autoridades responsáveis pela persecução criminal de mais de 170 países, com especial enfoque no aprimoramento de técnicas especializadas de combate à corrupção transnacional591.

No Brasil, a Secretaria de Cooperação Internacional (SCI), da Procuradoria- Geral da República é responsável pela fiscalização do cumprimento de acordos de cooperação no plano internacional, no interesse do MPF, dos acordantes e dos

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Disponível em: < http://www.oas.org/pt/sla/dlc/remja/ferramentas.asp> Acesso em: 18 abr. 2019.

587

Disponível em: <http://www.mpf.mp.br/atuacao-tematica/sci/dados-da-atuacao/redes-de- cooperacao/assistencia-mutua-em-materia-penal-e-extradicao> Acesso em: 18 abr. 2019.

588

Disponível em: < http://www.justica.gov.br/sua-protecao/cooperacao-internacional/atuacao- internacional-2/redes-de-cooperacao/star-interpol> Acesso em 18 abr. 2019.

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Disponível em: < http://www.justica.gov.br/sua-protecao/cooperacao-internacional/atuacao- internacional-2/redes-de-cooperacao/star-interpol> Acesso em 18 abr. 2019.

590

Network of Anti- Corruption Prosecutors (NACP). Disponível em: <https://www.iap- association.org/NACP/About-NACP> Acesso em: 18 abr. 2019.

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Network of Anti- Corruption Prosecutors (NACP). Disponível em: <https://www.iap- association.org/NACP/About-NACP> Acesso em: 18 abr. 2019.

Estados solicitantes. Compete à SCI verificar o respeito às condições legais para o compartilhamento de elementos de provas, com base na lei brasileira e nos tratados vigentes592.