• Nenhum resultado encontrado

O principal atrativo oferecido pelos FIDC a esses Investidores Qualificados é a possibilidade de diversificação de seus investimentos financeiros, com a inclusão de títulos que se enquadram em uma categoria de risco diferenciada e, ao mesmo tempo, podem oferecer retornos superiores ao de outras alternativas de investimento em renda fixa disponíveis no mercado. Conforme Teixeira (2006, p. 61), até outubro de 2005, a rentabilidade média dos FIDC ofertados no mercado era equivalente a 108,00% da variação da taxa DI (Depósito Interbancário). Apesar de pessoas físicas poderem se enquadrar como investidores qualificados, são outros os Investidores que possuem uma posição de maior relevância nesse mercado, os chamados investidores institucionais. Entre estes, dois merecem maior destaque: as entidades de previdência complementar e os fundos de investimento. Excluindo-se as instituições financeiras,

são esses dois tipos de investidores institucionais que administram os maiores volumes de recursos e podem proporcionar o finance e o funding demandados pelas empresas.

Esses investidores trabalham com horizontes distintos de investimento. As entidades de previdência complementar, ou fundos de pensão como são mais conhecidos, por possuírem um passivo de longo prazo (aposentadorias de seus participantes), procuram realizar investimentos de longo prazo. Já os fundos de investimento priorizam aplicações financeiras em títulos de curto prazo, ou que apresentem liquidez no mercado secundário. Isso porque, os fundos de investimento são em sua maioria constituídos na forma de condomínio aberto, nos quais os cotistas podem solicitar o resgate de seus investimentos a qualquer tempo.

As Resoluções do CMN nº 3.034 e nº 3.121 que regulamentam as aplicações das entidades de previdência complementar abertas e fechadas, respectivamente, estabelecem um limite máximo de investimento de 10 % em cotas de FIDC e FIC FIDC. Em dezembro de 2005, com base na soma do patrimônio dessas entidades, esse limite representava mais de R$ 37 bilhões, o que equivale a mais que o dobro do volume de cotas de FIDC ofertadas publicamente no mercado de capitais até aquela data.

Por sua vez, os fundos de investimento também possuem uma regulamentação específica no que se refere às suas aplicações. A Instrução CVM nº 409 estabelece, para o caso dos fundos classificados nas categorias de renda fixa e multimercado, um limite de 10% do patrimônio desses fundos para aplicação em cotas de FIDC e FIC FIDC. Esses limites representavam, também no final de 2005, um montante de mais de R$ 42 bilhões28.

A partir de uma análise superficial, é possível concluir que limitações regulamentares não seriam uma barreira para o crescimento da demanda do mercado por Cotas de FIDC, pelo menos não no curto prazo, já que ainda existe um grande espaço entre as aplicações desses investidores e suas limitações regulamentares. O crescimento da procura por esses títulos dependerá da atratividade oferecida e da disposição desses Investidores em adquiri-los.

Porém, se as limitações não são regulamentares elas podem estar em outros lugares. Duas questões principais chamam a atenção e atingem os fundos de pensão e os fundos de investimento

de maneiras diferentes: as características de amortização e resgate dos FIDC e a liquidez no mercado secundário das cotas de FIDC.

Com relação às características de amortização e resgate das cotas de FIDC, na maior parte das operações ofertadas no mercado há a previsão de amortizações regulares nos Regulamentos dos fundos. Se, por um lado, essas amortizações podem ser positivas para os fundos de investimento, já que representam liquidez, por outro, elas, teoricamente, não seriam do interesse dos fundos de pensão, pois, considerando a preferência por aplicações de longo prazo, “... as

amortizações representam para esses investidores o resgate de um ativo rentável antes do prazo desejado” (TEIXEIRA, 2006, p.71).

A questão da liquidez do mercado secundário de Cotas de FIDC também apresenta certas peculiaridades. A liquidez de um título qualquer representa o grau de facilidade que os investidores que o adquirirem encontrarão para vendê-lo, caso assim necessitem. Quanto maior a liquidez, maior a facilidade para vender o título e, conseqüentemente, menores serão os custos dessa venda, visto que o apreçamento feito pelo mercado será mais preciso. Portanto, a baixa liquidez secundária das Cotas desses fundos será um dos componentes das taxas de captação pagas pelas empresas, pois os investidores cobrarão um prêmio de liquidez.

Os fundos de pensão que miram um horizonte de longo prazo para os seus investimentos, na maioria das vezes, subscrevem as Cotas no mercado primário e as mantém em suas carteiras até a data de resgate. A liquidez, portanto, não é o ponto mais importante para esses investidores que, dessa forma, acabam por restringi-la. Já para os fundos de investimento, a liquidez secundária das Cotas de FIDC é um ponto-chave, tendo em vista que as características de suas carteiras podem exigir, a qualquer momento, a venda dessas Cotas no mercado. Sendo assim, os fundos de investimento podem privilegiar a aquisição de títulos de curto prazo, ou de títulos que ofereçam maior liquidez, em detrimento das Cotas de FIDC.

O objetivo deste capítulo foi apresentar algumas características das operações e do mercado de securitização de recebíveis, com o uso do FIDC. As questões relacionadas às

28 Os números de mercado de FIDC e dos principais investidores institucionais serão apresentados com maiores detalhes no Capítulo III deste trabalho.

características dos fundos ofertados no mercado, ao patrimônio dos investidores institucionais, ao mercado secundário de Cotas, entre outras, serão discutidas com mais detalhes no capítulo III.