Reequilíbrio contratual

Durante a execução do contrato (ou a vigência da ata) o valor do bem ou serviço contratado pode sofrer forte variação, para mais ou para menos, de acordo com o mercado. A fim de proteger o fornecedor e a Administração Pública existe a possibilidade de rever tais preços que onerem de maneira nociva o contrato para uma das partes.

129 _{BRASIL. Decreto n 7.892, de 23 de janeiro de 2013. Regulamenta o Sistema de Registro de Preços previsto no art. 15 da Lei nº 8.666, de}

21 de junho de 1993. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília - DF, 23 de janeiro de 2013.

130 _{DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2014.} 131 _{BRASIL, op. cit.}

O princípio da manutenção do equilíbrio econômico-financeiro do contrato encontra- se consagrado no art. 37, XXI, da Constituição Federal, que estabelece a necessidade de manutenção das “condições efetivas da proposta” vencedora na licitação ou na contratação direta.

A equação econômica é decidida no momento da apresentação da proposta (e não da assinatura do contrato) e leva em consideração os encargos do contratado e o valor pago pela Administração, devendo ser preservada durante toda a execução do contrato. O princípio da manutenção do equilíbrio econômico-financeiro pode ser invocado tanto pelo particular (contratado) quanto pelo Poder Público (contratante)132_.

Para Justen Filho133 _{a quebra do equilíbrio econômico-financeiro “consiste na}

alteração do resultado econômico extraível da contratação administrativa e somente pode ser reconhecida por meio de uma comparação entre as duas realidades diversas”.

A Lei nº 8.666/93 determina em que casos deverão ser concedidos o reequilíbrio de preços em seu artigo 65, inciso II, alínea d, a saber:

[...] na hipótese de sobrevirem fatos imprevisíveis, ou previsíveis, porém de consequências incalculáveis, retardadores ou impeditivos da execução do ajustado, ou, ainda, em caso de força maior, caso fortuito ou fato do príncipe, configurando álea econômica extraordinária e extracontratual.

A legislação estabelece diversos mecanismos para evitar o desequilíbrio dessa equação econômica no curso do contrato, com destaque para o reajuste, a revisão e a repactuação.

O reajuste de preços envolve uma previsão contratual de indexação da remuneração devida ao particular a um determinado índice, de modo a promover a sua alteração nominal periodicamente, de acordo com a variação do referido índice. A revisão de preços consiste numa análise realizada ordinária ou extraordinariamente, destinada a reestabelecer a relação original entre encargos e vantagens fazendo a comparação entre as situações existentes atualmente e no momento da assinatura do contrato, verificando-se que ocorreu uma alteração derivada que não se configure como inerente aos riscos ordinários de empreendimento, caberá adotar uma solução destinada a restabelecer a relação originária. A repactuação é uma solução aplicável apenas para os contratos de serviços contínuos no momento de suas

132 _{OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. Licitações e contratos administrativos. 4 ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2015.} 133 _{JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de direito administrativo. 8 ed. Belo Horizonte: Fórum, 2012. p.521.}

renovações, a repactuação destina-se a substituir o reajuste de preços. A repactuação elimina a indexação absoluta dos preços, que é uma característica do reajuste de preços134 _{(grifo nosso).}

2.2.7.4.4 Despesa pública

Uma vez prestado o serviço e entregue o bem pelo fornecedor à Administração Pública esta deverá retribuí-lo financeiramente de acordo com o estabelecido em contrato.

A execução da despesa orçamentária pública se processa em três estágios, conforme previsto na Lei nº 4.320/64, quais sejam: empenho, liquidação e pagamento.

a) Empenho

O empenho representa o primeiro estágio da despesa orçamentária pública. É registrado no momento da contratação do serviço, aquisição do material ou bem, obra e amortização da dívida. Segundo o art. 58 da Lei nº 4.320/64: “é o ato emanado de autoridade competente que cria para o Estado obrigação de pagamento pendente ou não de implemento de condição. Consiste na reserva de dotação orçamentária para um fim específico”.

Os empenhos podem ser classificados em:  Ordinário

Tipo de empenho utilizado para as despesas de valor fixo e previamente determinado, cujo pagamento deva ocorrer de uma só vez;

 Estimativo

Empenho utilizado para as despesas cujo montante não se pode determinar previamente, tais como serviços de fornecimento de água e energia elétrica, aquisição de combustíveis e lubrificantes e outros; e

 Global

Empenho utilizado para despesas contratuais ou outras de valor determinado, sujeitas a parcelamento, como, por exemplo, os compromissos decorrentes de aluguéis.

O empenho pode ser anulado totalmente quando o objeto do contrato não tiver sido cumprido, ou ainda, no caso de ter sido emitido incorretamente.

b) Liquidação

Consiste no segundo estágio da despesa orçamentária. A liquidação da despesa é, normalmente, processada pelas Unidades Executoras ao receberem o objeto do empenho (o material, serviço, bem ou obra).

Conforme previsto no art. 63 da Lei nº 4.320/64, a liquidação consiste “na verificação do direito adquirido pelo credor tendo por base os títulos e documentos comprobatórios do respectivo crédito” e tem como objetivos: apurar a origem e o objeto do que se deve pagar; a importância exata a pagar; e a quem se deve pagar a importância, para extinguir a obrigação.

A liquidação das despesas com fornecimento ou com serviços prestados terão por base: o contrato, ajuste ou acordo respectivo; a nota de empenho; e os comprovantes da entrega de material ou da prestação efetiva do serviço.

c) Pagamento

O pagamento da despesa refere-se ao terceiro e último momento e será processada pela Unidade Gestora Executora no momento da emissão da Ordem Bancária em favor do particular e documentos relativos a retenções de tributos, quando for o caso. O pagamento consiste na entrega de numerário ao credor e só pode ser efetuado após a regular liquidação da despesa.

A Lei nº 4.320/64, em seu art. 64, define ordem de pagamento como sendo “o despacho exarado por autoridade competente, determinando que a despesa liquidada seja paga”.

2.2.7.4.5 Sanções Administrativas

A fim de coibir comportamentos que tragam prejuízo à Administração Pública são estabelecidas as sanções administrativas (sem prejuízo das judiciais que possam ocorrer).

A Lei nº 10.520/02 prevê que ficará impedido de licitar e contratar com a União, Estados, Distrito Federal ou Municípios e, será descredenciado no SICAF (ou nos sistemas de

cadastramento de fornecedores) pelo prazo de até 5 (cinco) anos (sem prejuízo das multas previstas em edital e no contrato e das demais cominações legais) o licitante que convocado dentro do prazo de validade da sua proposta: I - não celebrar o contrato; II - deixar de entregar ou apresentar documentação falsa exigida para o certame; III - ensejar o retardamento da execução de seu objeto; IV - não mantiver a proposta; V - falhar ou fraudar na execução do contrato; VI - comportar-se de modo inidôneo; ou VII - cometer fraude fiscal.

A discricionariedade reconhecida à Administração no tocante à aplicação das sanções administrativas deve ser exercida em conformidade com o princípio da proporcionalidade, uma vez que não pode exceder o necessário para reprimir o comportamento dos licitantes ou contratados. Os entes administrativos devem assegurar o contraditório e a ampla defesa, devendo instaurar o processo formalmente, notificar o licitante ou contratado, descrevendo os fatos e faltas que lhe são imputadas, bem como as sanções a que está sujeito, dando-lhe prazo para oferecer defesa. O licitante ou contratado deve ser intimado, pessoalmente, da decisão que aplica a penalidade, também é necessário publicar a sanção na imprensa oficial, para dar- lhe publicidade135_.

2.2.7.5 Comprasnet e SIPAC

No pregão eletrônico, quem conduz o certame é o órgão ou entidade que o promove, no entanto, o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, por meio da Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação, disponibiliza sistema de informática aos órgãos e entidades federais integrantes do Sistema de Serviços Gerais para que eles operem o pregão eletrônico136_.

A Universidade Federal do Rio Grande do Norte utiliza o sistema disponibilizado pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão através do endereço www.comprasgovernamentais.gov.br para promover seus procedimentos licitatórios (envio de propostas, etapa de lances, desempates, negociações, julgamento de propostas, envio de documentos, habilitação, interposição de recursos, adjudicação, homologação, eventos relativos à licitação, entre outras ações) onde são cadastrados os pregoeiros, membros da equipe de apoio, gestores e particulares interessados em contratar com Administração Pública, tal acesso se dá através de chave de identificação e senha, pessoal e intransferível.

135 _{NIEBUHR, Joel de Menezes. Pregão presencial e eletrônico. 7 ed. Belo Horizonte: Fórum, 2015.} 136 _Ibid.

Valendo-se da chave de identificação e da senha, o particular poderá acessar o endereço eletrônico no qual será desenvolvida a competição. A partir da data de publicação do aviso do pregão até a data de abertura do pregão, o particular pode remeter por via eletrônica a sua proposta, bem como substituí-la se julgar necessário137_.

No âmbito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte é utilizado internamente o Sistema Integrado de Patrimônio, Administração e Contratos – SIPAC, para concentrar as ações relativas às compras, tanto as ações relativas à formação do processo licitatório (antes da etapa competitiva), quanto as referentes à etapa contratual.

As demandas iniciais, as requisições, a formação e tramitação dos processos administrativos, o cadastramento dos materiais e serviços, as atas e contratos resultantes da licitação, bem como todo o processamento da despesa e aplicação de sanções são operacionalizados também via SIPAC.