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CAPÍTULO 3 DESPORTO ESCOLAR

3.8 Reflexão e relação sobre o desporto/valor educativo/competição

A Convenção da Nações Unidas sobre os Direitos da Criança (20 de novembro de 1989) define, ao afirmar o direito indeclinável à educação, como objetivo primacial a promoção do desenvolvimento da sua personalidade na sua máxima expressão individual.

Com base em tal se continua a afirmar, apesar da indiferença quase geral, que, para além do direito da criança e do jovem ao desporto, a questão central que se coloca não é “desportiva”, mas sim “educativa” (Melo de Carvalho, 2010).

Segundo Melo de Carvalho (2010), a questão fundamental que se coloca ao desporto escolar, para além do desenvolvimento das capacidades motoras, é a da construção na vida da criança e do jovem dos valores essenciais que a prática desportiva potencialmente prende: educação para a responsabilização e do respeito pela regra, através da participação ativa na organização, da prática e do desempenho de responsabilidades bem definidas no quadro da aprendizagem da vida associativa.

No meu parecer, nas escolas não existe esta preocupação em que os alunos assumam responsabilidades, como serem dirigentes, árbitros, de viverem outros papéis sem serem os de ginastas ou jogadores de basquetebol ou voleibol. Não têm qualquer decisão sobre a sua prática.

Os clubes desportivos escolares tornaram-se meros clubes de participantes em que os alunos não têm uma vida associativa, apenas obedecem a regras e ordens impostas pelos treinadores. Seria importante haver uma real associação entre treinadores/professores e atletas/alunos para que o DE seja melhor, para que os alunos tenham poder de tomada de decisão, tornando-se “autores” e não apenas meras “personagens”.

Na década de 70, Ewles e Simnett (2003)14 afirmam que o termo Educação para a

Saúde foi usado para descrever o trabalho desenvolvido com as pessoas para lhes melhorar a saúde através da sua atitude individual e alteração de comportamentos (Gaspar, 2006, p.23).

Sabe-se que os estilos de vida fisicamente inativos são um dos principais desafios atuais da saúde pública. Sabemos que a atividade física influencia positivamente a prevenção do desenvolvimento de doenças crónicas degenerativas não transmissíveis, onde se destacam as doenças cardiovasculares.

Qualquer esforço para melhorar estes índices deveria ter em consideração quer as barreiras, quer os facilitadores (por exemplo, melhorando a escolha de atividades de educação física na escola e enfatizando os aspetos sociais do desporto).

O desporto escolar, para desempenhar verdadeiramente o seu papel educativo que lhe deve caber, não pode assumir qualquer carácter seletivo, nem preocupar‐se com a deteção dos mais dotados. Se o fizer porá em causa, de fato, a estruturação das bases da formação do futuro atleta e aquilo que deverá ser a vocação específica da escola (Melo de Carvalho, 2010). A ginástica acrobática é uma área e modalidade em que todos têm um papel importante e desempenham uma ou mais tarefas: todos são diferentes, mas todos podem, precisamente por essas diferenças, participar ativamente e com empenho, sendo aqui que, em contexto escolar, reside o trunfo desta modalidade gímnica.

Qualquer grupo de alunos é perfeitamente capaz de realizar as figuras, não sendo elementos de nível ou dificuldade elevada mas contêm, na sua essência, os ingredientes e fatores fundamentais para atraírem e motivarem as crianças e jovens da “era radical” a praticarem Ginástica Acrobática: - espetacularidade; “adrenalina”; pode ser praticada ao ar

livre; potencia o convívio e o espírito de equipa e entreajuda; não é dispendiosa; não é elitista - todos são importantes, todos são fundamentais (França, s.d).

São estas as vantagens dos Desportos Acrobáticos, a aproveitar e incentivar na sua prática, explorando as suas belezas.

Assim como a ginástica acrobática, o DE no geral permite uma prática precoce, multiforme e politécnica, apontando para a estruturação de uma autêntica ‘cultura desportiva’, apresentando à criança um vasto leque de atividades de forma devidamente estruturada que tornem a ação pedagógica do educador numa realidade consistente, capaz de promover o desenvolvimento global das aptidões (Melo de Carvalho, 2010).

Segundo a Declaração de Nice (2000), o desporto é uma atividade humana que assenta em valores sociais, educativos e culturais essenciais. Constitui por isso um fator de inserção, de participação na vida social, de tolerância, de aceitação das diferenças e de respeito pelas regras.

Graças ao papel que desempenha na educação formal e não formal, o desporto reforça o capital humano da Europa: os valores veiculados pelo desporto contribuem para desenvolver os conhecimentos, a motivação, as competências e a disponibilidade para fazer esforços pessoais. O tempo consagrado às atividades desportivas na escola e na universidade tem efeitos benéficos para a saúde e para a educação, que têm de ser valorizados (Comissão Europeia, 2007).

O desporto gera valores importantes, como o espírito de equipa, a solidariedade, a tolerância e a competição leal (fair-play), contribuindo assim para o desenvolvimento e realização pessoal.

Segundo o Programa Nacional de Formação de Treinadores, os propósitos da prática desportiva não se esgotam no desenvolvimento de competências corporais e motoras, deve-se também situar no fomento de valores e atitudes.

Segundo Melo de Carvalho (2010), a prática desportiva pode contribuir para o desenvolvimento pleno da personalidade, da formação e da cidadania. Ao proporcionar um equilibrado desenvolvimento físico permite promover a saúde do bem‐estar e da melhoria da qualidade de vida através do aperfeiçoamento e manutenção da condição física, a aquisição de hábitos essenciais de vida comunitária, estruturação de aspetos essenciais de carácter (respeito pela regra, autodisciplina e autocontrolo, capacidade de trabalho em comum) e a estruturação de uma autêntica “cultura desportiva“, elemento essencial da chamada “cultura geral”, capaz

de compreender criticamente o significado do desporto como fator de cultura e os objetivos e os comportamentos daquilo que envolve o praticante desportivo e determina essa prática.

A competição vai de encontro a esse desenvolvimento pois tem um grande potencial formativo e educativo, na medida em que desenvolve valores ao nível do “saber estar”, “saber ser” e “saber fazer”, que culminaram na alegria e satisfação de participar. Serve ainda para os alunos demonstrarem o seu esforço e trabalho nos treinos, dado que é lá que as medalhas se ganham, nas competições só se vai buscá-las.

Porém, existe um reparo que deve de ser identificado: tendo em conta que a ligação entre as competições e os treinos são visíveis, como já referido anteriormente, os poucos momentos competitivos que os alunos tiveram ao longo do ano letivo foram prejudiciais para desenvolvimento desportivo dos alunos, sendo que a competição desportiva, no âmbito formativo é determinante e deve ser frequente (Gonçalves, 2009).

Posto isto, é de lamentar que o DE assegure apenas três momentos de competição durante todo o ano letivo, uma vez que a aprendizagem precisa de ser colocada à prova e tal só é possível com mais momentos competitivos. O desporto não pode nem deve servir apenas como uma sociedade económica.

Esta lacuna deve ser colmatada de modo que os alunos não acabem por desmotivar e haja um aumento pelo interesse pela modalidade. É importante existir mais competição, quer interna ou externa, havendo uma consonância entre a dedicação nos treinos e a demonstração desta. Em situações futuras e idênticas penso que se deve contactar com escolas próximas e efetuar uma parceria, agendando momentos competitivos exteriormente ao calendário dos encontros dos desportos gímnicos estipulado pela coordenação local do desporto escolar.

Convém também ter em conta a preocupação de realizar as competições/encontros em horários que não prejudiquem a atividade laboral dos EE. Estes, como promotores da prática de DE através do incentivo que dão aos seus educandos, deveriam conseguir assistir às apresentações que demonstram o trabalho que os seus educandos realizam nos treinos. O fato de haver poucas competições e em horários pouco compatíveis com os dos EE, leva a que estes não tenham muitas possibilidades de o fazer.

Devendo ter sempre em conta que a criança não é um adulto em miniatura, as suas necessidades vão variando de acordo com a evolução do crescimento e da maturação.

A sua natural motivação para imitar o adulto deve ser entendida como um processo essencial de superação, que deve ser devidamente utilizado com exclusivas finalidades educativas (Melo de Carvalho, 2010).

Do mesmo modo, há que ter em consideração que a participação em atividades desportivas se correlaciona negativamente com os hábitos tabágicos e consumo de álcool, também ajudando a promover estilos de vida saudáveis (Pastor, Balaguer, Pons, & Garcia- Merita, 2003).

O espírito desportivo deve visar uma componente mais geral, que em 1º lugar é um problema de cultura, educação e civismo e, depois, uma componente mais especifica, técnica, física e atitudinal.

Segundo Melo de Carvalho (2010), deve haver uma preocupação central em que existe uma resposta às necessidades do desenvolvimento, da socialização, da saúde, da formação do carácter que, por sua vez, tem o praticante no centro das preocupações, respeitando as suas características e o ritmo do seu crescimento, com atividades adaptadas a este, caracterizada essencialmente pelo seu carácter lúdico.

Deve haver respeito integral pelas características de cada praticante, rejeição ativa da seletividade,
integração de todos nas atividades de acordo com as suas possibilidades, competição como instrumento formativo ao serviço da criança e do jovem, atuação permanente para fazer prevalecer o fair‐play e o espírito desportivo através da ação do educador, afirmação do valor humanizador do desporto Educação Desportiva e uma cultura desportiva como elemento da cultura geral.

Importa também haver uma educação do respeito pelo adversário, pelos júris e pelos seus companheiros de equipa, como processo em que o fair‐play e o espírito desportivo fornecem uma contribuição decisiva para a estruturação da personalidade e do carácter do praticante.

A educação, para ser uma ocupação válida e ativa do tempo livre como forma de aquisição de hábitos duráveis e corretos de vida sadia que se procura que perdure por toda a vida, deve ter disciplina, através do exercício do treino e da competição devidamente adaptada, do rigor do comportamento e do respeito pela regra, como contributo importante para a educação da vontade e da forma de convívio e de integração social.

Com estes valores, procurei orientar a formação dada aos meus atletas e alunos durante o meu estágio.