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CAPÍTULO III – As Fontes de Informação nas Notícias de Sociedade da Lusa

3.1. O Estágio na Agência Lusa

3.1.4. Reflexão Pessoal Sobre o Estágio na Lusa

O meu estágio na agência Lusa foi bastante produtivo. Além de ter corrigido algumas falhas, aprendi muitas coisas e fiz outras tantas que só mesmo na prática é que são exequíveis. A formação, no meu caso, no ensino superior, não chega, porque apenas estudamos a base e adquirimos as ferramentas. Só estando por dentro de um órgão de comunicação social é que fomentamos a capacidade de questionar, de tomar certas decisões, de contactar com colegas que partilham experiências connosco, e de percecionar de que forma são realmente produzidas as peças, porque fazemos parte da criação delas.

37 Ver anexo 4, pp.84-87.

38 Os sites mais importantes eram os das organizações e autoridades: Instituto Português do Mar e da

Atmosfera (IPMA), Direção-Geral da Saúde (DGS), Proteção Civil (ProCiv), Polícia de Segurança Pública (PSP), Guarda Nacional Republicana (GNR), Procuradoria-Geral Distrital (PGD) de Lisboa, PGD do Porto, Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), Presidência da República Portuguesa, Polícia Judiciária (PJ), Marinha, Estradas de Portugal, Procuradoria-Geral da República, Bombeiros Sapadores de Lisboa e Infarmed.

39 Os contactos telefónicos eram feitos para: a Direção Nacional da PSP, a PSP Comando Metropolitano

de Lisboa, o Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa, a Polícia Marítima, a GNR, o Comando Geral da GNR, a ProCiv, a Divisão de Trânsito da PSP de Lisboa, a Polícia Municipal de Lisboa, o Centro de Salvamento Marítimo, o Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Lisboa e o IPMA.

A agência deu-me tudo isso e agora posso dizer por experiência própria, indo ao encontro da opinião de Eduardo Cintra Torres, que “o jornalismo de agência é a melhor escolha para estagiários de jornalismo”40 (Cintra Torres, 2017, p.1), não se aprende em

sítio melhor do que naquele em que nos situamos no início da cadeia, no qual as regras são rígidas. “A agência contribuiu, e muito, para o desenvolvimento de um estilo jornalístico que é, ainda hoje, o que mais se aproxima da objetividade”41 (ibidem).

Quanto ao tempo que permaneci na Lusa, posso dizer que foi um período curto. O primeiro mês passa num instante e serve para efeito de treino. Apesar de ter produzido algumas peças, eu não tinha responsabilidades acrescidas porque as notícias não iam ser publicadas, ou seja, acabou por ser um mês que serviu para me ambientar, aprender e observar. Os restantes dois meses não chegaram para me dedicar a uma reportagem ou para realizar serviços fora de Lisboa, não por culpa de alguém, mas porque, simplesmente, não deu para fazer tudo; as notícias eram o principal foco no dia-a-dia. A meu ver, na generalidade, todos os estágios deviam ter, no mínimo, seis meses.

A editoria Sociedade está muito bem organizada. Apesar de haver falta de profissionais, eu senti que trabalham muito em equipa e que conseguem atingir os objetivos. Todos os jornalistas me acolheram muito bem e inclusive deixaram que eu acompanhasse o trabalho de cada um deles nas diversas áreas da secção, tendo a oportunidade de efetuar serviços fora da redação para cobrir acontecimentos de qualquer uma das temáticas, o que me deu uma visão mais abrangente.

Esta divisão por áreas é bastante útil porque os jornalistas acabam por já estar dentro dos assuntos, conhecer as devidas fontes e os colegas de outros meios de comunicação social que trabalham as mesmas matérias. É uma mais-valia para a agência em termos de produção e rentabilidade do trabalho, mas também para o profissional que acaba por ficar especializado42 nos temas em questão.

O facto de me terem atribuído um mentor para me acompanhar foi realmente importante para mim. Como já referi, na Sociedade há falta de pessoal e os editores têm muito trabalho porque é uma secção onde se escreve muito e que tem uma agenda muito preenchida, o que implica que também a agenda dos profissionais que lá trabalham não

40 A citação foi retirada de um texto do Professor Doutor Eduardo Cintra Torres, que continha uma nota

para “não citar sem autorização”. Ver anexo 1, p.69.

41 A citação foi retirada de um texto do Professor Doutor Eduardo Cintra Torres, que continha uma nota

para “não citar sem autorização”. Ver anexo 1, p.69.

lhes deixe muito tempo livre. Assim, ter tido um mentor fez com que nunca me sentisse descurada ou sem trabalho para fazer, antes pelo contrário. Fernando Peixeiro ajudou-me imenso por ser muito experiente; contou-me muitas histórias e curiosidades da agência em tempos remotos, ensinou-me muitas regras do jornalismo de agência, deu-me muitos bons conselhos e retirou-me alguns vícios na escrita que todos nós vamos adquirindo ao longo do tempo e que são errados.

A semana que passei pelo Piquete da noite foi muito interessante. Além de ter escrito notícias sobre temáticas de todas as editorias, o que foi bom para sair da minha zona de conforto, também deu para perceber como funciona a agência à noite e trabalhar em outras línguas, como o francês, o inglês e o espanhol.

O Piquete é uma escola, acaba por ser uma secção à parte, que faz um pouco de tudo e que devia ser mais valorizada pela própria agência. Há muito trabalho, visto que à noite o mundo não para e há sempre acontecimentos para serem relatados. No entanto, têm pouco profissionais a trabalhar lá. As contratações estão bloqueadas e poucos jornalistas da empresa gostam daquele horário, ou seja, a equipa é constituída por apenas três pessoas – o editor-chefe e dois jornalistas –, sendo que um deles vem “obrigado” de uma das editorias, durante uma semana, e depois troca com o colega que esteja a seguir na escala. Por este motivo, senti-me mesmo útil quando lá estive porque realmente uma pessoa a mais faz toda a diferença. Consegui escrever muitas peças, tendo contribuído para a rentabilidade da equipa.

Já que referi a falta de pessoal, aproveito para acrescentar que esse problema não sucede apenas no Piquete ou na Sociedade, mas sim em todas as editorias da Lusa. Houve muitos despedimentos, algumas das pessoas mais velhas e com muitos anos de casa entraram em acordo com a direção para irem para a pré-reforma. Há muito trabalho que deixa de ser feito por haver menos jornalistas, no entanto, a direção não está autorizada a fazer novas contratações.

Também já não se veem por lá muitos jornalistas antigos, como os que acompanharam a formação da agência e das suas antecessoras, devido à situação de pré-reforma. No jornalismo, a memória é muito importante e faz falta nas redações essa partilha de vivências e o convívio com colegas mais velhos. Ainda assim, tive a sorte de lidar de perto com profissionais que já estão na Lusa há mais de 30 anos e que ocuparam diversos cargos ao longo do tempo.

Para terminar, posso dizer que o meu estágio foi, sem dúvida, uma experiência bastante positiva, que me ajudou a testar as minhas capacidades enquanto profissional.

Só a trabalhar é que tive a perceção do que conseguia realmente fazer. A agência Lusa é uma grande escola, principalmente para quem está a começar.