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Tal como referido na metodologia, a par das questões apresentadas foi solicitado aos interve- nientes que partilhassem as suas opiniões acerca do funcionamento do SI de Gestão dos Resí- duos de Vestuário Usado. Assim apresenta-se de seguida um resumo dos assuntos discutidos.

A ANR atribui, de acordo com a lei, a responsabilidade pelos resíduos têxteis a quem coloca o produto no mercado. Esta organização avalia também as propostas para licenciamento de sis- tema de gestão de resíduos têxteis colectivos ou individuais. As associações de produtores e as entidades de I&D reconhecem a necessidade da definição de um fluxo específico para os resíduos têxteis, à semelhança do que já acontece com outras fileiras de resíduos.

No entanto, as associações de produtores entendem que a definição de um fluxo para os têxteis é um processo complexo e que sem a cooperação por parte da entidade reguladora, APA, este processo se encontra estagnado. Na opinião das associações de produtores existem

42% 58%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

O SI tem vantagens para o produtor ou para quem coloca o produto no mercado (Q8).

75 várias condicionantes, já discutidas com a APA, que passam pela necessidade de regulação do sistema de gestão de resíduos, pois operam no mercado empresas que não são licenciadas com acesso a matéria-prima a custo zero, doada pelo consumidor, à qual dão o destino que enten- dem. Muitas vezes estas empresas vendem os resíduos ao estrangeiro, não pagam impostos pelas transacções realizadas e retiram do país matéria-prima que sendo reciclada poderia en- trar de novo no circuito produtivo. Por esta razão, e uma vez que os resíduos têxteis domésti- cos são movimentados fora do controlo das autoridades, sempre que foram solicitados aos organismos oficiais dados estatísticos sobre quantidades de resíduos pós-consumo gerados em Portugal, estes não existem ou não são abrangentes.

Os dados disponíveis, nas bases de dados oficiais, dizem unicamente respeito às quantidades recebidas pelos operadores de valorização e não são valores absolutos mas sim calculados através de amostragem dos RSU domésticos. Dado o seu estado de contaminação, os resíduos têxteis domésticos têm como destino final apenas a valorização energética. Por outro lado, as associações de produtores temem que a introdução de uma taxa que financie o sistema de ges- tão se torne injusta para o produtor nacional, uma vez que os artigos têxteis passam por inú- meros fabricantes, desde a produção do fio, à produção dos tecidos até chegar à produção fi- nal do artigo, sendo que, em cada uma destas fases do processo são gerados resíduos.

No que diz respeito à valorização de resíduos têxteis pelo método da reciclagem, o potencial de Portugal é enorme. No nosso país existem empresas com know-how em produção têxtil há mais de meio-século, equipadas com várias linhas de produção e com capacidades produtivas acima das 8.000 toneladas ano. Caso os resíduos têxteis fossem transformados em nova maté- ria-prima haveria a possibilidade de serem reencaminhados para as indústrias de fiação, iso- lamentos, colchoaria, geotêxtis, entre outras, assim como possibilitaria a sua exportação para mercados na Europa, América e Extremo Oriente.

Os operadores de reciclagem estão cientes da necessidade de se criar um Sistema Integrado de Gestão de Resíduos Têxteis para Portugal. A sua inexistência a nível nacional faz com que empresas estrangeiras tenham estabelecido contractos de recolha de vestuário usado com al- guns municípios, para mais tarde o venderem no mercado internacional. Paralelamente, o pú- blico não está informado sobre qual o encaminhamento dado ao vestuário que é doado, nem quais os impactos ambientais causados pelo vestuário que descarta, o que também não pro- move uma cultura de reciclagem.

76 No processo de observação benchmarking levantaram-se as boas práticas de sociedades gesto- res de outras fileiras de resíduos em funcionamento em Portugal, como sejam os resíduos de embalagens e os resíduos eléctricos e electrónicos. São entidades sem fins lucrativos cuja principal prioridade é fomentar a reutilização e reciclagem, ou outras formas de tratamento, para produtos que no final do seu ciclo de vida são descartados como resíduos pelo consumi- dor/utilizador. Assim, todas as entidades que colocam o produto no mercado, sejam produto- res, importadores ou armazenistas e que optem por associar-se a um sistema integrado de ges- tão de resíduos, celebram um contrato, em que o produtor transfere para a entidade gestora a responsabilidade pela gestão do resíduo que ele próprio originou. Por sua vez, compromete-se em fornecer uma previsão de vendas e quais as características desses produtos.

A transferência de responsabilidade para a entidade gestora é efectuada mediante o pagamen-

to de uma prestação financeira que é calculada de acordo com o peso e tipo dos resíduos (€/kg

ou ton). Os produtores podem ainda optar por assumir as suas obrigações individualmente desde de que assegurem que os custos da gestão dos resíduos dos seus produtos não recaiam sobre a sociedade gestora ou os restantes produtores. Para isso, têm de estabelecer acordos com a APA que lhes vai exigir uma garantia financeira para o efeito.

Segundo a DQR, todos os intervenientes no ciclo de vida dos produtos são co-responsáveis pela gestão dos resíduos, independentemente do ponto em que se encontrarem, seja na fase de produção, comercialização ou consumo. Paralelamente, a responsabilidade pela recolha do resíduo proveniente das famílias é do sistema criado para esse fim, embora caiba ao consumi- dor/utilizador a responsabilidade de o entregar gratuitamente nas instalações/locais de recolha selectiva. Os consumidores são o primeiro elo da cadeia de reciclagem. Se se seguir um mo- delo idêntico ao das entidades gestoras de Resíduos de Equipamentos Eléctricos e Electróni- cos (REEE), as entidades gestoras de resíduos têxteis, através de protocolos com os municí- pios, escolas, centros comerciais, entre outros, colocará Ecopontos, Ecocentros e procederá a recolhas Porta-a-Porta, A localização preferencial para este tipo de resíduos são espaços fe- chados (no interior das escolas e em espaços públicos - mercados, piscinas, centro sociais e parques de estacionamento lojas e centros de recepção) para evitar serem alvo de actos de vandalismo (com o intuito de desviar os resíduos para fluxos não regulamentados e alimentar economias paralelas).

As sociedades gestoras de resíduos ao fazerem parte da rede de Centros de Recepção de Resí- duos que são os grandes elos da cadeia, estabelecem parcerias operacionais de forma a garan-

77 tirem a cobertura de todo o território nacional. Devem igualmente ser considerados acordos de parceria com operadores de transporte, de logística e de tratamento e valorização de resíduos, garantindo o fluxo de valorização. Os Sistemas Municipais e Autarquias Aderentes (SMAUT), asseguram a recolha, o transporte e o encaminhamento dos resíduos para os Cen- tros de Recepção, cuja infra-estrutura dispõe de meios físicos e humanos para armazenar, triar e classificar o resíduo de acordo com as suas características. Paralelamente, os Centros de Recepção contribuem activamente para o controlo da quantidade de resíduos recebida e reen- caminhada para os diferentes operadores de tratamento e valorização, mediante contrapartida financeira previamente acordada. Os operadores de tratamento e valorização dos resíduos são unidades responsáveis por fechar a cadeia do sistema integrado.

É através da contribuição financeira dos associados e da receita proveniente da venda dos resíduos que a entidade gestora custeia os custos directos (estrutura operacional -fixos, Cen- tros de Recepção - variáveis e operações de logística - variáveis) e indirectos (rendas - fixo e gastos de energia, água e consumíveis do escritório - variáveis) do Sistema Integrado de Ges- tão de Resíduos Têxteis. Adicionalmente, faz também parte das obrigações da entidade gesto- ra a monitorização do sistema integrado, a fomentação de projectos de investigação, inovação e desenvolvimento, a promoção de campanhas de sensibilização, a comunicação e a educação ambiental dos cidadãos com vista ao aumento da eficiência do sistema.

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