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7.3 – Sensibilização para a prevenção contra a obsolescência

Desenvolvimento não deve ser sinónimo de destruição e de desperdício. Efectivamente é ur- gente sensibilizar os Governos, as organizações e toda a Sociedade Civil, para a necessidade de prevenção da produção de resíduos, a montante e a jusante da cadeia de valor. É de crucial importância a cooperação e a criação de sinergias através da realização de protocolos, nomea- damente entre empresas, associações e instituições de ensino, com competências e responsabi- lidades nesta matéria. Contribuindo assim para assegurar o desenvolvimento continuo e apoio ao Eco-design em Portugal.

Como alerta a Quercus-ANCN e a Naturibérica nos seus pareceres que mais uma vez agrade- ço, urge em Portugal a necessidade de criação de um Sistema de Gestão de Resíduos Têxteis pós-consumo. A concretização desta realidade não só vai ao encontro do cumprimento das directrizes comunitárias, como tem claras vantagens para Portugal quer em termos ambientais, sociais e económicos.

78 Assim, é fundamental construir uma atitude mais responsável que passa por mudar compor- tamentos e mentalidades. Neste sentido, embora não sendo a solução definitiva para resolução dos problemas ambientais, o Eco-design pode representar uma ferramenta muito importante neste percurso que é necessário desenvolver de sensibilização, prevenção e redução de resí- duos. Desta forma, assume um papel essencial na resolução dos problemas da obsolescência no consumo e na redução do ciclo de vida dos produtos. Sendo também de salientar a impor- tância do Eco-design no desenvolvimento sustentável das empresas, assegurando o seu cres- cimento sem impactos ambientais adversos, assim como a reorganização dos processos de forma a criar uma gestão integrada de qualidade do produto.

Consideramos por isso de grande utilidade o desenvolvimento de acções que contribuam para a tomada de consciência da necessidade de reduzir a quantidade de resíduos, e em conformi-

dade com os temas desenvolvidos na “Semana Europeia da Prevenção de resíduos-Natureza das Acções”, explicar que o acto de prevenção nesta perspectiva é distinto do acto de separa-

ção.

Perante este enquadramento a metodologia a seguir deve contemplar os seguintes princípios: (i) produzir melhor; (ii) Consumir melhor; (iii) prolongar a vida dos produtos; (iv) e eliminar menos.

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Conclusão

As preocupações ambientais não são um conceito novo, nem mesmo uma necessidade nova. O Homem sempre teve de interagir responsavelmente com o meio ambiente. Nos casos em que tal não ocorreu, o homem teve de enfrentar as consequências negativas da sua actuação. Hoje, a procura de um modelo mais sustentável de evolução da sociedade, já não é uma ques- tão de bom senso, mas sim um imperativo.

Seguramente, a grande interdependência internacional modificou a dimensão dos impactes ambientais, transformando problemas geograficamente localizados em problemas mundiais e contribuindo igualmente para despertar consciências. Aceitar que o Mundo é global, passou também a significar que existem problemas que deixaram de ser apenas nacionais. Assim, Ser responsável em termos ambientais é indiscutivelmente uma responsabilidade de todos, e não somente de um grupo de pessoas ou empresas.

Neste sentido, o grande desafio desta dissertação centrou-se na necessidade de estudar, dese- nhar e validar um modelo conceptual em sintonia com o sector do vestuário, para a criação e implementação de um Sistema de Gestão de Resíduos de Vestuário Usado. O sistema propos- to procurou tirar partido, das experiencias bem-sucedidas na gestão de resíduos ao nível inter- nacional. Concretamente em Portugal analisou-se os sistemas integrados de gestão de emba- lagens e dos resíduos eléctricos e electrónicos. A concepção do modelo teve ainda em consi- deração as directrizes Comunitárias.

O estado da arte, no que respeita à valorização dos resíduos de vestuário usado em Portugal, mostrou que existe um vazio legislativo no nosso País que limita a sua implementação, apesar da DQR já ter sido transposta para legislação nacional. Este vazio deve-se principalmente:

(i) à falta de estudos preliminares sobre os resíduos de vestuário usado em todo o ciclo de produção, comercialização e descarte,

(ii) à inexistência de estudos-piloto, realizados em condições controladas, que permi- tam a correta avaliação desta potencial fonte de matéria-prima e

(iii) inexistência de uma entidade oficial especificamente dedicada à gestão destes re- síduos.

80 Apesar de termos uma vasta experiência em matéria de fabricação de têxteis e de confecção, bem como, na reciclagem destes materiais, confirmou-se que não existe nenhum sistema que integre os vários intervenientes da cadeia de valor, de forma a criar as sinergias necessárias a

uma gestão eficaz do vestuário descartado, com resultados ambientais e económicos. O “Fim de Estatuto de Resíduo” através da sua valorização, permite a transformação do resíduo cono- tado como “lixo” em nova matéria-prima com várias aplicações industriais.

Durante esta investigação verificou-se uma grande escassez de dados oficiais sobre às quanti- dades de vestuário descartado que as famílias portuguesas produzem. Constatou-se também que os organismos oficiais de tratamento de dados estatísticos apenas publicam valores refe- rentes aos resíduos pós-consumo e às quantidades de resíduos têxteis encontrados nos RU, 185 k/ton/ano (4%), ignorando as quantidades recolhidas por várias empresas que operam pontualmente no mercado nacional através de cooperações com municípios, sob o chapéu

“Caridade”, e que são objecto de transacção comercial no mercado internacional.

Como vantagens mais relevantes da implementação de um Sistema de Gestão de Resíduos de Vestuário Usado destaca-se:

(i) desvio dos resíduos têxteis dos aterros pela via de uma gestão eficiente; (ii) transformação dos resíduos em nova matéria-prima pela via da reciclagem; (iii) maior eficiência na utilização dos recursos naturais através do apoio à I&D; (iv) redução da importação da matéria-prima virgem pela via da recuperação do resí- duo;

(v) redução da importação de resíduos têxteis para produção de nova matéria-prima pela via da utilização do resíduo interno;

(vi) monitorização dos resíduos têxteis gerados pela sociedade;

(vii) encaminhamento adequado dos resíduos têxteis, dando cumprimento à Directiva Quadro Resíduos;

(vii) reduz a fuga aos impostos através da concentração da actividade em sociedades licenciadas para o efeito, dando cumprimento à Directiva Quadro Resíduos;

(ix) criação de emprego afecto a todos os intervenientes no processo;

(x) promove a consciencialização ambiental pela via das acções educacionais junto dos cidadão.

81 Em termos de contribuição para a Comunidade Científica esta investigação representa um instrumento de sensibilização para as questões ambientais, de promoção e divulgação de Boas Práticas. Para as entidades e parceiros directamente ou indirectamente ligadas a esta proble- mática a presente investigação consiste numa ferramenta de trabalho que permite conhecer, compreender e reflectir sobre o caminho percorrido e a percorrer no âmbito de uma gestão ambiental mais responsável e de combate ao desperdício.

No que concerne às limitações do estudo é importante salientar que estamos perante uma aná- lise datada, que visa caracterizar uma realidade dinâmica e em transformação. Assim, não é,

nem pode ser, mais do que uma “fotografia” representativa da realidade actual.

Ao longo deste estudo, as principais limitações encontradas prenderam-se com:

(i) a dificuldade em aceder a dados estatísticos relevantes e coerentes por ainda não existir um fluxo específico para este tipo de resíduos;

(ii) a dimensão da amostra dos inquiridos, pois apenas uma pequena quantidade das empresas inicialmente contactadas colaborou neste estudo, o que impede uma genera- lização dos resultados.

Os dados apresentados neste estudo apontam para a necessidade de realização de futuros tra- balhos de investigação, no que respeita:

˗ Avaliação da quantidade total de resíduos de vestuário usado descartados anualmente

per capita em Portugal distinguindo os que são descartados nos RU e os que são doa- dos.

˗ Estudo piloto sobre os locais e formas de recolha e armazenamento temporário a esco-

lher de forma a reduzir os custos logísticos utilizando o sistema usado nesta investiga- ção ou um adaptado do mesmo.

˗ Avaliação das medidas legislativas e financeiras a implementar de forma a motivar a

participação de todos os intervenientes.

˗ Criação de um sistema de informação geográfica para os resíduos de vestuário usado

de forma a permitir o controlo do seu escoamento tanto em termos de reutilização co- mo por reciclagem ou deposição em aterro.

˗ Desenvolvimento/adaptação das tecnologias de produção existentes de forma a utiliza-

82 O modelo conceptual proposto realça a enorme importância da colaboração dos consumidores finais. Neste contexto, é evidente a necessidade de sensibilizar/educar o público em geral e os retalhistas, através de campanhas de informação e da criação de benefícios fiscais/monetários, de forma a garantir um fluxo constante e controlado de matéria-prima. É de evidenciar ainda a montante deste modelo, a importância do trabalho dos designers e dos produtores de moda no

processo de “prevenção” através da escolha de materiais sustentáveis. Tudo indica como sen-

do este o caminho de maior consonância entre a preservação de recursos, a obsolescência pla- neada e o marketing da moda.

Salienta-se ainda, os pareceres positivos das entidades Quercus-ANCN (Anexo XIII) e da Naturibérica (Anexo XIV), em relação ao estudo e ao modelo proposto, os quais reforçam a necessidade de criação de um sistema de gestão de resíduos de vestuário usado dado o cres- cente peso relativo que estes resíduos apresentam nos RU, realçando que esta medida contri- buiria de uma forma decisiva para o cumprimento das metas da Directiva 2008/98/CE. De facto a implementação de um sistema integrado de gestão de resíduos de vestuário usado pode apresentar, para além dos benefícios ambientais, uma mais-valia económica resultante da di- minuição não só dos custos da deposição em aterro dos RU como também das importações de matéria-prima.

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