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Embora o foco da investigação deste estudo sejam as atitudes sociais e, consequentemente, como elas se formam, o autor acredita ser pertinente aprofundar as reflexões sobre como se processam as mudanças de atitudes, à guisa de contextualização do leitor.

O escritor Alexandre Herculano12 presenteou seus leitores com a seguinte reflexão: “Eu não me envergonho de corrigir os meus erros e mudar de opinião,

12 Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo, (28 de março de 1810, em Lisboa, Portugal — 13 de setembro de 1877, em Vale de Lobos, Santarém, Portugal), escritor romântico e historiador português. É um dos grandes escritores da geração romântica, desenvolvendo os temas da

porque não me envergonho de raciocinar e aprender”. Os escritores, dentre eles os poetas, são grandes observadores das relações sociais e captam com propriedade ímpar os comportamentos dos indivíduos, retratando, neste caso, o potencial do ser humano para a mudança de opinião.

Uma vez que atitude representa uma forma organizada e coerente de pensar, de sentir e de reação em relação a outras pessoas, aos grupos, derivada das próprias relações sociais, é possível supor que o tema seja também de interesse de investigação de outras ciências, além da Psicologia Social, a exemplo da Sociologia, da Antropologia e da História.

Os sociólogos buscam compreender o comportamento nas atividades dos grupos humanos, estudando, desta forma, o comportamento do ser humano em relação ao meio em que vive. Pode-se dizer que é uma das ciências humanas que tem como objeto de estudo a própria sociedade.

Os antropólogos centram-se no aspecto da cultura referente ao organismo humano. A antropologia é uma ciência social que estuda a diversidade cultural dos povos, ou seja, manifestações sociais como crenças, hábitos, costumes, comportamentos, dentre outros aspectos.

Os historiadores tentam compreender os reflexos da adoção de determinadas atitudes de povos antigos em relações aos tempos atuais. A história é uma ciência que pretende estudar o homem e suas ações no tempo e no espaço, buscando analisar os eventos que ocorreram no passado, propiciando melhor compreensão do tempo presente.

A título de reflexão, a adoção de determinada atitude por um líder político ou religioso, seguido pelos membros de sua nação, pode desencadear uma guerra de grandes proporções (até mundiais) e igualmente pode trazer a tão almejada paz. A história não apresenta tantos acontecimentos semelhantes? Acontecimentos esses que devem levar em consideração as condições históricas, políticas e econômicas, além da relação de poder e conflitos de interesses dessa nação ou povos.

As mudanças de opinião, de crenças, podem gerar uma mudança de atitudes. A internalização de uma atitude não implica necessariamente introjetar no sujeito algo negativo ou um erro propriamente dito. A formação de atitudes positivas também pode mover o ser humano para ações de solidariedade, de religiosidade, de incompatibilidade do homem com o meio social. Citado em AQUINO, Felipe Rinaldo Q. Caminho da sabedoria. São Paulo: Edições Loyola, 1995, p. 32.

respeito à diversidade, de caridade, de edificação ética e moral. Assim, a citação do escritor português, que propõe a possibilidade de aprender com os erros para corrigi-los, tem um significado verdadeiro nessa perspectiva.

Sendo a adoção de atitudes diante dos objetos sociais algo intrínseco ao processo de socialização do homem, inerente às relações interpessoais, o problema é o que os indivíduos efetivamente fazem com as suas atitudes.

As atitudes sociais negativas, carregadas de preconceitos contra representantes das minorias, como as pessoas com deficiência, são um exemplo das mazelas que podem se desencadear.

Para melhor reflexão sobre os assuntos tratados até aqui, propõe-se a seguinte situação hipotética: aprende-se, desde muito pequenos, que os deficientes são uns “coitados”, que devem ser protegidos, que não têm capacidade para o estudo, para o trabalho, para a vida social. Cresce-se acreditando nesta situação, até o ingresso em uma universidade.

Na sala de aula desse aluno hipotético, matricula-se um aluno deficiente físico. Esse aluno, que é extremamente dinâmico, participa ativamente das discussões em sala de aula, tem ocupação de destaque no mundo do trabalho, dirige carro adaptado e ainda auxilia no sustento dos familiares. Essas informações, embora possam causar um choque em suas crenças, são suficientes para que se processem mudanças em suas atitudes em relação às pessoas com deficiência?

Parece haver um consenso entre os estudiosos das atitudes de que elas são, em suma, resistentes à mudança, ao ponto de Freedman, Carlsmith e Sears (1970) afirmarem que a mudança de atitude nas pessoas não ocorre sem luta e sem a exposição do sujeito à pressão externa. Para esses autores, é extremamente difícil, num curto espaço de tempo, produzir qualquer mudança ponderável nas opiniões das pessoas em relação a algum assunto que realmente lhes interesse ou que estejam envolvidas.

Exemplificam um caso clássico de fracasso em influenciar opiniões, com uma ocorrência durante o conflito coreano. Nesse conflito, prisioneiros de guerra americanos foram submetidos a uma chamada “lavagem cerebral”, com uma intensa campanha a longo prazo em que se pretendia obrigá-los a renunciar de suas convicções sobre a democracia americana e a adotar o comunismo chinês.

A situação era ideal para a mudança de atitudes, uma vez que não havia contrapropaganda e, por outro lado, havia facilidade em contatar os soldados, uma vez que já estavam presos. A especulação veiculada na época, segundo os autores, girou em torno de alguns americanos terem sido influenciados pela campanha e de um reduzido número ter, de fato, desertado para a China Comunista. Assim, na realidade, foi uma campanha extremamente mal sucedida, pois do grande número de prisioneiros que foi submetido à campanha, apenas um punhado deles foi influenciado de forma apreciável.

Explicaria tal fenômeno o fato de os soldados americanos possuírem atitudes importantes em relação ao seu país, com raízes profundas que se consolidaram ao longo de muitos anos, relacionadas a um grande número de outras atitudes e crenças, alimentadas por fortes sentimentos emocionais e, por conseguinte, resistentes a mudanças.

Quando os autores afirmam que uma atitude afeta a maneira como um indivíduo vive, nota-se a importância de se conhecer a atitude dos sujeitos frente aos objetos sociais, com vistas à adoção de eventuais medidas para a promoção de mudança de atitudes, ou seja, o conhecimento da atitude de uma pessoa em relação a um objeto social é um passo importante para a busca da efetivação de mudanças.

Nesse sentido, Krech, Crutchfield e Ballachey (1969) esclarecem que por intermédio do conhecimento das atitudes das pessoas, é possível fazer alguma coisa a respeito da predição e do controle de seu comportamento. Os autores esclarecem também que, se os indivíduos componentes de um grupo minoritário conhecessem as atitudes do resto da comunidade diante deles, tornar-se-iam mais capazes de predizer e, talvez, de evitar que fossem vítimas de atos agressivos.

Aqui deve ser considerado que as relações sociais também são construídas com base em contradições e conflitos. Um exemplo desses conflitos, é a briga pela posse da terra, que vem ocorrendo no país praticamente desde o início da colonização, mas que se avultou somente nas três últimas décadas, em virtude, principalmente, do processo de redemocratização do país.

A questão do controle do comportamento demonstra a sua sutileza, uma vez que vários episódios mostraram confrontos em que a força policial reprimiu com grande violência as ações dos movimentos de assentados, causando graves

ferimentos e grande número de mortos. Esse uso da força é o que Althusser (1980) referiu ser o aparelho repressivo do estado.

Nessa perspectiva, foi exercido o controle de quem sobre quem? O exercício do controle do comportamento inadequado contra representantes das minorias deveria ser exercido pela sociedade, com vistas à possibilidade de igualdade de oportunidades. Trata-se, sem dúvida, de uma questão polêmica e complexa, aqui inserida apenas como proposta de exercício de reflexão em relação aos conflitos e contradições que podem ser construídos nas relações sociais.

Mas, por que os autores evidenciam o controle na mudança do comportamento do sujeito? Indicou-se anteriormente que as atitudes contemplam os elementos (ou componentes) cognitivo, sentimental e comportamental. O componente cognitivo diz respeito ao que se conhece, ou seja, que conjunto de opiniões e ideias se desenvolveu sobre o objeto ou fenômeno social; o componente sentimental ou afetivo revela os sentimentos emocionais que se concatenam com tais objetos; e finalmente, o comportamental, que seria a tendência para ação ou reação diante do objeto ou fenômeno.

Freedman, Carlsmith e Sears (1970) lembram que aprender as características de um objeto, de uma pessoa ou de uma ideia é um importante aspecto do desenvolvimento de uma atitude em relação a essa coisa.

Daí se depreende que se deve inicialmente conhecer com profundidade as características do objeto, buscando promover o desenvolvimento de sentimentos favoráveis àquele objeto para que, em seguida, se tenha uma mudança comportamental em relação a ele.

Na situação hipotética anteriormente proposta, tinham-se ideias arraigadas em relação aos deficientes físicos e, efetivamente, acreditava-se nesses conhecimentos adquiridos, até deparar-se com uma pessoa acometida pela deficiência física na condição de colega de classe.

É possível vislumbrar que esse posicionamento inicialmente negativo frente aos deficientes físicos pode ter uma correlação com a teoria do condicionamento e reforço, ou seja, fora provavelmente “aprendido” com as pessoas com as quais se relacionou. Todavia, a teoria do incentivo e conflitos auxilia a compreender que essa posição inicialmente negativa, pode ser “mudada”, ou seja, se forem suscitados incentivos junto ao sujeito para a promoção de atitudes positivas.

Afinal, trata-se de um aluno dinâmico, com ocupação no mundo do trabalho, que tem automóvel, em resumo, que é popular, e que, portanto, se poderia ter algo a ganhar com a sua convivência. Mas, nessa situação hipotética, é pertinente o seguinte questionamento: efetivamente, procedeu-se a mudança de atitudes frente ao aluno deficiente físico?

Por imitação e assimilação, já se tinham arraigado posições ou atitudes negativas em relação às pessoas com deficiência física. Pelo que eventualmente se tinha a ganhar com a convivência com o aluno deficiente da sala de aula, a força relativa dos incentivos gerou atitudes positivas em relação àquele aluno, mas a mudança de atitude não se processou efetivamente. Por quê? Porque a posição do indivíduo frente ao objeto atitudinal pode mudar de acordo com o seu interesse pessoal.

Nessa perspectiva de mudança de atitude, propõe-se aqui uma reflexão sobre a importância do respeito à diversidade e à inclusão das pessoas com deficiência no universo escolar, do Ensino Fundamental ao Superior. Omote (2008, p. 25), quando apresenta as perspectivas atuais na Educação Especial, lembra que a “[...] escola não é apenas para quem pode freqüentá-la e tirar proveitos dessa experiência. Ela é para todos [...]”.

Está preconizado na declaração de Salamanca13 que:

[...] as escolas devem acomodar todas as crianças independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, lingüísticas ou outras. [...] Deveriam incluir crianças deficientes e superdotadas, crianças de rua e que trabalham, crianças de origem remota ou de população nômade, crianças pertencentes à minorias lingüísticas, étnicas ou culturais, e crianças de outros grupos desvantajados ou marginalizados. (UNESCO, 1994, não paginado)

Para Roble (2008), a escola, além de ser o espaço da teoria e da prática pedagógica, é, antes, um local de convivência coletiva. Desta forma, precisa-se

13 A conferência Mundial Sobre Necessidades Educacionais Especiais: Acesso e Qualidade, promovida pela Unesco, ocorreu no período entre 07 a 10/06/1994 em Salamanca, Espanha, envolvendo noventa e dois governos e vinte e cinco organizações internacionais.

compreender as bases das relações entre os homens para melhor orientar as ações referentes ao cotidiano escolar.

A mudança de atitudes14 perpassa, então, pela adoção de uma postura

proativa das pessoas envolvidas no processo escolar, dos docentes, dos alunos e do corpo funcional.

Baleotti e Del-Masso (2008) referem que em uma escola para todos, há que se pensar nas mudanças de que essa escola necessita decorrentes das particularidades, individualidades e potencialidades dos alunos, mudanças de atitudes e ações de todos os profissionais que atuam no espaço educacional. Essa perspectiva de uma educação inclusiva tem propiciado o convívio com a diversidade em sala de aula, contribuindo para o desenvolvimento e para a aprendizagem, quando se abre espaço para a recepção de todos os alunos no ambiente escolar.

Havendo a convivência com alunos com deficiência em sala de aula, desde as primeiras séries do Ensino Fundamental, tem-se no componente cognitivo das atitudes, a crença de que são alunos como os demais e que, independente de suas “limitações”, tem o direito de aprender. Diante da construção dessa crença, podem- se desenvolver sentimentos favoráveis quanto a convivência com alunos com deficiência na escola e, desta forma, desenvolvida a atitude positiva, desenvolve-se uma tendência para a ação compatível com aqueles sentimentos.

De acordo com Krech, Crutchfield e Ballachey (1969), a mudança das cognições do indivíduo sobre o objeto tenderá a provocar mudanças em seus sentimentos e tendências de ação diante dele.

Os três componentes das atitudes apresentados se inter-relacionam, mas, se evidencia a importância do componente sentimental ou afetivo no contexto, para o entendimento referente à promoção da mudança de atitudes. Anderson, apud Freedman, Carlsmith e Sears (1970, p. 253), esclarece que a “[...] mudança de atitude pode persistir mesmo depois de o conteúdo que a produziu estar esquecido, enfatizando que o componente afetivo é mais duradouro e central do que o componente cognitivo”.

Ainda à luz da situação hipotética anteriormente aventada, se eventualmente, durante o Ensino Fundamental e médio, esse contato não foi promovido e os alunos

14 Discussões realizadas no grupo de pesquisa: “Desvio, Diferenças e Estigma”, sob a orientação do profº Dr Sadao Omote. As reuniões do grupo de pesquisa ocorrem às segundas-feiras, na UNESP de Marília/SP.

chegam à universidade com crenças desfavoráveis em relação ao acolhimento dos alunos com deficiência e, se a própria universidade não desenvolve ações nesse sentido, provavelmente haverá por parte daqueles alunos sentimentos desfavoráveis em relação a sua permanência na universidade e tendência para ações igualmente desfavoráveis.

Assim, pode se vislumbrar que a mudança atitudinal é plenamente possível, embora, muitas vezes, extremamente difícil, se alicerçada em crenças e sentimentos construídos em relações preconceituosas. Nesses casos, se devem engendrar esforços que viabilizem a promoção do convívio com os alunos deficientes, conhecendo melhor suas limitações e potencialidades, de forma que possam adquirir sentimentos favoráveis em relação a esses alunos e tenham tendência de ações também favoráveis.

Essa possibilidade de mudança depende em grande medida, de como essa convivência será promovida nas instituições escolares.

Stainback e Stainback (1999), apoiados nos estudos de Forest (1987a, 1987b), Johnson e Johnson (1984), Karagiannis (1988), Karagiannis e Cartwright (1990), Stainback e Stainback (1988) e Strully (1986, 1987), afirmam que as atitudes positivas com relação aos alunos com deficiência ampliam-se quando os adultos propiciam orientação e direção em ambientes integrados, uma vez que a integração e comunicação facilitadas auxiliam o desenvolvimento de amizades e o trabalho com os colegas.

A suposição de que o convívio com pessoas com deficiência pode mudar as atitudes sociais das pessoas sem deficiência encontra arrimo em autores internacionais, a exemplo de Forlin (1995), Clark (1997), Yuker (1988), Florin (2001). Autores brasileiros, como Omote (2008) e Chahini (2010), sugerem que a convivência com pessoas com deficiência contribui para a adoção de atitudes sociais mais favoráveis em relação à inclusão da pessoa com deficiência.

É oportuno salientar aqui que alguns autores defendem que o fato de se passar a conviver com uma pessoa com deficiência pode aumentar a noção que se tinha das suas dificuldades e da desfavorabilidade em relação a eles. Se o contato com as pessoas com deficiência nos ambientes sociais não é promovido e, quando ocorre, não há preparação prévia dos envolvidos, a constatação das diferenças pode prejudicar tal processo interacional. É, por exemplo, o que considera Werneck

(1997), que esclarece que a maneira mais eficaz de combater o preconceito é impedir que ele se instale, ainda na infância, propiciando informações adequadas sobre as pessoas com deficiência.

Nesse contexto, para Karagiannis e Stainback (1999), vislumbra-se o importante papel da instituição escolar, que deve viabilizar programas adequados, buscando promover a inclusão de todos os alunos, com e sem deficiência, com vistas ao desenvolvimento mútuo de atitudes positivas, com ganhos de habilidades acadêmicas e sociais no convívio com a comunidade.

Chahini (2010) chama a atenção para a necessidade de esclarecer que um sistema educacional inclusivo é aquele que permite a convivência de todos no cotidiano, na diversidade que constitui os agrupamentos humanos.

É importante ressaltar ainda que, para Rodrigues (2009), a mudança de atitude não se efetiva com o uso da força, ou seja, por coerção, mas através do convencimento, da persuasão, pois, sentindo-se ameaçada, a pessoa tenderá a apresentar o comportamento que se exige dela, mas interiormente, não irá internalizá-lo. Para não receber eventual punição, adota o comportamento que se espera dele e não o que realmente sente.

Essa reflexão é perfeitamente coerente com o estudo ora apresentado. As resoluções, os decretos e as leis podem até promover o acesso do aluno com deficiência na universidade pública, mas a aceitação desses alunos pelos pares, seu efetivo acolhimento, depende, em grande medida, da adoção de atitudes sociais favoráveis à inclusão, ou da mudança de eventuais atitudes desfavoráveis à inclusão, atitudes essas muitas vezes fundadas nas relações de contradições e conflitos anteriormente mencionadas.

Apresentadas brevemente questões relacionadas à mudança de atitudes passa-se ao capítulo 3, que irá discorrer sobre alguns aspectos da pessoa com deficiência no universo acadêmico.

3 A PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO UNIVERSO ACADÊMICO

A evolução do tratamento direcionado às pessoas com deficiência pela sociedade, seus avanços e, em alguns casos, retrocessos, da antiguidade até nossos dias, foi objeto de estudo de diversos autores, dentre os quais destacamos Pessotti (1984), Sassaki (1997), Stainback e Stainback (1999), Mazzotta (2001) Ferreira (2007), Omote (2008), Fernandes (2011).

Nesta linha do tempo evolutiva, admite-se a existência de fases ou períodos referentes ao tratamento dispensado àquelas pessoas. Na fase inicial, desde tempos remotos, praticava-se o extermínio (também a perseguição, rejeição, negligência e exclusão) da pessoa com deficiência, prática que ocorreu até por volta do século XVI dC.

Com a influência da Igreja Católica, novos ideários passam a influir nas relações sociais vigentes na Idade Média, quando a sociedade começa a questionar as práticas de extermínio (FERNANDES, 2011). Inicia-se então outra fase histórica, caracterizada pela segregação e institucionalização da pessoa com deficiência (exclusão em asilos, hospitais e institutos), pois, assumindo-se representarem também criaturas de Deus, tinham o direito à vida, contrapondo-se à prática corrente. As pessoas que destoavam do padrão de normalidade eram alijadas do convívio social e segregadas em instituições que, numa concepção cristã, consistia em um ato de caridade. Vivia-se então uma dicotomia, ora considerando a deficiência como um dom divino, ora atribuindo ao deficiente uma possessão demoníaca.

A ciência ainda não havia experimentado evolução significativa, sendo atribuído às deficiências um caráter divinizado.

Começam a ocorrer, entretanto, questionamentos quanto ao absolutismo da Igreja Católica, que somados à criação do estado moderno, além do desenvolvimento da nascente industrialização e da ciência, colocam em xeque as causas espirituais das deficiências. A medicina ganha status científico, passando a analisar os fenômenos que antes eram impostos como axiomas pela Igreja Católica, explicando a origem das deficiências como causas naturais e não mais por fatores espirituais (FERNANDES, 2011).

Nos séculos XVII a XIX, são criados os primeiros espaços específicos para a educação das pessoas com deficiência, mas somente por volta de 1960 o

paradigma da institucionalização começa a ser analisado com criticidade (FERREIRA e DUARTE, 2010).

Rejeitadas as possibilidades de institucionalização e com a difusão das ideias de normalização, é criado o conceito de integração da pessoa com deficiência. Nesta perspectiva, a pessoa com deficiência deveria ajustar-se ao meio, ou seja, adequar-se à realidade dos demais indivíduos da sociedade considerados normais.

A partir da década de 1990, iniciou-se um movimento social mundial em busca da inclusão das pessoas com deficiência, movimento que se distinguiu dos demais em virtude da participação mais ativa dos próprios interessados, ou seja, as pessoas com deficiência. Esse movimento histórico, conforme afirmação anterior, foi