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Reflexões finais

No documento Carina Alexandra Rondini (Org.) (páginas 105-109)

Verificamos, neste estudo de caso, que foram encaminhados aos serviços de saúde dois estudantes com queixas de origens diferentes, a primeira referente à aprendizagem e a segunda comportamental. Dessa forma, o que parece é não haver um “perfil” específico de queixa que é “apropriado” a esse encaminhamento. Parece que, se o estudante não possui um

“perfil” adequado à escola, ele deve ser encaminhando aos serviços de saúde, como opção de

“adequação”, de “ajuste”.

Refletimos, ao longo do texto, que a escola é contemplada pela diversidade, pautada em leis que indicam um atendimento enriquecido, o qual considera o tempo e estilo de aprendizagem de seus estudantes, todavia, isso não reflete, infelizmente, a ação pedagógica docente.

Estamos imersos em paradoxos – a sociedade e a escola mudam em períodos completamente diversos, e o estudante precisa, como quem tem uma chave em seu sistema cognitivo e comportamental, mudá-la conforme o ambiente em que está, ora escolar, ora social, buscando todo o tempo se adaptar a esses sistemas, sob pena de ser segregado. No Brasil, o sistema de saúde é completamente apartado do sistema educacional, gerando conflitos e divergências, pois cada um tem uma lente de observação desse estudante.

Um possível caminho para tais paradoxos seria o trabalho em equipe, colaborativo (CAPELLINI; ZANATTA; PEREIRA, 2008; CAPELLINI, 2010; ZANATA; CAPELLINI, 2013) – a discussão coletiva de casos como esses, dentro da escola, mesmo nas classes iniciais do Ensino Fundamental; há que se refletir sobre práticas homogeneizantes e buscar alternativas pedagógicas para os diferentes estudantes presentes no contexto escolar. Para tanto, faz-se necessário o desenvolvimento de uma cultura que valorize a diversidade; o registro em prontuários é relevante, nele é necessário esgotar informações sobre as estratégias pedagógicas utilizadas com o estudante, alicerçando a equipe de saúde com dados não somente focados no estudante, mas no contexto em que está inserido, neste caso, a comunidade escolar. É preciso ter em vista o prontuário do estudante como um documento relevante, o qual precisa ser constantemente atualizado, bem como aproximar o sistema escolar do sistema de saúde, porém, não somente em forma de encaminhamento imediato, contudo, como de consulta, de observação, de consultoria.

Além disso, a área da saúde deve atentar-se de que a escola é envolta por um contexto social, político e cultural, sendo os aspectos orgânicos apenas uma das dimensões envolvidas.

Rondini; Incau; Reis

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Notas

1 A versão em inglês do presente trabalho foi publicada no Creative Education (n. 6, p. 240-247, 2015). Disponível em: <https://goo.gl/oYHlz7>. Acesso em: 10 mar. 2015.

2 Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas – Unesp/SJRP, em 12 de setembro de 2011, sob o parecer de nº 076/11.

Subordinada, desde muito, às representações que o futuro adquire em cada situação histórica particular, a criança torna-se igualmente subordinada às estratégias políticas e governamentais relacionadas à construção desse futuro. É esse o contexto no qual sua “modelagem” deixa de ser uma garantia socialmente partilhada sobre o direito a ser o que se é, na única faixa etária em que se pode ser o que se é, e torna-se modelagem do amanhã, de um vago amanhã que ninguém sabe o que significa. (GONDRA, 2002, p. 9).

DA MEDICALIZAÇÃO DA INFÂNCIA

No documento Carina Alexandra Rondini (Org.) (páginas 105-109)