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REFLEXÕES SOBRE A PRODUÇÃO ACADÊMICA BRASILEIRA SOBRE DETERMINAÇÃO/ DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE NO BRASIL

Determinantes Sociais da Saúde, de 2010 a

REFLEXÕES SOBRE A PRODUÇÃO ACADÊMICA BRASILEIRA SOBRE DETERMINAÇÃO/ DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE NO BRASIL

Sem a pretensão de trazer uma explicação única e verdadeira que resumisse todos os possíveis pontos de contemplação que nossa incursão empírica proporcionou ou de formular recomendações, que serviriam mais para aplacar nossa angústia diante daquilo que fomos desvelando do que para alterar o curso da produção acadêmica brasileira sobre Determinação/ Determinantes Sociais da Saúde e seus desdobramentos, dirigiremos nossas reflexões para esboçar os questionamentos que foram surgindo na medida em que progredíamos em nossa caminhada. Assim, abrimos espaço para que aqueles que se detiverem a ler este estudo possam elaborar suas próprias considerações sobre os quesitos que, por nossa própria implicação, não pudermos aclarar.

Sobre a escuta

Retrocederemos aqui para escutar o que, durante o acúmulo teórico fizemos na primeira parte desta dissertação, diversos autores haviam advertido.

Bourdieu (2003) nos havia avisado que o campo científico é um espaço de forças e lutas.

Breilh (2010) expos as pressões que recaem sobre a investigação em saúde.

Barbosa (2011) denunciou o imperialismo simbólico e o abandono de um referencial marxista.

Laurell (2011) alertou para a necessidade de uma vigilância epistemológica.

Santos (2012) apontou as características do paradigma dominante. Samaja (1998) trouxe para a epidemiologia questões relativas à epistemologia.

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Almeida-Filho (2006) resgatou a importância da complexidade.

Deslandes e Iriart (2006) sugeriram atenção para um “empirismo ateórico”.

Luz (2005) nos preveniu sobre o produtivismo.

E Camargo Jr (2010) nos inteirou da predominância das publicações de epidemiologia dentro do campo da Saúde Pública/ Coletiva e Medicina Social.

Em nossa jornada de análise da produção acadêmica sobre Determinação/ Determinantes Sociais da Saúde, pudemos corroborar a pertinência das colocações de todos estes autores.

Sobre as vozes

A análise da produção brasileira sobre Determinação/ Determinantes Sociais da Saúde de 1990 a 2014 permite que observemos que seu exponencial crescimento não tem se acompanhado de aperfeiçoamentos teóricos ou metodológicos e que existe mínima incorporação da construção crítica da Saúde Coletiva/ Medicina Social latino-americana e brasileira. De igual forma, observamos que, se por um lado houve ampliação e diversificação das instituições em que se produzem os artigos e revistas nas quais estes circulam, há uma concomitante manutenção do padrão de concentração, sendo que as vozes que terminam por ganhar projeção são aquelas diretamente vinculadas às instituições e revistas de maior prestígio. Não menos importante é o fato de que se propagam e se alçam as falas daqueles que se encarregam, em território nacional, de traduzir e reproduzir o discurso engendrado em países centrais. Já seja causa ou efeito deste fenômeno, nota-se um distanciamento da produção de outros países latino-americanos, tanto em parcerias do fazer acadêmico como na absorção de avanços teóricos ou metodológicos.

A discussão teórica sobre Determinação não é assimilada pelos estudos, a despeito da abundância de material, como o que foi por nós utilizado na

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fundamentação teórica. Em uma perspectiva temporal, vemos que a criação das Comissões sobre Determinantes Sociais da Saúde, tanto da OMS como a nacional, e seus documentos de referência tornaram-se rapidamente hegemônicas, terminando por abafar as vozes contestatórias, de antes ou de hoje. Vestígios disso são exemplificados pela omissão de conceitos e modelos teóricos na maioria dos estudos analisados, em especial os empíricos, sugerindo a naturalização de Determinantes Sociais da Saúde.

Conceitos outrora difundidos, como reprodução social, por exemplo, vêm perdendo seu lugar para formulações vagas, mal- definidas e inócuas para a manutenção do status quo, como promoção da saúde, capital social, resiliência e educação em saúde.

De igual forma, propostas radicais de transformações sociais são substituídas por sugestões mais palatáveis, como políticas focais e investimento em serviços de saúde. Ainda assim, é surpreendente como o uso de Determinantes Sociais da Saúde tem se prestado para o velamento dos processos sociais e se voltado para os indivíduos, através da persecução de mudanças de estilos de vida.

Porém, em tempos recentes vislumbram-se, mesmo que incipientes, críticas ao enfoque de Determinantes, tanto no campo acadêmico como político.

Sobre o silêncio

Se houve e há vozes que contradizem a cantilena hegemônica, como e por que se processam os mecanismos que procuram abafá-las? Já tínhamos advertido que não almejávamos apresentar uma resposta pronta para esta questão, mas conjecturamos que, nas engrenagens entre a produção, divulgação e incorporação do conhecimento científico é que se processa este emudecimento.

Um estudo de viés crítico teria que abrigar-se nos nichos progressistas, cada vez mais restritos, da academia. Para sobreviver a uma saraivada de objeções por parte se seus pares, precisaria munir-se de pesado investimento

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teórico, o que demanda um tempo que o ambiente universitário não se dispõe a conceder. Ou seja, desde a partida sua elaboração estaria na berlinda.

Sobrevivendo à fase de produção, não menos árdua seria a etapa de divulgação. Destoar do formato e conteúdo habitualmente veiculado comprometeria suas possibilidades de publicação, pelo menos nos periódicos de maior alcance. Mesmo que conseguisse tal façanha, incidem sobre a incorporação de inovações resistências àquilo que não segue os refrões da moda.

Sobre os ecos

Se ecoam discursos bem comportados, gentilmente alinhados com um meio acadêmico funcional, que se prestam, deliberadamente ou não, a endossar um projeto de intervenções cosméticas sobre os “Determinantes Sociais da Saúde”, os que procuram transformações sociais amplas e profundas e frequentam a academia de forma crítica, sustentando a Determinação Social do Processo Saúde-Doença não se esqueçam que:

“tu boca que es tuya y mía, tu boca no se equivoca, te quiero porque tu boca sabe gritar rebeldía.”

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