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Capítulo 1 – Origem e Panorama atual do Movimento Sindical Internacional

5. Da resistência local-global à contratação institucional global-local: a trajetória do sindicalismo internacional na MBB e Grupo Daimler

5.3 Anos 2000: CMTD, AMIs e os significados da contratação global-local

5.3.10 Reflexões sobre a natureza em rede do CMTD

A natureza em rede presente na organização internacional dos trabalhadores na Mercedes- Benz consolida-se, ou ao menos se mostra mais visível, no período dos anos 2000. Isto é, justamente com a criação do CMTD e a formalização dos dois AMIs, fato sobre o qual debaterei na sequência. No entanto, as características da lógica em rede foram construídas desde o início de tal trajetória, quer dizer, desde 1984. Assim, aos poucos, e ao longo de duas décadas, foram se estabelecendo. Portanto, as análises pertinentes à década de 2000, podem ser aplicadas aos anos que lhe precederam.

Importante ressaltar que os critérios por mim assumidos para o entendimento daquilo que é uma rede são os defendidos por Manuel Castells e que foram discutidos no capítulo essencialmente teórico da presente dissertação.

O CMTD não possui um centro propriamente dito, ou, ao menos, não no sentido clássico. Por exemplo, não no sentido verticalizado, presente na lógica fordista (já aqui mencionada). Daí a sua caracterização multicentrada. É constituído por vários atores, por vários “nós” e, cada um desses, representa um centro. Portanto, ou não há um centro ou há vários. Os “nós” são unidades, ou seja, tratam-se dos sindicatos locais (nacionais) e que, a priori, não necessitam de outro para sobreviver. No entanto, descobriram que, para melhor existir, para melhorar suas conquistas e desempenho, a conexão em rede com outras unidades, com outras entidades sindicais, enfim, com outros “nós” é fundamental. No caso em que estudo, em nível global. Isso não significa, de forma alguma, afirmar que não há centros mais ou menos importantes. E os há. O CMTD, composto por vários centros, ou por vários “nós” está inserido dentro de uma relação de poder, uma correlação de forças políticas e, nesse sentido, é formado por atores (“nós”) de maior ou menor importância. Pelo exposto ao longo da presente dissertação, vimos que os sindicalistas alemães representam um “nó” com maior poder do que todos os outros na rede CMTD. Possui maior poder do que os “nós” brasileiro, sul-africano, estadunidense,

canadense, espanhol e japonês; sendo que, nesse sentido, há uma relativa hegemonia alemã dentro do CMTD. Isso também não significa que o “nó” alemão, dentro dessa rede multicentrada que chamamos de CMTD, possa prescindir dos outros “nós” ou ainda que tenha mais poder do que todos os outros juntos. Mesmo porque, a característica de uma rede exige a associação entre vários atores, os “nós”: não há rede sem múltiplos “nós”. Politicamente, o “nó” alemão necessita dos outros e vice-versa. É justamente isso que viabiliza a rede, nela, portanto, não há “o Poder”.

O que também faz com que haja a constituição da rede são os interesses comuns entre os “nós”, não obstante, inclusive, a existência de interesses conflitantes que podem existir, e normalmente existem, mas são menos significativos do que os interesses e valores comuns, que agregam. Caso contrário, a rede não seria possível, desfazendo-se. Pontualmente podem surgir divergências relacionadas, por exemplo, a investimentos propostos pela direção da empresa, fazendo com que passe a existir certa concorrência pelo local onde será aplicado. Entretanto, a articulação e a solidariedade demonstradas desde 1984 nos faz crer que os interesses e valores comuns se sobrepuseram.

Continuando o raciocínio, os interesses e valores comuns de uma rede formam a sua programação, formam o programa que dará a linha de funcionamento da rede. A rede CMTD tem, em geral, como programação, a defesa, conquista e manutenção de interesses, direitos e valores da classe trabalhadora em nível global, a partir das várias localidades. São exatamente tais proposições que compõem o sistema de operação a ser executado por seus programadores, isto é, por seus “nós”, em outras palavras, pelas entidades sindicais locais que integram o CMTD.

Outro fator fundamental da rede, também visível em nosso caso, é a conexão ou a comunicação entre os atores “nós” da rede. Sem isso, simplesmente não haverá rede. A conexão é feita, por óbvio, pelos conectores (switchers). São conectores da rede CMTD os próprios meios de comunicação, os eventos de intercâmbio e outros atores, até mesmo, não propriamente sindicais, que possibilitaram, especialmente na fase de constituição da rede, a conexão entre os “nós” sindicais. Estou me referindo, principalmente, à Pastoral Operária, ao

TIE e à Igreja Luterana na Alemanha.

A rede CMTD pode e mesmo faz parte de sua constituição, a cooperação com outras redes. Ou seja, pode, e o faz, por exemplo, os estabelecer ações conjuntas com comitês mundiais de outras empresas, sejam elas do ramo metalúrgico ou não. Logo, existe cooperação não só entre os “nós” internos da própria rede CMTD, mas igualmente entre ela e outras redes mundiais de trabalhadores.

Por outro lado, a competição é outra faceta das redes quando há outras redes com valores diferentes e até opostos. Por exemplo, a rede Mercedes-Benz235. O que, igualmente, não significa que não possa haver possibilidades de negociações que satisfaçam, em uns momentos mais em outros menos, ambas as redes. Acordos são frutos de, em um primeiro momento, disputas, quer dizer, competição entre as redes CMTD e Mercedes-Benz. Aliás, ao longo da trajetória internacional desde os anos 1980 essa foi a marca principal: posicionamento da empresa, resistência dos trabalhadores (que depois se tornou “preventiva” na medida em que a articulação internacional não cessou), negociação e assim sucessivamente. Tudo, também, em âmbito global.

Enfim, as características em si da rede, o CMTD, possibilitam sua flexibilidade. Se um determinado “nó” se afasta da rede, ela, sem problema algum, continua existindo. Poderá eventualmente perder poder ou não. Se, por exemplo, o “nó” alemão deixasse de pertencer à rede, esta perderia muito poder, mas não necessariamente deixaria de existir. Ao mesmo passo, se algum “nó” (entidade sindical) alterar os seus valores e interesses de maneira que destoe substancialmente da rede, a solução natural será a sua exclusão. Nesse caso, a rede, a rigor, não perderia poder algum, pois se o “nó” nela permanecesse com um “programa” diferente, a rede poderia ter sua programação essencial comprometida. Portanto, não se perde, mas sim se ganha ao não se perder.

Tal flexibilidade é muito mais factível em uma estrutura horizontalizada, em rede. Diferentemente da lógica fordista: os que estão hierarquicamente abaixo têm sua existência severamente abalada caso aquele que lhe é superior tenha dificuldades. Se a unidade mais importante de um conjunto ou sistema, sob a lógica vertical, tiver sua existência comprometida, todo o conjunto também o terá. As ETNs perceberam isso há muito tempo e trataram de alterar a lógica de sua estrutura. O mesmo ocorre quando o movimento sindical busca trilhar por tal novo caminho.

Por conseguinte, quando a conjuntura é favorável, ficam fortalecidos os “nós” de uma rede, podendo até aumentar a quantidade de atores que a compõem. Assim, expande-se a rede aproveitando o momento propício. Ao contrário, em épocas desfavoráveis, a rede pode não só deixar de incluir novos “nós”, mas até mesmo perdê-los, sem que corra o risco eminente de deixar de existir.

235 Recordo que no segundo capítulo da presente dissertação, discorri, sobre a configuração global do Grupo Daimler: várias unidades mundiais, dezenas de milhares de fornecedores, presença em praticamente todo os países do planeta, plantas e escritórios de representação em dezenas de nações; enfim, uma rede global hegemônica e complexa.

Penso que a lógica em rede global é uma possibilidade promissora para o futuro do movimento sindical em uma sociedade cada vez mais globalizada em rede. O sistema hegemônico, representado pelo capital, a adotou profundamente. Os trabalhadores, isto é, a contra-hegemonia, parece estar acordando para esse fato de consequências práticas socialmente vitais.

Considerações Finais

O presente estudo tratou de analisar, reconhecendo a prática sindical internacional dos trabalhadores a partir da MBB, a evolução percorrida, bem como o sentido de tal trajetória. Constatou que, durante o período de três décadas, houve um avanço e substancial fortalecimento da experiência na medida em que, partindo-se do espírito de solidariedade, passou-se pela contratação formal até a institucionalização em nível global.

A pesquisa igualmente buscou identificar o caráter do caminho realizado. Entre as características destacadas estão as perspectivas local-global em rede e contra-hegemônica. Ressalta-se que, não obstante o itinerário exitoso estudado, ainda não se constitui enquanto prática padrão, sendo, portanto, um modelo possível, viável e até mesmo urgente ao movimento sindical local: globalizar-se para poder se contrapor, cada vez mais em pé de igualdade, aos atores hegemônicos do capitalismo globalizado.

O estudo de caso a partir da MBB, bem como a análise de sua abrangência para o Grupo

Daimler, nos permite observar que, em primeiro lugar, é evidente a conexão global em rede do funcionamento do sistema produtivo e de gestão da mencionada ETN. Constituindo-se esta, exemplo de ator hegemônico do capital.

Conforme vimos, as corporações transnacionais são localismos globalizados, representando assim, uma forma de globalização – segundo assegura Boaventura de Sousa Santos. São iniciativas locais que se universalizaram, quer dizer, globalizaram. Fixaram-se em várias outras localidades, a partir de uma primeira. Assim, o grupo Daimler na Alemanha, desde a localidade da cidade de Sttutgart, expandiu-se para várias outras localidades, globalizando-se.

A MBB de SBC, seguindo a mesma lógica, é o resultado local de uma estratégia de cunho global. Em outras palavras, uma forma de globalismo localizado, ou seja, sua existência concreta é a expressão ou materialização local de uma estratégia global.

Temos, dessa maneira, uma forma de localismo globalizado e o globalismo localizado, quer dizer, o jogo local-global, sob a perspectiva hegemônica do capital.

Tal perspectiva hegemônica do capital também apresenta como característica a organização em rede, seguindo a configuração da lógica neural, além de horizontalizada. Não se trata, pois, mais de uma empresa verticalizada no sentido clássico fordista-taylorista, mas sim toyotista.

Apresenta, por exemplo, maior eficiência entre produção e estoque. Para isso, as unidades da Mercedes-Benz ligam-se em rede com um conjunto de outras empresas do próprio grupo

Daimler, bem como com uma vastíssima cadeia global de empresas composta por fornecedores e revendedores.

Internamente horizontalizou sua produção ao eliminar funções intermediárias, entre elas muitas gerenciais, diminuindo, portanto, a verticalização. Igualmente, na produção propriamente dita, eliminou postos de trabalho ao adotar a manufatura celular e a terceirização, apesar de ter sido, entre as montadoras do ABC, a que menos trabalhadores perdeu durante o intenso processo de RP ocorrida durante os anos 1990.

Paralelamente, os trabalhadores também iniciaram sua organização no nível local e global, estabelecendo, por força da realidade e, claro, por sua própria iniciativa política, conexões internacionais em rede. Consubstanciou-se a ação sindical enquanto contra-hegemonia na medida em que se contrapôs à propositura unilateral das estratégias corporativas transnacionais.

Boaventura de Sousa Santos, ao se referir às formas de resistência à globalização hegemônica cunha os nomes cosmopolitismo e patrimônio comum da humanidade. Segundo foi possível compreender, esses dois significados são nada mais do que formas contra-hegemônicas de

localismos globalizados e globalismo localizados sob o viés do trabalho.

As iniciativas de organização internacional dos trabalhadores, a partir da MBB em SBC, tanto nos anos 1980 como na década seguinte, são localismos que se globalizaram (localismos

globalizados). Foram iniciativas que partiram de dada localidade, conectaram-se com outras até fundar articulações globais que, por sua vez, produziram impactos locais.

Os localismos globalizados por parte dos trabalhadores são de caráter contra-hegemônico em

rede, mas ainda muito distantes de se tornarem hegemônicos, bastante incipientes; no entanto, uma possibilidade. Equivalem a iniciativas plausíveis, haja vista a experiência aqui estudada. Sua lógica, nesse sentido, pode servir como referência para análise na relação entre trabalho e capital de outros setores transnacionalizados da economia, não só o metalúrgico. Para citar somente algumas, há experiências semelhantes, entre elas, na indústria química, construção civil, finanças e têxtil.

Nos anos 2000, o CMTD, sob a perspectiva de Boaventura de Souza Santos, pode ser entendido enquanto um globalismo localizado. Possui resultados, inserções e efeitos locais, aliás, existe para interferir direta e efetivamente no local, mas parte do nível global, de um globalismo.

Nos três períodos, em relação às estratégias dos trabalhadores: anos 1980, 1990 e 2000, as articulações igualmente apresentam a característica em rede, conforme a visão do sociólogo Manuel Castells por mim utilizada. No entanto, a incorporação da lógica em rede está muito mais avançada por parte do capital. O mundo do trabalho age de forma reativa, isto é, post

festum à realidade moldada pelo capital. De qualquer maneira, há experiências sindicais internacionais que já começam a atuar no mesmo nível e sentido do que o capital, colocando sua postura contra-hegemônica em nível global e em rede.

A experiência dos trabalhadores, a partir da MBB, é uma delas e pode ser tida também como modelo para o sindicalismo internacional passível de ser universalizada.

Logo, creio que o presente exame permite indicar tanto a necessidade como a possibilidade de internacionalização da organização dos trabalhadores devido a conjuntura globalizada em rede da economia e consequentemente das ETNs.

Até o final dos anos 1980 a MBB organizava sua produção e gestão dentro dos moldes clássicos do taylorismo-fordismo. Com a desmedida abertura dos anos 1990, iniciada por Collor de Mello e efetivada por FHC, ao menos as grandes empresas no Brasil, inclusive as montadoras metalúrgicas da região do ABC, adotaram, em maior ou menor grau, modelos de produção e gestão segundo os padrões toyotistas.

Esse novo contexto, por sua vez, praticamente impôs uma reação dos trabalhadores a reorientar a ação sindical considerando substancialmente o aspecto global em rede, isto é, conectando-se ou articulando-se com outras localidades. Isso não significa que, necessariamente, todas as montadoras tenham incorporado, com o mesmo peso, o quesito global em suas estratégias sindicais. Na verdade, a experiência na MBB é exceção no ambiente sindical. Por isso mesmo não é ainda uma opção contra-hegemônica efetiva.

De qualquer forma é possível verificar, por meio da particularidade estudada, que as forças produtivas ou condições objetivas da realidade criam, permanentemente, novos tipos de contradições e conflitos, estimulando as mudanças subjetivas ou de consciência dos trabalhadores236, isto é, o surgimento de novas formas de organização do trabalho. Em nosso

caso, a articulação internacional.

Nos anos 1990, em um cenário de abertura econômica e RP, já mencionado, as lideranças sindicais empreenderam, com maior aprofundamento em relação à década anterior, a articulação sindical sob a lógica local-global. Tal política foi fruto da necessidade de entendimento do processo produtivo e de gestão da empresa para um melhor alcance das negociações locais. Dessa maneira, acentuaram a estratégia em nível global com outros trabalhadores e lideranças sindicais.

O fato indica, novamente, que a internacionalização vigorosa da empresa estimulou a organização dos trabalhadores a seguir o mesmo caminho: global, em rede e contra- hegemônico. Provavelmente não é possível afirmar que a internacionalização sindical foi inevitável, mas mostrou-se aos trabalhadores enquanto um imperativo da própria realidade. O que, no caso da MBB, foi incorporado nas práticas sindicais.

O estudo da relação capital-trabalho, exemplificada pelo caso MBB, pode ser disseminado a trabalhadores de outras realidades da economia mundial: a globalização hegemônica em rede do capital criou as condições objetivas para a globalização contra-hegemônica em rede do trabalho. Não obstante, evidencio novamente que a perspectiva do trabalhador ainda não se consolidou enquanto paradigma. Está muito aquém do nível de desenvolvimento do capital necessitando ser bastante ampliada para se consolidar efetivamente. Mesmo no campo automobilístico brasileiro a experiência da MBB não é regra, não deixando de considerar que exatamente esse setor é um dos mais avançados em termos de organização do trabalhador no Brasil, senão o mais avançado, haja vista a reconhecida relevância do papel do SMABC no cenário sindical nacional desde o final dos anos 1970.

Há ainda que se destacar as particularidades do movimento sindical internacional desenvolvido por meio dos CMTs. Ou seja, algumas das dificuldades, desafios ou vícios enfrentados mais fortemente pelas CSMs e FSIs ou não estão presentes ou, quando estão, colocam-se em menor grau nos CMTs, cujo exemplo é o CMTD.

Destaco, especialmente, no caso do CMTD, a menor verticalização, menor burocratização, maior descentralização, o debate de temas além do escopo sindical tradicional237 e o maior

apelo local-global.

Enfim, a natureza específica dos CMTs, no caso o CMTD, acaba viabilizando maior eficiência, vide a aplicação dos AMIs com claros e diretos efeitos locais.

Outra consideração remete à relação entre a vinculação dos direitos dos trabalhadores em uma determinada localidade, inclusive a manutenção do emprego, e sua restrição ao nível nacional. A garantia de conquistas locais não estão limitadas, necessariamente, ao nível nacional. Pelo contrário, vimos que, especialmente na organização sindical internacional dos trabalhadores a partir da MBB em SBC durante a década de 1990, a proteção dos interesses dos trabalhadores demandou a articulação global. Compreender a produção em nível global possibilitou a elaboração de estratégias sindicais impossíveis de serem construídas tendo somente como escopo o nível local/nacional.

Apesar dos desafios a serem enfrentados pelo CMTD e AMI, ambos são atualmente ferramentas fundamentais justamente para viabilizar a dinâmica local-global da luta sindical internacional. O primeiro, mesmo necessitando aumentar sua representatividade e comunicação é um instrumento que tem demonstrado sua importância essencial no jogo contra-hegemônico.

Ao conectar os dois polos (local-global), apresenta resultados concretos muito provavelmente impossíveis ou bastante difíceis de serem alcançados por outros meios. No mesmo sentido, o AMI dos trabalhadores na Daimler é o recurso global para se estabelecer acordos formais de impacto nas localidades independente de suas lacunas.

Além dos temas centrais considerados acima e que constituem o cerne do presente trabalho é possível tecer outras ponderações complementares.

Apesar dos avanços há ainda enormes desafios para o movimento sindical internacional. Entre eles destaco a sua fortíssima europeização; centralização; burocracia; verticalização e excessivo peso do viés diplomático. De menor monta, mas persistentes, temos influências ideológicas oriundas da Guerra Fria e, muitas vezes, o foco efetivo somente para o global. Os avanços existem e, no caso do CMTD, alguns são evidentes em sua prática como a diminuição da centralização, da verticalização e da burocratização. Os métodos e formatos do sindicalismo internacional estão sendo reformulados, mesmo que na maioria das vezes muito lentamente, para que se possa dar conta de suas principais metas globais atuais, já indicados:

2) O enorme poder das ETNs, inclusive em relação aos Estados-Nação; 3) A precarização dos direitos e desemprego e

4) A necessidade urgente de construção de uma sociedade sustentável (economicamente viável, socialmente justa e ambientalmente correta).

Entre outras constatações acessórias possíveis sublinho o surgimento do movimento sindical no Brasil pela via internacional. Ou seja, tanto o movimento sindical nacional como o internacional emergiram ao mesmo tempo no país. Da mesma forma que, no final dos anos 1970, o chamado novo sindicalismo, protagonizado pelos metalúrgicos do ABC, teve também grande peso do movimento sindical internacional. Também são os trabalhadores metalúrgicos os que maior poder político possuem atualmente no campo sindical global, o que pode ser averiguado com a relevância da ex-FITIM e a atual Industriall Global Union.

Finalmente, o estudo sugere fortemente que em uma sociedade cuja economia está intensamente globalizada a estratégia dos trabalhadores centrada exclusivamente no nível local/nacional muito provavelmente será incompleta, podendo levar à elaboração de políticas sindicais insuficientes ou até mesmo inadequadas. A experiência a partir dos trabalhadores na MBB mostra a viabilidade de tal perspectiva contra-hegemônica global em rede.

Referências bibliográficas

1984 a 2004: 20 Anos de Solidariedade Brasil-Alemanha no Grupo Daimler-Chysler.

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