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2. O ENSINO E APRENDIZAGEM EM MATEMÁTICA

3.2 Reflexões sobre o Sentido de Jogo

Acreditamos que o uso de jogos como recurso didático-pedagógico permite contribuir com mudanças nas aulas de Matemática, saindo do modelo de ensino em que o livro e o quadro didático são quase recursos exclusivos. Ao considerar o jogo como um instrumento lúdico que permite tais mudanças, Carleto (2003) em sua pesquisa relata que diversas correntes teóricas vêm defendendo a importância das atividades fazendo o uso desse recurso, há mais de dois séculos, na formação dos estudantes. A autora cita Rousseau, Pestalozzi, Froebel, Dewey, Claparéde, Montessori, Piaget e Vigostsky como defensores dessa ideia pedagógica, em que a atividade lúdica faz parte de um processo pelo qual o indivíduo adquire um senso de responsabilidade, desenvolvendo a autoexpressão, assim como também se desenvolve física, cognitiva e socialmente.

Não podemos negar que muitas vezes há uma resistência do sistema educativo quando se refere a esse recurso, principalmente nas turmas do Ensino Médio, pois por muitas vezes ele é visto como uma brincadeira em sala de aula, que vem simplesmente com o intuito de sair da rotina das aulas, e são entendidos como algo que traz uma descontração, saindo um pouco da seriedade e trazendo alegria para a turma, já que a Matemática, na maioria dos casos, é considerada uma disciplina séria. Essa ideia não é nosso foco nessa discussão, pois consideramos o uso de jogos como algo determinante para que os alunos se sintam motivados

a participar das atividades, adquirindo conhecimento, desenvolvendo um espírito construtivo, criativo, capaz de abstrair conceitos matemáticos, de interagir com os colegas, podendo cada indivíduo, em determinada jogada, tomar iniciativas, desenvolvendo a autonomia e autoconfiança.

Podemos perceber também, que nos dias atuais há uma enorme preocupação sobre o estudo do uso de jogos no processo de ensino e de aprendizagem em Matemática, em que o mesmo é um tema muito discutido na área de Educação Matemática. Fiorentini e Miorim (1993) relatam no artigo “Uma reflexão sobre o uso de materiais concretos e jogos no Ensino da Matemática”, que os professores estão cada vez mais procurando inovações para a prática docente, uma prova disso é o número de docentes que vem aumentando cada vez mais nos encontros, conferências e cursos. Porém, ainda enfatizam que muitos não têm conhecimento das reais razões pelas quais são usados os jogos na sala de aula. Considerando o processo de ensino aprendizagem dos alunos quando fazem uso desse recurso, defende-se que “[...] os conceitos matemáticos que eles devem construir, com a ajuda do professor, não estão em nenhum dos materiais de forma que possam ser abstraídos deles empiricamente” (PASSOS, 2010, p. 81.).

É preciso expor em nosso estudo algumas reflexões sobre jogo, por isso, trazemos algumas definições relatadas por alguns autores:

De acordo com Huizinga (2000, p. 33), o jogo:

[...] é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de uma consciência de ser diferente da “vida quotidiana.”

Alguns jogos podem ainda apresentar-se segundo suas regras, de forma que cada participante deve, com atenção, segui-las e respeitá-las, pois as mesmas geram mais seriedades diante os jogadores, que ao jogar automaticamente saem da monotonia, mas não devem perder a seriedade e a concentração propiciadas pelo momento da realização de uma atividade que faz o uso do jogo com o sentido de facilitador e promotor de diversos conhecimentos.

Dentre as definições de jogo que o dicionário Aurélio (2001, p. 408) traz, destacamos as seguintes:

“Conjugação harmoniosa de peças mecânicas com o fim de movimentar um maquinismo” (1); “Atividade física ou mental fundamentada em sistema de regras que definem a perda ou o ganho” (2).

Ao definir jogo Alsina (2009, p. 11) diz que os indivíduos “jogam por que o jogo, em si mesmo, é um prazer, porém a maior importância reside no fato de que permite resolver simbolicamente os problemas e possibilita pôr em prática distintos processos mentais”

Ao tentar definir o sentido da palavra jogo, Smole, Diniz, Pessoa e Ishihara (2008), citam Kamii(1991) e Krulik(1997), enfatizando que:

- o jogo deve ser para dois ou mais jogadores, sendo, portanto, uma atividade de que os alunos realizam juntos;

- o jogo deverá ter um objetivo a ser alcançado pelos jogadores, ou seja, ao final, haverá um vencedor;

- o jogo deverá permitir que os alunos assumam papéis interdependentes, opostos e cooperativos, isto é, os jogadores devem perceber a importância de cada um na realização dos objetivos do jogo, na execução das jogadas, e observar que um jogo não se realiza a menos que cada jogador concorde com as regras estabelecidas e coopere seguindo-as e aceitando suas consequências;

- o jogo deve ter regras preestabelecidas que não podem ser modificadas no decorrer de uma jogada, isto é, cada jogador precisa perceber que as regras são um contrato aceito pelo grupo e que sua violação representa uma falta; havendo o desejo de fazer alterações, isso deve ser discutido com todo o grupo e, no caso de concordância geral, podem ser impostas ao jogo daí por diante;

- no jogo, deve haver a possibilidade de usar estratégias, estabelecer planos executar jogadas e avaliar a eficácia desses elementos nos resultados obtidos, isto é, o jogo não deve ser mecânico e sem significado para os jogadores. (SMOLE et al, 2008, p.11)

De fato, muitos professores não reconhecem o verdadeiro sentido da metodologia dos jogos em sala de aula, e muitas vezes o uso desse recurso acaba fugindo dos objetivos educacionais que garantem uma aprendizagem eficaz dos conhecimentos envolvidos.

Acreditamos que os jogos devem vir juntamente com situações interessantes e desafiadoras, para que os alunos sintam-se chamados a participar ativamente das atividades, e não simplesmente que os professores usem esses materiais didáticos com o intuito de tornar as aulas simplesmente diferentes, alegres, utilizando-os como um caráter motivador, pois apenas estes motivos não são suficientes para que se possa obter êxito na aprendizagem dos diversos conceitos matemáticos envolvidos. Acima de tudo é preciso definir nossos objetivos na sala de aula, que não estão relacionados com uma simples diversão, mas sim a uma ferramenta importante para um processo de ensino e aprendizagem com qualidade.

O professor de Matemática deve repensar sua prática e ter cuidado ao utilizar jogos na sala de aula, aplicados a determinados conteúdos matemáticos, pois esses materiais devem ser um caminho para a aprendizagem, por permitir mudar um pouco o cenário atual das salas de aulas, tornando-as mais atrativas e principalmente significativas para os alunos. Nesta ideia, concordamos com Passos (2010) quando considera o uso de jogos e materiais manipulativos como recursos mediadores que contribuem e facilitam a relação professor/aluno/conhecimento.

Nota-se que, de fato, esse recurso traz alegria e diversão para a sala de aula, porém deve ocorrer um planejamento ao se trabalhar com ele, pois é preciso que haja uma preparação e uma reflexão por parte do professor, para que todo o trabalho pedagógico não se torne algo em vão e sem sentido. Sendo assim, deve-se também ter clareza e firmeza do conteúdo abordado, não bastando apenas inserir o recurso nas aulas, sem se ter o mínimo de conhecimento dos conceitos envolvidos.

Deste modo, é muito importante a conscientização dos profissionais de educação que desejam utilizar o jogo nas aulas de Matemática, visto que esse instrumento pode permitir criar um ambiente motivacional, contribuindo para que o discente se desenvolva. Para Rêgo e Rêgo (2009), o professor que deseja utilizar o recurso de jogos matemáticos em sala de aula, com a finalidade de tornar mais eficiente e prazeroso o processo de ensino e aprendizagem, deve estar seguro da metodologia a ser introduzida. O professor deve conhecer toda fundamentação teórica, o que ela pode alcançar e suas limitações, refletindo sobre como tudo isso será interpretado pelos alunos, pois se essa atuação for realizada de maneira sistemática e programada ajudará os alunos a interiorizarem conhecimentos matemáticos.

Ao utilizar jogos nas aulas de Matemática, estamos propondo um diferente método de ensino, em que apenas o quadro, o giz e o livro didático não se fazem suficientes, tornando assim, as aulas mais atraentes, contribuindo também para o desenvolvimento da criatividade, para a elaboração de estratégias, para a criação de novas situações, para a interação entre os alunos e ainda auxiliando de forma muito importante para que o erro possa se reverter em um resultado positivo, não permitindo que o aluno se sinta frustrado ao percebê-lo e sim seja um aspecto motivador para a tentativa de acerto. Os PCN+ ao se referirem aos jogos comentam que,

O jogo oferece o estímulo e o ambiente propícios que favorecem o desenvolvimento espontâneo e criativo dos alunos e permite ao professor ampliar seu conhecimento de técnicas ativas de ensino, desenvolver capacidades pessoais e profissionais para estimular nos alunos a capacidade de comunicação e expressão, mostrando-lhes uma nova maneira, lúdica e

prazerosa e participativa, de relacionar-se com o conteúdo escolar, levando a uma maior apropriação dos conhecimentos envolvidos (BRASIL, 2002, p.56).

Sabemos que o aluno quando faz uso de um jogo, empenha-se verdadeiramente na atividade e desta forma, muitas vezes, acaba percebendo quando faz algo errado sem que esse erro precise ser indicado pelo professor. E diante do total envolvimento dos alunos, o professor tem a grande oportunidade de encaminhá-los para o a realização do procedimento correto e de instigá-los a outros tipos de situações, estimulando para que ocorram diferentes ações por parte dos alunos.

Podemos ainda ressaltar que o uso adequado desse recurso didático pode propiciar aos alunos uma melhor visão do conteúdo, desenvolvendo algumas habilidades, como afirmam Smole, Diniz, Pessoa e Ishihara (2008, p. 09).

O trabalho com jogos nas aulas de matemática, quando bem planejado e orientado, auxilia o desenvolvimento de habilidades como observação, análise, levantamento de hipóteses, busca de suposições, reflexão, tomada de decisões, argumentação e organização, as quais são estreitamente relacionadas ao assim chamado raciocínio lógico. (SMOLE et al, 2008, p.09)

Portanto, trazemos e consideramos o uso dos jogos matemáticos no sentido de um se apresentar como um recurso facilitador da aprendizagem, como um recurso didático que traz capacidade de adequar um conteúdo matemático a uma metodologia de ensino, e principalmente ao espírito de reflexão, auxiliando os alunos a criarem diferentes estratégias para serem aplicadas no desenvolver da atividade, e ainda que simulem ações do dia a dia deles, possibilitando a concentração e o interesse de todos, por sentirem que podem aprender por meio de algo real e lógico, dando-se conta que não estão seguindo métodos prontos e mecânicos.