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Capítulo IV Análise e interpretação dos dados

1. Análise descritiva e interpretativa dos inquéritos por questionário

1.1. Representações sobre a aplicação do Decreto-Lei n.º 75/2008

1.1.11. Reforço da autonomia e da liderança dos Agrupamentos

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% Autonomia Liderança

1.1.11. Reforço da autonomia e da liderança dos Agrupamentos

Gráfico 11 – Representações

sobre o reforço da autonomia e da liderança da escola com a entrada em vigor do Decreto-Lei n.º 75/2008.

Relativamente à autonomia do Agrupamento de Escolas, com a entrada em vigor do Decreto-Lei 75/2008, 29% (16) considera que esta foi “pouco reforçada”, 13% (7) considera que foi “muito reforçada”, enquanto 7% (4) considera que atualmente está mais “enfraquecida” e apenas dois professores referem que foi “muito enfraquecida”. Uma percentagem muito significativa (47% - 26) indica “sem opinião”.

Quanto à liderança, 22% (12) dos inquiridos considera que esta foi “muito reforçada”, 18% (10) refere que foi “pouco reforçada”, 9% (5) refere que foi “enfraquecida”, sendo que nenhum docente assinalou a opção “muito enfraquecida”. Uma vez mais, uma percentagem muito elevada (51% - 28) assinala “sem opinião”.

Através da análise dos dados recolhidos, podemos constatar que a maioria dos inquiridos considera que a entrada em vigor do Decreto-Lei n.º 75/2008 proporcionou um efetivo reforço da autonomia e da liderança dos Agrupamentos de Escolas. Daqueles que emitem opinião, poucos são os docentes que consideraram que estas estão atualmente enfraquecidas.

Foi pedido aos professores para justificarem as suas opções.

Em relação à autonomia, a maioria não o fez, mais precisamente, 64% (35), sendo que os que o fizeram apresentam as seguintes fundamentações:

Muito reforçada

- “Há um excesso de autonomia dos Agrupamentos.” (em número de dois) - “Há um aumento do poder do Diretor.”

- “Existe uma quase total independência dos Agrupamentos.”

- “A autonomia da escola foi muito reforçada, mas perdeu-se o ar democrático que se respirava. As decisões, muitas delas arbitrárias, são tomadas contra a vontade da Comunidade, que não se sente

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representada. E se o Conselho Geral funcionasse e tivesse o cuidado de auscultar os membros da comunidade escolar, talvez houvesse fiscalização das posições adotadas.”

Pouco reforçada

- “Não vejo grandes alterações.” (em número de dois)

- “A autonomia das escolas é uma ilusão, já que a maioria das decisões dependem do poder central.” (em número de quatro)

- “Os Diretores não tomam decisões demasiado arriscadas, mantendo as regras da anterior forma de direção das escolas.”

- “Há um aumento ao nível da administração financeira e ao nível da Ação Social Escolar.”

- “Na prática pouco alterou em questão de autonomia no que realmente interessa, nomeadamente, ao nível da gestão do currículo e dos docentes a contratar.”

- “Muito pouco mudou nas práticas educativas e nas opções a ser tomadas.”

- “Terão de ser criadas as condições necessárias para que a autonomia possa ser verdadeiramente implementada, através de um maior reforço no serviço público educativo.”

Enfraquecida

- “Não há autonomia devido à submissão às decisões centrais.” (em número de dois)

Muito enfraquecida

- “Este Decreto-Lei só serviu para hierarquizar, cada vez mais, a escola pública, não investindo na autonomia dos professores.”

- “Simultaneamente à entrada em vigor deste Decreto-Lei, os Diretores são bombardeados com despachos que limitam a sua intervenção, o que se traduz em muito pouco ao nível da autonomia.”

Como referimos anteriormente, são mais os docentes que referem que a autonomia foi reforçada do que aqueles que referem que ela foi enfraquecida. Aqueles que consideram que a autonomia foi muito reforçada, através das suas justificações parecem sentir que atualmente existe um “excesso de autonomia” por parte dos Agrupamentos de Escolas, de poder concentrado na figura do Diretor e que atualmente se perdeu o “ar democrático que se respirava”. Por sua vez, os que consideram ter sido pouco reforçada, aduzem que poucas são as alterações a nível da verdadeira autonomia das escolas, nomeadamente “ao nível da gestão do currículo e dos docentes a contratar”; que as decisões mais importantes no quotidiano escolar continuam a emanar do poder central e ainda que o funcionamento das escolas é muito similar ao praticado no anterior regime. Aqueles que referem que atualmente a autonomia está enfraquecida justificam as suas posições com alguns argumentos utilizados pelos que consideram ter sido pouco reforçada, isto é, que continuamos sujeitos às decisões da tutela e que atualmente os “Diretores são bombardeados com despachos que limitam a sua intervenção”.

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Constatamos que as opiniões dos docentes são muito divergentes, na medida em que para alguns, (os que referiram que a autonomia foi muito reforçada) já se sentem mudanças profundas na forma como a administração e a gestão dos Agrupamentos de Escolas são realizadas, pois houve um reforço do poder do Diretor; que este toma as medidas unipessoalmente, reduzindo assim a democraticidade nos processos de tomada de decisões; e que os Agrupamentos atualmente possuem muita independência e excesso de autonomia.

Parece-nos que o reforço da autonomia para estes docentes é tido como um aspeto negativo neste novo modelo que regula o funcionamento das escolas. Para os professores que referiram que a autonomia foi pouco reforçada ou enfraquecida, atualmente não se verificam grandes alterações no modo como a administração e a gestão dos Agrupamentos de Escolas são realizadas, pois consideram que pouco mudou e que as decisões importantes que afetam a vida das escolas continuam e ser determinadas pela tutela, ou seja, os órgãos de administração e de gestão continuam a ter pouco poder para definir e determinar as medidas consideradas mais ajustadas para os seus estabelecimentos de ensino.

Parece-nos que esta divisão de opiniões pode ter como explicação o maior ou menor conhecimento da legislação e a maior ou menor atenção dedicada aos processos que regulam a vida dos Agrupamentos de Escolas, ou seja, os docentes que conhecem efetivamente não só o novo normativo, como também o anterior e estão mais atentos ao modo como a administração e a gestão são realizadas conhecem as alterações propostas pelo Decreto-Lei n.º 75/2008 e conseguem aperceber-se e percecionar mais facilmente as mudanças impostas por este novo regime do que os restantes profissionais.

Relativamente à liderança, apenas 29% (16) justificaram as suas posições. Estas variam entre:

Muito reforçada

- “Atualmente, verifica-se com mais clareza a quem cabe a competência de tomar decisões.”

- “A chamada da responsabilidade ao Diretor concentra as decisões, o que faz com que estas sejam mais eficazes.”

- “Foram atribuídas muitas competências ao Diretor, o que reforçou a sua liderança.” - “Existe uma quase total autonomia e soberania na gestão dos Agrupamentos.”

- “Os poderes do Diretor foram ampliados e, muitas vezes, sem critérios. A escola tende a moldar-se à personalidade do Diretor. O facto de saber que é eleito pelo Conselho Geral, que não acompanha o quotidiano escolar, permite que este se porte como um “tirano” e possa distribuir os cargos à sua

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vontade. Por outro lado, a arbitrariedade do modelo de avaliação permite-lhe contar com o silêncio forçado de muitos professores.”

- “O Decreto-Lei n.º 75/2008 tem como objetivo o reforço da participação das famílias e comunidade na direção estratégica da escola.”

Pouco reforçada

- “Continua a haver apenas a aplicação na prática das ordens que vêm de cima.” - “Não vejo grandes alterações.” (em número de dois)

- “Na maioria das situações não existem grandes alterações, no entanto, se o Diretor entender que liderar significa mandar e não coordenar, pode até sair enfraquecido. O líder tem de ter reconhecimento dos pares, pois sem isso não há cooperação.”

- “Os Diretores não arriscam muito nas medidas, na minha opinião, sentem-se pouco à vontade e seguros.”

- “Os poderes são mais ao nível do funcionamento da escola. Pouco foi feito em termos de autonomia curricular e seleção de professores.”

- “O Diretor segue as orientações do Conselho Geral.”

- “É conferido ao Diretor o poder de eleger os responsáveis pelos departamentos curriculares que são as principais estruturas de coordenação e supervisão pedagógica.”

Enfraquecida

- “A escola, na pessoa do Diretor, vê-se pressionada a números, a atingir estatísticas irreais, a subjugar- se aos órgãos centrais, logo perdeu muito o poder de liderança.”

- “Devido à submissão às decisões centrais.”

Sobre este aspeto, a maioria dos docentes considera que a liderança foi reforçada, sendo poucos os que referem que ela foi enfraquecida.

Mais uma vez constatamos que o mesmo Agrupamento de Escolas e o mesmo Diretor suscitam nos professores opiniões bastante diversas. Por um lado, aqueles que acreditam que a liderança foi muito reforçada justificam a sua opinião com o facto de que hoje em dia se tornou bem claro que é o Diretor o único responsável pela tomada de decisões na vida escolar, visto os seus poderes terem sido “ampliados”, possibilitando que este se “porte como um “tirano” e possa distribuir os cargos à sua vontade”. Refere- se ainda que a “arbitrariedade do modelo de avaliação permite-lhe contar com o silêncio forçado de muitos professores.” Na nossa perspetiva, as referências e expressões utilizadas por estes docentes nesta questão demonstram que eles possuem uma visão bastante negativa deste reforço. Por outro lado, professores a lecionar na mesma instituição consideram que a liderança foi pouco reforçada pois não se sentem grandes alterações entre o anterior regime e o atual. Refere-se que este decreto outorga mais poder ao Diretor, nomeadamente o de nomear os Coordenadores, no entanto, as

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decisões importantes continuam a ser tomadas pelo Ministério da Educação e os Diretores continuam a agir na mesma linha do anterior regime. Por fim, os poucos que referem que a liderança está atualmente enfraquecida, justificam a sua opinião com o argumento de que a escola se vê “pressionada a números, a atingir estatísticas irreais, a subjugar-se aos órgãos centrais” e, por isso, “perdeu muito o poder de liderança.”

Parece-nos que esta divisão de opiniões sobre a liderança pode também estar relacionada com o maior ou menor conhecimento sobre a legislação e com a maior ou menor atenção ao modo como a gestão dos Agrupamentos de Escolas é realizada, quando comparada com o anterior regime. Porém, consideramos que sobre a liderança, as diversas representações dos inquiridos poderão estar mais ligadas ao modo como os docentes se relacionam com o Diretor e das representações que possuem sobre o mesmo, ou seja, se mantêm com ele um bom relacionamento e consideram que é um bom profissional, acreditam que o seu modo de atuação não sofreu alterações com a transição entre os decretos, que mantém a postura que tinha no anterior regime e que as decisões continuam a emanar do Ministério de Educação, sendo que ele não tem grandes poderes. Se, pelo contrário, mantêm uma relação mais distante e consideram que o Diretor não tem perfil para desempenhar este cargo, acreditam que atualmente ele toma as decisões de modo unipessoal, não ouvindo e não valorizando a opinião dos colegas e que já assumiu com vigor as competências que lhe foram atribuídas, demonstrando assim um comportamento diferente daquele que possuía no anterior modelo.

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