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Capítulo IV Análise e interpretação dos dados

1. Análise descritiva e interpretativa dos inquéritos por questionário

1.2. Representações sobre o atual modelo de gestão das escolas

1.2.1. Alterações que introduziriam no atual modelo de gestão dos Agrupamentos

Na penúltima questão, de resposta aberta, era pedido aos inquiridos para referirem o que mudariam na atual gestão dos Agrupamentos, caso o pudessem fazer. Assim, 40% (22) dos professores afirmam que se pudessem, alterariam:

- “Voltaria a “dar” o poder a todos os membros do Agrupamento de eleger o seu superior.”

- “A forma de eleição do Diretor e dos Coordenadores e a metodologia de participação/ação da Comunidade Escolar.”

- “Deveria haver reuniões gerais com mais frequência e obrigatórias, para informar os docentes das tomadas de posição, obrigando, deste modo, os Diretores a prestar declarações aos colegas, fazendo com que estes não se sentissem menores ou prejudicados por solicitarem ou contestarem alguma coisa.” - “Descentralizaria o poder da escola, reforçando o Conselho Pedagógico e o Conselho de Turma; Voltaria ao modelo anterior, para garantir a fiscalização permanente das medidas e atitudes adotadas; reformularia o Conselho Geral que, se teoricamente é o órgão máximo, na prática não acompanha a gestão quotidiana, logo, não fiscaliza; exigiria mais competência aos órgãos executivos, que se desleixam por falta de fiscalização; em período de contenção, cortaria os subsídios dos Diretores e da sua equipa, bem como reveria os critérios das assessorias; limitaria a permanência da mesma Direção a três/quatro mandatos de três anos cada, de forma a romper com vícios e não desligar as pessoas das práticas ativas.”

- “Mudaria tudo, isto é, faria com que a gestão fosse mais participada e não unilateral.” (em número de quatro)

- “Imporia mais respeito pelo trabalho dos docentes, bem como a atribuição de mais autoridade sobre os alunos.” (em número de dois)

- “Valorizaria mais a opinião do grupo docente.” (em número de três) - “Optaria por uma gestão exterior.”

- “Reduziria a Direção Executiva ao Diretor e Subdiretor transferindo as competências dos Adjuntos e/ou Assessores para Coordenadores Curriculares, e reforçaria o seu poder disciplinar em relação aos alunos.”

- “O Diretor deveria ter menos poder de decisão.”

- “Daria maior autonomia ao órgão de gestão, nomeadamente na escolha e seleção dos professores. No que se refere ao modelo de gestão, Conselho Pedagógico, Conselho Geral, Conselho Administrativo e Diretor, manteria até ser feita a avaliação deste modelo.” (em número de dois)

- “A gestão deveria estar maioritariamente a cargo dos professores e apenas uma pequena parte nos encarregados de educação. O poder político local deveria ser parceiro da escola, mas não ter poder decisório.”

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- “Retiraria o excesso de autonomia em algumas matérias.” - “O processo de Avaliação do Desempenho Docente.”

De referir ainda que 56% (31) dos professores não respondem a esta questão e dois dos inquiridos revelaram que:

- “Devido à minha inexperiência, não tenho conhecimentos suficientes que me permitam opinar sobre este assunto.”

- “Não consigo responder com total precisão a esta pergunta, pois ao longo de vinte e sete anos de serviço já passei por vários modelos de organização e gestão das escolas e todos apresentam aspetos positivos, mas também alguns muito negativos.”

Na resposta a esta questão, a grande maioria dos inquiridos sugere mudanças no atual modelo de administração e de gestão dos Agrupamentos de Escolas, mudanças essas que nos remetem para o anterior regime, ou seja, a participação de todos os membros do Agrupamento na eleição do seu representante, o reforço do poder do Conselho Pedagógico e dos Conselhos de Turma, a gestão colegial em alternativa à gestão unilateral e ainda o aumento da valorização, do respeito e autoridade dos professores. Estas posições vão de encontro à questão anterior, isto é, à ideia de que, para os docentes, o regime que vigorava com o Decreto-Lei n.º 115-A/2008 é mais adequado e mais justo para a administração e a gestão escolar. Constatamos, novamente, que os inquiridos não se reveem num modelo em que uma única pessoa tem tanto poder e tanta responsabilidade, demonstrando uma preferência pela participação coletiva e valorização da opinião de todos os professores na instituição onde lecionam.

De referir que alguns professores sugerem outro tipo de mudanças, como por exemplo, a diminuição da burocracia e a alteração do “processo de Avaliação do Desempenho Docente”, aspetos fortemente contestados pelos professores. Há igualmente a referência a uma “gestão exterior” demonstrando assim que o atual modelo talvez não seja o mais adequado, porém, o modelo anterior parece não ser também a solução, isto é, remete-se para um corte ainda mais profundo com o modo como as escolas foram sendo administradas ao longo dos tempos.

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1.2.2. Como e quem deveria dirigir os Agrupamentos

Na última questão, também de resposta aberta, em que se perguntava por quem e como deveria ser realizada a Direção das Escolas, 56% (31) dos inquiridos consideram que esta deveria ser efetuada da seguinte forma:

- “Considero que o modelo anterior era mais representativo da vontade da Comunidade Escolar e não só dos professores, parece-me que era mais adequado, operacional e democrático. Assim, a direção das escolas deveria ser eleita pela comunidade e os candidatos teriam de conhecer obrigatoriamente a realidade escolar.” (em número de três)

- “Por um Conselho Executivo com formação e/ou experiência, que valorizasse a participação de todos os agentes na vida da escola.” (em número de quatro)

- “Deveria continuar a ser um órgão colegial eleito pelos seus pares.” (em número de quatro)

- “Pelos representantes dos professores, eleitos e com formação e/ou motivação para esta área da gestão. Há muitos professores com provas dadas.” (em número de seis)

- “A Direção das Escolas deveria estar sempre nas “mãos” dos professores a lecionar nas mesmas.” (em número de três)

- “Por professores que apresentassem uma equipa candidata, sujeita à votação da Comunidade, mas onde os professores tivessem a maior quota nos votos, isto é, onde todos os professores pudessem votar e escolher quem mais lhes agradasse (já que são eles um dos elementos fundamentais da escola).”

- “Por professores e com maior participação de todos, inclusive os contratados, que ao mesmo tempo que não participam, por não serem nomeados para cargos, também são desresponsabilizados pelo trabalho que fazem, uma vez que rapidamente saem da escola. Os mandatos deviam ser rotativos não havendo cargos para sempre. Os cargos de coordenação deviam ser de caráter obrigatório para todos, de forma a que a totalidade dos professores tivessem as mesmas oportunidades e não houvesse hipótese de favorecimento. Este modelo permite ao Diretor nomear aqueles que lhe interessa ou aqueles que estão constantemente a tentar agradá-lo o que, na minha opinião, permite o favorecimento em relação a cargos e ao trabalho distribuído.”

- “Na minha opinião, a direção das escolas deveria continuar a ser realizada por professores, na figura de um Diretor ou Presidente do Conselho Executivo, eleitos pelos seus pares. O Conselho Geral deveria ser uma entidade reguladora da atuação da dita direção escolar.”

- “Os docentes é que deveriam eleger a direção das escolas, através de um processo democrático.” - “Se se quer reforçar a liderança das escolas, este reforço deve resultar/assentar nas práticas dos profissionais que se dedicam e se empenham diariamente dentro das salas de aula, ou fora delas.” - “Por um gestor exterior, à semelhança do que acontece no meio empresarial.”

- “Por um organismo independente, composto por uma bolsa de professores conhecedores das várias realidades escolares.”

- “Por um gestor especializado exterior à escola e por alguns professores. O tempo de durabilidade das direções deveria ser menor.”

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- “Concordo com o modelo atual, onde há um Diretor eleito pela Comunidade Educativa.”

- “Não tenho uma opinião bem formada a este respeito, no entanto, considero que terá de ser alguém que compreenda, ouça e dê soluções a todos os problemas que os docentes enfrentam diariamente nas suas salas e conheça bem a realidade onde se enquadra esse Agrupamento."

42% (23) dos professores não respondem a esta questão e apenas um professor revela que, devido à sua inexperiência, não têm conhecimentos suficientes que lhe permitam opinar sobre este assunto.

Nesta questão, a maioria dos inquiridos refere que a administração e a gestão dos Agrupamentos de Escolas deveria ser realizada por professores e no âmbito de uma gestão colegial. Assim como na questão anterior, uma grande parte das opiniões vão de encontro à gestão praticada pelo anterior regime, onde a direção das escolas era eleita pela Comunidade Escolar e realizada por um Conselho Executivo com formação e/ou experiência. Reforça-se muita a ideia de que deveriam ser os professores a administrar e a gerir os Agrupamentos de Escolas. Há, no entanto, opiniões que vão no sentido de um corte profundo com a gestão praticada até aos dias de hoje, isto é, alguns professores referem que as instituições de ensino deveriam ser geridas por entidades exteriores, independentes e especializadas. Existe apenas um docente que refere concordar com o atual regime.

Mais uma vez e assim como anteriormente referido, denota-se, no geral, um comprometimento e uma preferência pelo modelo anterior e uma consequente rejeição das mudanças introduzidaspelo novo normativo, que apesar de recente, origina desde a altura em que estava ainda em projeto, como constatamos através da análise da posição dos Sindicatos de Professores (capítulo II), até aos dias de hoje, através das posições dos professores inquiridos durante este estudo, uma rejeição e uma recusa por parte desta classe profissional.

É de realçar que neste estudo se verificou uma grande percentagem de professores que em várias questões assinalaram “sem opinião” nas diversas perguntas relacionadas com a administração e gestão das escolas, apesar de a grande maioria ter uma experiência profissional de mais de dez anos. Após uma análise destes dados constata-se que as questões onde este fator menos se verificou foram as 3.4.1. “Conhece as mudanças, no que respeita às competências do Diretor, em relação às competências detidas pelo anterior Presidente do Conselho Executivo?” e a 3.7. “Tem conhecimento de como decorre o atual processo de recrutamento através do qual o Diretor é eleito?”,

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com 13% (7) de docentes a assinalar “sem opinião”. Do lado oposto, a pergunta onde mais docentes escolheram a opção “sem opinião” foi aquela em que se pedia para se manifestarem sobre as alterações, no que concerne às novas competências do Diretor, mais precisamente a questão 3.5.1., com 62% (34) de inquiridos.

De destacar ainda que no que toca às justificações que foram sendo pedidas, também aqui se verificou um elevado grau de absentismo. A questão onde este facto mais se verificou foi a 3.11.1., onde se pedia para justificarem a sua resposta sobre o atual estado da liderança da escola, com 71% (39) de inquiridos a não justificar a sua resposta. A hipótese que levantamos é relativa ao facto de considerarmos que os inquiridos recearam manifestar-se especificamente sobre a escola onde lecionam.

Por fim, nas três perguntas de resposta aberta, mais precisamente as questões 3.5. “Indique uma competência prevista no Decreto-Lei n.º 75/2008 para a figura do Diretor que não estava contemplada no Decreto-Lei n.º 115-A/98.”, 4. “Se pudesse, mudaria alguma coisa na atual gestão das Escolas?” e 5. “Na sua opinião, por quem e como deveria ser realizada a Direção das Escolas?”, também aqui se verificou um grande números de inquiridos a não responder, 60% (33), 56% (31) e 42% (23) respetivamente.

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