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Na Alemanha, o setor elétrico já está totalmente desregulamentado, e tem reduzidos os preços em 60% para grandes consumidores, porém para o presidente do Federal Cartel Office, Ulf Böge, nem todos estão satisfeitos, pois havia registrado 10 casos de cobranças excessivas de taxas pelo uso da rede elétrica (WALLACE, 2003).

A Noruega, em 1991, foi o primeiro país a desregulamentar o modelo de pro- dução e de distribuição de energia elétrica. Neste país, 99% da produção de energia elétrica provém de hidrelétricas. Desde a desregulamentação, os preços da energia elé- trica mantinham-se baixos em função da abundância de água nas regiões produtoras. Em função dos preços baixos, a maioria das residências adotou o modelo de aqueci- mento elétrico. Com isso, quase dobrou o consumo per capita de eletricidade quando comparado com os Estados Unidos. O frio do inverno de 2003 chegou com dois meses de antecedência e provocou pequeno aumento na demanda, mas mesmo assim, as em- presas conseguiram manter os preços estáveis. Porém, com a escassez de chuvas e a “quebra” da Enron, os distribuidores se depararam com alta demanda e eram obrigados a comprar eletricidade no mercado onde os preços spot estavam extremamente altos. A experiência da Noruega serviu de argumento para afirmar: “[...]os teóricos em energia esperam redução de preços num mercado desregulado. Mas raramente examinam exem- plos como o do inverno da Noruega onde, temporariamente, o mercado afetou fortemente o contribuinte” (WALLACE, 2003).

Na Itália, o setor é verticalizado, as empresas não se modernizaram e, mesmo sem apresentar as condições preconizadas pelos teóricos, os preços no mercado spot estão mantendo-se estáveis (Newbery, 2002a).

Nos Estados Unidos, a Califórnia, região cujo modelo mais se assemelha ao modelo brasileiro, originalmente reformou e liberou o mercado de eletricidade por causa

da insatisfação dos consumidores com os altos preços. Contudo, a média dos preços de atacado em 2000 foi mais do que o triplo de 1999 e, em 2001, começou uma serie de blackouts. O exemplo da Califórnia mostra que o mercado mal concebido, combinado com a regulação inapropriada e políticas intervencionistas podem rapidamente produzir resultados insatisfatórios quando a reserva de capacidade é baixa ou inexistente. A ex- periência da Califórnia alarmou os formuladores de políticas europeus e, por isso, muitos acadêmicos especialistas em energia passaram a reconsiderar os méritos da desregula- mentação.

Segundo Newbery (2002b), os principais fatores que contribuíram para a ocorrência dos problemas na Califórnia foram:

a) A Califórnia e estados vizinhos têm uma longa história de baixos investimentos em geração, em parte pelas discussões sobre os custos das usinas nucleares e as objeções ambientais, a má compreensão dos acordos de longo prazo para com- pra de energia, que permitiam aos proprietários privados não prestar os serviços contratados. Esta situação era sustentada porque a Califórnia importava energia, valendo-se da aparente abundância de energia barata produzida pela hidrelétrica Columbia River ;

b) Depois da separação das companhias de geração das de transmissão e distribuição, isto é, após a desverticalização, as companhias de distribuição foram fortemente incentivadas a não assinar contratos de longo prazo ou hedging; e

c) Não houve imposição de teto de geração por região e, em alguns casos, nem por geradora, com base em históricos anuais.

No verão de 2000, a demanda por geração a gás natural foi fortemente incre- mentada, sendo as linhas de transmissão e os estoques de gás insuficientes para atender a demanda. O preço do gás mais do que duplicou e os contratos estavam atrelados ao preço do gás. A combinação de um inverno seco, na região do Columbia River, com o aumento da demanda e a interrupção da produção de algumas usinas da Califórnia, permitida nos acordos de longo prazo, gerou redução da capacidade instalada, altos preços, moratória e falências. Os altos preços foram causados pelos geradores que prefe- riam exportar energia para estados vizinhos ao invés de vender na Califórnia, enquanto geradores privados preferiam não vender por medo de não serem pagos. As repeti- das intervenções do governo, ameaças de confisco, price caps, e obstáculos regulatórios prejudicaram os investimentos na geração e fizeram a situação piorar (Newbery 2002b).

Segundo Newbery (2002b) as lições tiradas da Califórnia são:

a) A baixa reserva no mercado de capacidade, menos de 10% na Califórnia, é provavel- mente um elemento determinante da volatilidade do mercado e, conseqüentemente, altos preços. Sendo a diferença entre a demanda e a oferta baixa, a não elasticidade e o comportamento da demanda, não responsivo ao aumento de preços, significam que altos preços pouco influenciam na retração da demanda. Assim, cada gera- dor pode exercer e aumentar seu poder de mercado. Por exemplo, um gerador pode provocar considerável aumento do preço diminuindo a oferta, compensando as perdas pela redução da produção e, ainda assim, obter lucros, especialmente se não estiver contratado;

b) Qualquer transição de um modelo verticalmente integrado para uma estrutura desverticalizada introduz o risco da variação dos preços nas transações entre ge- radores e distribuidores que, em princípio, procuram eliminá-los. Altos preços de venda no atacado proporcionam lucros aos geradores impondo perdas aos dis- tribuidores, que são obrigados a comprar a preços altos no atacado e vender no varejo a preços contratados, porém mais baixo. Isso não ocorre se os distribuidores estão protegidos por contratos. A transição para um modelo desverticalizado ne- cessita, portanto, de contratos e hedging para proteção contra possíveis eventos que possam afetar fortemente os preços no mercado spot, particularmente quando os distribuidores entregam o produto a preços fixos. Na Inglaterra, a privatização foi acompanhada por contratos entre fornecedores de eletricidade e vendedores de combustíveis com o objetivo de reduzir os riscos transacionais;

c) A reserva de capacidade é um bem público que, num sistema interconectado, operando sob diferentes jurisdições regulatórias, não pode ser adequadamente suprida, a menos que sejam tomados alguns cuidados para assegurar uma remu- neração adequada. Além disso, é sempre difícil, num mercado descentralizado, sob múltiplas jurisdições regulatórias, tendo um sistema de energia hidrelétrica com restrições de potencial, assegurar reserva de capacidade, particularmente quando as reservas são limitadas e as variações pluviométricas anuais são consideráveis; e d) Intervenções judiciais regulatórias não coordenadas num sistema interconectado podem proporcionar, localmente, efeitos perversos e impactos sobre a eficiência do modelo de negócios com eletricidade inter-regiões.

Tanto no Brasil, como na Califórnia, frente à crise de fornecimento de eletrici- dade, levantam-se questões e pontos sobre os custos, as falhas e reformas inapropriadas. Particularmente, repetem-se todos os detalhes da reforma em grande parte dos países da América Latina. Em comum com muitos países desenvolvidos, os principais argu- mentos para as reformas foram encontrar uma saída para a falta de investimentos e as dificuldades fiscais de financiar empresas desprovidas de recursos para a modernização. No Brasil, a falta de investimentos no setor de energia elétrica foi acentuado. No período compreendido entre 1980 e 2000, o crescimento capacidade instalada não acompanhou o aumento do consumo. Isso pode ser verificado comparando a evolução do consumo anual com a evolução da capacidade instalada.

Em relação aos recursos investidos no aumento da capacidade instalada no período compreendido entre 1980 e 2000, o dados da tabela 3.2 e o gráfico representado pela figura 3.3, permitem visualizar declínio dos investimentos na ampliação da capacidade instalada em comparação com a evolução do consumo. Na tabela 3.2 estão distribuidos os dados referente ao consumo anual de energia e capacidade instalada durante o período compreendido entre 1980 e 20009, e, na figura 3.3, a razão entre o consumo em GWh e a

capacidade instalada em MW. Como a curva é crescente, percebe-se que os investimentos não acompanharam o ritmo de crescimento da demanda. Na análise gráfica pode-se observar que o ano 1998 foi o ano com menor volume de investimentos quando comparado com o aumento do consumo.

3.9.1

Considerações finais

Neste capítulo, procurou-se descrever, de maneira objetiva, a proposta en- caminhada ao governo, pelo Comitê de Revitalização do Modelo do Setor Elétrico, com base nos relatórios publicados pela Câmara de Gestão da Crise de Energia Elétrica — GCE. Destacou-se os pontos da proposta que contribuem para alcançar o objetivo da reforma e relevantes para alcançar o objetivo deste trabalho.

9Devido ao racionamento ocorrido em 2001 e a estabilidade da demanda, verificada entre 2002 e

2004 em função do não crescimento do PIB, a razão entre o consumo e a capacidade instalada produz um viés, dando a impressão de que o volume de investimentos na geração e transmissão foi significativo. Por isso, os dados referente a esse período não foram considerados.

Tabela 3.2: Crescimento do consumo de energia e da capacidade instalada - 1980 - 2000 Ano Consumo em GWh Capacidade instalada em MW

1980 115.425 30.189 1981 118.482 34.096 1983 134.180 36.415 1984 149.092 38.049 1985 164.088 40.567 1986 177.357 41.323 1987 182.565 44.260 1988 192.738 46.394 1989 201.474 48.908 1990 205.310 49.756 1991 214.429 50.774 1992 218.425 51.739 1993 227.121 52.750 1994 235.627 54.122 1995 249.120 55.401 1996 260.111 57.194 1997 276.186 59.157 1998 287.392 61.325 1999 291.858 63.966 2000 306.450 67.204

3 3,2 3,4 3,6 3,84 4,2 4,4 4,6 4,85 198 0 198 2 198 4 198 6 198 8 199 0 199 2 199 4 199 6 199 8 200 0 Ano

Figura 3.3: Razão entre o consumo dado em GWh e a capacidade instalada dada em MW. Figura elaborada por CARELLI, E. (2004).

METODOLOGIA

Considerando o tema escolhido e o problema estabelecido, os procedimentos metodológicos para alcançar os objetivos desta Tese levaram em conta as características, o tipo e a natureza da pesquisa, a perspectiva e o modo de investigação a ser utilizado.