• Nenhum resultado encontrado

REGIME DE PARTICIPAÇÃO FINAL NOS AQÜESTOS

O regime da participação final nos aqüestos é uma das inovações do Código Civil de 2002, veio substituir o regime dotal, previsto no Código Civil de 1916.

Para Venosa136:

Trata-se de inovação do Código de 2002, que suprimiu o regime dotal e introduziu, nos arts. 1.672 a 1.686, o regime de participação final nos aqüestos. Trata-se de um regime híbrido, no qual se aplicam regras da separação de bens e da comunhão de aqüestos.

Espínola137 conceitua aqüestos como: “bens que cada um dos cônjuges ou ambos adquirirem na constância do casamento por qualquer título, que não seja o de doação, herança, ou legado”.

Nery Júnior138 entende que:

A eficácia desse regime de bens quanto à efetiva participação final dos aqüestos só surge com o fato jurídico da dissolução da sociedade conjugal. Antes disso, o casal vive sob o regime da separação de bens. Na constância da sociedade conjugal, tudo o que os cônjuges adquiriram integrará, respectivamente, a massa do patrimônio de cada um. No momento da dissolução da sociedade conjugal, serão apurados os bens adquiridos na constância da sociedade conjugal, a título oneroso, e divididos pela metade para cada um dos cônjuges.

137

ESPÍNOLA, Eduardo. A família no direito brasileiro. Atual. Por Ricardo Rodrigues Gama. Campinas: Brookseller, 2000. p. 362.

138

NERY JR. Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código civil anotado e legislação extravagante. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. p. 743.

Lisboa139 expõe que:

Participação final nos aqüestos é o regime em que cada cônjuge possui o seu patrimônio próprio, submetendo-se os bens adquiridos posteriormente à data do matrimônio á partilha no caso de dissolução da sociedade conjugal.

A respeito do assunto, Gonçalves140 ensina que: “Trata-se de um regime misto, pois durante o casamento aplicam-se as regras de separação total e, após a sua dissolução, as da comunhão parcial”.

Rodrigues141 entende por regime da participação final nos aqüestos como sendo aquele que:

Representa um regime híbrido, ou misto, ao prever a separação de bens na constância do casamento, preservando, cada cônjuge, seu patrimônio pessoal, como a livre administração de seus bens, embora só se possam vender os imóveis com a autorização do outro, ou mediante expressa convenção no pacto dispensando a anuência (...). Mas com a dissolução, fica estabelecido o direito à metade dos bens adquiridos a título oneroso pelo casal na constância do casamento.

A comunicação dos bens, no regime de participação final nos aqüestos, dá-se somente no momento da dissolução do casamento, pois durante a sua constância, não há comunicação dos bens que cada cônjuge possui.

Contudo, surgem algumas controvérsias quanto à comunicação dos bens móveis. Para Diniz142 a comunicação dos bens no regime de participação final dos aqüestos, dá-se:

139

LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. p. 163. 140

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito de família. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 128. 141

RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família. p. 218. 142

Com a dissolução da sociedade conjugal, apurar-se-á o montante dos aqüestos, excluindo-se da soma dos patrimônios próprios: os bens anteriores ao casamento e os sub-rogados em seu lugar; os obtidos por cada cônjuge por herança, legado ou doação; e os débitos relativos a esses bens vencidos e a vencer (...) Mas os frutos dos bens particulares e os que forem com eles obtidos formarão o monte partível.

Já Gonçalves143 afirma que:

Em relação aos próprios cônjuges, portanto, os bens móveis pertencem àquele que os adquirir na Constancia do casamento. Em relação a terceiros, presumem-se salvo se comprovada a aquisição pelo outro. Excluem-se da presunção os bens de uso pessoal.

No que concerne à incomunicabilidade de bens, esclarece Diniz144 que, neste novo regime de bens, não há formação de massas de bens particulares incomunicáveis durante o matrimônio, mas que se tornam comuns no momento da dissolução do casamento.

Assim sendo, sobre a temática, Nery Júnior145 esclarece que:

São incomunicáveis os bens e direitos levados para o casamento pelos cônjuges, que compõem o patrimônio de cada um, juntamente com os bens e direitos por eles adquiridos a título gratuito durante a constância do casamento. Em decorrência disso, ao término da sociedade conjugal, hão de ser apuradas três massas patrimoniais distintas: a) o patrimônio exclusivo do varão; b) o patrimônio exclusivo da mulher; c) o patrimônio autônomo comum, que será apurado no momento da dissolução do casamento, pra permitir a entrega da meação de cada um.

143

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito de família. p. 430. 144

DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. p.162. 145

NERY JR. Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código civil anotado e legislação extravagante. p. 743.

Outrossim, verifica-se que excluem-se dos aqüestos, os bens próprios dos cônjuges, não entrando na partilha após dissolvida a sociedade conjugal.

Quanto à responsabilidade dos cônjuges em relação as dívidas, o artigo 1.677 do Código Civil, estabelece:

Art. 1677. Pelas dívidas posteriores ao casamento, contraídas por

um dos cônjuges, somente este responderá, salvo prova de terem revertido, parcial ou totalmente, em benefício do outro.

Ainda com relação às dívidas, o artigo 1.678 do Código Civil prevê:

Art. 1.678. Se um dos cônjuges solveu uma dívida do outro com

bens do seu patrimônio, o valor do pagamento deve ser atualizado e imputado, na data da dissolução, à meação do outro cônjuge.

Com relação aos artigos supramencionados, Diniz146 assevera que:

Quanto aos débitos posteriores ao casamento, contraídos por um dos consortes, apenas este responderá por eles, a não ser que haja prova cabal de que revertem, total ou parcialmente, em proveito do outro (CC, art. 1.677). Se um dos cônjuges vier a pagar dívida do outro, utilizando bens de seu patrimônio, o valor desse pagamento deverá ser atualizado e imputado, na data da dissolução, à meação do outro consorte (CC, art. 1.678). As dívidas de um dos cônjuges, quando superiores à sua meação, não obrigam o outro, ou a seus herdeiros (CC, art. 1.686).

No sistema jurídico brasileiro, os nubentes têm a liberalidade de optarem por um dos regimes de bens existentes no Código Civil, os quais foram devidamente analisados nos subtítulos acima. Contudo, também podem combiná-los entre si, desde que não contrariem normas de ordem pública, formando assim outros regimes.

Neste capítulo foi abordado a respeito dos Regimes de Bens existentes e vigentes atualmente. Verificaram-se ainda as regras e entendimentos doutrinários predominantes sobre os conceitos, comunicabilidade e incomunicabilidade dos bens dos cônjuges, a responsabilidade em relação as dívidas subseqüentes ao matrimônio e a administração do patrimônio em cada regime. No próximo capítulo será apresentado o resultado da investigação científica sobre a alteração do regime de bens no direito brasileiro, considerando as mudanças impostas pela Lei n° 10.406 de 2002.

146

CAPÍTULO 3

DA MUTABILIDADE DO REGIME DE BENS NO DIREITO

BRASILEIRO

Documentos relacionados