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Em todos os tempos tem a dieta láctea sido em- pregada como um dos meios mais poderosos contra os tísicos.

Já Hyppocrates empregava o leite na tisica, recom- mendava-o de manhã e de tarde depois da exacerbação febril; se porém a febre era continua, proscrevia-o. Au- ctores, como Hoffman e Gullen, attribuiram-lhe uma acção curativa no tratamento da tisica pulmonar. Bau- mes consagrou longos desenvolvimentos ao tratamento da tisica pulmonar pelo regimen lácteo; insiste so- bre a escolha do leite e sobre a quantidade que se de- ve administrar. Refere na sua obra que um inglez, no ultimo período d'esta doença, depois de ter feito uso d'um grande numero de medicamentos,tomou successiva- mente duas amas e chegou em quatro mezes e meio a uma cura completa. Cita egualmente o facto d'um tísi- co que recuperou a saúde, graças ao leite de sua mulher que acabava de perder o filho.

O leite, diz Baumes, produz feliz resultado, quan- do o appetite ainda é bom, quando a digestão se faz bem, quando as forças não estão muito abatidas e quan- do os suores nocturnos são pouco abundantes.

Todas as espécies de leite se podem administrar com tanto que sejam de boa qualidade. O leite de vac- ca ê o mais usual, mas, n'este caso, poucas vezes se

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emprega em consequência da sua generalisação eco- nómica e da dificuldade que se apresenta ao espirito em reconhecer um modificador medicamentoso n'uma substancia essencialmente alimentar e de que nos servi- mos diariamente. O leite de jumenta, cabra, égua e mais raramente o de mulher, são d'um uso tradiccional no tratamento da tisica.

A escolha que geralmente se faz entre as espécies do leite, é uma questão de abastecimento. Por esta ra- zão, o leite de vacca devia ser preferido. O leite de ju- menta que se distingue de todos os outros pelo augmen- te de assucar que contem, é aquelle que mais se em- prega no tractamento da tisica. O leite de mulher se- ria sem duvida o melhor, mas é sempre regeitado pela difficuldade do seu emprego e pela sua variada compo- sição segundo a alimentação e as différentes condições physiologicas em que a mulher se encontra. O melhor leite deve ser pois aquelle que os doentes mais facilmente supportarem, e para o qual tiverem melhor appetite. Todavia o leite de jumenta é aquelle que com melhores resultados se tem empregado.

Mas realisará elle as virtudes curativas que se lhe attribuem? As observações citadas não deixarão no es- pirito do pratico duvida alguma? Tractar-se-hia de ver- dadeiras tisicas? Qual é a razão, porque quasi todos os auctores que tèem empregado o mesmo tractamento em doentes collocados em igualdade de circumstancias, não teem sido tão felizes? Concluiremos esta parte com as seguintes palavras de Fonssagrives: «La diète lactée a «été considérée pandantlongtemps comme um des moy- «ens les plus efficaces contre les phthisiques, mais au «lieu de n'y voir antre chose qu'une allimentation ana-

«leptique grosse, de tolérance facile, on l'atransformée «en une sorte de spécifique de cette cruelle affection... «Ce n'est pour nons qu'un aliment susceptible, en rai- «son de son assimilation facile et de sa riche se en «principes gras, de réparer les pertes incessants que «fait l'économie e de retarder les progrés du marasme.»

Julgamos que vem agora a propósito dizer duas palavras acerca da. medicação lacto-clorurada ins- tituída e preconisada por Amadeu Latour, como meio de tractamento da tisica pulmonar. Reduz-se ella a ad- ministrar ao doente leite d'uma cabra submettida á in- gestão de doses diárias de sal marinho. O modo como procede Amadeu Latour é o seguinte: Toma uma cabra nova, forte, boa leiteira e collocada em boas condições de arejação, habitação e exercício.

A sua alimentação consta d'um terço d'hervas verdes e raizes sêccas e dois terços de farelos addiciona- dos de 12 a 15 grammas de sal marinho, quantidade que se pode elevar até 30 grammas. Esta alimentação, que a poucas cabras repugna, é compatível com o per- feito estado de saúde. E' assim o leite clorurado que o doente tomará. A dose a tomar varia segundo os indi- víduos. Como regra geral, diz Herard e Cornil que quanto mais leite o doente poder digerir, tanto mais rápida será a cura, com tanto que o leite seja digerido e assimilado. A dose ordinária é d'um litro por dia. O doente tomará pequenas quantidades de leite, mas com curtos intervallos. Para este fim, o doente deverá tra- zer constantemente uma garrafa de leite com elle, de maneira a equilibrar a sua temperatura com a do corpo, e de três em três minutos, engole um trago de leite. Este tractamento deve durar pelo menos três mezes, ai-

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gumas vezes nm anno e mesmo mais. Convém, segundo Amadeu Latour, no primeiro periodo da tísica, pode ser ainda tentado no segundo, mas sem resultado, como todos os outros meios, no terceiro periodo. A alimenta- ção dos doentes exige também recommendações espe- ciaes; a carne do carneiro ou de boi assada, deverá con- stituir a base da sua alimentação. Gomo era natural, a exemplo de Amadeu Latour, muitos outros emprega- ram o sal marinho junto ao leite no tractamento da tí- sica pulmunar; os bons effeitos que Pietra Santa colheu vieram confirmar os resultados de Amadeu Latour. («União Medica» de 1860.)

Diz-nos Mignéres, que, na Algeria, tinha observado que o sal marinho predominava na alimentação dos indígenas e que n'estes as affecções chronicas do peito eram menos frequentes que nos europeos. O conheci- mento d'estes factos levou-o a proceder da seguinte ma- neira: De manhã e de tarde, recommendava aos seus doentes que bebessem um copo grande de leite de ca- bra, ao qual se ajuntava uma porção de sal marinho; demais, a cabra só devia ser nutrida com alimentos sal- gados. Mignéres confessa ter obtido por este processo óptimos resultados.

A melhor interpretação que se tem dado do modo d'acção d'esté tractamento, é que o chlorureto do sódio limita os seus effeitos a conservar o appetite e a fazer supportar aos doentes quantidades mais consideráveis de leite. Do que precede, facilmente se pôde concluir que, coma dieta láctea, não nos propomos curar a tí- sica pulmonar, resultado excepcional, senão impossível, mas sim como um meio de prolongar a vida dos tísi- cos; ora o regimen lácteo chlorurado, despertando a

nutrição e excitando o appetite, parece-nos poder pre- encher o importante papel de deter a consumpção nu- tritiva e o progresso do marasmo.

Em virtude d'isto, devemos aconselhar o regimen lácteo chlorurado nos dois primeiros períodos da tisica, principalmente no primeiro, quando o appetite ainda se conserve e que as funções digestivas se exerçam re- gularmente. Pelo contrario, o seu emprego acha-se contraindicado n'aquelles que são profundamente lym- phaticos, excessivamente fracos, e consumidos pela fe- bre hectica do terceiro periodo d'esta doença.

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