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Regimes de direitos autorais: copyright x droit d’auteur

No documento MESTRADO EM DIREITO SÃO PAULO 2008 (páginas 60-64)

2. Evolução histórica do direito autoral

2.6 Regimes de direitos autorais: copyright x droit d’auteur

D’AUTEUR

Conhecida a gênese e a evolução do direito autoral, verifica-se que o direito autoral revestiu diferentes concepções na Inglaterra e na Europa continental, gerando dois regimes distintos: copyright e droit d’auteur.

O copyright, cuja tradução é “direito de cópia”, é o sistema anglo- americano. Nesse regime o principal direito a ser protegido é a reprodução de cópias129. Isso significa que, em sua origem, o copyright enfatizava mais a

proteção do editor do que do autor. Sua história começa em 1557, quando Felipe e Maria Tudor outorgaram à Stationer’s Company o direito de exclusividade para a publicação de livros.

125 CHAVES, Antônio. Direito de autor, cit., p. 27. 126 CHAVES, Antônio. Direito de autor, cit., p. 27.

127 ALLFELD, Philipp. Del derecho de autor e del derecho del inventor. Trad. espanhola Ernesto

Volkening. Bogotá: Editorial Temis, 1982, p. 10 (Col. Monografias Jurídicas, v. 18).

128 Apostila do Curso Direitos Autorais da Fundação Getulio Vargas – FGV/RJ, 2007-2008, p. 26.

Sobre a Convenção de Berna vide tópico 3.4.

O droit d’auteur, cuja tradução é “direito de autor”, é o sistema francês ou continental. Esse regime preocupa-se com a criatividade da obra a ser copiada e os direitos morais do criador da obra, ou seja, é o inverso do copyright. Sua origem remonta à Revolução Francesa que, abolindo o privilégio dos editores, resultou em duas normas aprovadas pela Assembléia Constituinte: a de 1791 e a de 1793.

Pontua Fábio Ulhoa Coelho que o direito brasileiro, por força de sua filiação ao direito de tradição românica, adotou o sistema do droit d’auteur. Em nenhum momento da evolução legislativa da matéria, desde o ato de fundação dos cursos jurídicos em 1827 até hoje, se pode notar qualquer influência decisiva do copyright. Desde o início reconheceu-se no autor o titular dos direitos de exclusividade sobre a criação intelectual130.

Acrescenta o autor que a globalização pressupõe que o direito autoral adote elevados padrões de proteção em todo o mundo. Com a integração dos mercados, as regras jurídicas que versam sobre a propriedade intelectual devem ser harmonizadas para que as violações ao direito autoral sejam igualmente reprimidas em todos os lugares. Assim, a globalização tem reduzido as distâncias entre os dois principais sistemas do direito autoral. Atualmente, a diferença que ainda sobrevive diz respeito aos direitos morais do autor, que o sistema anglo-saxão ainda resiste a incorporar por completo131.

A Internet é outro fator que contribui, ainda que indiretamente para a aproximação dos dois sistemas históricos de direito autoral, uma vez que permite que qualquer um se torne um editor, mas não um autor. Nesse sentido arremata Fábio Ulhoa Coelho:

“Um adolescente consegue sem dificuldade difundir para as centenas ou milhares de ‘amigos virtuais’ o texto de sua predileção de Luis Fernando Veríssimo, mas não se torna um escrito de primeira grandeza, como o festejado cronista gaúcho, só por ter acesso à rede mundial de computadores. A defesa do

130 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil, cit., v. 4, p. 268. 131 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil, cit., v. 4, p. 270.

direito autoral, diante dos desafios que a internete suscita, pressupõe o equilíbrio entre a proteção de editores e autores. (...) No enfrentamento dos desafios que essa inovação tecnológica põe ao direito autoral, não há sentido em separar a proteção dos direitos do autor e do editor ou privilegiar um em detrimento do outro”132.

Esses, pois, são os sistemas ocidentais, mas não poderíamos concluir nosso estudo sem mencionar o tratamento que países orientais dão ao tema e, para tanto, vamos nos valer do exemplo da China e de países islâmicos.

Há quem defenda, como Agustín Millares Carlo, que a China é o berço da imprensa com tipos móveis. Segundo esse autor, no século XI o ferreiro Pi Cheng utilizou argila e cola líquida para fabricar uma série de tipos móveis, usados conjuntamente a pranchas de ferro133. Como vimos, esse posicionamento

é isolado. De toda sorte, verifica-se que em território chinês não se desenvolveu instrumentos jurídicos semelhantes ao direito de autor do mundo ocidental. Isso se deve sobretudo à cultura chinesa, que tem no ato de copiar e reproduzir um grande elogio, uma honra que se presta à criação do autor. Para os chineses, o autor não cria, apenas reproduz, à sua maneira, a herança cultural do povo chinês. Nesse contexto, não há motivo para que se impeça a reprodução de obras intelectuais, ao contrário, é sinal de mérito, pois indica que o autor está dando continuidade à cultura nacional134.

Assim, enquanto o Ocidente desenvolvia seus regimes de direito de autor, a China apenas regulava a matéria na medida em que envolvesse questões de interesse do Estado, ou seja, censura. Culturalmente, o ambiente chinês ainda é inóspito ao regime de direito de autor135.

132 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil, cit., v. 4, p. 273.

133 CARLO, Agustín Millares. Introducción a la historia del libro y de las bibliotecas. México: Fondo

de Cultura Econômica, 1993, p. 89.

134 MIZUKAMI, Pedro Nicoletti. Função social da propriedade intelectual: compartilhamento de

arquivos e direitos autorais na CF/88. Dissertação, cit., p. 233.

135 MIZUKAMI, Pedro Nicoletti. Função social da propriedade intelectual: compartilhamento de

Nos países islâmicos a palavra falada é tida como superior à escrita, de modo que os livros e demais materiais impressos não passam de meros instrumentos para a preservação da palavra, nunca para substituir a transmissão oral. Por conta disso, a imprensa apenas se difundiu nos países islâmicos no século XIX, a partir da popularização de jornais. Esses países adotam normas de direito de autor na medida em que sejam compatíveis com a

Shari’a, a base do direito islâmico, cuja fonte é o Corão. A Shari’a prescreve a

propriedade de bens tangíveis, silenciando quanto aos bens intangíveis. Essa lacuna abriu espaço para a entrada de normas de direito de autor extraídas dos países europeus, mas a controvérsia persiste: há quem diga que tais normas são compatíveis com a Shari’a, enquanto outros entendem que são incompatíveis. O fato é que, assim como a China, a regulação estatal ocorre somente quando o assunto é censura136.

No próximo capítulo cuidaremos do desenvolvimento do direito autoral no Brasil.

136 MIZUKAMI, Pedro Nicoletti. Função social da propriedade intelectual: compartilhamento de

3. DESENVOLVIMENTO DO DIREITO AUTORAL NO

No documento MESTRADO EM DIREITO SÃO PAULO 2008 (páginas 60-64)