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REGULAMENTO DO VOX IMPACT INVESTING II FUNDO DE INVESTIMENTO EM PARTICI PAÇÕES Dezembro/2015.

No documento Coleção Jovem Jurista 2016 (páginas 34-40)

Capítulo 4: Os Investimentos de Impacto e o contexto brasileiro

70 REGULAMENTO DO VOX IMPACT INVESTING II FUNDO DE INVESTIMENTO EM PARTICI PAÇÕES Dezembro/2015.

não se limitando a, prestação de serviços ou venda de produtos nas áreas da educação, saúde, habitação, água e saneamento, energias renováveis e serviços financeiros e de tecnologia aplica- dos às áreas mencionadas acima em todo o território nacional, (ii) introduzam novidade ou aperfeiçoamento no ambiente produtivo ou social, que resulte em novos produtos, processos ou serviços e (iii) não estejam, de qualquer forma, direta ou indiretamente, envolvidas em quaisquer Práticas Proibidas previstas no Anexo

IV deste Regulamento.71

Ou seja, o foco da atuação da VOX está atrelado a companhias brasileiras abertas ou fechadas, cujo core business envolva a produção de bens ou servi- ços inovadores direcionados à população de baixa renda. Ressalta-se, ainda, o compromisso das companhias alvos da manutenção de comportamento ético, se afastando de quaisquer operações ilícitas envolvendo lavagem de dinheiro, corrupção, fraude, coerção, colusão ou obstrução de justiça, conforme aponta- do no Anexo IV dos Regulamentos.

É importante ressaltar, ainda, o esforço no sentido de alinhar os interesses do Consultor de Investimento (no caso do VOX Impact Investing I) e do Coges-

tor (no caso do VOX Impact Investing II) aos objetivos de impacto desejados.72

Nesse sentido, a alínea (iii) da cláusula 17.3 prevê que, além da Taxa de Adminis- tração, a Taxa de Performance de 10% (dez por cento) a que o Consultor de In- vestimento/Cogestor faz jus será majorada em 10% (dez por cento) caso os VOX Impact Investing FIPs atendam à classificação do Global Impact Investing Report System (GIIRS)73 (ou da metodologia padrão usada pelo mercado para medir im-

pacto social, conforme aprovada no âmbito da Assembleia Geral de Quotistas). O cenário dos FI de Impacto vislumbrado no contexto brasileiro ainda é embrionário, porém se alinha à tendência observada mundialmente no senti- do de compatibilizar retornos financeiros e impacto social. Espera-se que este mercado continue crescendo no futuro, especialmente por conta da conjuntura sociopolítica do Brasil.

4.2. Social Impact Bonds e a realidade brasileira

A onda de inovação jurídico-financeira iniciada com os SIBs, todavia, não em- barcou em solo brasileiro. No entanto, não estamos muito longe disso.

71 Idem, p. 4.

72 LAZZARINI, S. G.; MINARDI; A. M.; PONGELUPPE; L. S. op. cit.

73 Conforme apontado por Lazzarini, Minardi e Pongeluppe, o GIIRS, bem como o Impact

Reporting and Investment Standards (IRIS) constituem iniciativas no sentido de aprimora-

Em 2013, o governo de Minas Gerais lançou uma consulta pública para o estabelecimento de parcerias público-privadas (PPP) voltadas, dentre ou- tros, para a exploração de unidades de conservação ambiental (UC), como por exemplo o Parque da Rota das Grutas Lund (Rota Lund).

Apesar da posição estratégica, localizada a 5 km do Aeroporto de Confins, a Rota Lund amargava baixos índices de visitação, bem como vinha sofrendo

com problemas de conservação.74

Fonte: LAZZARINI, S. G.; MINARDI; A. M.; PONGELUPPE; L. S.75

Neste contexto, a parceria firmada entre o Instituto Semeia (criado em 2011 e financiado pela Anima Investimentos) e o governo mineiro teve um papel

fundamental na elaboração do inovador edital da PPP da Rota Lund. 76 No que

se refere à contraprestação pensada no edital em questão, Aline Assis Bucci- ni, funcionária da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico (SEDE) salienta que:

74 LAZZARINI, S. G.; MINARDI; A. M.; PONGELUPPE; L. S. Instituto Semeia: Construindo as Bases para Investimentos de Impacto nas Unidades de Conservação Brasileiras. 2013. Dis- ponível em: <http://media.wix.com/ugd/66c249_285ba7bdc5d946aebd94797ea829e277. pdf> Acesso em: 02/05/2016.

75 Idem, p. 14. 76 Idem, p. 6.

O mecanismo de contraprestação funciona como um “copo d’água”, se a nota final de desempenho for alta, mas a deman- da de visitação for baixa o governo “vai enchendo o copo” do privado. Porém, à medida que a demanda turística aumenta, a contraprestação vai sendo reduzida, até o ponto em que a visi- tação é tão alta que “o copo vira”, e então o privado repassa ao estado parte dos lucros obtidos pelo direito de exploração das UCs. Contudo, se a nota final de desempenho for abaixo de 0,25 o concessionário não só deixa de receber, mas deve pagar multa ao estado e, permanecendo assim por mais de seis meses, há uma

cláusula de caducidade do contrato.77

A Contraprestação Mensal (CP) a que faz jus o Concessionário é definida em função da (i) Nota Final de Desempenho, numa escala de 0 a 1, resultante da avaliação sobre 18 indicadores de impacto em três grandes blocos (Manejo do Patrimônio Natural e Histórico Cultural; Visitação e Relações com o entor- no); (ii) número de visitantes; (iii) ticket médio dos visitantes e (iv) deduções e compartilhamentos preestabelecidos pelo governo no edital da PPP da Rota

Lund.78

O esquema a seguir indica a CP mensal esperada com base numa expec- tativa de visitação média de 249 (duzentos e quarenta e nove) mil visitantes:

Fonte: LAZZARINI, S.; ROTONDARO, A.79

77 Idem, p. 8. 78 Idem, p. 8.

79 LAZZARINI, S.; ROTONDARO, A. IMPACT INVESTING: NOVOS MECANISMOS DE MEDIÇÃO E REMUNERAÇÃO POR IMPACTO. 2016. Disponível em: <http://www.insper.edu.br/wp-

O contorno inovador adotado na formulação da PPP da Rota Lund é um bom exemplo de esforço no sentido de compatibilizar retorno financeiro e im- pacto socioambiental, na mesma linha dos SIBs.

A esse respeito, Diego Valois pontuou 2 (duas) questões passíveis de questionamento envolvendo a operacionalização dos SIBs na realidade bra- sileira: a primeira relacionada à ausência de regulação no sistema pátrio, e a segunda em relação à desconfiança das pessoas no que diz respeito ao com-

promisso financeiro estatal assumido na estrutura SIB.80

Muito embora não haja um regramento específico sobre esta modalida- de de II, nosso ordenamento jurídico expressamente prevê a possibilidade de remuneração variável nos contratos de concessão: (i) Lei n. 8.987/95 (“Lei de

Concessões”): permite a remuneração além do contrato (art. 1181); (ii) Lei n.

11.079/04 (“Lei de PPP”): dispõe sobre hipóteses de utilização de remuneração

variável “vinculada ao seu desempenho” (do parceiro privado), no art. 6º, §1º82;

e (iii) Lei n. 12.462/11 (“Lei do RDC”): prevê, em seu art. 4º,83 a remuneração va-

riável como uma diretriz a ser respeitada nas contratações envolvendo RDC.84

Em relação ao segundo questionamento, poderia ser estruturado um mo- delo de operação no qual o Estado ofertasse garantias em favor da SIBIO e, por consequência, aos investidores, à semelhança do que existe nos contratos de

PPP, conforme disposto no inciso VI do art. 5º,85 da Lei de PPP. Valois acredita

-content/uploads/2016/03/Impact-Investing-novos-mecanismos-medicao-remuneracao- -por-impacto.pdf>. Acesso em: 04/04/2016.

80 VALOIS, D. Título de Ação Social — Uma nova proposta de funding para projetos sociais. Revista Jota. Fevereiro/2016. Disponível em: <http://jota.uol.com.br/titulo-de-acao-social- -uma-nova-proposta-de-funding-para-projetos-sociais>. Acesso em: 23/04/2016. 81  Art. 11. No atendimento às peculiaridades de cada serviço público, poderá o poder conce-

dente prever, em favor da concessionária, no edital de licitação, a possibilidade de outras fontes provenientes de receitas alternativas, complementares, acessórias ou de projetos associados, com ou sem exclusividade, com vistas a favorecer a modicidade das tarifas, observado o disposto no art. 17 desta Lei.

82 “§ 1o  O contrato poderá prever o pagamento ao parceiro privado de remuneração variável vinculada ao seu desempenho, conforme metas e padrões de qualidade e disponibilidade definidos no contrato. (Incluído pela Lei nº 12.766, de 2012)”

83 Art. 4o Nas licitações e contratos de que trata esta Lei serão observadas as seguintes diretri- zes: (…) IV - condições de aquisição, de seguros, de garantias e de pagamento compatíveis com as condições do setor privado, inclusive mediante pagamento de remuneração variável conforme desempenho, na forma do art. 10;  (Redação dada pela Lei nº 12.980, de 2014). 84 ROMANELLI, F. P. A regulação por incentivos como forma de efetivação do princí-

pio da eficiência na prestação de serviço público. Revista TCEMG. 2014. p. 50. Disponí- vel em: <http://revista.tce.mg.gov.br/Content/Upload/Materia/2826.pdf>. Acesso em: 01/06/2016.

85 Art. 5o As cláusulas dos contratos de parceria público-privada atenderão ao disposto no art. 23 da Lei no 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, no que couber, devendo também prever: (…) VI — os fatos que caracterizem a inadimplência pecuniária do parceiro público, os modos e o prazo de regularização e, quando houver, a forma de acionamento da garantia.

que, uma vez superadas estas barreiras, será possível prosseguir com a implan- tação do modelo SIB no Brasil.

É notória a insatisfação da sociedade brasileira no que diz respeito ao aten- dimento das necessidades públicas por parte do poder estatal. Nesse diapasão, iniciativas como o SIB representam uma alternativa viável, seja (i) pelo grande potencial de atuação em diversas frentes, ou (ii) pelo engessamento do Estado,

por conta de travas legislativas, financeiras ou prioridades em políticas públicas.86

Nesse contexto, merece destaque a contribuição de Luccas Augusto No- gueira Adib no que se refere a sugestões de 2 (duas) modelagens voltadas para

a estruturação dos SIBs no Brasil, a depender da natureza da SIBIO:87

Fonte: ADIB, L. N.

Na hipótese de se qualificar como uma entidade do terceiro setor, a rela- ção entre a SIBIO e a Administração Pública enquadrar-se-ia no regime jurídi- co das parcerias voluntárias (Lei n. 13.019/2014). Nesta modelagem, o Estado repassaria um determinado montante de recursos no início da parceria, com o intuito de permitir que a SIBIO estruturasse o projeto de cunho social. Com

efeito, futuros repasses estariam condicionados ao alcance de resultados.88

Neste cenário, o eventual fracasso do projeto seria suportado não apenas pela ponta investidora, como também haveria o comprometimento do aporte

inicial por parte da Administração Pública.89

86 ADIB, L. N.; SCHIEFLER, G. C. Op. cit.

87 ADIB, L. N. Títulos de Desenvolvimento Social — Uma abordagem Societária. Tese de Láu- rea. Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (USP). 2014. p. 21.

88 ADIB, L. N.; SCHIEFLER, G. C. Op. cit. 89 Idem.

A outra estrutura concebida diz respeito à qualificação da SIBIO como sociedade empresarial de propósito específico (SPE).  Neste caso, a relação entre SPE e Estado será pautada com base no contrato administrativo, poden- do lançar mão da remuneração variável prevista na Lei de Concessões, Lei de PPP e Lei de RDC. Além disso, a depender das características do projeto, seria igualmente possível prever seja estruturado por meio de uma concessão admi- nistrativa ou, até mesmo, uma concessão patrocinada.

Diante do exposto, é possível apontar que existem precedentes na realida- de brasileira que dão suporte à adoção de um modelo de II como o SIB. O orde- namento jurídico pátrio é, inclusive, conivente com a utilização de remuneração variável no âmbito dos contratos administrativos.

Todavia, existe um longo caminho pela frente. No entanto, o ideal em tor- no deste mecanismo tem um enorme potencial de florescer, especialmente à vista do cenário de crise vivenciado pela sociedade brasileira, com a crescente demanda por cortes nos gastos públicos e consequente busca por eficiência e

novas oportunidades.90

No documento Coleção Jovem Jurista 2016 (páginas 34-40)