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CAPÍTULO 1 : SANTA MARIA DA ROMARIA DE NOSSA SENHORA MEDIANEIRA

1.6 O Reitor da Basílica Padre Bertilo

Enquanto fiz uma pausa nos meus questionamentos, entrou o Reitor da Basílica na secretaria, ou seja, o Padre Bertilo na Secretaria, eis um imponderável da vida real de Malinowski (1984, p.29), já que, como havia dito anteriormente, não tinha um gravador comigo e não conseguiria lembrar da conversa depois em sua plenitude. A secretária J. mostrou a ele o atestado da Coordenação do Mestrado que estava em cima do balcão. Ela lhe falou que eu

gostaria de saber qual era o envolvimento a Prefeitura Municipal com a Romaria, obtendo como resposta do Padre um riso, me retornando a pergunta. Respondi dizendo acreditar haver uma ajuda e/ou envolvimento, pelo menos com a divulgação. O Padre pediu que eu passasse na Prefeitura e depois dissesse a resposta dos responsáveis pela Secretaria do Turismo qual era o valor dado à Romaria por parte do Poder Público Municipal. Contou que fazia mais ou menos 10 anos que a Romaria coincidia com o último dia da FEISMA (Feira Industrial de Santa Maria - Multifeira de Santa Maria), considerou que ambas poderiam ocorrer no mês de novembro, mas em datas diferentes, já que teoricamente um não excluía o outro, mesmo considerando que a cidade de Santa Maria é mais projetada, no Estado e também fora dele, com a Romaria do que com a FEISMA. Relatou que já tiveram diversas discussões na Prefeitura para que ela tomasse alguma providência a respeito, não obtendo nenhum êxito. Falou da Novena que antecede a Romaria, na qual a imagem da Nossa Senhora da Medianeira percorre nove paróquias, saindo da Basílica em direção à Igreja das Dores no primeiro dia, depois indo para a Igreja do Patronato no segundo dia, e assim sucessivamente em mais sete paróquias até chegar à Catedral no sábado, de onde parte no domingo da Romaria rumo à Basílica. Durante esse período, poderia haver um envolvimento maior do comércio, enfeitando suas vitrines com símbolos religiosos, como o fazem em datas como Dia das Mães, Natal, Páscoa e demais datas comemorativas. O Padre Bertilo acredita que um dos motivos seja o envolvimento dos lojistas com a FEISMA, e falta de “tino” por parte dos empresários da quantidade de pessoas que a Romaria atrai para Santa Maria, pois, segundo o Padre, em sua maioria, são fiéis de fora da cidade que vêm para cá devido à Romaria.

Padre Bertilo falou que estava sendo cogitada a hipótese de ser construído um monumento com a imagem de Nossa Senhora da Medianeira num morro em Santa Maria. Considera irrelevante a construção de algo tão grandioso assim, mas que se houvesse uma participação maciça dos Governos Municipal e Estadual na Romaria, esta poderia quem sabe atrair 1 milhão de pessoas, como o Sírio de Nazaré do Pará. Assim como o Sírio de Nazaré de que fala a Bíblia, ou seja, há uma história que o ratifica, a Romaria de Nossa Senhora Medianeira também tem seu marco inicial ocorrido na eminência de um conflito, os fiéis que rezaram para Medianeira e foram atendidos, percorreram esse caminho como forma de agradecimento da prece/graça atendida. Além disso, o Padre contou que a Prefeitura queria fazer também um projeto parecido com o que há no Caminho de Compostela, o Caminho da Nossa Senhora Medianeira, desenhando, no trajeto que passa a Procissão, quadros no chão das calçadas e nas paredes sobre a sua história.

a Romaria da Nossa Senhora Medianeira, criando uma mentalidade da relevância da ajuda delas, por exemplo, através de voluntários para fazer teatros ou shows durante aquele período da Novena que antecede a Romaria. Esses shows poderiam ser feitos na área da Basílica, isso atrairia mais pessoas, não apenas para participar da Romaria, mas também para os nove dias antecedentes, movimentando mais significativamente a Rede Hoteleira, o comércio, enfim, a cidade como um todo.

Ainda segundo o Padre Bertilo, há dificuldade de se mensurar em termos estatísticos perfeitos o perfil dos participantes da Romaria, mas relatou que entre estes, há o romeiro devoto, há os que vão agradecer as graças alcançadas, há outros que vão pedir que sejam atendidas suas graças e outros que vão para passear mesmo, chamados por ele como o curioso. Há também os que vão para trabalhar, os ambulantes cadastrados e também os que não são, estes se arriscando, pois se os fiscais da Prefeitura os pegarem terão todo o seu material apreendido. Há, contudo, os aproveitadores, que vão apenas para tirar proveito da multidão que se aglomera em função da Romaria para praticar delitos, roubar os fiéis, sempre há esse perfil, infelizmente, enquanto alguns fiéis estão ali acreditando estarem participando de algo religioso e, por consequência santo, acontece de terem sua carteira furtada. A Basílica contrata seguranças particulares para a Romaria, em torno de 50, e a Brigada Militar disponibiliza em torno de 80 policiais. As ambulâncias que são disponibilizadas no dia da Romaria são da Unimed, da Prefeitura Municipal, da Cruz Vermelha, da Unifra, do Colégio Fátima e da antiga Faculdade Santa Clara.

No dia da Romaria as missas começam as 5 horas da manhã, sendo o Padre Bertilo o responsável pela missa das 5 horas, ocorrida na Basílica. Segundo o Padre Bertilo, no geral, as missas ocorridas na Catedral antes da saída da Procissão contavam com mais participantes do que as demais, pois os ônibus com o pessoal de outras cidades os deixam na Catedral, já que há muitas pessoas idosas que não teriam condições de ir da Basílica à Catedral e depois voltar novamente, por ser um percurso de 2,5 Km. Alguns fiéis participam das missas na Basílica depois se dirigem para a Catedral. Há também os fiéis que saem antes da procissão iniciar, motivados pelo interesse de percorrer aquele caminho, aguardando a imagem da Nossa Senhora Medianeira na Basílica. No dia Romaria, há em torno de 70 Padres de outras paróquias e também de outras Dioceses, que ajudam nas confissões dos fiéis.

Quanto à disposição das pessoas ao redor do quadro da Nossa Senhora Medianeira na hora da Procissão, o Padre Bertilo acredita que deveriam ficar apenas os Padres e algumas pessoas envolvidas diretamente com a Romaria, entretanto, relatou que os “políticos se acham do direito de subir ali”. Demonstrando, dessa forma, uma crítica aos políticos, que na hora de aparecerem na Procissão eles estão sempre presentes, mas na hora de ajudar a Romaria se

eximem. Destacou a dificuldade, quase impossibilidade, de conseguir controlar os ambulantes na hora que as pessoas estão chegando com a Procissão na Basílica. Os ambulantes gritam anunciando seus produtos, isso quando não dispõem de aparelhos de som num volume altíssimo. Através dessa conversa que tive com o Padre Bertilo, pude ver bem a postura desse agente representante da voz oficial da Romaria, ou seja, da própria Instituição representada através da pessoa dele. Nessa conversa, pode-se perceber nitidamente a disputa por reconhecimento e, em especial, por campo, segundo Bourdieu. Segundo Ortiz (1983, p.21; 24), campo se particulariza, pois, como um espaço onde se manifestam relações de poder, o que implica afirmar que ele estrutura a partir da distribuição desigual de capital social que determina a posição que um agente específico ocupa em seu seio. A conivência entre os agentes determina o consenso a respeito da situação, ou seja, o que merece ser ou não levado em consideração. O consenso se fundamenta, pois, no desconhecimento pelos agentes de que o mundo social é um espaço de conflito, de concorrência entre grupos com interesses distintos. Esse desconhecimento corresponde a uma “crença coletiva” que solda, no interior do campo, agentes que ocupam posições assimétricas de poder, neste sentido, pode-se dizer que as práticas heréticas “reavivam a fé”, pois elas sempre se referem, sem questioná-lo, a este fundamento último do campo, lócus onde se sedimenta o consenso. Demonstrando, através dessa disputa pelo campo, uma necessidade de autoafirmação perante a cidade como um todo, da importância da Romaria da Nossa Senhora Medianeira.

1.7 Irmã Terezinha, Madre Superior da Ordem das Pequenas Operárias da Nossa Senhora