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A relação do uso de drogas com a ESCCA

No documento PR THALITA RAFAELA NEVES (páginas 84-87)

2. A PERCEPÇÃO DOS PROFISSIONAIS SOBRE AS CRIANÇAS E

2.2 As redes de pensamento que entrelaçam com a realidade do tráfico de

2.2.2 A relação do uso de drogas com a ESCCA

Apesar dos esforços provenientes pela Polícia e Receita Federal do Brasil, o comércio ilegal, incluindo o de drogas ilícitas, é facilitado pela deficiência de fiscalização e de policiamento na região. Há ainda a própria corrupção, com freqüência, de policiais incentivando o tráfico de drogas e o contrabando de demais mercadorias (FILHO, 2012). Percebemos que por meio do discurso dos profissionais sobre a exploração sexual comercial, o tema da drogadição acabou surgindo justamente por ser comum a entrada e saída de drogas ilegais pelo Paraguai e por estar tão próximo de suas vivências. Com isso, além das consequências psicológicas resultantes da violência existente, a conselheira Rute comentou:

“A gente pega tantas meninas embriagadas andando de madrugada, vão cair no hospital, sem familiar (...) a gente já vê claramente que anda junto.” RUTE

Conforme Zaitter (1994), na maior parte dos casos de pessoas que abusam do álcool é possível prever problemas emocionais como um relacionamento familiar fragilizado, conflitos pessoais, a dificuldade em aceitar normas e a crise existencial além da curiosidade quanto às sensações que a droga propicia e a auto-afirmação e exibicionismo frente às pessoas ao redor. Com isso reforçamos a importância e determinação que o grupo de amigos pode influenciar, sendo que parte das

primeiras experimentações se dá quando o adolescente convive com amigos que já usam drogas permitindo sua introdução a esse mundo (PECHANSKY; SZOBOT & SCIVOLETTO, 2004). Deste modo, assumimos que os jovens comprometidos com a ESCCA e drogas têm possibilidades de estarem passando por momentos de sofrimento, desconforto e tendo suas estruturas abaladas.

Sobre os motivos do uso freqüente de drogas, como o álcool, envolvem o prazer em aproveitar os efeitos das substâncias e a diminuição de ansiedade ou estresse. Sabemos que o álcool auxilia no alívio da tensão trazendo a sensação de bem-estar (SHIAPETTI; SERBENA, 2007). No caso de meninas no contexto da exploração sexual comercial extra-familiar, sem familiares, que são localizadas em hospitais sob efeito do uso exagerado de bebidas alcoólicas, acreditamos que por mais que vejam os programas sexuais como lucrativos em termos financeiros, necessitam buscar outra forma de prazer que supere a do dinheiro, e acaba sendo através do uso de drogas.

Entendemos que se relacionar com vários parceiros dentro de uma cultura que em grande parte percebe isso como imoral (LOURO, 2010), pode gerar um desconforto para a pessoa explorada sentindo-se em dificuldade em sobreviver em condições como estas, além dos possíveis agravos existentes ao seu redor. Nesse âmbito, notamos a necessidade de um alívio emocional para o sentimento de culpa que tantos adolescentes e jovens podem sentir ao estarem fazendo favores sexuais em troca de objetos ou dinheiro. Na tentativa de aliviar esses sentimentos, muitos e muitas se tornam usuários de drogas.

No entanto, admitimos os prejuízos que o álcool pode causar em uma criança ou um adolescente, pois nesta etapa da vida, em que muitos se sentem onipotentes e desafiados a enfrentar situações perigosas, estão submetidos a riscos maiores do que a de um adulto alcoolizado. Para grande parte desses jovens há um sentimento de autonomia e proteção ilusória contribuindo para graves consequências. Na infância e adolescência, o cérebro ainda está em má formação, e é possível que a droga interfira em questões neuroquímicas do amadurecimento cerebral (PECHANSKYA; SZBOTA E SCVIOLETTOB, 2001).

A adolescência, passando por transformações corporais e psicológicas permite novas formas de agir, principalmente com a convivência em grupo (ABERASTURY e KNOBEL, 1985) trazendo comportamentos arriscados e

incentivados pelos colegas e arriscados. Não podemos deixar de considerar as questões sociais inseridas (PITOMBEIRA, 2005), como o estímulo ao consumo de álcool enfatizado pela mídia que apontam uma aproximação com a independência e autonomia almejada dos adultos (ALAVARASE; CARVALHO, 2006). Estudos nacionais também apontam o abuso do álcool e da maconha associados com comportamentos sexuais arriscados como a precocidade da atividade sexual a não prevenção de DSTs, e a prostituição (SCIOLETTO et al, 1999) aumentando as chances de violência sexual para a vítima, sua exposição à ESCCA e agravos para saúde resultando em trocas sexuais sem consciência (SPITZNER, 2005). Em relação a isso, a assistente social Lorena afirmou:

“A drogadição é muito vinculada com a situação de exploração sexual, principalmente das adolescentes que estão na rua em troca de dinheiro. Pra você conseguir ficar você acaba usando droga.” LORENA

Lorena estava afirmando sobre o movimento circular que há nas ruas em relação aos adolescentes explorados, são explorados para sustentar o comprometimento com as drogas e ao mesmo tempo, se comprometem com as drogas para sustentar o envolvimento com a exploração. Nesse círculo, uma das psicólogas do CREAS, Sofia, comentou sobre os diversos riscos que esse público sofre:

“Riscos para o próprio desenvolvimento delas, o desenvolvimento psicológico que a gente sabe que a exploração sexual em si traz prejuízos emocionais, às vezes muito profundos e os prejuízos também sociais, os prejuízo físicos, uma adolescente de doze anos não está preparada pra ter uma vida sexual ativa e no entanto ele é jogado nesse ambiente que ele tem que ter essa vida sexual ativa, então ele acaba se expondo a uma série de riscos, uma questão de doenças contagiosas, pela falta do uso de preservativos, ou de outra forma de se cuidar, acaba se envolvendo muitas vezes paralelo a isso com o uso de drogas, como tráfico, aqui em Foz ser fronteira, isso tá muito ligado um ao outro.” SOFIA

Assim, notamos que o uso de drogas é um dentre os diversos prejuízos envolvidos com a exploração sexual comercial, principalmente a de rua, pois é ali que a maconha ou álcool estão disponíveis através do contato com outros adolescentes, crianças, aliciadores e traficantes. Vemos a urgência de um serviço que englobe uma educação que atinja a prevenção de todos os danos que esses jovens estão submetidos. Sofia ainda confirmou:

“Muitos deles estão relacionados com essa situação de uso de entorpecentes muitas vezes pra manter o vício ou muitas vezes é essa exploração ocorre porque eles têm contato com esse mundo ilícito essa troca de favores (...) então acho que uma coisa está ligada a outra.” SOFIA

Porém, temos que ter o cuidado para não generalizar a situação desses jovens, no entanto, não podemos negar o risco do envolvimento com drogas e o forte movimento que a fronteira paraguaia interfere nisso.

No documento PR THALITA RAFAELA NEVES (páginas 84-87)