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CAPÍTULO 3 – FORMAS DE ATUAÇÃO DOS BANCOS COMUNITÁRIOS DE

3.2 O estudo de caso

3.2.4 A relação dos EES da Rede Ecosmar apoiados pelo BCD Ilhamar com a Dow Brasil

Na pesquisa de campo que realizamos em Matarandiba, procuramos, também, observar como os EES da Rede Ecosmar se relacionavam com a empresa Dow e como eles percebiam a essa interação com a Dow. Nosso objetivo foi tentar identificar que tipo de relação existia entre esses sujeitos e a empresa que explora recursos naturais da comunidade a mais de 40 anos. Assim, logo na primeira seção deste capítulo buscamos analisar os principais conflitos gerados

por essa empresa na comunidade, e como vimos anteriormente, é uma relação permeada por tensões que refletem negativamente na vida da comunidade, a exemplo, da mais recente situação do surgimento da cratera, que até o momento não foi solucionado.

Dito isto, passamos a analisar as informações observadas a partir do questionamento feito aos ESS entrevistados sobre como é a relação com a empresa Dow. As respostas que obtivemos desse questionamento, em sua maioria, apontou que os EES veem a relação com a Dow como importante porque ela foi a primeira empresa a financiar as atividades da Rede. No entanto, as entrevistas revelaram que essa relação se dá apenas no aspecto do financiamento, não tendo qualquer outra relação com a empresa além disso, como relata uma das agentes entrevistadas:

Importante sim, porque financeiramente foram eles que deram o ponto de partida. Então, era importante por conta disso. Agora, você sabe que empresa multinacional não tem interesse de estar tão próximo assim das comunidades, então a ideia era que o propósito deles lá se resolva, que eles conseguissem atingir o objetivo com uma certa distância porque o objetivo era diferente dos técnicos, o pessoal da assessoria da incubadora ITES e o grupo da Ascoma (Agente fundadora do BCD Ilhamar 2, sexo feminino, negra, 43 anos de idade e ensino superior incompleto).

Para o ex-conselheiro Administrativo da Ascoma, a relação inicial entre a Dow e a comunidade era muito restrita, logo que ela se instalou em Matarandiba, no ano 1970. O que a empresa realizava em termos de retorno para o território se restringia a resolver problemas que ela mesma causava no desenvolvimento de sua atividade de mineração. Para o ex-conselheiro, o que a Dow realiza hoje na comunidade é muito pouco, diante de tantos recursos que ela extrai da comunidade:

Hoje o que a Dow faz é uma responsabilidade social, mas a comunidade, além de necessitar, ela merece muito mais, mas para chegar a esse ponto de exigir mais, depende de a gente estar muito mais organizado. Hoje o diálogo com a Dow não é de atrito, apesar de a gente ter alguns pontos de discussão, que a gente olha se vale a pena voltar ou não, a questão do aterro, por exemplo, é crime ambiental que foi feito há 30 anos, que aterrou o mar. São questões que até hoje toca em algumas pessoas da comunidade. Pessoas que não se contentam com isso, que queriam reverter, em algumas discussões, ambientalistas falam que se a gente for reverter, volta a um outro crime, pela questão da adaptação. Então, foi feito. Hoje estamos mais próximos, não conseguimos acompanhar a ponto de tentar impedir algumas das ações da Dow, até porque o que é apresentado a lei permite, então a gente questionar a lei que permite, por exemplo, um grau de desmatamento, questionar um percentual que a Dow tem de posse da comunidade, que é 93% ou 94% da comunidade, tudo isso foi permitido por lei. Então para questionar essas outras coisas, para a gente chegar a um novo nível de diálogo, de exigência, por exemplo, eu exijo que se tenha um tipo de recurso de determinada área, depende muito da nossa evolução na nossa organização enquanto comunidade (Ex-Conselheiro Administrativo da Ascoma, atualmente agente de comunicação da Ascoma, sexo masculino, negro, 32 anos de idade e segundo grau completo).

De acordo com a entrevista do coordenador da ITES/UFBA, a empresa Dow foi a responsável pelo financiamento inicial da proposta de formação do Projeto Ecosmar e, ainda

hoje, ela apoio esses iniciativas da Rede. Hoje ela participa como mais um dos financiadores da Rede Ecosmar, pois ao longo desses 10 anos de atuação da Rede, buscou-se combinar diversas formas de mobilizar recursos, que vão desde financiamento que vem da Dow, do Estado e outras empresas, até rifa, bingo, leilão, financiamento coletivo, etc. Essas articulações permitem que os empreendimentos aos poucos deixem de depender dos recursos oriundos da Dow, embora, hoje, ainda existam EES que dependem desses recursos para continuar funcionando, pois suas receitas ainda não conseguem suprimir as suas despesas, principalmente os empreendimentos da horta, da rádio.

A Ascoma, como vimos nas seções anteriores, desenvolve um papel fundamental na articulação desses EES, além de desempenhar a uma função política de cobrança dos poderes públicos e da Dow sobre as questões que envolvem toda a comunidade. É a Ascoma que está à frente de todos os processos de reinvindicação da comunidade em relação a Dow. Nesse processo, de atuar em duas frentes, vamos assim dizer, ela acaba ficando em uma posição de intenso conflito, pois ao mesmo tempo que precisa negociar com a Dow os apoios para os empreendimentos, ela, também, precisa intermediar os problemas que surgem a partir das atividades de exploração da Dow, em Matarandiba. Tendo conhecimento dessa tensão existente, perguntamos ao ex-Conselheiro Administrativo se em algum momento, a Ascoma sentiu que poderia perder sua autonomia em relação a Dow, a resposta que o ex-conselheiro nos deu foi:

Os empreendimentos precisam do apoio, porque ainda não tem uma sustentabilidade completa. Mas a Ascoma não! Então, se a Dow deixar de apoiar esses empreendimentos, o que vai mudar agora é que a gente ao invés de direcionar uns tipos de briga para um lado vai direcionar para a Dow. Não por conta de parar de apoiar, mas pela questão de submissão ou tentar coagir a associação, algo assim. A associação, independente dos recursos que a Dow está dando ou não, ela tem que ter a autonomia dela, ela não pode se submeter, e a associação é a comunidade. Então, seja a Dow, a prefeitura, seja quem for, que estiver contra a comunidade, está contra a associação. Agora, se a comunidade não está correta, não está com a razão, porque em muitas situações a gente foi até mal visto pela comunidade, porque ela não tinha razão e queria a razão pelo fato de ser comunidade. Às vezes assim “ah, eu sou a comunidade, você tem que me defender”, então, a gente tem que defender quem está correto, ser justo. Se em algum momento a gente pecou, como comunidade, temos que assumir nosso erro. Mas a associação ela é comunidade, independente de quem vai financiar. Agora mesmo vai haver uma mudança na Dow de prestação de contas, uma nova organização que vai lidar com isso, e eu estou tentando trazer pra Dow o seguinte: isso não nos interessa... é um tipo de pressão, é uma imposição que coloca pra gente. Tudo bem que ela queira organizar os recursos que ela financia, mas a gente não precisa estar preso a esse sistema, porque se estivermos não vamos conseguir fazer o que fazemos na comunidade. A Dow, pelo fato dela financiar, ela não pode dizer o que tem que ser financiado e dentro dessa estrutura ela começa a dizer o que tem que ser feito e o que não tem, e isso me preocupa porque, por exemplo, queima de fogos na comunidade no réveillon, esse tipo de rubrica, dentro da nova estrutura, não permite isso, então o que é interessante para a gente? A gente quer isso. Se a gente quer isso. Não vai ser pela Dow? Tudo bem, mas se outras coisas inviabilizar a gente

vai dizer “Olha, para a gente não é viável isso”, então não é um recurso que vai fazer com que a gente submeta a manter uma boa relação (Ex-Conselheiro Administrativo da Ascoma, atualmente agente de comunicação da Ascoma, sexo masculino, negro, 32 anos de idade e segundo grau completo).

Diante do exposto e das nossas percepções a partir da pesquisa de campo, podemos concluir que embora, ainda exista a necessidade, por parte dos EES da Rede Ecosmar, dos recursos que hoje a empresa Dow aporta nessas experiências, os EES têm mantido a autonomia da organização de suas atividades fins e de seus objetivos, e, também mantém sua autonomia política para reivindicar seus direitos perante a empresa Dow.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse estudo buscou perquirir sobre as formas de atuação do Banco Comunitário de Matarandiba – Ilhamar, observando os princípios de autogestão, cooperação, viabilidade econômica e solidariedade, no âmbito da economia solidária. Para isso, buscamos analisar como os sujeitos que integram essa experiência se relacionam entre si e verificar, também, como as relações desses sujeitos e os demais membros dos EES apoiados pelo BCD Ilhamar refletem os princípios de autogestão, cooperação, solidariedade e viabilidade econômica. Esses princípios servem de norte para os empreendimentos econômicos solidários que se gestam no campo da economia solidária.

Para efetivar a análise proposta, busquei demonstrar no estudo realizado como as experiências no campo da economia solidária ganharam expansão no Brasil por volta da década de 1980. Essas experiências aparecem como uma opção para os segmentos sociais de baixa renda, fortemente atingidos pelo quadro de desemprego estrutural e pelo empobrecimento. São empreendimentos baseados na livre associação, no trabalho cooperativo e na autogestão, que se propõem a ser uma alternativa de geração de trabalho e renda, em um contexto marcado por exclusões e aprofundamento das desigualdades sociais promovidos pelas políticas de corte neoliberal (GAIGER, 2003).

Segundo a base conceitual apresentada pelo MTE (MTE, 2015)94, as experiências de economia solidária são caracterizadas como organizações econômicas (organizações coletivas, organizadas sob a forma de autogestão que realizam atividades de produção de bens e de serviços, crédito e finanças solidárias, trocas, comércio e consumo solidário) e organizações solidárias (empresas de autogestão, associações, cooperativas e grupos informais de pequenos produtores ou prestadores de serviços, individuais e familiares, que realizam em comum a compra de seus insumos, a comercialização de seus produtos ou o processamento dos mesmos). Existem no Brasil um diversificado campo de microfinanças que ofertam microcrédito, como Organizações Não-Governamentais (ONGs), Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscips), Cooperativas de Crédito, Sociedades de Crédito ao Microempreendedor e à Empresa de Pequeno Porte (SCMs), fundos públicos, além de bancos comerciais públicos e privados (principalmente por meio de correspondentes no país e de

94 Informações disponíveis em http://trabalho.gov.br/trabalhador-economia-solidaria/quem-sao-os-participantes. Acesso em 05 jul. 2018.

carteiras especializadas). No entanto, para além dessas práticas de microfinanças, existem outras experiências no campo das microfinanças, as chamadas finanças solidárias, que se inserem no campo da economia solidária. É nesse conjunto de práticas de finanças solidárias que o Banco Comunitário de Desenvolvimento de Matarandiba – BCD Ilhamar estar inserido. Abramovay e Junqueira (2005) definem as finanças solidárias como um tipo de prática de microfinança, composto por iniciativas que valorizam o potencial de mobilização de investimentos locais, o financiamento conjunto das unidades de consumo e de produção e são as redes de relações sociais entre os indivíduos que atuam como modalidades de garantia e controle desses financiamentos. Para os autores, as organizações de finanças solidárias buscam atingir a sua sustentabilidade econômica sem colocar como coadjuvante o alcance de objetivos sociais junto ao seu público e ao seu território.

Nesse sentido, a experiência do Banco Comunitário de Matarandida – BCD Ilhamar, se insere no campo da economia solidária como uma organização econômica social que realiza serviços de crédito no âmbito das finanças solidárias. Como tal, o BCD Ilhamar, articula-se com outras experiências econômicas solidárias, a Rede Ecosmar, para mobilizar recursos em torno da ideia de um processo de melhoria das condições de vida das pessoas que vivem em Matarandiba, um território caracterizado por uma população de baixa renda, cuja a maioria das pessoas são pescadoras e marisqueiras, e que sofrem todo tipo de exclusão, inclusive financeira, e cuja economia não é forte o suficiente para atender às demandas locais e gerar trabalho e renda. Nesse contexto, um aspecto primordial que ampara a proposta de desenvolvimento local idealizada pelo BCD Ilhamar e os demais EES da Rede Ecosmar é o fato de os atores locais serem os protagonistas desse processo, na busca por articulá-los de forma associativa e coletiva, através de relações baseadas nos princípios de autogestão, cooperação, solidariedade.

Conforme demonstramos no primeiro capítulo desse trabalho, as experiências de economia solidária são identificadas como tal, quando suas práticas concretas são organizadas a partir de um conjunto de princípios gerais, tais como, a autogestão, a cooperação, o desenvolvimento comunitário e humano, a justiça social, a igualdade de gênero, raça, etnia, o acesso igualitário à informação, ao conhecimento e à segurança alimentar, a preservação dos recursos naturais pelo manejo sustentável e responsabilidade com as gerações presente e futuras (II Conaes, 2010). Nosso trabalho, no entanto, partiu da análise de alguns desses princípios, como autogestão, cooperação, solidariedade e viabilidade econômica.

Em relação às particularidades vivenciadas pelos agentes de créditos em suas relações internas de gestão do BCD Ilhamar, verificamos que existe uma identificação e ligação entre as

pessoas que talvez estejam vinculadas à sua história comunitária, refletida em um sentimento de coletividade a criar um amálgama entre os integrantes. Essa percepção se estende aos demais membros que participam dos EES da Rede Ecosmar analisados. O fato desses empreendidos serem constituídos com base nas demandas da comunidade e em decisões coletivas, permitem que os associados entrevistados se identifiquem com os empreendimentos, e desenvolvam relações de proximidade e de confiança mútua.

Nesse sentido, a análise do processo de gestão do Banco Ilhamar à luz do conceito de autogestão, que é um dos principais aspectos que deve diferenciar um empreendimento econômico solidário de uma empresa, tal como afirma Follis (1998) “a autogestão pode ser

compreendida como um sistema de organização das atividades sociais, desenvolvidas mediante a cooperação de várias pessoas, onde as decisões relativas à gerência são diretamente tomadas por quantos aí participam, com base na atribuição do poder decisório às coletividades definidas”, nos permitiu considerar que existe elementos que apontam para práticas de

autogestão no BCD Ilhamar, pois como vimos ao longo do capítulo três, os agentes de crédito tem buscado desenvolver em suas atividades de maneira coletiva, realizando a gestão (definições de metas e estratégias, planejamento) de forma conjunta, não apenas entre si, mas com outros empreendimentos, como com a própria Ascoma.

Contudo, é necessário aclarar que à prática de autogestão ainda não se encontra plenamente enraizadas na prática desses sujeitos, ela ainda aparece de modo frágil e insuficiente, principalmente por parte dos agentes de crédito mais novos, que demonstram certa dependência decisória em relação às agentes de crédito mais antigas e aos membros da Associação que fazem parte das instâncias decisórias do BCD. O fato de que as agentes que estão a mais tempo no BCD Ilhamar permitem à elas ter uma vinculação mais consolidada não só ao próprio empreendimento, mas também aos valores de autogestão, cooperação e solidariedade. Diferentemente, os agentes mais novos ainda não têm essas concepções enraizadas ao ponto de nortearem suas relações cotidianas no empreendimento, o que torna mais difícil para eles reproduzirem e se vincularem aos empreendimentos. O pouco tempo que estão no empreendimento é insuficiente para desconstruir o modo de vida competitivo e hierárquico de uma sociedade capitalista. Mudar essa posição quanto à prática da autogestão certamente não é fácil, portanto, para os que integram empreendimentos associativos, um dos grandes desafios a serem enfrentados é o aprendizado da corresponsabilidade e da construção de relações democráticas.

O BCD Ilhamar também tem buscado inserir em seus processos de gestão a participação da própria comunidade, nesse sentido a principal instância que permite essa participação é o Comitê de Análise de Crédito (CAC), que é constituído por cinco membros, os agentes de crédito (2), a representante da entidade gestora (1) e representantes da comunidade (2), que não são necessariamente associados da Ascoma. É no CAC que são decididos, com base nos critérios estabelecidos, a aprovação, a revisão ou a negação das solicitações de créditos. Nesse sentido, o CAC desempenha um papel importante na construção e manutenção de relações de confiança e solidariedade na comunidade, pois cabe a ele decidir sobre a liberação dos créditos.

Contudo, o BCD Ilhamar, assim como a própria Associação, têm enfrentado dificuldades para mobilizar a comunidade. Isso tem interferido negativamente no funcionamento do banco, pois é impossível liberar os créditos solicitados pela comunidade se não houver uma regularidade e assiduidade dos membros do CAC. Os principais motivos identificados para a situação são as dificuldades de mobilização comunitária, assim como o não entendimento da dinâmica de funcionamento e de propósito do Banco comunitário, que leva as pessoas a não participarem das suas ações, como acontece com o Comitê de Avaliação de Crédito (CAC).

Talvez uma hipótese explicativa para essa relação distanciada tenha haver, por um lado, com a dificuldade política ideológica dos próprios EES solidários de convencer comunidade a se engajarem nessas iniciativas e, por outro, a força de uma ideologia dominante que engloba, inclusive, esses empreendimentos e esses indivíduos no seu dia-a-dia, seja em suas relações sujeito-sujeito e sujeito e outras formações de organização comunitário, como por exemplo, as relações entre os EES e os demais empreendimentos não vinculados a economia solidária que existem na comunidade. Nesse sentido, podemos aduzir que a comunidade não se sente suficientemente convencida da ideia de vencer juntas certas objeções dadas pelo que é dominante na sociedade em termos de valores capitalistas e passar a reproduzir certas práticas de economia solidária, por isso a dificuldade de encontrar pessoas que estejam dispostas a participarem de forma efetiva da construção dessas experiências na comunidade.

Existem outros desafios que o Banco Ilhamar tem encontrado e que dizem respeito ao seu papel de agente sócio-econômico no território, responsável por financiar a produção e o consumo local para fortalecer a economia da vila de Matarandiba. Assim, ao mesmo tempo em que identificamos que o BCD Ilhamar consegue atender necessidades reais e imediatas dos moradores, percebemos desafios nesse processo, especialmente a partir da oferta de microcrédito solidário e da moeda social Concha, principais serviços do BCD Ilhamar. Embora

a maioria dos comércios locais aceitem a moeda social em seus estabelecimentos, ainda é grande o número de comerciantes e de moradores que não compreendem o significado do uso da moeda, que é reconstruir circuitos econômicos locais em moldes responsáveis e participativos, de forma a gerar novas sociabilidades e aprendizados decorrentes dessas vivências coletivas.

De um modo geral, percebemos que o BCD Ilhamar e os demais EES da Rede Ecosmar têm encontrado uma dificuldade de mobilização dos seus moradores para um envolvimento maior nas ações desenvolvidas. Essa situação nos permitiu observar que existe uma tensão, por assim dizer, entre a proposta de desenvolvimento engendrada pelo BCD Ilhamar e o que de fato ocorre na dinâmica concreta de suas práticas na comunidade. Observamos essa situação a partir de duas hipóteses, que não são, em si, excludentes, mas que analisadas em conjunto pode nos ajudar a compreender as dificuldades que as experiências do BCD e da Rede Ecosmar enfrentam.

A primeira hipótese que analisamos se refere ao aspecto político da formação que o BCD deveria promover na comunidade, seja com os moradores ou com os comerciantes. Existe uma grande dificuldade dos agentes de crédito, bem como dos demais EES da Rede Ecosmar, desenvolverem uma formação continuada com a comunidade, em geral, sobre o que é a economia solidária, por que é importante pensar em construir outras formas de organização do trabalho pautada em relações mais justas, de forma coletiva, cujos interesses devem convergir para a melhoria da comunidade e não apenas dos indivíduos, isoladamente. O fato das agentes de crédito realizarem formações sobre o papel do BCD e a importância da moeda social Concha no território, como verificamos nas entrevistas, não são suficientes para descontruir uma lógica