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A cultura e o desenvolvimento são conceitos extremamente abrangentes e centrais em diversas disciplinas sociais. Os seus caminhos construídos de forma independente têm seguido rumos diferentes, tendo até estado ao longo da história em posições antagónicas, na medida em que, a cultura

em alguns períodos da história tenha sido considerada um entrave para o desenvolvimento. Portanto, à primeira vista a relação destes dois conceitos parece não fazer muito sentido.

Contudo, o fracasso de projetos de mudança estrutural implementados durante os anos 90 do século XX vieram levantar a questão sobre a forma como poderiam os fatores culturais determinar o desenvolvimento político e económico nas diferentes regiões ou de outro modo, como poderia a cultura contribuir para o desenvolvimento (Costa, 2011). A dificuldade de relacionamento destes dois conceitos reside na abordagem que é feita pelas diferentes ciências sociais. A Economia e a Sociologia mais centradas na explicação da mudança social associada à modernização do mundo ocidental. A Antropologia mais preocupada em descrever os sistemas sociais (cf. Costa, 2011). Neste entendimento, cada disciplina ocupa-se de perspetivas diferentes, tecendo as suas próprias considerações sobre a cultura e o desenvolvimento. Esta análise não pode, pois ser linear já que ambos os termos não possuem uma única definição, razão pela qual é necessário situar com antecedência a perspetiva tomada.

Como já se mencionou antes, o modelo de desenvolvimento seguido desde os anos 40 do século XX dava preferência a um estilo de vida baseado no consumo. O crescimento económico foi sinónimo de desenvolvimento e a crença nos efeitos positivos deste modelo levou à sua aplicação em forma de receituário em muitos países. A uniformização do modelo levou a acreditar-se que esta fórmula de desenvolvimento era a única e a mais eficaz.

Por outro lado, a implementação de projetos de desenvolvimento promovidos pelas organizações de apoio internacional nem sempre alcançaram os resultados esperados. Esta situação resultava das dificuldades de conduta institucional, bem como da falta de adesão dos beneficiários, comprometendo deste modo, o resultado positivo dos projetos. Este aspeto assinala como é importante ter em conta os fatores culturais de desenvolvimento, nomeadamente a forma como os indivíduos se relacionam uns com os outros, com a natureza e com as instituições (Costa, 2011).

Isto significa que a natureza da relação entre os dois conceitos tem de ser delimitada pela definição do paradigma de desenvolvimento em que se aposta. Em última análise, o próprio conceito de desenvolvimento tem sido colocado de parte por diferentes sectores de interesses, normalmente mais radicais nas suas conceções. Isto não significa tal como afirma Sachs (2005) que se deva abandonar o conceito de desenvolvimento às hordas que o subjugam, mas sim procurar:

“um «novo desenvolvimentismo» na busca de projetos nacionais de desenvolvimento, articulados ao redor da identidade nacional e voltados para a promoção do desenvolvimento de todo o homem e de todos os homens, ou seja, o «processo de ampliação das escolhas para que as pessoas façam ou sejam o que elas prezam na vida»" (Sachs, 2005, p. 151).

Para tal, o desenvolvimento tem de respeitar os direitos básicos dos cidadãos e nesse sentido deve dar destaque ao desenvolvimento humano nos vários aspetos que o compõe. O desenvolvimento deve respeitar os aspetos económicos, sociais, políticos, ambientais e culturais. Deve contribuir para a melhoria de vida, numa atmosfera de desenvolvimento social e participação, respeitando e valorizando o simbolismo da

existência humana, preservando o património material e imaterial para as gerações futuras (Costa, 2011).

Portanto, entender o desenvolvimento sem ter em conta as diferentes dimensões é cair num incumprimento a longo prazo, pois como afirma Costa (2011) as várias dimensões são “integradas e co-dependentes”. Isto significa que, temporalmente haverá sempre influências de umas dimensões sobre as outras.

Segundo Sachs (2005) o desenvolvimento passa pelo desenho de um projeto nacional e esse desenho supõe uma preparação do futuro, algo que está intimamente relacionado com a cultura, pois esta é aquela que dita os estilos de vida, a forma de produzir, de consumir, de conviver, entre outras. É a vida da comunidade e as representações simbólicas que seguem que determina a sua identidade portanto, nesta perspetiva o desenho de um projeto de desenvolvimento não pode ser separado da sua identidade, nem da sua base, que é a cultura.

A base para o desenvolvimento tem portanto de partir da cultura de cada região. Mas para que exista um referencial teórico, como deve ser entendido a relação entre estes dois fenómenos?

Costa (2011) refere a propósito da relação cultura e desenvolvimento os dois caminhos de análise possíveis, propostos por Huntington (2002):

 A cultura como uma variável independente, no sentido de explicar como é que a cultura afeta o grau de progresso que as sociedades podem ou não atingir;

 A cultura como variável dependente, procura explicar como a atuação política, ou outro meio de atuação pode alterar ou banir as barreiras para o progresso.

Nos dois casos existe a possibilidade de colocar a cultura ao serviço de uma senda, seja a utilização da cultura como forma de mudança de mentalidades, no sentido de “arma de conversão” ou a de colocar a cultura ao serviço do mercado.

De acordo com o autor, no primeiro caso é necessário ter em mente que as culturas divergem e que se encontram constantemente a introduzir e a atualizar significados. No entanto, o desenvolvimento não obriga a que exista uma homogeneidade das instituições e da cultura, como é temido pelo fenómeno da globalização. Embora seja evidente que a globalização contribua para uma certa aculturação e assimilação, na realidade a cultura regional e nacional têm traços muito próprios que conseguem escapar aos efeitos de padronização provocados pela globalização e assim garantir a sua identidade.

No segundo caso, o autor destaca a capacidade do mercado enquanto espaço de transação de recursos que lentamente se expande para outros campos. Costa (2011) refere que no plano cultural existem espaços sociais que propiciam a cultura sem que aí exista uma relação comercial. Assume-se que os seres humanos são por natureza altruístas e cooperantes. Deste modo, a pressão do mercado não inibe a criação artística pelo contrário, acaba por ser um estímulo. No entanto, a produção cultural sobrevive sem o mercado.

Como se verifica existem uma série de dificuldades quanto à leitura da relação entre cultura e desenvolvimento. Contudo, a experiência do passado mostra como o desprezo pelos fatores culturais culminou em enormes retrocessos sociais, económicos e ambientais.

Atualmente crescem os trabalhos científicos em torno da relação entre a cultura e o desenvolvimento, frisando justamente a necessidade de incluir a dimensão cultural do desenvolvimento na planificação de projetos. A própria UNESCO (2001) reconheceu a importância da cultura para o desenvolvimento como se pode verificar no seguinte excerto: “we understand better not just that culture can be a mechanism for, or an obstacle to, development, but that it is intrinsic to sustainable human development itself because it is our cultural values which determine our goals and our sense of fulfillment” (UNESCO, 2001, p.7).

Deste modo, o sucesso de qualquer projeto de desenvolvimento está dependente do conhecimento do contexto cultural de cada território deve ser tido em conta no planeamento de qualquer projeto.