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Relação entre os diferentes meios de concretização das aprendizagens informais e

2   CAPÍTULO II APRENDIZAGEM FORMAL, NÃO FORMAL E INFORMAL NA EUROPA UMA

2.4.   A aprendizagem informal em Portugal entre 2007 e 2011 78

2.4.6.   Relação entre os diferentes meios de concretização das aprendizagens informais e

Finalmente, é importante dar conta do efeito, de sinal contrário, da idade. À medida que a idade aumenta, a possibilidade de desenvolver aprendizagens informais diminui significativamente. Embora a idade seja, dos efeitos significativos, aquele que apresenta um contributo mais baixo, ainda assim o mesmo não pode deixar de ser tido em conta na leitura do modelo. Evidenciam-se, deste modo, as dificuldades acrescidas que se colocam aos mais idosos quanto ao desenvolvimento de aprendizagens informais, dificuldades essas que tendem a ocorrer mesmo quando os níveis de escolaridade são elevados e/ou quando se está na presença de práticas formais e não formais de aprendizagem.

2.4.6. Relação entre os diferentes meios de concretização das aprendizagens informais e as práticas culturais e de participação social dos indivíduos

No que respeita às práticas culturais e à participação social dos indivíduos, este inquérito apresenta um conjunto bastante extenso de variáveis que merecem um tratamento atento. Uma vez que se trata de práticas, o modo preferencial de verificar a sua ligação aos diferentes modos de aprendizagem informal será através da utilização de um modelo de interdependência, uma vez que não procuramos aqui relações de causa-efeito mas sim tentamos verificar coocorrências. São fenómenos que se inter-relacionam, que têm implicações mútuas e recíprocas. No sentido de identificar diferentes configurações (associações privilegiadas entre categorias de variáveis distintas), utilizou-se, então, a

Análise de Correspondências Múltiplas.38 Mas, neste caso concreto, apenas foi possível                                                                                                                          

38 Como explicitado por Carvalho (2008), este método analisa a interdependência entre variáveis categorizadas e permite projetar em simultâneo todas as categorias das múltiplas variáveis em gráficos de menor dimensionalidade, tornando legível a estrutura multidimensional do espaço de partida. A ACM permite identificar perfis (neste caso, de aprendizagem informal), as configurações desses perfis e, ainda, observar a disposição (e intensidade) dos indivíduos aprendentes. Para o efeito, a ACM pressupõe a definição de (pelo menos) 2 eixos (ou dimensões), os quais permitem

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utilizar a base de microdados relativa ao ano de 2007, pelo que se alerta, desde já, para as limitações desta análise e para o facto de, neste caso, os grupos etários abrangidos na análise corresponderem a todos os inquiridos entre os 18 e os 64 anos.

Estreitou-se o âmbito da análise ao conjunto de indivíduos que afirmaram realizar atividades de aprendizagem informal. No modelo foram apenas introduzidos os 4604 indivíduos nessa condição. Foram selecionadas e preparadas as 21 variáveis relativas a práticas culturais, participação social e modos de aprendizagem informal. Feita a análise, o modelo permite a exploração de relações de interdependência entre essas variáveis, preservando-se a estrutura multifacetada e relacional da realidade que tentámos apreender.39

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                  sustentar a representação das múltiplas variáveis e das suas categorias, sem perda de informação. No caso presente começou por se selecionar a solução com as máximas dimensões (23) a fim de se detetar se se manteria a escolha de apenas duas dimensões. Confirmada essa seleção, repetiu-se a ACM para uma solução bidimensional, solicitando todos os instrumentos de análise necessários à interpretação: quantificações (coordenadas e contribuições) das categorias, medidas de discriminação e representações gráficas.

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Variance Accounted For Dimension Cronbach's Alpha Total (Eigenvalue) Inertia

1 ,712 3,104 ,148

2 ,430 1,693 ,081

Total

Mean ,612a 4,796 2,398 ,228 ,114 Mean Cronbach's Alpha is based on the mean Eigenvalue.

Fonte: Base de dados (microdados) IEFA, INE 2007 (cálculos próprios)

Foram selecionadas duas dimensões que se configuram como diferenciadoras entre si, constituindo eixos estruturantes do espaço que cada uma representa. Como pode observar-se, os resultados dos alphas de cronbach (calculados após as variáveis estarem quantificadas) refletem uma excelente consistência na dimensão 1 e uma bastante boa consistência na dimensão 2. 39 A análise das medidas de discriminação permitiu-nos identificar quais as variáveis que mais contribuem para cada dimensão, levando à interpretação de cada uma das dimensões: a dimensão 1 caracteriza as práticas culturais e as aprendizagens mais “eruditas” e a dimensão 2 representa a participação em grupos e associações.

Como lembra Carvalho (2008), a seleção das dimensões deve ser acompanhada com a análise das medidas de discriminação. Estas quantificam a variância de cada variável por dimensão. Permitem identificar as variáveis que mais contribuem para definir cada dimensão e cujos valores variam entre 0 e 1. A seleção das variáveis pode ser orientada pelo seguinte critério: privilegiar as variáveis cuja medida de discriminação seja superior ao valor da inércia dessa dimensão. Orientar a seleção das variáveis pelo critério acima referido não obsta a que possa ser também considerada uma variável (ou mais) cuja medida de discriminação se apresente relativamente inferior ao valor da inércia.

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Figura 2-29. Sociografia dos perfis de práticas e de aprendizagens informais

Fonte: Inquérito à Educação e Formação de Adultos, 2007 (18-64 anos). Microdados do INE– Cálculos próprios.)

A partir deste gráfico e da análise das associações privilegiadas dos quadrantes é possível evidenciar três perfis distintos de participantes em atividades de aprendizagem informal. No primeiro quadrante destaca- se um perfil de indivíduos que privilegiam as atividades sociais e o contacto interpessoal: participam ativamente em grupos, associações e realizam aprendizagens informais através de familiares, amigos ou colegas. Entre o segundo e o terceiro quadrantes, evidencia-se um perfil de indivíduos que não participam em atividades sociais nem realizam muitas aprendizagens informais. No quarto quadrante, destaca-se um perfil de indivíduos ativos quanto às práticas culturais mais eruditas e que realizam aprendizagens informais que se confundem com essas mesmas práticas (leitura/aprendizagem com materiais impressos; visita a locais culturais/aprendizagem através de visitas guiadas a museus e aprendizagem através de frequência de bibliotecas).

A partir da identificação, no plano de ACM, de diferentes configurações de indivíduos ao nível das aprendizagens informais, práticas culturais e participação social, e com o objetivo de analisar as características sociodemográficas associados a cada

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um destes perfis, realizou-se uma análise de clusters, recorrendo-se como referencial às duas dimensões estruturantes do espaço das representações definidas. Este procedimento estatístico de agrupamento através dos clusters permitiu obter três grupos. Trata-se de grupos bastante desequilibrados entre si, se atendermos à sua dimensão. O

cluster 1 é composto por 1803 indivíduos, o cluster 2 por 2038 e no cluster 3 estão em

análise 793 pessoas. Com o objetivo de descrever os indivíduos classificados segundo os níveis de envolvimento e as diferentes práticas de associativismo, procedeu-se a uma análise descritiva com base num conjunto de variáveis sociodemográficas.

De acordo com a análise dos dados resultantes (tabela), os 3 clusters apresentam-se equilibrados em relação ao género. Quanto à idade, o cluster 1 é constituído por pessoas mais jovens: 35,6% têm entre os 25 e os 34 anos e 20,4% entre os 18 e os 24 anos. Quanto ao nível de escolarização o cluster 2 é o menos escolarizado, constituído por uma maioria de indivíduos (76,6%) com o nível básico de educação. O

cluster 1 é constituído por um número elevado de indivíduos com escolaridade

secundária (34,9%) e superior (37,9%). Quanto à classe social, o grupo 1 integra muitos PTE (31,2%), enquanto no grupo 2 há bastantes EE (27,3%). É também neste cluster 2 que se encontra a maior percentagem de desempregados (10,7%). O grupo 3 é o menos vincado por estas variáveis sociodemográficas, apresentando posições intermédias relativamente aos outros clusters.

Mais uma vez aqui se encontra a relação de interdependência entre a realização de aprendizagens informais e a escolaridade, uma vez que o grupo 2 que corresponde a indivíduos maioritariamente menos escolarizados é aquele em que também se realizam menos aprendizagens informais. Mas também é nítida, outra vez, a intervenção diferenciadora da idade: o primeiro grupo, que é constituído por indivíduos mais novos, é aquele em que mais se participa em atividades sociais e associativas, privilegiando-se a aprendizagem através de familiares, amigos ou colegas. No 3º grupo, o mais reduzido, encontram-se as práticas culturais mais eruditas e residuais, sendo onde se encontram os aprendentes (de facto, minoritários) que recorrem aos materiais impressos, às visitas guiadas a museus e outros locais de interesse e às bibliotecas.