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A análise do desempenho eleitoral do PSDB-SP, apresentada neste capítulo, corroborou o argumento de que os mecanismos institucionais e a estrutura relacional são fatores importantes tanto para a explicação do funcionamento organizacional do partido político, como também para revelar aspectos referentes a relação entre organização partidária e o voto.

247 Anexo F: Quadro 27; Anexo G: Mapas 14 e 15 - Resultado Eleitoral do PSDB no estado de São

Paulo em 1998 e Anexo D: Figura 4 - Sociograma III – Tempo 2 (1994-1998).

Raiane Patrícia Severino Assumpção – Análise Organizacional do PSDB-SP (1988-2006)

195 Os dados pesquisados demonstraram associações significativas entre a composição da estrutura relacional interna do partido, ou seja, os vínculos estabelecidos a partir da influência do capital político dos atores, e o desempenho eleitoral partidário, mais precisamente a configuração da base eleitoral. Existiu uma correspondência entre a estrutura relacional da organização partidária (hierarquia posicional), o lançamento de candidaturas (definição dos atores para o cargo em disputa) e a localização do desempenho eleitoral (conforme análise georeferenciada nas microrregiões). Portanto, o capital político, que pertence aos atores individualmente, mas que só tem capacidade de ser potencializado no âmbito do partido é um elemento fundamental para a estruturação e dinâmica interna da organização partidária, além de garantir a estabilidade nos resultados eleitorais.

Ao considerarmos essa categoria capital político, foi possível identificar a relevância da organização partidária para a definição dos resultados eleitorais a partir de alguns indicativos: a correlação desses resultados com o padrão de relações que constitui a dinâmica organizacional, a continuidade dos atores nas carreiras políticas e na ocupação dos espaços institucionais (de modo especial os cargos eletivos e da Comissão Executiva do Diretório), e a estabilidade na georeferência das localizações.

Em síntese, a análise dos Resultados eleitorais, referentes aos tempos que constituíram a trajetória do partido (1988 a 2006), apresentou como resultado:

a) associação entre o lançamento de candidaturas para os diversos cargos e estrutura relacional interna do partido (a hierarquia posicional da rede de relações);

b) correspondência entre ocupação dos cargos de direção do partido, posição do ator político na rede e resultado eleitoral;

c) o partido constituiu uma base eleitoral com resultados em destaque nos municípios de pequeno e grande porte (respectivamente, com menos de 10.000 habitantes e acima de 200.000 habitantes). Em geral, esses municípios e microrregiões correspondiam aos locais de referência dos atores reconhecidos como políticos articuladores ou intermediários na rede de relações interna do partido. A dinâmica organizacional do PSDB-SP foi pautada na coexistência de uma hierarquia posicional e na autonomia dos atores, potencializando o papel dos deputados

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196 federais e estaduais, como forma de garantir votos ao partido. A estrutura relacional foi mantida ao longo do período analisado, apresentando, a partir do T2 (1994-98),

atores com menor grau de centralidade e a ampliação do resultado e da georeferência eleitoral. Esse processo conjugado foi mantido até o T3 (1999-02),

período em que os resultados eleitorais apresentaram menor êxito.

d) a modalidade de eleição e o cargo em disputa influenciaram na dinâmica organizacional do partido. No caso do PSDB-SP essa influência caracterizou-se pela interdependência entre a base eleitoral dos deputados federais e estaduais249, desses com o desempenho eleitoral dos candidatos do partido nas eleições municipais, como também, desses com o desempenho eleitoral dos candidatos ao cargo de governador e presidente.

249 Em geral são atores reconhecidos como políticos articuladores ou intermediários na rede de

relações interna do partido, com vínculo político estabelecido com os membros do núcleo central da estrutura relacional e com as bases eleitorais.

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197 CAPÍTULO 5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Propondo-se, modestamente, a contribuir para o debate recorrente acerca do significado das organizações partidárias no sistema político brasileiro atual (democracia representativa), esse estudo não poderia apresentar propriamente conclusões. O que se segue é uma súmula da intencionalidade da pesquisa, do caminho teórico-metodológico percorrido e algumas constatações e provocações referentes ao tema e ao objeto da pesquisa.

O objetivo foi desenvolver um estudo empírico a respeito da dinâmica interna de um partido político, o PSDB-SP, utilizando uma abordagem organizacional, e considerando o contexto político-eleitoral, para identificar a influência da estrutura institucional e relacional nesse processo.

Com os procedimentos metodológicos adotados para estudar a complexa relação entre os atores e a organização partidária, especialmente a utilização da análise de redes, essa pesquisa inova na abordagem organizacional e apresenta algumas explicações para a dinâmica do PSDB-SP no período entre 1988 e 2006.

Comprovou-se empiricamente que concentrar a abordagem à estrutura da instituição partidária ou aos resultados eleitorais, como freqüentemente ocorre nas análises a respeito dos partidos políticos brasileiros, é insuficiente para explicar a dinâmica interna dessas organizações. É necessário também estudar as implicações desses elementos político-institucionais na configuração da estrutura relacional interna da organização partidária para explicar os fatores determinantes da sua organicidade.

Embora os resultados das pesquisas sobre o desenvolvimento e a institucionalização dos partidos políticos brasileiros tenham reconhecido a função peculiar dessas organizações, tanto na disputa eleitoral250, como na articulação de interesses durante o processo de tomada de decisões na arena governamental251,

não houve um avanço expressivo no diagnóstico do significado da organização

250 Lima Júnior (1993); Kinzo (1993 e 1999) e Meneguello (1989). 251 Figueiredo e Limongi (1999) e Meneguello (1998).

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198 partidária nas ações dos atores políticos. Existem, ainda, estudos252 que indicam a

carreira política como o elemento preponderante na atuação desses atores, desconsiderando ou atribuindo menor importância ao papel da organização partidária.

A utilização metodológica das redes sociais possibilitou a obtenção e o tratamento de dados empíricos referentes ao conjunto das relações que compõem e sustentam o poder posicional e institucional da organização partidária analisada. Com isso viabilizou-se o estudo e uma compreensão significativa da complexidade existente na relação entre a atuação dos atores e a dinâmica organizacional do partido político.

A análise combinou elementos estruturais embasados em relações sociais e sistemas de poder que se retroalimentam. As redes sociais permitem identificar os intercâmbios existentes (tanto simétricos como assimétricos) que constituem as relações verticais e horizontais de uma organização – portanto, o seu tecido social. Além disso, ressalta a importância de reconhecer o que – e como – movimentam essas relações, o que permite compreender a configuração da dinâmica política da organização. Essa dinâmica constituída pela estrutura, pela forma e pela simbologia que legitimam as relações de poder. Assim, em espaços constituídos por relações complexas, os indivíduos devem manejar minimamente três tipos de intercâmbios: reciprocidade, redistribuição e mercado. Isso implica em participar simultaneamente de três tipos de relações sociais: de confiança, de hierarquia e de classe. Cada tipo de intercâmbio tem sua regra, que o indivíduo aprende a vivenciar em determinada situação, e isso se constitui em um recurso.

Comprovou-se a hipótese de que estudar a posição política do ator, por meio de seus vínculos relacionais e acesso aos recursos institucionais, possibilita compreender a dimensão individual e a dimensão organizacional que compõem o partido – é, portanto, uma via explicativa para a dinâmica e organicidade partidária. As relações que coexistiram no interior do partido foram analisadas tendo como referência teórica o conceito de capital político253. Identificou-se que as relações que

252 Melo (1999 e 2000). 253 Bourdieu (1986).

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199 estruturaram internamente o partido foram impulsionadas pelos recursos políticos organizacionais (informações, lançamento de candidaturas, contatos, cargos etc.). São essas relações que permitem aos atores terem maior ou menor acesso aos recursos políticos organizacionais; portanto, é o que atribui o poder posicional no interior do partido. Assim, é a busca pelo capital político que tensiona, dinamiza e garante a estabilidade da organização partidária.

O resultado da análise dos dados referentes ao PSDB-SP, período entre 1988 e 2006, revelou os fatores correspondentes à configuração da rede de relações dos atores e aos mecanismos institucionais do partido que influenciaram a sua dinâmica organizacional: a composição e a manutenção de um padrão de relações permitiram a configuração de uma dinâmica de funcionamento para a organização partidária pautada pelo desempenho eleitoral254. Entre os elementos que compuseram esse

padrão relacional tiveram destaque: o estabelecimento (oculto) de requisitos para a incorporação dos atores na rede interna do partido (base eleitoral e poder de articulação); a permanência dos membros na rede, na maioria dos casos nas mesmas posições da estrutura relacional; e o perfil dos membros que compuseram o órgão diretivo do partido – a Comissão Executiva do Diretório Estadual. Verificou-se que o funcionamento organizacional do partido foi dinamizado pela reciprocidade: a intercambialidade entre poder posicional255 e poder institucional (pela ocupação de cargos eletivos e/ou indicação de cargos no governo ou no órgão deliberativo do partido).

Em conseqüência, esta pesquisa apresenta resultados que dialogam com o diagnóstico tecido pelos estudos acadêmicos a respeito do PSDB256. O trabalho de

Roma (1999 e 2002) indicou que a estrutura formal do partido, de forma geral, não corresponde aos processos que garantem o funcionamento da organização partidária. O autor identificou um descompasso entre as características definidas pelo estatuto do partido e o seu funcionamento efetivo. Concluiu que o partido

254 Maximização das possibilidades de êxitos nos resultados eleitorais reforçado pelo princípio da

“garantia de legenda” àqueles que possuem mandatos eletivos.

255 Terminologia utilizada por Marques (2000).

256 Roma (1999) e Guiot (2006). Ambos os estudos utilizaram uma abordagem organizacional para

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200 possui uma estrutura organizacional fraca e descentralizada: o desenho institucional do partido possibilitou a ocupação dos cargos de direção por filiados com experiência em mandatos eletivos, garantindo aos seus líderes centrais o controle das decisões acerca das diretrizes político-eleitorais no âmbito nacional e estadual e, aos líderes locais, a autonomia para decidir acerca de suas estratégias.

Guiot (2006) centra sua análise na proposta político-ideológica257 do partido e

em como a composição social (os atores políticos filiados ou relacionados com membros do partido) foi determinante para garantir a implementação dessa proposta não só no setor partidário, mas também como um projeto para o Brasil ao assumirem o governo, especialmente na instância federal. Nesse sentido, esse estudo reafirma o protagonismo e o controle dos líderes centrais nas decisões acerca das diretrizes político-eleitorais no âmbito nacional. No entanto, apresenta outras referências e outros dados para a análise das características partidárias definidas no estatuto e do funcionamento efetivo partido.

Mesmo com outro recorte analítico (dados referentes apenas ao estado de São Paulo), esta pesquisa também diagnosticou a incompatibilidade entre as normas institucionais e a dinâmica organizacional. Isso indica que as normas e a estrutura formal do partido não são os elementos centrais para garantir a sua dinâmica organizacional. O resultado da pesquisa demonstrou que a dinâmica funcional nesse modelo de partido (pautado pela centralização decisória e autonomia operacional dos atores nas várias localidades e instâncias de poder) foi garantida pela efetivação das ações decorrentes das relações de poder estabelecida pelos atores que compõem a sua rede interna.

Os dados obtidos revelaram como os atores políticos do PSDB-SP agiram frente às limitações político-institucionais resultantes, especificamente, da legislação eleitoral e da correlação de forças na disputa eleitoral. A pesquisa demonstrou uma simbiose entre as articulações locais, ocorridas nos municípios, e as articulações em âmbito estadual pelos atores centrais. Assim, os atores políticos, denominados articuladores e intermediários na estrutura relacional, tiveram um papel fundamental

257 Compreendida como uma contra-reforma neoliberal, condizente com a terceira via defendida pela