Relação entre variáveis de desempenho da força de reação do solo e ocorrência de lesões

O segundo objetivo do estudo foi investigar a relação entre a ocorrência de lesão muscular não-traumáticas em membros inferiores e o desempenho das variáveis dinâmicas (força máxima, potência máxima e impulso) em uma tarefa com características similares à demanda no futebol (AUGUSTSSON et al. 1998, STALBOM et al., 2007) (salto com contramovimento) realizada em um sistema de duas plataformas de força em jogadores de futebol profissional. Pela hipótese (H 2) esperava-se que os atletas com menores valores no desempenho nas variáveis dinâmicas (impulso, força máxima e potência máxima) representasse um risco aumentado para a ocorrência de lesões. Uma vez que os músculos

realizam um papel fundamental na absorção de choque mecânico durante ações motoras, tem- se a hipótese de que, quando as cargas externas tornam-se demasiadamente maiores do que o corpo pode atenuar adequadamente, a capacidade de absorção de choque diminui podendo então levar a um aumento da probabilidade de lesão (GUISANDE; MOCHIZUKI, 2009). Dessa maneira, se lesão muscular pode estar relacionada à capacidade do músculo em gerar, absorver e transmitir energia mecânica, quanto maior a capacidade do músculo em gerar força, maior a capacidade de absorção de energia e menor chance de lesão (GARRETT, 1990). No entanto, a análise de regressão logística binária realizada não inseriu nenhuma variável de desempenho na equação do modelo final.

Algumas considerações devem ser apresentadas em relação ao presente estudo: 1) a análise dos dados (teste de qui-quadrado e de regressão logística binária) foi baseada na contribuição linear e individualizada do evento incitante (fatores de risco) para associar ao evento lesão muscular. Essas análises são comumente encontradas na literatura para testar associações entre fatores de risco e lesões musculares (BENNELL et al., 1998; HAWKINS et

al., 2001; WOODS et al., 2004; ENGEBRETSEN et al., 2010; FOUSEKIS et al., 2011;

CLOKE et al., 2012; CROISIER et al., 2008; WITVROUW et al., 2003). Embora a causa da lesão muscular não-traumática pareça estar associada a um único evento incitante, essa pode ser o resultado da interação complexa entre fatores de risco internos (idade, o sexo e a composição corporal), ou seja, a simples presença desses fatores de risco não é suficiente para produzir lesão muscular. 2) as variáveis dinâmicas testadas no presente estudo não devem ser desconsideradas ao assumir um modelo de análise multifatorial, especialmente ao considerar que associações significativas já foram encontradas por outros estudos apesar da tarefa motora ser diferente (ORCHARD et al., 1997; FOUSEKIS et al., 2011; CROISIER et al., 2008; GOOSSENS et al., 2015).

Se atribuirmos que a lesão muscular é o elo final de uma cadeia de interações de fatores de risco (característica multifatorial) (MEEUWISSE et al., 2007) e depende de como o sistema musculoesquelético adapta-se às possíveis interações entre força muscular, rigidez tecidual e alinhamento articular dos segmentos proximais e distais da cadeia cinética (FONSECA et al., 2007), a análise dos dados adequada seria por um método estatístico que permita a compreensão da causalidade da lesão esportiva a partir de sua natureza multifatorial para possibilitar a identificação de relações não lineares entre as variáveis biomecânicas e lesão muscular (FONSECA et al., 2007). Assim, pode-se ter a dimensão de como a soma

desses fatores de risco e a interação entre eles favorecem que o atleta sofra uma lesão muscular em uma dada situação.

Este estudo apresenta algumas limitações a serem consideradas:

1) Custos financeiros e dificuldades de execução do presente estudo podem ter comprometido o seu desenvolvimento. Como os equipamentos eram deslocados para a sede do clube, a quantidade de convites previamente encaminhados, foi restrita e também proporcional à possibilidade financeira do grupo de pesquisadores.

2) Avaliação única dos saltos verticais no início da temporada: avaliações em outros momentos ao longo da temporada podem fornecer informações adicionais sobre uma possível alteração sazonal da assimetria bilateral de força, fornecer subsídios relevantes sobre como os jogadores de futebol adaptam-se aos efeitos do processo de treinamento e jogos e também, auxiliar no planejamento de medidas preventivas durante a temporada.

3) Por último, pode ter ocorrido viés de suspeição da exposição que é ocasionado geralmente devido ao desconhecimento de lesões anteriores, o que acaba por viciar o estudo devido a uma informação tendenciosa e supervalorizada, sobretudo entre os atletas lesionados. Deveriam ter sido coletadas, para auxiliar na análise dos dados, as lesões musculares prévias.

O presente estudo buscou contribuir com as discussões acerca de uma adequada compreensão da causalidade da lesão muscular em jogadores de futebol para possibilitar a identificação de sua relação entre as variáveis biomecânicas. A realização desse estudo irá contribuir com as discussões sobre lesões musculares, um fenômeno complexo e importante de ser investigado no meio esportivo. Ainda permanece inconclusiva a evidência de déficits musculares na pré-temporada para estimar lesões musculares independentemente da tarefa motora.

6 CONCLUSÃO

Em vista dos resultados apresentados no presente estudo, conclui-se que as forças de reação do solo do salto vertical padronizado com contramovimento fornecem valores desiguais de assimetria bilateral de força de acordo com a variável dinâmica para um mesmo atleta. Dessa forma, os valores de pontos de corte para categorização de jogadores de futebol em assimétricos devem ser específicos à tarefa aplicada e à variável dinâmica de interesse.

Levando-se em consideração as assimetrias bilaterais de força e os valores de desempenho das variáveis dinâmicas (impulso, força máxima e potência máxima) mensuradas em um sistema de duas plataformas de força e extraídas das forças de reação do solo do salto vertical com contramovimento, entende-se que esses não se associam individualmente a lesões musculares não-traumáticas de membros inferiores em jogadores de futebol profissional.

Em virtude do que foi mencionado, sugere-se novos estudos que associem fatores de risco e lesões musculares que possibilitará a compreensão da causalidade da lesão esportiva a partir de uma concepção de integração de fatores (visão multifatorial).

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