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2.5.1 – A relação Escola/Família

De acordo com Zenhas (2004), existe uma consciência crescente do papel que a parceria escola-família desempenha no sucesso educativo das crianças e dos jovens. Em pleno século XXI, como se relacionam estas duas instituições, escola e família? Esta relação é complexa e um tanto ou quanto polémica, uma vez que ultrapassou a

tradicional distribuição de funções, em que “a família educava e a escola instruía”. Actualmente, a escola debate-se com o problema da reduzida participação da família na vida escolar dos alunos, sendo os encarregados de educação de baixo nível sócio-cultural referidos como os que menos participam (Zenhas, 2004).

De acordo com a Teoria da Sobreposição das Esferas de Epstein (Sanders & Epstein, 1998), as duas instituições Escola e Família têm objectivos comuns e importantes para as crianças – o seu desenvolvimento harmonioso e o seu sucesso educativo e académico. Estes poderão ser mais fácil e eficazmente alcançados se houver colaboração entre a Escola e a Família, sobrepondo, parcialmente, as suas áreas de influência. Também, Bronfenbrenner, em 1987 (Zenhas, 2004), salientou que o desenvolvimento humano é condicionado pelos “diversos sistemas contextuais”, em que se insere, e que “a qualidade desse desenvolvimento depende das interconexões sociais entre esses contextos”.

A literacia familiar é um conceito complexo com múltiplas dimensões, tendo sido muito estudado por vários sociólogos e antropólogos. O conceito de literacia familiar engloba todas as actividades que ocorrem dentro de casa e não apenas actividades semelhantes às da escola. Benjamin e Lord (1996) definiram a literacia familiar como um conjunto de meios orais, gráficos e simbólicos através dos quais os elementos familiares trocam e retêm a informação e o seu significado. Pode também ser o nível geral em que os membros da família usam a escrita, a leitura, os computadores, a comunicação e as estratégias de resolução de problemas para atingirem as diversas tarefas do seu quotidiano. Anderson (1994) afirmou que a literacia familiar reconhece os pais como os primeiros professores das crianças. Deste modo, a literacia dos pais é crucial para o desenvolvimento da literacia das crianças. A International Reading Association’s Family Literacy Commission também tem em conta os tipos de famílias e o contexto familiar quando descreve a literacia familiar.

Com os programas de literacia familiar procuram-se ultrapassar ciclos de dificuldades educativas, fornecendo múltiplos instrumentos que os pais e as crianças podem usar para melhorar a sua literacia (Padak , Sapin , & Baycich 2002). Os investigadores que promovem estes programas têm contribuído para estabelecer diversos ambientes de aprendizagem, em que os pais e as crianças desenvolvem actividades científicas juntos, considerando e aproveitando o potencial de participação dos pais (Hall & Schsverien, 2001).

A comunidade pode trabalhar conjuntamente para aumentar a literacia dos estudantes, desenvolvendo-se num grupo crescentemente colaborante e mutuamente

responsável Essa atitude pode começar no contexto escolar. “A escola… envolve a comunidade maior na construção de um consenso acerca de padrões [rigorosos] tanto para os estudantes como para a escola.” “Todos os membros da comunidade escolar mantêm-se responsáveis pela aprendizagem dos estudantes.” Os pais necessitam de desempenhar um papel no cumprimento destes objectivos (Cohn-Vargas & Grose, 1998).

É benéfico haver projectos entre crianças e pessoas mais velhas. Nas últimas décadas, algumas crianças nunca contactaram com hábitos tradicionais ou porque nem os pais os conhecem ou porque ninguém teve tempo para lhes ensinar. As crianças actuais crescem em condições diferentes das gerações anteriores, pois os pais estão mais ocupados. Por exemplo, é importante saber quantas vezes as famílias partilham as refeições. As refeições familiares são essenciais, pois as crianças necessitam de falar com os adultos que conhecem. É necessário que os pais estabeleçam uma relação pessoal com a escola para fortalecer o sentido de comunidade, em que os adultos se preocupam com as crianças e com o que estas serão (Scherer, 1998).

A pesquisa confirma que factores exteriores à escola influenciam o sucesso dos alunos na aprendizagem da leitura, por exemplo, os ambientes familiares das crianças e as experiências de literacia pré-escolar. Muitas escolas têm desenvolvido programas de literacia familiar (Holloway, 2004), uma vez que é cada vez mais importante a interacção “escola-família”, tendo surgido programas “para envolver os pais na dinâmica escolar” (Marques, 1988). Pretendem-se, assim, abrir novas perspectivas de abordagem da temática do (in)sucesso escolar (Neves, 2000).

Nickse (1990) afirmou que os programas de literacia familiar são esforços organizados para melhorar os níveis de literacia de pais e crianças socialmente desfavorecidos. Apesar de poderem ser formulados de diversos modos, partilham a filosofia de que os avanços da literacia se conseguem melhor através de um processo social partilhado. A International Reading Association’s Family Literacy Commission também tem em conta os tipos de famílias e o contexto familiar, quando descreve a literacia familiar. Com os programas de literacia familiar procura-se ultrapassar um ciclo de dificuldades educativas, fornecendo múltiplos instrumentos que os pais e as crianças podem usar para melhorar a sua literacia (Padak et al., 2002).

As avaliações dos programas de literacia familiar, de acordo com Knell e Geissl (1992), revelam que: os objectivos pessoais e familiares dos participantes variam muito, resultam melhor quando se desenvolvem redes de trabalho entre os participantes, actividades directamente relevantes para os participantes resultam melhor e a avaliação

é mais efectiva quando é participativa e integrada no programa desenvolvido (Padak et al., 2002). Estes parâmetros serão tidos em conta no planeamento, concretização e avaliação do nosso projecto de conversas em casa.

As referências que consultámos foram unânimes em considerar que os programas de promoção da literacia se centram nas interacções familiares, o que estimula a aprendizagem dos elementos intervenientes.

Por vezes, a relação escola-família tem de ser estimulada. Existem países com iniciativas deste género, de carácter regular, havendo aspectos comuns a salientar seguidamente.