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5.1.1. Tipo de Relacionamento

Para a generalidade dos entrevistados, quer da parte dos Dirigentes do ISS, I.P, quer por parte dos dirigentes das entidades parceiras (Instituições sem fins lucrativos), o tipo de relacionamento atual é formal e limita-se ao estabelecido no acordo de cooperação (veja-se a Tabela 5 e o Quadro I do Anexo D):

Tabela 5 - Tipo de Relacionamento

Subcategoria Unidade de Registo

Formal Caraterizamos esta relação de forma institucional, verdadeiramente institucional” (E2)

“Mais formal, mais exigente e aqui esta exigência é na formalidade, não quer dizer que, no passado (…)” (E2)

“ (…) no passado a formalidade existia, mas havia uma condição informal que era perfeitamente aceite ou que funcionava com alguma naturalidade, dentro da própria formalidade. Hoje, em dia, esta relação não tem espaço para essa condição informal (…) ” (E2) “Depois é formal demais, porque as pessoas já levam consigo orientações e eu sou adversário dos guiões técnicos, porque aquilo é “chapa 5” para todas.” (E5)

Fonte autoria própria

A natureza contratual da cooperação entre o Estado e as Instituições não lucrativas é também referida pelos entrevistados (veja-se a Tabela 6):

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Tabela 6 - Tipo de Relacionamento: natureza contratual

Subcategoria Unidade de Registo

Formal “ eu diria que (…) o contrato está sempre subjacente” (E2)

“É uma minuta do acordo de cooperação, de modelo contratual, que foi discutida entre o Estado e os representantes das instituições.” (E7) “Ou seja, em última análise, a contratualização, via Modelo de Cooperação, visa dotar uma resposta social aos cidadãos, sendo que as IPSS são esse veículo, no sentido de o Estado, por via destes contratos, apoiar as instituições no desenvolvimento daquela resposta social.” (E7)

Fonte autoria própria

Apenas um entrevistado, E3, discorda deste entendimento e carateriza a relação atual entre o Estado e as instituições sem fins lucrativos como menos formal:

“No passado a relação era mais formal, unicamente de verificação de tudo aquilo que

está enquadrado legalmente e das exigências, de forma a verificar-se se estava tudo a

ser cumprido da forma como está estipulada no acordo de cooperação e na legislação

enquadrante. Neste momento, eu acho que também devido à caminhada que foi

sendo feita, as instituições também nos procuram de forma a aperfeiçoarem processos

de trabalho e nesse aspeto acabamos por criar uma relação de trabalho diferente,

nunca esquecendo, claro, que somos o regulador”.

Esta visão contraria a opinião de E2, que defende que atualmente “esta relação não tem espaço para essa condição informal”.

5.1.2. Caraterização da relação

Na análise efetuada foram abordadas várias subcategorias representativas das dicotomias existentes na relação entre o Estado e as instituições sem fins lucrativos, tendo sido obtidos os seguintes resultados que passamos a explanar.

Tendo em conta as perceções recolhidas, verifica-se que prevalece a visão de verticalidade na relação, destacando-se no discurso palavras como “delegação”, somos o “regulador e

33 “tutela”, as quais indiciam que a relação não é horizontal, isto é não é uma relação de igual para igual entre dois parceiros (veja-se tabela 7).

Tabela 7 – Relação vertical com controlo centralizado.

Subcategoria Unidade de Registo

Relação vertical com controlo

centralizado

“nós somos e seremos sempre tutela, transferimos a responsabilidade, para as instituições, através dos acordos de cooperação, mas pagamos por ela, portanto temos de exigir a qualidade do serviço, pois estamos a pagá-lo”. (E1)

“Mais hierarquizada” (E2)

“No sentido em que o Estado coopera e delega às instituições aquilo que é a componente do apoio social (…) portanto nesta delegação há um financiamento dirigido às instituições e que permite garantir o funcionamento da resposta.”

(E2)

“às vezes o que sinto é que o Estado delega nas IPSS a responsabilidade, com todas as exigências e carga burocrática.” (E6)

Fonte: autoria própria

Apenas dois dos entrevistados têm a visão da existência de uma relação horizontal de cooperação entre os atores sociais:

“É uma relação biunívoca, portanto há aqui um equívoco, que está por esclarecer: a Segurança Social não tutela as instituições. É esta a minha posição.” (E5)

“Mas, no fundo, existe uma Rede Solidária, com a comparticipação por parte do Estado, em que o Estado assume que as IPSS e as Instituições equiparadas são o seu parceiro privilegiado para a criação e para a disponibilização desta rede de respostas sociais aos cidadãos.” (E7)

De acordo com as perceções de todos os entrevistados, destaca-se uma relação de conflito/tensão:

“Mais do que conflito, eu acho que há uma tensão permanente entre o Estado e as IPSS.” (E5)

34 Esta relação de “conflito/tensão”, poderá ocorrer durante as várias fases do processo, ou seja, desde a fase de “subscrição dos acordos de cooperação” (E1) até à fase de acompanhamento, “porque as entidades não veem o Estado enquanto tutela, enquanto regulador. É verdade que somos parceiros, mas não deixamos de ser os reguladores da atividade e isso gera algum conflito, porque as instituições acham que é ingerência naquilo que é a sua autonomia.” (E1) Com base nas perceções recolhidas, identificámos os principais focos de conflito/tensão:

Tabela 8 – Principais Focos de conflito/tensão

Fonte: autoria própria

De salientar que as unidades de registo que apontam para a procura de cordialidade na relação, são num número reduzido e apontam muito para elementos não institucionais como os diferenciados na relação, isto é, algo dependentes da postura dos profissionais no terreno:

Principais focos de conflito/tensão Unidade de Registo

“Este processo de cooperação tem, no entanto, por vezes, uma condição, eu diria, conflitual (q.b.), ou seja, as instituições porque são organismos autónomos, têm a sua própria competência específica (…) nem sempre estão completamente abertas às necessidades da Segurança Social, naquilo que é a relação com a população mais desfavorecida.” (E2)

“No que diz respeito ao acompanhamento das respostas sociais, às vezes é uma relação de conflito (…) porque as instituições acham que é ingerência naquilo que é a sua autonomia.” (E1)

“É verdade que somos parceiros, mas não deixamos de ser os reguladores da atividade e isso gera algum conflito, porque as instituições acham que é ingerência naquilo que é a sua autonomia.” (E1)

“E por vezes existem situações de alguma tensão, quando as entidades não cumprem essas determinações legais e os nossos serviços têm de fazer recomendações” (E7)

“ (…)existe a perspetiva de que o valor de comparticipação da Segurança Social, não é suficiente. São estes os focos de tensão.” (E7)

“Esta tensão, também resulta de não existir um quadro de cooperação mais consentâneo com a realidade das instituições. Eu sei que isto passa por uma grande revolução e se politicamente estiverem disponíveis para assumir os custos.“ (E5)

Valor da Comparticipação da Segurança Social não é suficiente para o desenvolvimento da resposta social

Verificação de situações de incumprimento por parte das instituições sem fins lucrativos As instituições sem fins lucrativos não veem o Estado enquanto Tutela, enquanto regulador da atividade.

35 “ (…) nós Técnicos também temos de ter a capacidade de respeitar esse trabalho. Não esquecendo que as regras são para cumprir, mas fazer perceber (…) cujo intuito nunca será ir contra apenas por ir contra.” (E3)

“tenho conseguido, melhor ou pior, resolver os problemas, sem grande conflitualidade e tento passar isso às colegas. Não vamos entrar numa guerra aberta com a Segurança Social, porque nenhum de nós lucra.” (E6)

Na perspetiva de alguns dos entrevistados, “na maioria dos casos a relação é positiva ” (E7) e “pode, (…) num determinado momento, ser perfeitamente rica e até criativa naquilo que são as soluções para a população” (E2).

Embora os entrevistados do ISS, sejam da opinião de que a relação com as IPSS no que diz respeito ao acompanhamento técnico “tem vindo a ser de maior proximidade, tem-se vindo a estreitar” (E3), do ponto de vista dos dirigentes do Setor Social, a relação existente é de distanciamento. De acordo com estes entrevistados, as instituições sentem-se ao abandono, “no fundo cada instituição (…) [está] per si” (E6) ou existe uma subversão da natureza na relação, porque só assume uma proximidade quando é necessário tomar medidas corretivas: “próxima, mas perversa, porque estamos próximos quando se vai apontar algo que está mal feito, quando deveria ser uma relação de continuidade.” (E5)

De ambas as partes envolvidas no processo, entre o Estado e as instituições sem fins lucrativos, é destacada a importância da complementaridade na relação, a qual pode contribuir de forma positiva na prestação do bem social (veja-se tabela 9).

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Tabela 9 – Relação de Complementaridade

Fonte: autoria própria

Por outro lado, parece haver alguma convergência de opiniões entre os entrevistados do Setor Social, no que diz respeito à ênfase no controlo de resultados: E5 faz referência a uma preocupação por parte do Estado em “ver os resultados e não medirmos os compromissos.” Também E6 refere que o ISS “tem melhorado o controlo do financiamento, se o retorno corresponde ao que está no Compromisso, mas o Estado tem se ser mais do que isso.” Quanto ao controlo dos procedimentos, os entrevistados não falam de forma muito assertiva acerca desta matéria, no entanto verifica-se que as opiniões divergem. Um dos entrevistados do Setor Social, refere que a cooperação se rege por “guiões técnicos” (E5) e a postura dos técnicos da Segurança Social é fiscalizadora, relativamente ao cumprimento do estipulado no acordo (E5). Deste modo, se determinada alteração na resposta social “não estava no guião, não poderia ser aplicada.” (E5). Esta não é a perspetiva de um dos entrevistados, representante do ISS, I.P, em que destaca o “papel regulador” (E7) da Segurança Social, à qual compete “verificar se aquilo que está nos acordos de cooperação e na legislação é cumprido” (E7).

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