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Qual a relação entre os recursos materiais (financeiros, logísticos,…) disponíveis e a implementação/desenvolvimento da ENED?

3. Qual a relação entre os recursos e a implementação/desenvolvimento da ENED?

3.1. Qual a relação entre os recursos materiais (financeiros, logísticos,…) disponíveis e a implementação/desenvolvimento da ENED?

Das constatações realizadas a partir dos discursos produzidos pelos diversos atores é importante, desde logo, destacar a convergência de posições entre eles – independentemente da sua natureza institucional (ONGD, ESE, Instituições públicas) e do seu papel na ENED (promotores, ESPA, Comissão de Acompanhamento) – acerca da inexistência de financiamento e/ou orçamento específico para a implementação/desenvolvimento da ENED. Este posicionamento é ilustrado pelo seguinte excerto:

“Ponto menos positivo, mais negativo, penso, desta Estratégia é a falta de recursos financeiros, (…). É difícil… Nós estamos a falar de uma Estratégia que é extremamente ambiciosa e que quase não tem recursos nenhuns” (E8).

A inexistência de financiamento próprio para a implementação/desenvolvimento da ENED, no entanto, refere-se ao desenvolvimento de ações que concorram para alcançar os Objetivos 1, 2, 3 e 4, dado que os Objetivos 5 e 6 tiveram verbas atribuídas. Constata-se, assim, que o financiamento disponível se destinava à implementação de atividades transversais como a realização de Jornadas, Fóruns, acompanhamento e avaliação da ENED. A exceção a esta afirmação é a existência do contrato-programa estabelecido entre o Camões, I.P. e a Direção Geral de Educação para o desenvolvimento de atividades no âmbito do Objetivo Específico 2. Um dos promotores (corroborado por outro) destaca mesmo que a existência de recursos financeiros alocados quase exclusivamente à consecução dos Objetivos 5 e 6, deixando a concretização dos restantes à ação (e recursos próprios) das entidades promotoras, cria até a dificuldade de compreender o que significa a “implementação” da ENED:

“(…) o próprio Plano de Ação não ter alocado uma previsão de recursos, traz aqui uma questão de fundo (…). Fala-se em implementação da ENED, mas a ENED foi implementada? O que é que é a implementação da ENED? (…) (E 3.1) [E 3.2 – “Pois, é isso”] (…) Tem um plano de ação mas não tem recursos alocados. Como é que isso é feito? Como é que podes dizer que a entidade X implementou a ED neste [objetivo]. Não! Há a realização de projetos que contribuíram para … [em uníssono] a concretização do objetivo”(E3, anexo 4.4.B).

37 A falta de financiamento específico para o desenvolvimento/implementação de ações conducentes à concretização dos Objetivos 1 a 4 da ENED é vista como um problema pelas organizações promotoras de ações, na medida em que não permite incrementar mais atividades de ED (cf. E1, anexo 4.2B; E2, anexo 4.3B; E3, anexo 4.4.B; E5, anexo 4.5B2; E8, anexo 4.7C1). Esta mesma constatação pode ser ilustrada através do seguinte discurso:

“Se eu estou a dizer que quero fazer um projeto que envolva as escolas, que envolva materiais, que envolva formação dos professores que vão trabalhar com esses materiais, que vão ser produzidos em colaboração com eles etc., nós precisamos de dinheiro... Isto dito de uma forma muito clara, para pôr estas coisas em ação. Não é dizer que este é um aspeto negativo, mas é um aspeto que por vezes nos compromete e condiciona os nossos projetos (…)” (E5, anexo 4.5B2).

Já no Relatório “Global Education in Portugal”, produzido pelo GENE foi recomendado que se fizessem “todos os esforços para aumentar e diversificar o financiamento disponível para a

implementação da estratégia nacional” (GENE, 2014: 50).

É de salientar que, no questionário às entidades promotoras, o fator avaliado de forma mais negativa, no que diz respeito ao impacto da ENED nas organizações promotoras, são o financiamento e os recursos (cf. tabela 18, anexo 4.10B). Quando questionadas sobre o impacto que a existência da ENED teve no trabalho desenvolvido pelas organizações, o “financiamento da ED” é o que obtém uma maior percentagem de discordâncias, com 42,9% dos respondentes a assinalarem a opção “discordo totalmente”, tendo os itens “os recursos materiais disponíveis” e “escassez de tempo para um maior investimento em ED” obtido 21,4% de discordância total dos respondentes relativamente ao impacto da ENED. Nestes mesmos itens, se consideradas as respostas situadas nos valores mais baixos da escala, o posicionamento negativo acerca destes itens sobe para mais de metade dos respondentes. Da análise por tipo de entidade de pertença dos respondentes, depreende-se alguma coerência no posicionamento de maior discordância quanto ao impacto do fator “financiamento em ED”: 4 em 5 ESE, 4 em 14 ONGD, 2 em 4 outras organizações da sociedade civil, e 2 em 5 outras organizações públicas a assinalar a opção “discordo totalmente” (cf. tabela 19, anexo 4.10B). No mesmo sentido, quando questionados sobre o balanço da experiência na organização, 75% dos respondentes ao questionário indicam os 3 valores mais baixos de concordância relativamente ao item “Garantiu um financiamento adequado” (cf. tabela 24, anexo 4.10B), sendo que este item é o que tem uma média mais baixa nos valores de concordância (cf. tabela 23, anexo 4.10B). Esta tendência mantém-se em todos os tipos de entidade: no item “garantiu um financiamento adequado”, 17 dos 28 respondentes, dos quatro tipos de promotores, assinalaram os dois níveis mais negativos da escala (cf. tabela 25, anexo 4.10B).

38 Esta informação corrobora aquela que é apresentada nos Relatórios de Acompanhamento acerca da proveniência dos fundos que financiam as ações de ED das entidades promotoras. Qualquer que seja o tipo de entidade, os fundos próprios são os mais identificados14, ainda que não por referência a montantes de financiamento, mas sim a número de ocorrências.

Este dado é reforçado pela análise do modo como as entidades promotoras indicam como, de um modo global, no período de vigência da ENED, evoluiu o financiamento das atividades de ED nas suas organizações (cf. tabela 41, anexo 4.10B). Esta indicação, não referindo montantes, alude à perceção dos inquiridos face ao modo de evolução de financiamento das suas ações no período considerado. Verifica-se que o tipo de financiamento que as entidades referem mais ter aumentado no período de vigência da ENED (ligeiramente e substancialmente) é o que respeita a fundos próprios (32,1%+10,7%). Os “fundos próprios” (32,1%) e, com menor expressão, os “programas setoriais de financiamento público nacional para a ED” (17,9%) e “outro financiamento público nacional” (17%) foram os que mais registaram um aumento ligeiro. No entanto, refira-se também a existência de situações em que estes mesmos fundos diminuíram ou se mantiveram (cf. tabela 42, anexo 4.10B).

É também de realçar o papel que a linha de cofinanciamento do Instituto Camões, I.P. tem no financiamento de atividades de ED reportadas no âmbito do desenvolvimento da ENED (cf. Relatórios de Acompanhamento 2012 a 2014): as ONGD, para além dos fundos próprios, destacam o Camões, I.P. como segunda entidade que mais financia ações de ED15 enquanto outros tipos de entidades não destacam de forma significativa uma fonte de financiamento em específico. Do mesmo modo, no questionário às entidades promotoras (cf. tabela 41, anexo 4.10B), os “programas setoriais de financiamento público nacional para a ED” são indicados como a segunda fonte de financiamento que mais aumentou ligeiramente e substancialmente (n=5+3).

Se atentarmos que a esta fonte de financiamento têm acesso apenas ONGD, mas que estas são as entidades que em maior número reportam atividades, compreende-se a preponderância que a linha de cofinanciamento de ED do Camões, I.P. tem no financiamento de ações que concorrem para a concretização da ENED. Não obstante esta preponderância, a Comissão de Acompanhamento afirma que foi uma opção explícita que a ENED não condicionasse a linha de

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São aqui considerados apenas os anos de 2012 a 2014, dado que no Relatório de Acompanhamento 2010/2011 a percentagem de financiamento não identificado é muito elevada, enviesando a leitura comparada (ONGD: 23%; Instituições Públicas: 69%; ESE: sem dados).

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Reforça-se que esta indicação se refere ao número de ocorrências, ou seja, ao número de ações reportadas, e nunca a montantes. Isto mesmo é referido nos Relatórios de Acompanhamento, do mesmo modo que se assume que o interesse em conhecer montantes envolvidos em ED colide com a dificuldade em harmonizar modos de contabilização desses montantes dada a diversidade de natureza das entidades envolvidas, bem como dos seus modos de organização e setor de atividade.

39 cofinanciamento de ED do Camões I.P. de modo a respeitar o direito de iniciativa das organizações (cf. E2, anexo 4.3B), ou seja, a atribuição de cofinanciamento não estaria dependente da vinculação da candidatura aos objetivos menos cumpridos da ENED, assumindo assim que a linha cofinancia projetos de ED e não a ENED. Isto mesmo é corroborado por um antigo membro da Comissão de Acompanhamento (cf. E3, anexo 4.4.B).

3.2. Qual a relação entre os recursos humanos disponíveis e a

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