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LEGISLAÇÃO DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL E SEUS IMPACTOS NO PATENTEAMENTO, NA

4.3 Evolução dos indicadores de propriedade industrial no Brasil

4.3.5 Relações de cooperação

Parcerias entre empresas nacionais e filiais estrangeiras

Entre os argumentos positivamente relacionados ao fortalecimento da propriedade industrial, esperava-se o aprimoramento das relações de cooperação entre empresas nacionais, estrangeiras e centros de pesquisa. Tal expectativa estava relacionada a uma maior garantia dos DPI, que tornaria os agentes mais seguros a realizar parcerias tecno- lógicas, minimizando o risco de apropriação de seus investimentos por terceiros.

O Gráfico 8 apresenta a evolução de um tipo específico de parceria: os depósitos de patentes titulados em parceria por empresas nacionais e filiais estrangeiras. Apura-se

que, ao menos até 2005, tais parcerias não apresentaram evolução. Em uma compara- ção entre os períodos 1991–1995 e 1999–2005, esses depósitos mantiveram-se estáveis, passando de uma média anual de 21,6 para 22,6.

Gráfico 8 – Patentes e desenhos industriais depositados em parceria por empresas nacionais e filiais estrangeiras no Brasil

opapeldasuniversidadesecentrosdepesquisa

Parte das patentes e DI depositados por pessoas jurídicas são representadas por outras instituições que não empresas, como universidades e centros de pesquisa. Em uma análise realizada para os anos 1991 e 2005, Zucoloto (2009) observou que essas insti- tuições apresentaram presença elevada e crescente nos depósitos de pessoas jurídicas no Brasil, com participação média de 11,3%, entre 1991 e 1995, passando a 14,8% na média de 1999–2005. Parte significativa dos depósitos realizados pelas instituições de pesquisa66 foi

realizada na forma de parceria com as demais pessoas jurídicas. Entretanto, a participa- ção das parcerias no total de depósitos envolvendo instituições de pesquisa apresentou,

66 Engloba universidades, faculdades, fundações, institutos, centros de pesquisa e Embrapa.

1991 2000 0 5 10 15 20 25 30 35 40 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005

no período analisado, tendência decrescente, de 62,5% entre 1991–1995 para 33,7% na média de 1999–2005.

Gráfico 9 – Participação de instituições de pesquisa nos depósitos brasileiros de patentes e DI

Fonte: Inpi. Elaboração própria.

Esses dados são relevantes especialmente por duas razões. Primeiramente, pelo debate em torno da necessidade de as universidades atuarem como agente propulsor da geração de patentes no país. Certamente, diversas políticas públicas ainda podem ser implementadas para facilitar tal objetivo, se este for definido como meta a ser atingida no país — dado que, mais que a geração de patentes, o papel central das universidades é a formação de recursos humanos qualificados e a realização de pesquisa básica e aplicada. Todavia, a grande responsabilidade pela elevação na geração de inovações patenteáveis, se desejável para o país, necessariamente será do setor privado, responsável, nos países desenvolvidos capitalistas, pela criação de tecnologias promotoras da competitividade. O segundo ponto refere-se à expectativa de aumento das parcerias entre universidades e demais instituições para a geração de patentes. Como observado, tal fenômeno não pode ser constatado, ao menos até 2005

1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 0% 10 20 30 40 50 60 70 80 o 5 1o 15 2o 25 (%)

Universidades de Insituições de pesquisa/Total Parcerias

Participação Média Período 91-95 96-98 99-05 Univ./Total 11,3% 11,0% 14,8% Parerias/Univ. 62,5% 45,3% 33,7%

CONCLUSÃO

Direitos bem definidos de propriedade industrial são defendidos por sua capacidade de promover a geração e a atração de investimentos tecnológicos, ao garantir que as ino- vações não seriam copiadas por concorrentes. Considerando que os inovadores seriam avessos a comercializar tecnologias com países em que tais direitos são pouco definidos, sua estruturação facilitaria a transferência tecnológica entre fronteiras. Contudo, algu- mas experiências históricas sugeriram que o fortalecimento dos DPI tende a ser benéfico somente quando o país já desenvolveu capacitações inovativas suficientes para se tornar competitivo no mercado mundial; até este momento, a adoção de engenharia reversa seria o melhor caminho para o aprendizado tecnológico e a geração de competitividade. Nesse caso, o fortalecimento dos sistemas de PI poderia, por si, não ser o melhor caminho para estimular a inovação doméstica em países que ainda não possuem capacitações pró- prias. Pelo contrário, o fortalecimento dessa legislação poderia restringir seu processo de aprendizado. Complementarmente, países em desenvolvimento podem realizar con- sideráveis atividades tecnológicas voltadas para a adaptação de tecnologias importadas, que não geram inovações patenteáveis, mas poderiam ser aprimoradas na presença de DPI frágeis.

No Brasil, diversos indicadores sugerem que, mesmo com a entrada em vigor da LPI, não foi observado um salto tecnológico na economia brasileira. As patentes de invenção de não residentes, que historicamente dominaram os depósitos no Brasil, incrementaram sua participação após a introdução da LPI no país. Nesse processo, as despesas líqui- das com royalties e licenças sofreram considerável aumento, alcançando US$ 2,7 bilhões em 2011. Além disso, o patenteamento brasileiro manteve-se em relação à importância econômica e populacional do país, não sofrendo alterações significativas. Complemen- tarmente, a participação dos depositantes brasileiros no patenteamento internacional não sofreu alterações após a LPI (1997–2007), mantendo-se, em média, em 0,27 %. Para os períodos analisados, é possível observar uma evolução no que se refere aos depósitos através do PCT, nos quais a participação de titulares brasileiros passa de 0,19% para 0,30% entre 2000 e 2010.

Cabe ainda ressaltar que, nas décadas de 1990 e 2000, o crescimento dos depósitos de DI por residentes no escritório brasileiro foram mais expressivos que os de PIv. Apesar de serem modalidades com finalidades diferentes, é possível afirmar que as PIv represen-

tariam invenções tecnológicas mais substanciais e estariam mais fortemente associadas ao salto tecnológico esperado com o fortalecimento dos DPI.

Em relação ao desempenho comparativo por origem de capital das empre- sas, cons- tatou-se que, entre os períodos anterior (1991–1995) e posterior (1999–2005) à entrada em vigor da LPI, houve um incremento nos depósitos de empresas nacionais (71%) e, especialmente, filiais de empresas estrangeiras (238%) no Brasil. Também se observa um crescimento no número de firmas depositantes em ambos os casos, novamente com des- taque para as filiais estrangeiras. Entretanto, ressalta-se que, em ambos os casos, a varia- ção observada foi fortemente impulsionada pelo crescimento de depósitos de desenhos industriais, o qual foi acompanhado por uma redução proporcional dos depósitos de patentes de invenção. Complementarmente, estimou-se que a participação média de filiais estrangeiras na indústria brasileira, entre os períodos 1994–1995 e 1999–2005, passou de 0,55% para 0,89% e, se considerarmos somente empresas de grande porte (acima de 500 empregados), essa participação passou de 12% para 23,9%. Além dis- so, o aumento dos depósitos de filiais estrangeiras foi impulsionado especi- almente pelos segmentos de borracha e plástico e minerais não metálicos, en- quanto, entre as firmas nacionais, o destaque se concentra no setor farmacêutico. Ao considerarmos somente os setores intensivos em tecnologias — farmacêutico, infor- mática, produtos eletrônicos, instrumentação e outros equipamentos de transporte (inclui aeronaves), o crescimento de depositantes nacionais alcançou 29,1%, comparado a 14,1% entre as filiais estrangeiras (1991–1995 e 1999–2005).

Averiguou-se que, também no Brasil, as patentes não aparecem como o principal mecanismo de apropriabilidade utilizado pelas empresas, cuja liderança, no caso brasi- leiro, cabe intensivamente às marcas. Destaca-se também que, entre empresas de grande e pequeno porte, aquelas que depositam desenhos industriais gastam proporcionalmente mais em P&D e outras atividades inovativas que as depositantes de PIv. Esse é mais um indicador que sugere os desenhos industriais como destaque no país entre os mecanis- mos de apropriação tecnológica, se comparado à PIv.

Por outro lado, verifica-se que o esforço tecnológico em P&D apresentou evolução ao longo dos anos 2000, apesar de não ter sido o suficiente para a indústria brasileira alcançar os padrões observados na OCDE no início dessa década. Outros indicadores de inovação, disponibilizados pela Pintec, apresentam evolução especialmente entre 2005 e 2008, como

o percentual de empresas depositantes de patentes no país. Tal elevação foi impulsionada, primordialmente, por setores não intensivos em tecnologia, como bebidas, calçados, artigos de borracha e plástico, produtos minerais não metálicos e outros equipamentos de trans- porte (que inclui aeronaves). Ressalta-se que, exatamente nesse período, diversas políticas públicas de apoio à inovação tecnológica foram criadas ou fortalecidas no país, como a sub- venção econômica, a Lei do Bem e a elevação dos recursos dos fundos setoriais67. Entre os

desdobramentos deste trabalho, destaca-se a possibilidade de avaliar o impacto de diversas políticas no fortalecimento tecnológico observado no país, comparando a LPI e as medidas de incentivo à inovação. Todavia, neste momento, levanta-se a hipótese de que tais medi- das podem ter tido um papel relevante na evolução dos dados observados em 2008.

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