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Como adiantamos acima, a privatização da CVRD trouxe conseqüências diretas na maneira como os homens e mulheres iriam se relacionar no espaço fabril. Houve uma mudança nas relações sociais de produção. As relações sociais de produção “são constituídas pela propriedade econômica das forças produtivas. No

capitalismo, a mais fundamental dessas relações é a propriedade que a burguesia tem dos meios de produção, ao passo que o proletariado possui apenas a sua força de trabalho”325.

323 . O curioso é que este debate veio à tona no segundo turno das eleições de 2006 entre Lula e

Alckmin. Mas, da parte do PT e de Lula era mais uma “saudação à bandeira” do que um compromisso perante o povo. A denúncia contra os tucanos de que privatizaram o país não se traduziu no governo Lula na reversão de nenhuma privatização; ao contrário, foi privatizada a Previdência dos Servidores Públicos, foram privatizados bancos estaduais, como do Maranhão e Ceará; continuaram os Leilões da Petrobrás para a entrega de Blocos inteiros ao capital privado nacional e multinacional; foram instituídas as PPP’s (Parcerias Público-Privada), tudo no melhor estilo neoliberal.

324

. Cf. MARX, Karl. O Capital; Livro I , Vol. I; pág. 408. Diz Marx: “Na sociedade em que rege o modo capitalista de produção, condicionam-se reciprocamente a anarquia da divisão social do trabalho e o despotismo da divisão manufatureira do trabalho”.

325

. Cf. BOTTOMORE, Tom (Org.). Dicionário do Pensamento Marxista. Tradução Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar, 1988; pág. 157.

A nível geral Marx já havia colocado essa questão no Prefácio de sua Contribuição à Crítica da Economia Política ao afirmar que

“na produção social de sua existência, os homens estabelecem relações determinadas, necessárias, independentes de sua vontade, relações de produção que correspondem a um determinado grau de desenvolvimento das forças produtivas materiais”326.

É verdade que a composição acionária da CVRD não era 100% estatal327, que grupos privados nacionais e internacionais intervinham diretamente nas resoluções produtivas da companhia, principalmente em se tratando de empresas de países imperialistas, como é o caso do Japão, no caso da Albrás e da Alunorte. Mas, era um fato de que a maioria do controle acionário da CVRD pertencia ao Estado brasileiro, e conseqüentemente, ao povo brasileiro que paga os impostos, independentemente das discussões que façamos acerca do caráter de classe do Estado brasileiro, que, em última instância, serve aos interesses da burguesia enquanto classe social.

Mas, ao passar a ser dirigida cem por cento por grupos capitalistas privados nacionais e internacionais, há uma mudança de qualidade, que passará a interferir a partir de então nos destinos da empresa e das fábricas da ALBRAS e da ALUNORTE, objeto de estudo do nosso trabalho.

De certa maneira a CVRD, mesmo sendo estatal, já se sobressaía em muito em relação aos empresários privados de nossa região por conta da aplicação de métodos modernos da gestão de trabalho, principalmente o Controle de Qualidade 326

. Cf. MARX, Karl. Contribuição à Crítica da Economia Política. 2ª edição. São Paulo: Martins Fontes, 1983 (Novas Direções); pág. 24.

327

. Mas é importante destacar que na primeira etapa de sua existência (1942 a 1990), antes da onda

neoliberal invadir a empresa, 90,91% das ações da CVRD eram do governo federal. Cf. MINAYO,

Total, na versão toyotista. Desde 1990, a CVRD já vinha utilizando o método “flexível” no processo de trabalho, incidindo diretamente na redução do quadro de pessoal. Minayo (2004) já havia detectado isso no estudo que fez nas minas de Itabira – MG, onde dava conta de que em 1990 (ano do início do enxugamento programado da força de trabalho) existiam 4.189 postos de trabalho, passando para 2.112 em 1997 e, em 1999, dois anos após a privatização, os postos de trabalho se reduziam a 1.701, chegando finalmente a 1.638 e, 2004328. Ao mesmo tempo, a produção mineral aumentava de 31.623.063 milhões em 1990, para 36.636.586 toneladas de minério, em 1999.

Este processo já vinha se dando na ALBRAS, conforme o estudo de Carmo, e nossas pesquisas, com uma substancial redução do quadro de pessoal329. Ou seja, já se preparava o caminho para a privatização com um enxugamento considerável do número de trabalhadores. Isso significa que não só foram introduzidos novos métodos de trabalho, mas houve incremento de tecnologia e principalmente, aquilo que Marx (1996) chamava a intensificação do processo de trabalho ou mais-valia relativa.

A privatização da CVRD e, por conseguinte, de suas empresas como a ALBRAS e ALUNORTE intensificou o ritmo e a exploração do trabalho. Um dos dados que nos autoriza a concluirmos desta maneira está na própria tabela 13 (p.151), onde em 1996 havia um contingente de 1.739 trabalhadores na ALBRAS, sendo que em 2000 esse número havia sido reduzido para 1.306 trabalhadores. Ou seja, há, após a privatização da CVRD, a demissão de 433 operários, uma redução de 25% do quadro de trabalhadores da ALBRAS. Ao haver uma diminuição

328 . Cf. MINAYO, Maria Cecília de Souza. Op. Cit., pág. 289.

expressiva no número de trabalhadores e ao manter-se – e até aumentar – o ritmo de produtividade, conforme a tabela 14, só nos resta concluir que houve um aumento no nível de exploração dos operários, expresso na intensidade do ritmo de trabalho, na maior operacionalidade das máquinas, na intensificação dos CCQs e na mudança do trabalho dos turnos, que vai ser um retrocesso para os operários da ALBRAS.

4. MOVIMENTO OPERÁRIO E A LUTA CONTRA A

REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA NAS FÁBRICAS DA

ALBRÁS E DA ALUNORTE