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Relacionando o Desenvolvimento Psicomotor com a Avaliação Psicomotora

A Psicomotricidade é a relação de consciência entre o corpo, a mente e a sociedade. Pelo fato de estar ligada ao desenvolvimento do ser humano desde muito cedo, ela ajuda no processo de formação e estruturação do esquema corporal e objetiva estimular a prática de movimento em todas as etapas da vida de uma pessoa, principalmente na infância.

Uma criança cujo esquema corporal é mal elaborado não organiza bem os movimentos. Suas habilidades manuais tornam-se limitadas, a leitura perde a harmonia, o gesto vem após a palavra e o ritmo da leitura não é mantido, ou então é interrompido no meio de uma palavra.

De acordo com Oliveira (2009b), o esquema corporal é dividido em três etapas: Corpo Vivido (até os três anos), Corpo Percebido (de três a sete anos) e Corpo Representado (sete a doze anos). Vamos nos voltar para a definição de “Corpo Percebido” porque envolve a faixa etária descrita neste estudo.

O Corpo Percebido (ou “Descoberto”) é a fase em que o ajustamento do corpo ao meio deixa de ser natural e passa a ser controlado, apesar de a criança não ter uma boa dissociação gestual. A criança passa a ter um maior domínio de seu corpo, melhorando suas ações e adquirindo uma maior coordenação dentro de um espaço e tempo determinados.

É sabido que o desenvolvimento psicomotor de um indivíduo ocorre, inicialmente, na vida intra-uterina da criança e é nesta fase que ela começa a organizar o seu comportamento através de sinais emitidos ao mundo exterior sendo estes, basicamente sinais motores.O desenvolvimento psicomotor é considerado a base do comportamento, não apenas nos primeiros meses de vida, quando a motricidade compõe a resposta comportamental preferencial, mas durante a vida, uma vez que todas as formas de comportamento, do mais

singelo ao mais complexo, do reflexo a reflexão, são realizados por meio de uma resposta adaptativa motora ou muscular. O domínio dos movimentos e a perfeição com que eles são executados “garantem a criança a sua independência e autonomia locomotora o que torna disponível para sua sociabilização da sua experiência”. (Fonseca, 2008, p.495)

Na criança, o desenvolvimento psicomotor surge nos analisadores sensoriais e, depois, nos efetores motores. Sendo assim, a criança obtém primeiro a capacidade de focagem atencional e espacial, sem a qual não poderia estabelecer relações com os outros, ou até mesmo com os objetos que a rodeiam, e é através dessa apreensão de espaço que virá a gerar movimentos como reais ações objetivas orientadas para os objetos, manipulando-os e explorando-os, ou seja, aprendendo-os e, por analogia, aprendendo-se.

Já vimos no capítulo anterior que a avaliação psicomotora é um instrumento utilizado para medir e avaliar o desenvolvimento das capacidades psicomotoras gerais dos indivíduos. Não é, obrigatoriamente, aplicada somente em crianças, mas geralmente isto ocorre porque esta etapa da vida é muito importante para o desenvolvimento psicomotor do indivíduo por ser mais fácil a detecção e correção de distúrbios psicomotores.

A avaliação psicomotora nos indica alguns aspectos do desenvolvimento infantil como idade psicomotora e, a partir de um estudo de comportamento dos avaliados, quais serão os exercícios que poderão ser aplicados para cada criança.

Algumas crianças podem ter a mesma idade cronológica, porém desenvolvimento psicomotor diferente. Pode acontecer, por exemplo, de uma criança de 6 anos de idade apresentar uma habilidade psicomotora abaixo do rendimento esperado para esta idade. Cabe ao profissional, que aplicará a bateria de exames, perceber esta diferença e apresentar à criança atividades que explorem esta habilidade que está deficiente para que ela possa se desenvolver tanto quanto as outras.

Sabemos que, se o educador e os pais proporcionam às crianças experiências psicomotoras desde cedo, elas provavelmente terão um bom desenvolvimento psicomotor. Crianças que não têm ou não tiveram experiências psicomotoras enfrentam problemas para se situar claramente em seu próprio corpo e acabam tendo um atraso em relação aos que a rodeiam. Sendo assim, se for detectada alguma dificuldade na aprendizagem ou no comportamento da criança, pode-se lançar mão da avaliação psicomotora para confirmar as suspeitas e ajudar a sanar o problema.

Esta avaliação psicomotora não deve ser trabalhada apenas por um profissional porque a criança não desenvolve suas habilidades psicomotoras em um local determinado. Estas habilidades estão sendo desenvolvidas a todo momento.

Segundo Oliveira (2009a) se faz necessário que os responsáveis pela educação da criança (pais, professores e responsáveis) se unam e se completem no sentido de trabalharem juntos as dificuldades que possam estar por trás do não aprender e do não desenvolvimento psicomotor.

De acordo com Fonseca (2008), os problemas de atraso motor sofrido por algumas crianças dependem, em grande proporção, da cultura e da capacidade dos adultos que, por exemplo, continuam esquecendo as necessidades espaciais e de movimento, que são fundamentais para o desenvolvimento global da criança.

Pode-se dar ênfase a atividades relacionadas à habilidade relatada por educadores e pais como sendo a habilidade em que a criança apresenta dificuldade, mas é importante que todas as habilidades psicomotoras sejam avaliadas pois elas também podem estar sendo prejudicadas por esta habilidade que está deficiente. O objetivo é aplicar atividades que possam revelar a situação atual da criança e ajudá-la no seu desenvolvimento psicomotor.

Segundo Rosa Neto (2002), é importante que a avaliação siga alguns critérios como:

• Saber qual a intenção do exame (orientação, seleção, avaliação, diagnóstico clínico, etc), já que cada objetivo necessita de enfoque e instrumentos específicos;

• Identificar os aspectos que são importantes para o examinador, ou seja, que tipo de informação ele deseja obter;

• Obter informação técnica e científica sobre o teste: confiança, precisão e consistência do instrumento.

Além disso, é preciso que saibamos que tal avaliação também necessita ter objetivos traçados antes de ser aplicada nos indivíduos. Alguns destes objetivos são:

1. Avaliar as realizações e habilidades psicomotoras da criança e não só as desadaptações que interferem na aprendizagem escolar;

2. Detectar o estilo motor, considerar os elementos da motricidade que definem a execução do ato motor, ou seja, a maneira de estar e de executar de cada criança, levando em conta as diferentes modalidades de integração afetivo emocional;

3. Traçar o perfil de dificuldade que servirá de base para estabelecer um plano de orientação terapêutica, isto é, estabelecer estratégias para uma educação e reeducação mais adequadas.

Para que a avaliação aconteça dentro do previsto pelo avaliador é preciso que o mesmo tome algumas atitudes como:

• Tomar cuidado com o local de exame. O lugar deve reunir condições mínimas para a realização do teste (iluminação, higiene, espaço para a execução das atividades, etc) e checar se o material que será utilizado na aplicação do teste está preparado e organizado antes do início do teste

• Propiciar um ambiente agradável e buscar deixar a criança à vontade. É indispensável que se estabeleça uma relação de afeto com a criança antes da aplicação do exame motor;

• E, em especial, o examinador deve respeitar todas respostas dadas pela criança sem que sejam emitidos juízos de valor que possam atrapalhar a espontaneidade da mesma.

Para se avaliar o nível de desenvolvimento motor de uma criança, mais alguns aspectos, além dos relacionados acima, devem ser observados. Tudo o que ocorre antes, durante e, se possível, depois da aplicação do teste, deve ser observado e descrito pelo avaliador. Alguns exemplos destes outros aspectos a serem observados são :

• O tipo físico da criança (magra, alta, atlética, baixa);

• As características sociais;

• Se a criança fica cansada facilmente;

• Postura e comportamento geral da criança como: timidez, alteração na respiração, inibições, ansiedade;

• Aspectos ortopédicos que possam exercer influência nos resultados das provas (se faz uso de algum aparelho ortopédico);

• Expressão verbal: o timbre da voz, a maneira de falar, de se expressar, espontaneidade e o conteúdo da linguagem;

• Se a criança consegue entender as instruções da prova e se consegue manter a concentração na atividade ou se dispersa facilmente;

O avaliador deve ter em mente que o exame psicomotor deve ter objetivos sérios e não deve ser aplicado de qualquer forma e em qualquer lugar. É preciso ter acesso aos instrumentos básicos requeridos pelas atividades que foram selecionadas para serem aplicadas as crianças com a intenção de que os testes sejam bem sucedidos. Também é necessária uma ótima organização das atividades e que elas sejam aplicadas de acordo com uma estratégia pré-planejada pelo avaliador. Se o exame motor for aplicado de forma errada pode causar uma má interpretação dos resultados e não satisfazer a pesquisa.

CONCLUSÃO

Vimos neste estudo que o desenvolvimento psicomotor é muito importante para a vida de uma pessoa e que seu ápice ocorre na infância. Ele é principal maneira, se não a única, de o indivíduo adquirir conhecimentos sobre o seu corpo e aperfeiçoar habilidades como lateralidade, coordenação motora global e fina, estruturação espacial e temporal, equilíbrio, ritmo e sua noção de esquema corporal e imagem corporal.

Tivemos a oportunidade de entender com este trabalho o que é a Avaliação Psicomotora, como ela é aplicada e de que forma pode contribuir com os professores, pais e responsáveis e, principalmente, com o próprio avaliador para que descubram o nível de desenvolvimento psicomotor da criança, se este acompanha a idade cronológica e de que maneira pode contribuir para a solução das dificuldades que são relatadas pela criança e descrita pelo avaliador.

Tivemos acesso a fundamentações propostas por vários autores a respeito do desenvolvimento psicomotor e da avaliação motora, como o primeiro ocorre e como a segunda pode ser utilizada.

Vimos que é importante uma boa organização da avaliação motora embasada em critérios e objetivos para que os resultados sejam mais fidedignos possíveis e que tal avaliação possa colaborar para a educação e reeducação (caso haja necessidade de reparar alguma habilidade prejudicada). É preciso também, como já foi dito, um lugar apropriado para a aplicação do teste. O avaliador deve proporcionar encontros sempre agradáveis para a criança e a avaliação motora, uma melhor qualidade de vida. Podemos concluir então que qualquer criança tem direito a prática psicomotora para que suas habilidades possam ser desenvolvidas. É importante a conscientização de professores, pais e responsáveis para esta condição da criança: necessidade de movimento. É preciso, caso notem

alguma coisa diferente no comportamento da criança, confiar estes problema aos professores e profissionais capacitados (psicomotricistas) para que possam aplicar a avaliação motora (se necessário) e ajudar a sanar o problema, com respaldo científico e técnico adequado.