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Sensações cinestésicas: dão capacidade ao indivíduo de avaliar, sem controle visual, a direção e a velocidade do movimento e a posição das extremidades e do tronco.

Indivíduos com uma boa organização de espaço conseguem ter consciência dos objetos que fazem parte deste espaço estando à sua frente, ao seu lado, longe, perto e atrás. As crianças pequenas ou que não desenvolveram bem esta noção espacial têm certo custo para perceber este espaço existente atrás delas, por isso, quando elas se voltam, os objetos e as situações localizadas atrás deixam de existir.

Quando a criança consegue se orientar no meio em que vive, estará mais preparada para compreender a orientação espacial no papel (Oliveira, 2009b). Muitos educadores, preocupados somente com o desenvolvimento espacial vinculado a aprendizagem da leitura e da escrita, não se preocupam em trabalhar estas noções em nível de movimentação corporal, de assimilação das ações, e tentam iniciar esta orientação pelos exercícios que envolvem a grafia. Isto é uma falta gravíssima, pois levam as crianças apenas a aprender a partir da imitação de gestos e memorizar o que lhe é imposto sem que haja alguma modificação mental expressiva.

A criança que tem uma boa orientação espacial no papel, mentalmente ordena sua folha ao exprimir-se por meio da escrita, antes de executar estas ações.

Depois que já assimilou e orientou as coisas, a criança passa a ordená- las, combinando-as com diversas orientações. Neste momento, a criança não utiliza mais de seu corpo como fonte de referência, escolhendo ela mesma suas próprias referências, sob diversas orientações. Ela aprende então as noções de distância, direção, passa a antever, a adiantar e transpor objetos.

A criança desenvolve também a memória espacial, o que vai lhe permitir sentir a ausência de um objeto em determinado lugar e copiar uma ilustração anteriormente observada.

A partir de uma boa estruturação espacial a criança se torna capaz de se localizar e se mover tranquilamente no meio em que vive. É uma fase baseada unicamente no raciocínio (pensar/prever para depois agir/executar).

Muitas complicações podem resultar de uma má integração da estruturação espacial. São várias as razões que impedem ou delongam o total desenvolvimento da criança, como por exemplo (Oliveira, 2009b):

a) Restrição de seu desenvolvimento mental e psicomotor;

b) Crianças impedidas de terem experiências corporais e espaciais e que não possuem oportunidades de manipular objetos a sua volta;

c) Crianças que não desenvolveram a idéia de esquema corporal, ocasionando prejuízo na função de interiorização;

d) Crianças que ainda não conseguiram determinar a dominância lateral e nem compreender as noções de direita e esquerda através da internalização de seu eixo corporal.

e) Dificuldades na interpretação mental de várias noções.

As causas não terminam aqui. Muitas podem ser calamitosas na aprendizagem escolar. A autora, baseada nos estudos de alguns autores, como Le Boulch e De Meur, conclui que:

• Muitas crianças que não conseguem compreender os termos espaciais se confundem quando se exige delas uma noção de localização, de orientação, tanto em seus momentos de lazer, quanto na sala de aula;

• Às vezes elas têm conhecimento dos termos espaciais mas não distinguem as posições. Isto pode colocar sua aprendizagem em risco, pois não diferenciam as direções das letras. Ex: “b” e “p”, “6” e “9”, “b” e “d”, “p” e “q”, etc.

• Algumas crianças, aparentemente, percebem o espaço que as rodeia mas não têm memória espacial. Elas “esquecem”, ou se confundem com o sentido das representações gráficas (letras).

• A falta de organização espacial é um fator muito detectado, até mesmo em adultos. Significa que são indivíduos que constantemente colidem ou tropeçam em objetos. Manifestam diversas vezes indecisões quando necessitam desviar de um empecilho no caminho, não sabem que direção tomar. Além de não conseguirem arrumar seus objetos pessoais em um armário ou gavetas.

Não consegue também, por conseqüência, ter a orientação espacial no papel, a consciência da dimensão de seus desenhos ou escrita. Isto vai obrigar o indivíduo a desenhar algumas partes e apertar outras em um canto da folha.

Na escrita, não obedece a direção horizontal da linha, podendo ocorrer declives ou aclives. Na leitura e na escrita, tem complicações para obedecer a ordem e a sequência das letras nas palavras e das palavras na frase. Podem não ter capacidade para locomover os olhos no decurso da leitura seguindo o sentindo esquerda-direita e até chegar a saltar uma ou duas linhas.

A orientação espacial, que a criança tem que aprender quando tem oportunidade de interagir com o meio que vive, está intimamente associada a orientação temporal. Todo e qualquer indivíduo só consegue se locomover em um espaço e tempos definidos. Não se pode citar um sem falar no outro.

7 - Estruturação ou Organização Temporal

Segundo Thompson (2000, p. 50), “é dentro do tempo que nos orientamos no espaço e que organizamos nosso espaço vital”. Como são noções muito abstratas, as noções de tempo podem ser bem difíceis de serem absorvidas pelas crianças e, a fim de auxiliar a aprendizagem destas noções, é necessário fornecer os vários elementos que fazem parte do tempo (velocidade, duração e sucessão).

A criança localiza seus atos e suas práticas em períodos de vigília-sono, de antes-depois, manhã-tarde-noite, ontem-hoje-amanhã. As relações de tempo apenas existem pelas ligações estabelecidas mentalmente pela criança entre suas ações. Para o entendimento do tempo é essencial a ação da memória.

Crianças com modificações nessa área não conseguem antecipar as suas ações; não completam todas as atividade propostas por que se atrasam na realização de alguma outra; não conseguem unir o gesto a palavra na leitura expressiva; não notam a duração dos eventos (se vai devagar, se vai depressa ou quando ocorre uma pausa).

Para que uma criança aprenda a ler é indispensável que obtenha domínio do ritmo, uma sequência de sons no tempo, uma memorização auditiva e diferenciação dos sons.

“O ritmo é uma condição inata do ser humano, e é suscetível de educação. A falta de habilidade rítmica pode ser causa de uma leitura lenta e silabada, uma vez que a leitura é constituída por uma sucessão de elementos gráficos que são traduzidos em elementos sonoros”. (Thompson, 2002. pág. 51)

Segundo Oliveira (2009b, p. 85), “as noções de corpo, espaço e tempo tem que estar intimamente ligadas se quisermos entender o movimento humano”. O corpo se organiza, se move de forma contínua dentro de um espaço definido, em função do tempo, em relação a um conjunto de informações.

Por isso sempre há citações da orientação espacio-temporal, de maneira agregada. Porém há necessidade de estudar espaço e tempo separadamente para que possamos compreender melhor seus fenômenos constitutivos.

Existem dois tipos de tempo: o estático e o dinâmico (Oliveira, 2009b, p. 86). Quando um escritor de romance histórico define como presente uma série

de acontecimentos em um determinado tempo na história, está manipulando o tempo estático. Todos os fatos ocorridos terão correlação anterior e posterior com este presente estático e é este o fim do tempo histórico que foi apresentado por ele.

Nós estamos vivendo no tempo dinâmico, que também pode ser chamado de experiencial, onde o curso do tempo transcorre pelas noções de passado, presente e futuro. Este curso do tempo quer dizer que eventos do passado são conhecidos, os do futuro desconhecidos ou que podem ser antevistos e os do presente podem ser praticados imediatamente.

Da mesma maneira que é importante ter uma boa orientação da escrita no papel, a palavra falada requer que sejam proferidas palavras de uma maneira organizada e consecutiva, uma atrás da outra, seguindo certo ritmo e dentro de um tempo definido.

Para que uma criança seja capaz de assimilar a leitura é indispensável que ela tenha domínio do ritmo, uma consecutividade de sons no tempo, uma memorização auditiva, uma diferenciação de sons, um reconhecimento das repetições e da duração dos sons das palavras.

Percebe-se uma grande conexão entre estruturação temporal e a linguagem. A obtenção da palavra presume uma passagem no tempo, uma vez que a linguagem é uma sequência de fonemas no tempo. Presume-se também uma melodia das palavras e das frases, uma variedade na frequência e na intensidade e finalmente uma ordenação das informações percebidas.

Uma pessoa deve possuir a competência de distinguir os conceitos de ontem, hoje e amanhã. Uma criança pequena não consegue ultrapassar suas ações para o passado ou para o futuro. Para ela o importante é o presente, o que está sendo vivenciado agora. Os eventos que acontecem no passado geralmente se encontram confusos e misturados com a noção de presente. Ela não consegue perceber a sucessão de acontecimentos.

A estruturação temporal é o que vai lhe assegurar uma prática de localização dos acontecimentos já ocorridos, e a capacidade de lançar-se para o futuro, podendo assim planejar suas atitudes e decidir que rumo tomar na vida.

A palavra “tempo” é utilizada para apontar os instantes de mudança. O homem se inclui no tempo. Ele nasce, cresce e morre e sua ação é uma sucessão de mudanças. O organismo humano “vive em função de um certo ‘relógio interno’, condicionado pelas suas atividades diárias” (Oliveira, 2009b, p. 88).

As horas em que nos alimentamos também devem ser respeitadas. Se um indivíduo almoça no mesmo horário, todos os dias, saberá especificar as horas pela necessidade que tem de se alimentar. Se ele passa do horário em que está acostumado, na maior parte das vezes, sua fome tende a se tranquilizar, o que leva o seu organismo a programar outros hábitos, interferindo no seu “relógio interior”.

Para Rosa Neto (2002), nós entendemos a passagem do tempo a partir das mudanças que se originam em um período instituído e da sua sequência que transforma pouco a pouco o futuro em presente e depois em passado.

A organização temporal pode ser devida a dois elementos: a ordem e a duração que o ritmo reúne. A primeira elucida a sucessão existente entre os acontecimentos que se criam, uns sendo o seguimento dos outros, em um arranjo físico sem volta; a segunda consente a variabilidade do período que separa dois momentos, isto é, o início e o final de um evento.

A noção que temos de duração redunda em uma elaboração ativa do indivíduo de informações sensitivas. Sua análise é extremamente difícil e torturante porque nos mostra o passo obrigatório do tempo. O conteúdo concreto da duração (mudança, velocidade, espaço percorrido, movimento, crescimento da medida) possibilita a base de nossas informações de tempo e sua organização.

Temos que acrescer à noção de tempo, a de velocidade e suas relações circulares, o tempo e sua duração são analisados em função de uma ação cuja velocidade é constante (ex: rotação da Terra ou dos ponteiros de um relógio), enquanto a velocidade se entende como uma distância percorrida durante um período de tempo.

Dentro da estruturação temporal inclui-se uma dimensão racional (conhecimento da ordem e da duração, fatos que acontecem com intervalos), uma dimensão convencional (sistema cultural de referências, horas, dias, semanas, meses, anos) e uma aparência de comportamento que se manifesta antes dos outros dois (percepção e memória da sequência e da duração dos fatos na inexistência de componentes racionais) ou convencionais. O conhecimento do tempo se organiza sobre as modificações percebidas – independentemente de ser continuação ou duração, seu atraso está ligado à memória e à reunião da informação contida nos eventos. As perspectivas relacionadas à percepção do tempo progridem e aprimoram-se com a idade.

“No tempo psicológico, organizamos a ordem dos acontecimentos e estimamos sua duração, construindo assim, nosso próprio tempo. A percepção da ordem nos leva a distinguir o simultâneo do sucessivo, variando o umbral de acordo com os receptores utilizados”. (Rosa Neto, 2002. Pág. 23)

Oliveira (2009b), baseada nos estudos de De Meur, Santos, Morais, Kephart e outros autores, concluiu que existem algumas dificuldades que podem se originar de uma má orientação temporal. São elas:

• Algumas crianças podem não perceber os intervalos de tempo, ou seja, não perceber que existem espaços entre as palavras. Não percebem também se estão indo devagar ou rápido. Geralmente, estas crianças escrevem as palavras sem interrupções, uma ligada na outra, além de se confundirem com a ordem dos acontecimentos.

• Algumas crianças podem demonstrar confusão na organização e na sequência dos componentes de uma sílaba, ou seja, não percebem o

que vem primeiro e o que vem por último. É uma noção importante pois sua falta impede a criança de começar seu gesto no local certo. Ex: Poderá, na formação de palavras, escrever a segunda letra na frente da primeira. A criança pode escrever “porblema”, ao invés de problema, pois não entende a sequência gráfica (espaço) de movimentos e não percebe o som da letra “r” como ocorrendo primeiro. Esta dificuldade está vinculada ao espaço e ao tempo simultaneamente.

• Há possibilidade de ocorrerem problemas de ausência de padrão rítmico contínuo.

A ausência de ritmo motor provoca uma falta de coordenação na execução dos movimentos. A criança se move (anda, corre, salta) em um período de tempo sem continuidade, isto é, sem coordenar muito bem o ritmo dos membros superiores em relação aos inferiores.

O ritmo auditivo geralmente está vinculado ao motor, já que é estudado junto com as atividades que envolvem a dança e os jogos.

• Problemas na ordenação de seu tempo: a criança não consegue antever suas atividades. Se delonga em uma tarefa e não consegue terminar outra por “falta de tempo”.

• Crianças com dificuldades de fazer representação sonora no cérebro: elas se esquecem da correlação dos sons com as letras que as correspondem.

• Quando uma criança desenvolve apenas as estruturas espaciais se transforma em mera “repetidora de palavras”. Isto significa que identifica as relações espaciais no papel, distinguem as palavras, porém não conseguem incorporá-las no tempo; elas ficam soltas e, por conseguinte, a criança não compreende o sentido. Isto compromete sua percepção, que acaba sendo aquém do esperado e, consequentemente,

sua escrita também fica prejudicada por obter sequências de eventos no espaço.

• Quando a criança tem uma boa estruturação temporal, mas não espacial, transforma-se em uma leitora pobre, atrasa-se numa leitura que deveria ser breve e, por isso, fica muito dependente ao contexto. Muitas vezes se utilizam de sinônimos para preservar o contexto, mas não conseguem reproduzir o que está na folha.

CAPÍTULO II