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CAPÍTULO II – O TERCEIRO SETOR: CONCEITOS E CONTEXTUALIZAÇÃO CONTEXTUALIZAÇÃO

2.2 – RELEVÂNCIA E PROBLEMÁTICAS DO TERCEIRO SETOR NA SOCIEDADE ATUAL

Com a crise do Estado Providência o Terceiro Setor, em desenvolvimento a nível mundial, cresce e fortalece-se, com o aumento das necessidades sociais e como contra-argumento às políticas neoliberais.

Jacob (2001), no seu estudo sobre a importância do Terceiro Setor na Europa, refere alguns exemplos de sucesso:

− Na Suécia existem 200.000 OSFL com 32 milhões de associados. O que significa que cada cidadão é associado de 4 associações;

− Na Itália 25% dos serviços sociais são de empresas de economia social;

− Em França, de 1982 a 1990, o número de profissionais sociais de nível 4 e 5 (Assistentes, educadores, animadores e conselheiros familiares) aumentou 27%, de 150.516 para 191.660;

− Em França, em 1994, a previsão anual de crescimentos dos “Ajudantes de pessoas idosas ou dependentes” era de mais 8.000 a tempo inteiro;

− Em 1999, através do Programa “Novos Serviços, Novos Empregos” foram criados em França 150.000 novos empregos, dos quais 64.000 na economia social.

A relevância deste setor equaciona-se assim em diversos domínios, como económico, emprego, exclusão social e desenvolvimento local. Do ponto de vista económico na medida em que produz bens e presta serviços em inúmeras áreas de atividade económica (serviços sociais, saúde, ambiente, cultura, educação, desporto, inserção social profissional de públicos desfavorecidos, serviços de proximidade) e por, nas últimas décadas, as empresas sociais terem dinamizado novas áreas de atividade, novos produtos, novos mercados, em resposta a necessidades sociais não satisfeitas pelos setores público ou privado lucrativo: mercados convencionais (concorrenciais); mercados onde os poderes públicos promovem a delegação e contratualização de serviços públicos e de utilidade pública diretamente nas organizações do Terceiro setor ou em que o setor público têm dificuldade em satisfazer necessidades sociais pelo seu caráter muito específico; e nichos de mercados que, pelo baixo grau de retorno do investimento, não são atrativos para o setor privado lucrativo.

Ao nível do emprego e da luta contra o desemprego pois apresenta-se como um setor empregador – a Comissão Europeia estima que este setor reuna aproximadamente 9 milhões de empregos24-, um potencial de criação de emprego, e pelo facto de algumas das suas organizações se dedicarem à formação e à inserção socioprofissional, designadamente de públicos desfavorecidos. Com a Europa a apresentar taxas de desemprego crescentes, observa-se o aumento da importância da economia social e ao contributo da mesma para a criação de emprego e para a adoção de políticas macroeconómicas, onde se tem incluído medidas ativas do mercado de trabalho e um compromisso a longo prazo de inovação de recursos humanos. A Comissão Europeia

24 Commission Européenne, DG Emploi & Affaires Sociales, (2002), Les Nouveaux acteurs de l’emploi – Synthèse de l’Action

considera que estas organizações oferecem um contributo elevado para o equilibrio do mercado e da diminuição do desemprego pela Europa. Prevê-se uma criação média de 300.000 empregos por ano com base nas necessidades locais não cobertas25. A EU considera as empresas sociais como um dos grandes reservatórios de emprego no futuro (GGIC, 2000 como citado em Baptista & Cristovão, 2004).

Flynn (1998) reforça a ideia, dizendo que de acordo com as estatísticas da UE se estima que a economia social na Europa vá empregar cerca de 5,2% da população, ou seja, cerca de 7 milhões de postos de trabalho, e que o crescimento neste setor é mais acelerado do que no conjunto da economia. O estudo realizado em sete países europeus em 1990 pela Universidade Johns Hopkins26, constatou que durante os anos de 80 este setor contribuiu com um aumento de 12,7% no emprego, enquanto que no conjunto da economia este crescimento foi apenas de 6,8%.

Também o estudo de avaliação do terceiro setor europeu realizado pela ECOTEC (2001) constatou o seu potencial para a criação e manutenção do emprego na Europa e, ao mesmo tempo, preenche as falhas de mercado existentes na provisão de bens ou serviços numa grande variedade de situações de âmbito social, ambiental e cultural.

Relativamente na luta contra a exclusão social apresenta um potencial para a construção do modelo social europeu – o “novo” como o “velho” Terceiro setor emergiram em reação ao agravamento de problemas de pobreza e exclusão social e criaram novas respostas à satisfação de necessidades sociais, mas também novas soluções institucionais que corporizam formas de organização económica mais plurais, democráticas e participativas e que recusam a divisão entre a economia e o social. Na sua origem as organizações do Terceiro setor colocaram em marcha projetos económicos e sociais alternativos à economia de mercado e mais tarde reafirmam a sua especificidade e o seu potencial de inovação, criando novas formas institucionais e novas formas de trabalho em rede e parceria, autónomas do setor público e do setor privado. As organizações sem fins lucrativos, abrem as portas à expansão de atividades no âmbito do mercado social de emprego, assumem-se como elemento vital potenciador de coesão e inserção social, designadamente através da criação de emprego para públicos desfavorecidos.

Por último, contribuí para o desenvolvimento local pois a contribuição do terceiro setor para o desenvolvimento local pode ser direta, no caso das organizações cujo objeto de atividade

25 No seminário “Third System and employment”, realizado em 24 e 25 de setembro de 1988, no Parlamento Europeu,

organizado pela Comissão Europeia e pelo Parlamento Europeu foi reforçada a importância em termos de emprego destas organizações.

é o próprio desenvolvimento, mas fundamentalmente, é pela reunião das suas características que a sua ação converge para este sentido – a criação de resposta às situações, públicos e regiões mais deficitárias; a criação de emprego, o estímulo à participação.

O terceiro setor desenvolve-se com mais facilidade nos serviços de proximidade de apoio à sociedade civil, como é o caso:

− Dos serviços sociais: acolhimento de crianças, jovens e idosos, serviços ao domicílio, apoio aos desfavorecidos;

− Dos serviços de melhoria de vida: reparos da habitação, segurança, transportes coletivos locais, comércio de proximidade, revaloriza os espaços públicos;

− Dos serviços culturais e de lazer: turismo, desporto, valorização do património cultural e artísticos, ensino;

− Dos serviços do ambiente: como a gestão dos lixos e das águas, proteção de zonas naturais.

Ainda que muitos dos problemas inventaridos nas organizações sejam transversais, isto é, estão inter-relacionados entre si, podemos agregá-los em sete pontos (Baptista & Cristovão, 2004):

− Liderança – não existe por parte dos membros da direção uma dedicação suficiente à organização onde não são remunerados pelas suas atividades, pois desenvolvem atividades profissionais além da direção. Isto origina vários problemas como a falta de autoridade/reconhecimento dos técnicos com responsabilidade de execução e coordenação; dificuldade nas tomadas de decisão atempadas.

− Gestão de recursos humanos - este é um dos maiores problemas das organizações não lucrativas (conflitos interpessoais, rotação de recursos humanos, ausência de indicadores de desempenho, dualidades de critérios, baixas remunerações);

− Gestão financeira – os problemas aqui existentes resultam da falta de competências do pessoal nesta área (controle de caixa, dificuldades em implementar uma contabilidade de gestão, falta de gestão operacional);

− Financiamento - a elevada dependência do apoio estatal; a baixa prestação de serviços para o exterior por parte de algumas destas organizações (quebras de tesouraria; falta de autonomia financeira e estratégica);

− Ausência de planeamento estratégico – não existem objetivos nem uma estratégia definida, faltam atitudes pró-ativas; a falta de liderança e de autonomia financeira não ajudam à definição de planos estratégicos;

− Comunicação interna e externa - falta material publicitário e de divulgação das atividades no exterior, ausência de sítio na internet (imagem mal definida, baixa notoriedade);

− Equipamentos e instalações - deficiências resultantes da exiguidade de espaço, ou falta de condições.

Por esta análise observamos que merece destaque as questões relacionadas com a gestão destas organizações. A crescente importância deste setor levou a que as verbas destinadas a ele tivessem crescido, seja através de instituições de financiamento, seja pelo apoio do Estado, seja pela geração das receitas próprias. Desta forma, desenvolveu-se a necessidade de profissionalismo e da necessidade de informações para a gestão destas organizações (Rifkin, 1996).

Desde 1996 o Estado assumiu, com o Pacto de Cooperação27, o financiamento organizado dos serviços prestados pelas organizações mais representativas do setor, Misericórdias, IPSS e as mutualidades. No entanto, esta forma de financiamento não é suficiente para suportar os custos das diversas respostas sociais que as Misericórdias atualmente garantem, daí que seja importante uma terceira, e mais inovadora, forma de financiamento pois todos os estudos indicam o fim da ilusão do Estado-Providência. No campo do social a nossa sociedade enfrenta o desafio de promover a autonomia e a independência, através de políticas de inserção e de integração que sejam eficientes e eficazes. Deve-se introduzir políticas ativas que favoreçam a inclusão e envolvam todos os agentes sociais (Dias, 2011).

Seguidamente, vamos caracterizar o terceiro setor em Portugal, nomeadamente as suas origens, características e dados.