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Embora o tratamento de esgoto e a eliminação da poluição por óleo e lixo sejam um passo imprescindível, esta ação sozinha não será capaz de resolver o problema da degradação de rios e lagoas da região. A restauração e estabilização física de leitos e margens e a regeneração da biodiversidade são aspectos fundamentais.

Entende-se por Renaturalização, a realização de obras e outras atividades que tem como meta recuperar a integridade ecológica de rios e lagoas e de sua zona marginal. O processo de renaturalização não é uma obra de engenharia com início, meio e fim estabelecidos em cronograma. Em linhas gerais, é um processo de ajuda para que o rio se auto-recupere. Ele parte do principio do rio vivo (“living river”), ou seja, um rio é um ecossistema auto-ajustável que esta sempre recriando sua forma. Desta modo, após cada intervenção, no qual se projeta uma tendência, espera- se um tempo para observar o seu comportamento e parte-se ou não para nova intervenção. Trata-se de um gerenciamento adaptativo, como chamam os engenheiros e cientistas que estão recuperando o rio Colúmbia.

É uma tecnologia em franco desenvolvimento na Europa e na América do Norte, fruto da mudança de visão da sociedade sobre os rios e do reconhecimento da engenharia dos erros cometidos no passado na tentativa de “dominar” os rios através de barragens e obras de retificação. Na Europa, em particular na Alemanha, Inglaterra e na Escadinávia, assim como nos EUA e no Canadá, governos e sociedade civil tem realizado atividades simples e complexas para remodelar rios danificados, alcançando resultados estimulantes, inclusive em áreas urbanas.

Para exemplificar observa-se o caso do rio São João. A eliminação do lançamento de esgoto bruto no rio não representará água limpa e rio saudável, pois uma grande quantidade de barro permanecerá na água. A cor da água é reflexo da erosão das próprias barrancas do rio, causada pela retificação e pela eliminação das matas ribeirinhas, aliado a perda de solos da bacia e a mineração de areia. Outra questão fundamental: qual é a vazão mínima que a represa de Juturnaíba terá que liberar no inverno e no verão para permitir que o rio provoque uma pequena inundação das lagoas e brejos marginais, fato fundamental para assegurar a reprodução dos peixes?

Mesmo em rios dados como mortos, como os que atravessam cidades com curso canalizado e com margens concretadas é possível fazer melhorias. E os exemplos são muitos, abrangendo desde diminutos córregos que atravessam fazendas até rios grandes como o Mississipi, onde o exército americano esta refazendo os meandros, passando pelo mais recente que é o rio Colorado, também situado nos EUA. No rio Colorado, criou-se o “gerenciamento adaptativo” da usina hidrelétrica de Glen Canyon, concluída em 1963. O gerenciamento adaptativo tem por finalidade minimizar os impactos causados no rio à jusante pela barragem, entre eles uma colossal perda de areia, encolhimento das praias, invasão de plantas e peixes não-nativos, extinção de espécies nativas e a erosão de sítios arqueológicos.

O “gerenciamento adaptativo", afirmam os engenheiros e cientistas que executam o projeto, está baseado em dois princípios essenciais: primeiro, sistemas complexos são inerentemente imprevisíveis, é impossível saber as conseqüências das várias intervenções humanas. Segundo, a única forma de equacionar problemas complexos é por meio de um processo de colaboração, no qual todos que têm um interesse concordam em tentar novas medidas. Quando as experiências fracassam, como pode acontecer, os participantes têm de estar prontos para tentar uma outra coisa, com base nos interesses comuns. Espera-se evitar ou inverter o dano feito ao rio e às formas de vida manipulando os fluxos da represa, entre outras ações.

Em 1998 e 2002, o Projeto Planágua SEMADS/GTZ de cooperação Brasil-Alemanha, publicou dois manuais sobre renaturalização de rios, com base na experiência alemã. O segundo manual pode ser obtido em meio digital na

website da SERLA ( ).

Na Alemanha, a renaturalização fluvial compreende a restauração de rios e córregos com a finalidade de possibilitar a volta da fauna e da flora aquática e ribeirinha, e ainda a preservação das áreas de inundação, de modo a impedir quaisquer usos que impeçam esta função. Trata-se na verdade de resgatar os usos múltiplos do rio, indo de encontro aos objetivos da lei estadual dos recursos hídricos. Abandona-se a velha concepção de que rios são canais drenantes e de transporte de lixo, esgoto e águas de enchente. Em outras palavras, a finalidade é possibilitar a volta de usos nobres como a recreação, o lazer, esporte, contemplação e o abastecimento público, aliado à valorização paisagística e o retorno da biodiversidade aquática.

Os princípios que norteiam a renaturalização dos rios adotados pelo Departamento de Recursos Hídricos do Estado da Baviera, na Alemanha, são os seguintes:

Rios e córregos são mais que simples transportadores de água;

Rios e córregos devem ser protegidos contra lixo e esgotos com vistas à saúde pública;

Rios e córregos necessitam de seu espaço natural de escoamento, suficiente para evitar os danos provocados pelas enchentes;

Rios e córregos são áreas de recreação, esporte, lazer e contemplação;

Rios e córregos têm influência determinante nas paisagens, onde se torna importante a preocupação com o bem estar e o equilíbrio emocional do homem;

Rios e córregos têm papel decisivo no processo histórico de desenvolvimento dos núcleos urbanos e de comunidades rurais;

Rios e córregos são ecossistemas complexos;

Rios e córregos apresentam múltiplos usos, mas precisam de quantidade e qualidades mínimas para sua sobrevivência;

Rios e córregos necessitam da assistência e do envolvimento da população na sua preservação;

Rios e córregos não são somente áreas de exploração econômica para o homem;

Rios e córregos são essenciais à vida;

A renaturalização envolve obras e outros serviços como restauração de curvas eliminando-se trechos retificados, estabilização física de barrancas com artefatos de bioengenharia, reflorestamento ciliar, regeneração de brejos nas margens e paisagismo, dentro outros, que são implementadas a o partir de um projeto em cuja elaboração e execução devem participar engenheiros hidrólogos, florestais e agrônomos, arquitetos paisagistas, geólogos, geógrafos especialistas em geomorfologia fluvial e biólogos.

O manual SEMADS/GTZ ressalta os seguintes medidas:

• Permitir que o rio desenvolva um curso mais natural e volte a formar meandros. Depois de um

certo tempo, os processos erosivos fluviais se estabilizariam e assim, facilitariam o ressurgimento da biota, e conseqüentemente a revitalização do rio. Em comparação à situação anterior (rio retificado), necessita-se de mais áreas marginais;

• A mata ciliar melhora as condições ecológicas, hidrológicas e morfológicas. Por isso, nesses trechos de rios deve-

se proteger ou plantar mata de espécies nativas. Em geral, utiliza-se uma faixa com largura mínima de 30 metros, nas áreas rurais, para atendimento ao disposto no Código Florestal;

• Suspender as retiradas de areia para deter o aprofundamento do leito do rio. Esse rebaixamento é responsável

pela escavação das infra-estruturas de pontes e outras obras, tornando-as instáveis;

Não se deve postergar a renaturalização de rios contaminados por esgoto. Ao contrário, pode-se começar a recuperá- los através do reflorestamento das margens e de algumas obras emergenciais e mesmo de medidas preventivas tomadas pelas Prefeituras para evitar que a ocupação das margens se acentue. Uma campanha para evitar que a população jogue lixo nos rios é fundamental. Em suma, recuperar rios e lagoas exige muito mais que a aplicação dos instrumentos contidos nas leis nacional e estadual de recursos hídricos.

A renaturalização de rios tem como metas:

• recuperar os meandros dos canais;

• estabilizar as margens através de reflorestamento e de obras de contensão física das barrancas;

• restaurar habitas que são criadouros de filhotes de peixes e de aves, através da revitalização de lagoas e brejos

marginais;

O uso de gabiões e de estruturas de concreto deve ser evitado ao máximo. A prioridade deve recair no uso de materiais locais, como capim colonião para produção de cilindros, pedras, folhas de palmeiras, capim sapê, etc. Há empresas brasileiras que tem desenvolvido técnicas de bioengenharia e produtos biodegradáveis de elevada qualidade tal como strawmulch, adesivos orgânicos, geotêxteis, telas biodegradáveis e bermalongas, entre outras, todos biodegradáveis.

Anexo IV

Responsabilidades, Atribuições e Competências do Comitê da Bacia,