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A „Reorganização Diocesana‟ remonta ao século XIX, quando o Vaticano estabeleceu como objetivo o ultramontanismo com o fim de fortalecer a autoridade papal. No Brasil, no entanto, este projeto foi incorporado à necessidade de, a partir do advento da República, fortalecer o papel da Igreja frente ao Estado brasileiro.

O termo “ultramontano” aponta para “além das montanhas”, isto é, os alpes, que separam a França da Itália. Foi neste primeiro país que o ultramontanismo surgiu em reação a uma realidade que era vivenciada na França, como em outras partes do mundo católico, onde a Igreja estava se tornando inexoravelmente um departamento do Estado, dependente do poder civil.

Ivan Manoel define como ultramontano o catolicismo praticado entre os anos 1800 a 1960, norteado por certas atitudes teóricas e práticas tais como o reforço tradicional do magistério, condenação à modernidade, centralização de todos os atos da Igreja em Roma, no que se incluía a infalibilidade do Papa; e adoção do medievo como paradigma de organização social, política e econômica. Conforme o autor, os principais objetivos dessa política eram “de imediato, preservar a instituição em face das ameaças do mundo moderno e, a médio e longo prazo, recristianizar a sociedade, de modo a recolocar a Igreja como centro do equilíbrio mundial37”.

A partir do decreto 119-A, a Igreja teria então de conviver – pelo menos em tese – com a liberdade religiosa, o que não era desejado, a menos que tal liberdade fosse usada apenas para exercer seu pretenso direito sobre o povo, não sendo no sentido amplo de tolerância a outros credos. No entanto, apesar desse “divórcio” ter significado, em termos práticos, a liberação da Igreja duma relação assimétrica e servil, o Vaticano

Comunista de 1935‟. In: IV Encontro Estadual de História da ANPUH RN, 2010, Natal. Anais do IV Encontro Estadual de História. Natal: ANPUH-RN, 2010. v. I.

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Sobre a „Reorganização ou estadualização diocesana‟, ver: GOMES, Edgar da Silva. O catolicismo nas tramas do poder: a estadualização diocesana na Primeira República (1889-1930)." Tese de Doutorado, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. 2012; MICELI, Sergio. A elite eclesiástica brasileira. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1988;

considerava tal fato mais uma das “heresias modernas”38

. As mudanças que se processaram e tornaram possível tal rompimento foram engendradas pelo pensamento intelectual, com ênfase no liberalismo, que influenciou consideravelmente, catalisando o desmonte entre o secular e o religioso, ligados desde o século IV. A longa trajetória da instituição, apresenta, via-de-regra, à dificuldade de conviver com concepções de sociedade diferente da sua e, por conta disso, é que pensamentos e doutrinas como o liberalismo, positivismo, maçonaria, espiritismo, protestantismo e, notadamente, o comunismo foram inimigos tão incômodos, por vezes, supervalorizados em sua potência ameaçadora.

Parte da historiografia tradicional, voltada para compreender a relação entre o catolicismo e a política, acostumou-se a defender que a Igreja, após ser alijada dos tentáculos do Estado, se encolhe ou fica reclusa39. Sérgio Miceli, em „A elite eclesiástica brasileira‟ – entre outras contribuições que não cabem aqui –, investiga a transição do regime do padroado para um novo status político no regime republicano e dedica um capítulo para discutir a expansão organizacional da Igreja, conceituada por ele como “estadualização” do poder eclesiástico. A hipótese do autor é que o esforço organizacional materializado na fundação de dioceses em vários estados foi desempenhado como forma de seguir o caminho do Estado e suas novas configurações administrativas, após o fim do Império.

Edgar da Silva Gomes40 aprofundará a problemática em torno da reestruturação diocesana da Igreja Católica no Brasil e os seus vínculos com o Estado republicano após a separação Estado-Igreja. O autor persegue as articulações políticas que foram necessárias para que o objetivo da expansão diocesana fosse executado, nos apontando que ocorre uma articulação nos “bastidores”, seguido de uma reinserção de sua ideologia na nova cena política, até que pudesse reocupar sua posição nas tramas do poder, que ganharia um caráter tácito e não oficial, seguindo a regra do interesse, eventual ou constante. O enlace entre as referidas instituições, agora, se dará de forma mais interessante, pois não há obrigações mútuas a ponto que limite os programas de

38 A encíclica 'Quanta Cura', publicada em 1846 pelo então recém-pontífice Pio IX, dá a tônica do que preocupava e impelia à Igreja a se pensar. A primeira enumerava os “80 principais erros do nosso tempo”, com ênfase na Liberdade dos cultos, Laicismo, e, como 80º erro, aponta o que era conhecido como “a heresia do americanismo", ou melhor, a liberdade de religião, liberdade de pensamento, separação da Igreja do Estado.

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Op. Cit. AZZI, Riolando. 40 Op.Cit. GOMES, Edgar da Silva.

uma em detrimento da outra, como era no padroado, quando principalmente a Igreja se via emperrada pelas amarras do Império.

No limiar do século XX, reinicia-se a parceria entre Igreja/Estado, mas, agora, sem muita exposição pública da relação entre os dois poderes, resumindo-se à troca de favores no âmbito privado. Tudo isso conforme orientação do Vaticano acerca da hierarquia no que toca à recomendação de alianças políticas e doutrinárias com os setores dirigentes favoráveis às pretensões católicas, bem como ciência da colaboração ideológica eficaz que a Igreja estava em condições de prestar à consolidação da nova ordem social e política.

É presumível, portanto, que o rompimento oficial possibilitou um novo esforço organizacional que logrou êxito, pois se para a Igreja Católica havia o atrativo das benesses materiais, oriundas do aparelho estatal, para o Estado havia o interesse na legitimidade emanada pela religião que detinha o maior número de seguidores no país. Não menos importante era o fato de, nos primeiros anos de República, o Estado estar processando a transição para este novo regime político e tentando arranjar-se nos jogos de interesses e poderes e sem ter ainda clareza aa forma organizacional que deveria adotar.

Finalmente, houve um reforço no enfoque de poder estadualizado, no qual a radicalização e o mandonismo, nas figuras emblemáticas dos coronéis, mantiveram a economia agrária anterior. Tal arranjo espacial pautado pela fragmentação do território vai favorecer a reorganização institucional da Igreja, ou o que o autor chama de “estadualização diocesana”. O objetivo da expansão diocesana, conforme Gomes, não era apenas o de expandir o poder; havia o objetivo de manutenção e expansão da fé religiosa, bem como a vigilância dos fiéis e suas práticas, como modo de garantir o alinhamento com os ditames da Santa Sé. A Igreja temia que o poder político local se fortalecesse de tal modo que viesse a eventualmente gerar entraves no acesso aos fiéis, por isso ela se antecipa à fragmentação que virá a ocorrer. Todavia, para a alegria da Igreja, o restante do seu projeto de ocupar cada capital e as cidades-polo do país com uma diocese é assumido também pelas autoridades e políticos, que solicitam e dão respaldo financeiro à construção de dioceses em suas cidades, conforme demonstra Gomes41.

As tendências descentralizadoras do regime republicano, ou melhor, os padrões de controle político associado à vigência da “política dos governadores”, a montagem dos partidos republicanos nos diversos estados e a autonomia considerável de que passaram a dispor os clãs oligárquicos em âmbito local e regional favoreceram o processo de “estadualização” das políticas implantadas pelos detentores do poder eclesiástico. Os poderes locais viam na Igreja a possibilidade de ganharem legitimidade e fortalecerem o exercício do poder. Tal fortalecimento do poder local, para a Igreja, também é uma forma de se antecipar e barrar a influência de novas ideologias e filosofias concorrentes. Em resumo, duas estratégias confluíram para a reorganização do catolicismo no Brasil. Uma foi a preocupação e necessidade de “estadualizar” sua administração, para seguir os passos da centralização do poder civil e político. Outra se pautou nas estratégias geopolíticas da Igreja, com a intenção de dividir as dioceses nas regiões onde houvesse maior demanda do controle religioso sobre a população, denotando, como pontua o autor, que a expansão organizacional do catolicismo visava não somente marcar presença física em um território mais sim ser ativa e presente pastoralmente. Prova da efetiva expansão organizacional são os números que que dão conta da criação de 68 dioceses entre 1890 e 1930, enquanto entre 1551 e 1890 o país inteiro contava com apenas 12. O que corrobora também a hipótese do autor segundo a qual o regime do padroado servia, sobretudo, como amarras à Igreja brasileira42.

Dentro da mesma problemática, mas na contramão dos estudos de Miceli e Gomes, Maurício Aquino43, em „Modernidade republicana e „diocesanização‟ do catolicismo no Brasil‟ investiga as articulações, com suas tensões e conflitos, para o estabelecimento de projetos civilizatórios civis e eclesiásticos do Estado e Igreja, respectivamente, por meio do estudo de caso da criação e construção da Diocese de Botucatu/SP, entre a última década do século XIX e as duas primeiras do XX.

O contraponto que Aquino estabelece aos trabalhos de Miceli e Gomes se evidencia já no título da sua tese, ao utilizar o termo „diocesanização‟, invertendo a lógica de que a Igreja acompanha a reorganização do Estado, divergindo assim no que toca a reduzir estes esforços da Igreja à finalidade de se encaixar no pacto oligárquico. Para o autor, o conceito de „diocesanização‟ aponta para um conjunto de intervenções

42

Ibidem, p.111-112.

43 AQUINO, Maurício. Modernidade republicana e diocesanização do catolicismo no Brasil: a

construção do bispado de Botucatu no sertão paulista (1890-1923). Tese de doutorado, Universidade Estadual Paulista. 2012.

da Igreja Católica em torno do seu poderio institucional, no sentido de criar e organizar lugares próprios; lugares estes que se espraiam para além do âmbito territorial, incluindo lugares políticos (relações e situações de poder) e lugares teóricos (discursos)44.

Assim como Gomes, Aquino remonta à „diocesanização‟ à Europa de meados do século XIX, para compensar a perda de territórios eclesiásticos da península itálica e alhures. A atuação espacial da Igreja tornou possível que as áreas atingidas fossem passíveis de intervenções jurisdicionais eclesiásticas. Através de dioceses, prefeituras, prelaturas, paróquias e outras circunscrições, o controle religioso foi preservado e ampliado, sendo mantido o capital simbólico e poderio institucional que a Igreja católica romana é dotada. Mas por mais que este projeto de „diocesanização‟ estivesse atrelado às proposições da Santa Sé denotando um movimento de expansão em nível mundial, de modo algum isto aconteceu de forma homogênea. Por exemplo, enquanto no Brasil a personalidade jurídica da Igreja foi reconhecida (1917), o mesmo não aconteceu no México, que enfrentou problemas para criar e gerir dioceses45.

Os autores partilham também no sentido de apreenderem um sentido geopolítico para a criação das diversas dioceses que se espalham pelo país. Aquino demonstra, por exemplo, que a diocese de Botucatu foi significativa por situar-se na chamada “boca do sertão”, servindo como ponto de partida do governo estadual para atingir as regiões paulistas mais extremas, onde índios resistiram até o limite aos avanços das estradas de ferro e das companhias de colonização. Ainda, fazia-se necessário agir para com certas ameaças tais como protestantes, anarquistas e outros credos ou ideologias contrárias ao catolicismo. Destarte, as ações de reforma do clero e do laicato se desenvolveram criando uma rede de colégios e hospitais sob a direção da Igreja, sendo a diocese de Botucatu a resultante de uma complexa e entrelaçada articulação de projetos civis e eclesiásticos voltados para o sertão paulista46.

Nos últimos pontos acima explicitados, Aquino se afina com Gomes, o que é compreensível até pelo fato de ambos se utilizarem de fontes semelhantes, a exemplo do Arquivo Secreto do Vaticano e de várias cúrias metropolitanas brasileiras, onde ambos pesquisaram as cartas circulares, bulas, as encíclicas, os decretos, os diários, as

44 Ibidem, p. 24. 45

Ibidem, p. 82 – 103.

correspondências de padres, bispos, cardeais e núncios, os relatórios, as instruções, os manuscritos, os periódicos, entre outros.

O principal contraponto entre os dois autores – cuja problemática principal da pesquisa é tão representativa do título deste tópico – se dá por que Aquino atribui a criação de dioceses em capitais federais e distritos regionais a um ritmo próprio da Igreja católica e não uma adequação desta instituição à política republicana, o que estabelece um contraponto também com a obra de Miceli já referenciada47.

Não obstante estes esforços organizacionais da Igreja Católica brasileira estarem sendo desempenhados desde o início do século XX, a intensificação, o fortalecimento e consequente sistematização dessas iniciativas esmiuçadas por Aquino, Gomes e Miceli vão ser intensificadas a partir da década de 1920, conforme a obra "Igreja e política no Brasil", de Scott Mainwaring48.

O autor parte da premissa que as experiências espirituais e as instituições religiosas modificam-se e propõe, portanto, repensar a relação da Igreja com a política. O cientista político estadunidense defende que, no caráter institucional da Igreja está imbricada a defesa de interesses (unidade, posição, situação financeira, influência social e estatal, por exemplo), que por vezes se distanciam dos objetivos iniciais de propagar a mensagem religiosa e promover a salvação das almas. Mainwaring nos apresenta a carta pastoral publicada por D. Sebastião Leme, em 1916, na qual denuncia os problemas da Igreja brasileira no período, quais sejam a fragilidade institucional, falta de padres, precária educação religiosa, ausência de intelectuais católicos, influência política fraca, fragilidade financeira, entre outros.

Dom Leme reivindicava que as principais instituições sociais deveriam ser recristianizadas para que o Brasil fizesse jus à alcunha de nação católica. Inspirado pelo paradigma da Neocristandade, elaborado pela Igreja para orientar sua relação com a sociedade, denotando, sobretudo uma restauração da instituição através de uma maior aproximação com o Estado e uma atuação mais forte nas instituições sociais, Dom Leme reforça uma ideia que sempre foi tacitamente aceita pela Igreja brasileira e considerável parcela da população, ou seja, o Brasil é uma nação católica por natureza.

Apontar meramente o entrelaçamento de projetos nacionais e religiosos é quase dizer o óbvio. Em países como a França e a Rússia, por exemplo, (para citar apenas

47

Ibidem, p.92.

aqueles nos quais a Igreja passou por maus bocados), os batismos de Clóvis e Vladimir, respectivamente, são considerados e/ou comemorados como pontos de partida de suas respectivas nações. Como aponta Rémond49, mesmo a Rússia enquanto comunista celebrou com toda pompa o batismo de Vladimir, cujo governo da época não recusou de reconhecer que tal evento foi o ponto de partida da história daquele país.

Conforme Scott Mainwaring, é de pouca validade a questão “a Igreja está ou não envolvida na política, mas como ela está envolvida”, uma vez que a afirmação de que a Igreja tem um impacto político não resolve nada, sendo mais interessante saber qual a direção e as nuances desse impacto, assim como a profundidade dos vínculos entre a política e a religião50. Assim, a maneira pela qual a Igreja intervém na política está diretamente ligada à como a instituição percebe sua missão religiosa. O autor tem como problemática-chave “a capacidade da Igreja promover mudanças internas e desenvolver novos vínculos com a sociedade como um todo, inclusive com o sistema político”51

.

No tocante à reorganização diocesana, a partir do que foi exposto acima, podemos concluir que o modelo espacial da recém-nascida república brasileira catalisou contornos específicos à expansão das circunscrições católicas, embora estas tenham obedecido a um ritmo e interesses próprios. As freguesias do Período Colonial (aliás, o próprio termo „freguesia‟ denotava a íntima relação entre Igreja e Estado) cederam lugar às dioceses e o objetivo era, no menor tempo possível, construir pelo menos uma diocese em cada Estado da Federação. Efetivamente, em poucos anos todas as capitais estaduais tornaram-se sedes de dioceses.

Estes apontamentos são importantes aqui na medida em que, a fundação da Diocese de Natal, erigida em 1909, é fruto destes esforços, se inscrevendo dentro do período em que se notou maior índice de criação de dioceses na Primeira República, entre 1908 e 192852. A partir de 1929, quando Dom Marcolino Dantas assume o bispado da Diocese de Natal, a expansão diocesana se estende para o interior, onde serão fundadas as dioceses de Mossoró e Caicó (1934 e 1939, respectivamente) como dioceses sufragâneas, que elevam Natal à condição de Arquidiocese.

49

RÉMOND, René. Vous avez dit catholique? Paris: Desclée de Brouwer, 2007, p.99.

50 MAINWARING, Scott. Op.Cit. P.11. 51

Ibidem, p.21.

Em relação aos apontamentos sobre a associação entre a Igreja e o Estado, pretendemos mostrar a forma particular que a Igreja brasileira e, mais especificamente, norte-rio-grandense, está envolvida com a política. O que não é banal, se termos em vista a experiência de países considerados “católicos por excelência”, a exemplo dos ibéricos Portugal e Espanha.

Portugal, apesar Lei de Separação do Estado das Igrejas ocorreu em 1910, duas décadas após o Brasil e, em 1940 António Salazar, representante do Estado português ter assinado, junto ao Vaticano, a concordata que restabeleceu a relação entre os dois poderes, na medida que antes da chegada de Salazar ao poder (1926), no advento da República portuguesa, os católicos do pequeno país europeu vivenciaram uma situação desconhecida pelos fiéis deste outro lado do atlântico:

[...] discursos inflamados de alguns defensores do pensamento republicano, eclesiásticos católicos passaram a ser perseguidos por opositores das ideias religiosas; estabelecimentos clericais foram saqueados e símbolos católicos foram depredados como forma de protesto decorrente da crise social portuguesa, uma vez que parte da população identificava a Igreja como culpada53.

Na Espanha, por sua vez, a partir da instituição da República, em 1931, a Igreja sofreu duros golpes. Inicialmente, por parte do Estado, que desapropriou terras e prédios diversos da Igreja, a qual perdeu a prerrogativa de fornecer educação à população. Tudo isto é bastante significativo para a instituição que, no país, era uma das maiores possuidoras de propriedades fundiária e urbana, sendo uma potência do mundo dos negócios, como em bancos, indústrias, estradas de ferro; além disso, a predominância da rede educacional, minas e companhias de navegação que eram por ela controlados, diretamente ou indiretamente, também perde, portanto, a força. O golpe veio, igualmente, da população, que externou um anticlericalismo furioso, incendiando e destruindo centenas de igrejas e outros imóveis pertencentes a ela. Somente após o fim da Guerra Civil Espanhola (1939) é que Francisco Franco vai restabelecer a parceria com a Igreja. A situação da Igreja espanhola foi tão extremada a ponto de ter ganhado uma encíclica inteiramente dedicada à sua situação. Em 1933, o pontífice Pio XI publica

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RODRIGUES, Cândido; DE PAULA, Christiane. (Org.) Intelectuais e militância católica no Brasil. Cuiabá/MT: Edufmt, 2012, p 23-.24.

Dilectissima Nobis: Sobre a opressão da Igreja da Espanha54, cujo teor exploraremos

em outro momento.

Como aponta Carlos André Moura, e como já suscitamos acima a partir de todos os esforços de reorganização pós-padroado:

em terras brasileiras, mesmo com a laicização do Estado, a Igreja e o sistema político mantiveram relações amistosas que resultaram em algumas cooperações, como o combate aos inimigos em comum, a exemplo do pensamento de esquerda e da modernidade democrática.55.

A partir dessas considerações, desejamos introduzir de forma mais específica a importância que Getúlio teve para a Igreja brasileira. A chegada de Vargas ao poder veio anunciar que a República brasileira, como já citamos, bem mais amena que em outros países de maioria católica, iria cada vez mais pender para o lado da Igreja. Como evidencia o mesmo autor do extrato acima, “os exemplos das relações amistosas entre a Igreja e o Estado no Brasil foram vistos como uma possibilidade a se seguir para a sacralização da política em Portugal”56, onde as afinidades entre o político e o religioso deveriam ser exempláveis para os seus governantes.