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A primeira iniciativa brasileira de uma política pública governamental de C&T para a organização das atividades de pesquisa científica e tecnológica ocorreu em 1975, quando o Governo Federal instituiu o Sistema Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Até a metade da década de 1980, o Brasil já contava com diversos órgãos conformando o referido sistema. Essa configuração institucional durou até 1985, quando foi criado o Ministério da Ciência e Tecnologia – MCT como órgão central do sistema federal de ciência

e tecnologia (BRASIL, 2008, p. 9).

Com a abertura da economia brasileira, na década de 1990, o país passou a buscar desenvolvimento econômico via eficiência, época em que a inovação11 começou a entrar na agenda das empresas nacionais. Mas foi somente na última década do século XX que a inovação ganhou força no discurso político, nas políticas e ações favoráveis à acumulação do conhecimento científico, como a criação dos fundos setoriais — que são instrumentos de financiamento de projetos de pesquisa dentro das empresas (BRANDÃO; GONÇALVES, 2006).

11 Inovação - introdução de novos produtos ou processos na economia/ mercado. Para Joseph A. Schumpeter (1982) ela só ocorre mediante a primeira transação econômica.

31 A partir daí o Sistema Nacional de Desenvolvimento de C&T avançou por meio de políticas públicas setoriais, adquirindo maior complexidade e cobrindo todas as funções relacionadas com a ciência, tecnologia e inovação (C, T&I), como pesquisa básica, pesquisa aplicada, desenvolvimento, difusão, financiamento, coordenação e participação de risco12.

Desde então, os governos vêm se valendo da elaboração de planos para compatibilizar as diversas linhas de atuação da C, T&I, os instrumentos para sua execução e as diretrizes que devem ser seguidas. Como ciência, tecnologia e inovação, por sua própria natureza, são desenvolvidas em vários ministérios, faz-se necessária a articulação dessas ações às demais políticas e programas governamentais, como será abordado adiante.

A atual Política Nacional de C, T&I encontra-se expressa no Plano de Ação para o período 2007-2010, elaborado e coordenado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia em sintonia com os objetivos do Plano Plurianual – PPA 2008-2011. Dentre os seus objetivos, destacam-se a redução das desigualdades regionais, a partir das potencialidades locais do território nacional e condições de acesso da população brasileira à educação e ao conhecimento em seus diversos níveis e modalidades, com equidade e qualidade, considerando a incorporação de conhecimentos na sociedade brasileira como acumulação de capital intangível. (BRASIL, 2008, p. 32).

As prioridades do Plano de Ação 2007-2010 estão relacionadas com quatro Eixos Estratégicos que norteiam a atual Política Nacional de C, T&I para tornar mais decisivo o papel da ciência, tecnologia e inovação e vencer os desafios do País de crescimento com desenvolvimento econômico, social e ambientalmente sustentável. Papéis que norteiam uma nova orientação dessa política às diretrizes estratégicas do governo federal, sobretudo para as áreas social e ambiental.

Dois eixos do plano merecem aqui ser destacados. O primeiro é o Eixo Estratégico I que trata da Expansão e Consolidação do Sistema Nacional de C, T&I. O mesmo prevê, entre outras ações, a integração e modernização do sistema para ampliar a base científica e tecnológica nacional, tendo como exemplo a recuperação das Organizações Estaduais de Pesquisa Agropecuária – OEPAs para o fortalecimento do Sistema Nacional de Pesquisa

Agropecuária coordenado pela Embrapa, e de estratégias para o desenvolvimento sustentável da região do Semiárido nordestino, mediante o aporte científico e tecnológico para a modificação dos padrões de organização produtiva e da qualidade de vida, difusão de tecnologias e desenvolvimento de redes temáticas de pesquisa.

12 Participação de Risco - pesquisas em áreas estratégicas e onde a iniciativa privada não tem interesse ou condições de investir (RODRIGUES, 1994).

32 O eixo estratégico do plano que é mais importante para análise nesta Dissertação é o Eixo IV – Ciência, Tecnologia e Inovação (C, T&I) para o Desenvolvimento Social, que tem como prioridade promover a popularização e o ensino de ciências, a universalização do acesso aos bens gerados pela ciência e a difusão de tecnologias para a melhoria das condições de vida da população, e conta com a parceria de 14 atores institucionais, dentre os quais a Embrapa.

Este eixo se divide em dois programas: 1 – Popularização de C, T&I e Melhoria do

Ensino de Ciências e 2 – Tecnologias para o Desenvolvimento Social. A Embrapa participa

de ambos, tanto via Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA ao qual é

vinculada, quanto via as parcerias com os Ministérios do Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS e do Desenvolvimento Agrário – MDA.

A Prioridade Estratégica do Eixo IV é uma inovação em termos de políticas públicas no Brasil, pois a preocupação de forma abrangente com a popularização da ciência é recente, e tem como objetivos contribuir para o desenvolvimento social do País, por meio de apoio a programas, eventos e projetos de divulgação de C&T, nos quais se incluem as Minibibliotecas e o programa radiofônico semanal Prosa Rural, em execução pela Embrapa em territórios rurais, a exemplo do Território do Sisal, no Estado da Bahia, que será objeto de abordagem no Capítulo IV desta Dissertação.

Outro objetivo desse eixo estratégico é que os conhecimentos e tecnologias desenvolvidos pelas instituições de P&D e Universidades sejam também disponibilizados para atividades em espaços produtivos da agricultura familiar, assentamentos da Reforma Agrária, comunidades tradicionais e empreendimentos agropecuários e agroindustriais de pequeno porte. Essa disponibilidade deve se dar por meio de processos metodológicos participativos e de desenvolvimento de P, D&I voltados para o uso de tecnologias sociais e para a inclusão social.

Os Núcleos Piloto de Informação e Gestão Tecnológica para a Agricultura Familiar –

NAFs, implantados em territórios rurais e coordenados pela Embrapa no âmbito do programa Agrofuturo13, têm total relação com esse objetivo do Eixo Estratégico IV do Plano de Ação de C, T&I e sua concepção será abordada ainda neste capítulo.

As ações previstas nos programas estratégicos do eixo IV do Plano, como o estímulo ao uso de meios de comunicação para a divulgação de C, T&I, a exemplo do rádio, de vídeos e de impressos, criação de mecanismos que favoreçam a participação cidadã nas políticas de ciência, tecnologia e inovação, e a disponibilidade de conteúdos digitais mediante projetos de gestão tecnológica estão também contempladas nos projetos de

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Agrofuturo - programa do governo brasileiro financiado parcialmente pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID e sob a administração da Embrapa desde o ano de 2006, com prazo de duração previsto de cinco anos (EMBRAPA, 2009a).

33 divulgação de C&T, como o Prosa e as Minibibliotecas e de gestão da informação na Web em execução pela Embrapa no Território do Sisal.

Nesse contexto, o Ministério da Ciência e Tecnologia considera que a divulgação de C&T mostra-se como um processo fundamental para o enraizamento na sociedade brasileira de uma cultura de valorização da ciência, da tecnologia e da inovação, além de contribuir para “[...] formação permanente para a cidadania e para o aumento da qualificação científico-tecnológica da sociedade” (BRASIL, 2008, p. 355). Essa análise do MCT é preocupante, pois reforça a ideia de superioridade do conhecimento científico14 e se contradiz com o papel esperado para a divulgação de C&T, cujo sentido é promover a reflexão crítica do cidadão quanto aos resultados e impactos da ciência e da tecnologia.

As estratégias do Eixo IV do Plano de Ação do MCT têm articulação com as iniciativas do Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA, no que diz respeito ao desenvolvimento

sustentável dos territórios rurais e compõe uma das estratégias prioritárias do governo para o desenvolvimento do País, que é a Agenda Social inserida nos Planos Plurianuais 2004 - 2008 e 2008 - 2011.

No contexto territorial, a Agenda Social do governo destaca as iniciativas para promover a superação da pobreza rural e a geração de trabalho e renda por intermédio de estratégias, de desenvolvimento territorial rural sustentável, voltadas para os territórios rurais recentemente constituídos (BRASIL, 2007, p. 15).

A Figura 1 representa a Matriz de inserção dos projetos desenvolvidos pela Embrapa em territórios rurais como Minibibliotecas, Prosa Rural e NAFs e as suas interrelações com os projetos de outros órgãos do governo nas ações da Agenda Social.

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34 Figura 1 – Matriz de inserção e interrelações dos projetos desenvolvidos pela Embrapa: Minibibliotecas, Prosa Rural e Agrofuturo – NAFs, em territórios rurais, nas ações da Agenda Social.

Fonte: Plano de Ação 2007-2010 (BRASIL, 2008); Plano Plurianual 2008-2011 (BRASIL, 2007); Programa de Desenvolvimento Sustentável dos Territórios Rurais – PDSTR (BRASIL, 2006); Programa Territórios da Cidadania (PORTAL DA CIDADANIA, 2009); Programa Agrofuturo (EMBRAPA, 2009a); e Programa de Aquisição de Alimentos – PAA (CONAB, 2009). Adaptação da autora.

Observa-se, a partir da matriz, que as ações previstas na Agenda Social e inseridas no Plano Plurianual (PPA) 2008-2011, que compõem as estratégias de desenvolvimento rural e social do país, estão organizadas setorialmente, reproduzindo o modelo de planejamento das políticas governamentais no Brasil, onde historicamente cada órgão possui seu próprio recorte setorial e regional (BURSZTYN, 1993, p. 95).

A separação quanto à coordenação e execução das atuais políticas de desenvolvimento rural e territorial de responsabilidade do Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA, de desenvolvimento social pelo Ministério do Desenvolvimento Social e

Tecnologia para Desenvolvime

nto Social MCT

(Eixo Estratégico 4) Política de SegurançaMDS MDA (SDT) Alimentar Prosa Rural MAPA * Parceria Embrapa/ MAPA ** Parceria Conab/ MAPA/MDA/MDS Popularização da C,T&I Convênio EMBRAPA/MDS Prosa Rural MINIBIBLIOTECAS

Núcleos Piloto em territórios rurais (Agrofuturo) * PAA** Territórios Rurais (Projeto NAFs) Territórios da Cidadania

35 Combate à Fome – MDS, de desenvolvimento científico e tecnológico sob a coordenação do

Ministério da Ciência e Tecnologia – MCT e de desenvolvimento agrícola sob a

responsabilidade do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA reforça a

setorialidade do planejamento público e ainda indica a dualidade entre as políticas governamentais voltadas para a agricultura patronal e para a agricultura familiar.

Alguns programas que integram a Agenda Social do governo visam quebrar essas dualidades para alcançar o desenvolvimento social e rural sustentável, buscando a interação de ações entre os diferentes ministérios, a exemplo dos Territórios da Cidadania cujo objetivo é articular nos territórios rurais, pertencentes ao programa, as políticas desenvolvidas por 22 ministérios15.

Outros projetos também têm cumprido essa função, como o projeto Componente 3 do Programa Agrofuturo – Núcleos Piloto de Informação e Gestão Tecnológica para a Agricultura Familiar dos Territórios (NAFs), coordenados pela Embrapa em quatro territórios

rurais , todos esses integrantes do Programa Territórios da Cidadania.

Esse projeto integra-se às ações de recorte territorial de outros ministérios, conforme apresentado na Figura 1, a exemplo do Programa de Desenvolvimento Sustentável dos Territórios Rurais do MDA, o Programa Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional do MDS, o Programa de Aquisição de Alimentos – PAA16 coordenado pela Companhia Nacional

de Abastecimento – Conab, no âmbito do MAPA, e aos projetos do Eixo Estratégico IV do

MCT, tendo como proposta a segurança alimentar, o fortalecimento da agricultura familiar e o desenvolvimento territorial rural sustentável, e será analisado no próximo item.

1.5 O PROJETO NAFS DO PROGRAMA AGROFUTURO COMO INSTRUMENTO DA