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Repensando a Universidade – A Reconquista da Legitimidade Das crises evidenciadas nas seções anteriores, Santos (2003)

SUMÁRIO

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.3 O CONCEITO DE UNIVERSIDADE

2.4.2 Repensando a Universidade – A Reconquista da Legitimidade Das crises evidenciadas nas seções anteriores, Santos (2003)

considera a de hegemonia a mais ampla, porque nela está em jogo a exclusividade dos conhecimentos que a Universidade produz e transmite. A crise de legitimidade coloca a necessidade de democratização da transmissão do conhecimento; já a crise institucional, gerada, principalmente, pelos cortes financeiros do Governo, têm se aprofundado muito nos últimos anos. A seu ver, mesmo sem conseguir resolver plenamente tais crises, a Universidade tem respondido à pressão, mesclando momentos de resistência e de passividade. Ainda assim, o autor avalia que o atual modelo não é capaz de continuar vigorando por muito tempo. É necessário, segundo ele, pensar em outra orientação, com metas em médio e longo prazo, em que as teses formuladas hoje sirvam de bússola para o enfrentamento dos problemas. Afirma que:

[...] a idéia da Universidade moderna faz parte integrante do paradigma da modernidade. As múltiplas crises da Universidade são afloramentos da crise do paradigma da modernidade e só são, por isso, resolvíveis no contexto da resolução desta última. (SANTOS, 2003, p. 223).

Supondo que o projeto da modernidade esteja no limite, por conseguinte, o projeto de Universidade construído também está. Impõe- se, então, para a Universidade, a necessidade de:

[...] repensar suas tradicionais funções e descobrir, por dentro, quais são as novas práticas que apontam para a ruptura e a transição paradigmática, ou seja, para um patamar de superação, no qual a inovação tem papel propulsor. (BRAGA et al., 1997, p. 27).

A transição paradigmática da ciência moderna para uma ciência pós-moderna, e da modernidade para a pós-modernidade, pressupõe rupturas. Nesse sentido, Santos (2003, p. 224) assinala que:

[...] à Universidade compete organizar esse compromisso, congregando os cidadãos e os

universitários em autênticas comunidades interpretativas que superem as usuais interações, em que os cidadãos são sempre forçados a renunciar à interpretação da realidade social que lhes diz respeito.

Ainda segundo Santos (2003), o propulsor das rupturas, por assim dizer, situa-se no desencadear de discussões transdisciplinares sobre a crise de paradigmas, sobre o período de transição que o envolve e sobre os possíveis perfis que se delineiam para o futuro. Tais debates, ao brotarem no interior de cada Universidade estimulando a formulação de conceitos, devem ser amplamente divulgados, para servirem de premissa para novas discussões ainda mais ampliadas.

O questionamento das bases epistemológicas que hoje vigoram, gradativamente, implicará em inovações no meio universitário, as quais, mesmo não representando mudanças generalizadas, dar-se-ão por meio de rupturas em patamares específicos e diferenciados, que podem "contaminar" a instituição (BRAGA et al., 1997). O grande desafio, pois, que ora se põe para a instituição universitária, passa pela redefinição de seu papel diante das mudanças em curso no mundo e pela disposição de refletir sobre o conhecimento que gera e as formas de torná-lo comprometido com o avanço coletivo da humanidade.

Em suma, a Universidade Pública brasileira vivencia, atualmente, situações complexas envolvendo, por um lado, exigências cada vez maiores por parte da Sociedade e, por outro, uma política de Ensino Superior calcada em visões imediatistas, quantitativas e utilitaristas, que a está sufocando, restringindo o financiamento das suas atividades por parte do Estado. Desafiada, a Universidade parece não estar preparada para enfrentar esta nova realidade, já que esta exige transformações profundas, além dos estreitos limites das simples reformas. Nesse sentido, mais do que uma análise conjuntural das suas condições atuais, é preciso imergir na sua realidade estrutural, promovendo mudanças fundamentais que superem a rigidez funcional e organizacional, a relativa impermeabilidade às pressões externas e a aversão à mudança.

Acredita-se que uma política pública de Educação Superior não pode deixar de estender as características acadêmicas, como o rigor científico, a liberdade de pensamento e de expressão e a condição de geradora da cultura local, estadual e nacional, a todos os cidadãos. Amplia-se, assim, o compromisso da Universidade, que resulta de um esforço de criação e sustentação por parte da Sociedade, de repartir com segmentos, cada vez mais amplos, as suas conquistas e descobertas no

campo do Ensino e os resultados da produção do saber que gera no campo da investigação e ligação com a Sociedade, reduzindo as desigualdades, combatendo a exclusão e aumentando a participação cidadã.

Desse modo, parafraseando Santos (2011b, p. 55), questiona-se: “Que Fazer?”, ou seja, como a Universidade deve proceder para enfrentar as crises advindas da mudança paradigmática?

Em sua obra, “A universidade no século XXI: para uma reforma democrática e emancipatória da universidade”, Santos (2011b, p. 55) propõe uma reforma universitária radical, um projeto político de globalização contra-hegemônico e que reflita um projeto de País alternativo, apontando os caminhos para uma “reforma criativa, democrática e emancipatória da Universidade pública”. Apresenta como protagonistas, nesse processo, a própria Universidade pública, ou melhor, os que nela pretendem superar as crises com ações efetivas e não com resistências conservadoras; o Estado, e, nesse caso, não o Estado mínimo, mas o que assume suas funções públicas com as funções sociais e, nelas, a educação, optando pela globalização solidária da Universidade e os cidadãos, onde se situa os diferentes grupos sociais, tais como: os sindicatos, movimentos sociais, organizações não governamentais, governos locais progressistas.

Dentre os princípios da reforma universitária, Santos (2011b) destaca: a necessidade de a Universidade definir sua própria crise, ou seja, a condição de autoanálise crítica, no sentido de diagnosticar as fragilidades e as contradições internas e externas. Desse esforço, surgirá a definição de suas finalidades, recuperando o seu sentido público e a sua função social, num movimento de resistência contra-hegemônico. De acordo com suas palavras:

A resistência tem de envolver a promoção de alternativas de pesquisa, de formação, de extensão e de organização que apontem para a democratização do bem público universitário, ou seja, para o contributo específico da Universidade na definição e solução coletivas dos problemas sociais, nacionais e globais. (SANTOS, 2011b, p.62).

A necessidade de definir claramente o que é Universidade deve- se, por exemplo, às disfunções burocráticas, com a acumulação indiscriminada das funções a ela atribuídas e a forma como foram adicionadas, sem articulações lógicas, levando à pulverização de

sentidos e cedendo espaço para que se constituíssem outras formas de organização da Educação Superior. Noutro aspecto, o mercado educacional, por exemplo, designou o seu produto como Universidade, sem, no entanto, ter que realizar todas as atribuições desta. Essa falta de definição clara permite as inserções oportunistas, com fins meramente lucrativos, descaracterizando o sentido da Universidade. Então, a reconquista da legitimidade é a questão central da reforma proposta por Santos (2011b) e envolve o acesso à Universidade, ao Ensino, à Extensão, à Pesquisa, e à promoção de diálogos entre o saber científico e humanístico que a Universidade produz, e saberes leigos, populares, provindos das diferentes culturas que circulam na Sociedade, assumindo a sua responsabilidade educativa e o seu compromisso social, sendo permeável às demandas sociais, sobretudo, àquelas oriundas dos grupos que não têm poder de impô-las, mas, também, precisa estar atenta às demandas do mundo do trabalho, uma vez que a formação profissional é uma das missões da Universidade, sem, no entanto, submeter-se àquele.

Nesse sentido, Santos (2011b, p. 56) salienta que:

A reforma tem por objetivo central responder positivamente às demandas sociais pela democratização radical da Universidade, pondo fim a uma história de exclusão de grupos sociais e seus saberes de que a Universidade tem sido protagonista ao longo do tempo e, portanto, desde muito antes da atual fase de globalização capitalista.

A Universidade necessita, ainda, criar uma institucionalidade baseada na democratização interna e externa e na avaliação participativa, visto que é pela avaliação interna que poderá obter elementos que sustentem o diagnóstico da própria crise, não como mera constatação, mas como instrumento propositivo. No entendimento de Blondel (2005, p. 190), o problema se complica quando o debate público e o privado traduzem-se em um debate de centralização/descentralização:

De fato, a ingerência de interesses privados na organização universitária é necessariamente um fator de descentralização das decisões em matéria de programas, de gestão, etc., enquanto que a responsabilidade pública em geral se faz presente mediante um controle centralizado.

Assim sendo, entende-se que a gestão da Universidade na perspectiva de uma institucionalidade democrática não se limita à gestão de recursos ou à sua captação, tampouco se submete aos princípios do capital, como uma organização empresarial, mas assume o caráter político da educação e o papel social que lhe é confiado na produção/veiculação do saber, na manutenção cultural e no estímulo ao pensamento crítico.

Evolui-se na abordagem sobre a Universidade na atualidade, dessa vez discorrendo sobre a função social da Universidade como campo de saber na atuação extensionista, como se poderá apreciar na próxima seção.

2.4.3 A Universidade como Campo de Saber na Área de Extensão